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Capítulo 3 Sorocaba

3.1 O município de Sorocaba

A região do rio de Sorocaba foi povoada inicialmente pelos Tupiniquins18. Por volta de 1589, Afonso Sardinha, "o velho", seu filho

homônimo conhecido como "o moço" e o técnico em minas, Clemente Álvares, exploraram o morro Araçoiaba à cata de ouro. Em 1599, a região recebe o governador D. Francisco de Souza, na recém fundada Vila de Nossa Senhora de Monte Serrat. Sua visita teve por objetivo incentivar os mineiros a explorarem os córregos, rios e montanhas das redondezas, novamente em busca de ouro.

Após o período de seis meses, nada encontrando, D. Francisco retirou-se, o que acarretou o esvaziamento da Vila, que acabou sendo transferida, em 1611, para o Itavuvu, tendo como nome, em homenagem ao rei da Espanha, Vila de São Felipe. Também esta povoação não teve vida longa.

O capitão Baltazar Fernandes, “o rebelde”, ganhou a região em forma de sesmaria. Em 1654, Baltazar Fernandes e seu genro, o capitão André de Zunéga Y Leon, mudaram-se para a região. Em data não detalhadamente registrada, Baltazar Fernandes e sua família, mais os escravos índios, chegaram à região para o seu povoamento e posse. O primeiro documento oficial de que se tem notícia é o testamento de Isabel de Proença, segunda esposa de Baltazar Fernandes, de 28 de novembro de 1654, quando aparece pela primeira vez o nome da fazenda de Sorocaba.

O SEADE (2011) também esclarece que a cidade foi fundada em 1654 pelo bandeirante Baltazar Fernandes, nas terras de Santana de Parnaíba, e que o povoado original cresceu em torno da capela erguida em louvor a Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba. Pouco tempo depois, em 3 de março de 1661, foi elevada a vila e nessa mesma data a primeira câmara municipal foi nomeada.

Já tendo construído a Igreja de Nossa Senhora da Ponte, atual Igreja de Santana, do Mosteiro de São Bento e sua casa de moradia, no Lajeado, Baltazar Fernandes garantiu a fundação do novo povoado, doando aos Monges de São Bento, de Parnaíba, muitas glebas de terra, a capela de Nossa Senhora da Ponte e outros bens, com a condição de que construíssem o convento e mantivessem escola para quem desejasse dedicar-se aos estudos.

A acelerada formação administrativa de Sorocaba foi consequência da importância que a cidade adquiriu ao longo do tempo. Teve participação pioneira no desenvolvimento do tropeirismo e, em razão de sua situação geográfica, tornou-se eixo econômico entre as regiões norte e sul do Brasil, desempenhando papel fundamental na conquista do interior e na consolidação do território paulista. Foi, ainda, pioneira no plantio do algodão herbáceo no estado de São Paulo.

Em 1733, passa por Sorocaba a primeira tropa de muares, conduzida pelo coronel Cristóvão Abreu, fundador do Rio Grande do Sul, começando um novo ciclo histórico: o tropeirismo. Consolidada essa característica da cidade e com as constantes passagens das tropas, a cidade credencia-se como sede das feiras de muares, fazendo com que brasileiros de outras regiões do país para a cidade se deslocassem, com a intenção de comprar e vender animais e, simultaneamente, ajudando a disseminação cultural e a integração com as pessoas dessas outras regiões do Brasil.

A cidade, em pouco tempo, por sua posição geográfica privilegiada, torna-se um dos eixos econômicos entre as regiões norte e sul do país. A vocação da região norte era a mineração e a exploração das reservas florestais e no sul concentrava-se a produção de animais de corte e de carga.

O afluxo de pessoas durante a época das feiras, em especial aquelas possuidoras de grandes recursos financeiros, auxiliou em muito o desenvolvimento da indústria, mais caseira nesse momento, e, principalmente, do comércio. As facas e facões produzidos na cidade eram famosos em todo o país. Eram muito apreciados também os produtos de couro para montaria, os enfeites em prata e ouro para seu complemento (selas, arreios, estribos e chicotes), as redes e os doces.

Por volta de 5 de fevereiro de 1842, seu nome já havia sido simplificado para Sorocaba (de origem tupi, terra fendida ou terra rasgada).

Com o desenvolvimento das feiras e o consequente crescimento da mão de obra especializada, agora necessária nas indústrias caseiras, apareceram, em 1852, as primeiras iniciativas industriais, utilizando o algodão e a seda.

As primeiras sementes de algodão foram trazidas e plantadas na cidade em 1856, onde tiveram boa recepção e desenvolvimento. Luiz M. Maylasky, o maior comprador de algodão da zona, em 1868, resolveu fundar uma fábrica de tecidos na cidade. Transferido o maquinário à cidade, o empreendedor construiu um vasto barracão para estabelecer sua fábrica.

Por essa época, em Itu, discutia-se a construção de uma estrada de ferro que ligaria a cidade vizinha a Jundiaí. Os sorocabanos foram convidados a participar do empreendimento, face ao seu alto custo, mas depois de examinado o assunto, declinaram. Contudo, a ideia da construção de uma ferrovia ligando a cidade à Capital, com interligação para o porto de Santos, obteve maior interesse e participação de todos.

Portanto, os últimos anos do século XIX foram determinantes para o início do desenvolvimento industrial, que marcaria a atividade econômica de muitos municípios paulistas. Para a cidade, todo esse progresso ganhou vulto com a inauguração, em 10 de julho de 1875, da EFS (Estrada de Ferro Sorocabana), que contribuiu para fazer da região de Sorocaba um dos mais extensos e diversificados parques industriais do Estado.

Depois de muitas ampliações em suas linhas, em 1907, a ferrovia foi arrendada para a The Sorocaba Railway Co., empresa de capital inglês. Em 1918, passou a propriedade do Estado de São Paulo, até que, depois, em um acordo administrativo foi incorporada à RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A.). Posteriormente, a empresa foi privatizada.

Um fato de destaque para o início desse crescimento industrial foi o encerramento da Guerra de Secessão nos Estados Unidos, quando os estadunidenses retomaram novamente suas iniciativas agrícolas voltadas para as plantações de algodão, em quantidade suficiente para exportação, fazendo com que a matéria-prima brasileira fosse menos requerida. Com a redução na

exportação e com os preços degredados, os sorocabanos começaram a planejar o aproveitamento local do algodão.

Segundo informam Almeida e Job (2010) e Prefeitura19, em 2 de dezembro de 1882, Manoel J. Fonseca, inaugurou a fábrica de tecidos Nossa Senhora da Ponte, que existe até hoje. Logo após, em 1890, apareceram as fábricas de Santa Rosália e Votorantim, e a seguir muitas outras, tornando Sorocaba uma cidade verdadeiramente industrial. Só para registro, antes disso, na década de 1860 houve uma fábrica de chapéus, do húngaro Antonio Rogich, que perdurou até 1932, quando encerrou sua produção.

Durante a maior parte do século XX, descreve Pinto Jr. (2010), os moradores de Sorocaba se relacionam com a mídia local reproduzindo a imagem moderna da Manchester Paulista. Rádios, jornais, revistas, almanaques, entre outros meios de comunicação, confirmavam diariamente o progresso da cidade. Artigos publicados em jornais, jogos de futebol transmitidos ao vivo via rádio, fotos panorâmicas em revistas da cidade, isto é, vários suportes eram utilizados para reforçar o imaginário da cidade industrial.

Por meio desses instrumentos de comunicação, os moradores de Sorocaba poderiam observar através das paisagens urbanas, representadas por grandes construções fabris, edifícios de tijolos à vista, telhados ingleses e altas chaminés, imagem associada à cidade inglesa de Manchester. Outro atrativo que também chamava a atenção dos moradores eram as sirenes dessas indústrias, ruidosas e altas que praticamente assinalavam o tempo na cidade. Muitos moradores controlavam as horas do dia e às vezes acertavam seus relógios pelas próprias sirenes que determinavam os turnos de trabalho nas indústrias de tecelagem instaladas no município.

Nas décadas de 1970 a 1990, a cidade, que era acostumada a ouvir as horas pelos sinais das sirenes, sentiu a falta, uma após a outra, de seus marcadores de tempo vindos das indústrias, de seus relógios sonoros. Nesse período, o parque industrial têxtil de Sorocaba foi perdendo mercados dentro e fora do país. Com isso, as indústrias têxteis, que foram o carro-chefe do crescimento sócio-econômico da cidade na primeira metade do século XX,

devido à concorrência e alegando a falta de recursos, não investiram mais em novas técnicas de produção e acabaram perdendo ainda mais espaço nos seus antigos mercados consumidores. Cada vez mais despreparadas para a concorrência de mercado, essas indústrias diminuíram gradativamente sua produção, fecharam postos de trabalho e terminaram encerrando suas atividades.

Com o fechamento dessas unidades industriais, não só postos de trabalho foram fechados, como se perderam algumas das referências que faziam parte do imaginário da cidade. Muitos trabalhadores dessas fábricas mudaram de atividade ou de cidade para encontrar novos empregos, porém, todos os que viveram ou continuaram vivendo em Sorocaba não ouviram mais as sirenes avisando que estava na hora de acordar, de sair para o trabalho, de almoçar ou de voltar para casa. As rádios deixaram gradativamente de transmitir as idéias sobre a cidade industrial têxtil. Os jornais, como a mídia em geral, buscaram se adaptar ao novo contexto sócio-econômico de Sorocaba, deixando de reproduzir a idéia de Manchester Paulista (PINTO Jr., 2010).

Sobre o novo contexto socio-econômico, o jornal Cruzeiro do Sul, um dos mais importantes da cidade, em reportagem de 29/05/1999, publicou:

Indústria Teba fecha fábrica na cidade e encerra ciclo histórico. A diretoria do Grupo Braspérola, proprietária da indústria Tecidos Barbéro (Teba), confirmou ontem que fechará a fábrica instalada no bairro Parada do Alto. A unidade local foi fundada há 52 anos pela família Barbéro e emprega no momento 405 trabalhadores. A direção da empresa alega estar tendo prejuízos sucessivos e que no Espírito Santo os incentivos fiscais são bem maiores, sobretudo em relação ao ICMS. O fechamento da Teba representa o fim do ciclo da indústria têxtil local, pois é a única tecelagem em funcionamento em Sorocaba. Décadas atrás, a cidade era conhecida nacionalmente por “Mancheter Paulista” em razão do grande número de tecelagens que chegou a possuir. O próprio processo de industrialização do município, no final do século passado, teve origem com a instalação das indústrias têxteis, que dominaram a economia local até a década de 1960.

O declínio da indústria têxtil, informa a Prefeitura (2011), fez com que a cidade buscasse novos caminhos e, a partir da década de 1970, diversificou o seu parque industrial, que hoje conta com aproximadamente 1.500 empresas,

entre elas algumas das principais do país (a Figura 2 mostra o brasão da cidade).

Em 2011, Sorocaba configura-se como uma cidade de muitos atrativos, uma verdadeira cidade pólo, que pouco a pouco vai se consolidando como cidade de destino de um contingente cada vez maior de pessoas da região, ou mesmo de outros estados. Sua imagem é extremamente positiva referente aos níveis de segurança, qualidade do ensino, atendimento de saúde, qualidade de vida e infraestrutura urbana, um local ideal para se morar e viver. Seu slogan estampado comumente nas diversas mídias oficiais é: Cidade Educadora e Cidade Saudável (ver brasão da cidade, Figura 2).

Figura 2 – Brasão da cidade

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