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UNIDADES ESCOLARES – EJA /

MUNICIPAL DE ENSINO (2000)

A proposta curricular municipal, intitulada Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de São José – Uma Primeira Síntese – caracteriza-se por sua peculiaridade de extremo alcance que contempla inúmeros fatores relacionados não somente a Educação de Jovens e Adultos, mas toda rede municipal de ensino. Ainda vigente no município de São José até o término deste estudo, sua elaboração data do ano de 2000. Este documento foi produzido na gestão do ex-prefeito Dário Elias Berger, que tinha como Secretário Municipal de Educação e Cultura, o senhor Fernando Melquíades Elias, ambos, neste período, filiados ao então Partido da Frente Liberal – PFL.

Os registros descritivos da Proposta Curricular do Município de São José caracterizam-se por circunscrições mais abrangentes devido ao alcance do referido documento em âmbito da educação municipal, não atingindo somente a Educação de Jovens e Adultos, mas também todas as instâncias educação municipal. A metodologia utilizada pela educação do município, segundo este documento, inscreve-se como “histórico-crítica”:

Do ponto de vista da teoria pedagógica, fomos entendendo ao longo do processo de discussão que a PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA seria aquela, dentre as várias teorias que mais nos capacitaria entender o trabalho educativo no momento histórico em que vivemos tendo em vista suas múltiplas determinações, ao mesmo tempo em que nos aponta possibilidades de transformação. (SÃO JOSÉ, 2000, p.31).

O documento traz algumas categorias, manifestadas como elementos

fundamentais com os quais nos preocupamos ao longo do processo de concepção – elaboração da Proposta Curricular (2000, p.31). Estas visões geraram conceitos

referentes à base sistemática que pautaram a mencionada proposta. Para os fins desta pesquisa destacamos:

UMA VISÃO DE SOCIEDADE que a enxerga como

resultado da forma como os homens se relacionam entre si para produzirem suas vidas ao longo do processo histórico. A enxerga como condição de possibilidade da existência humana, mas no decorrer da história predominantemente cindida, dividida entre uma pequena parte de homens que em tendo o poder econômico detêm também o poder político, social e cultural. E uma outra parte constituída sempre pela maioria, oprimida, alienada, explorada. A enxerga neste momento tendo o “homem como lobo do homem”, mas não como naturalmente dado e, sim como uma situação resultante de uma determinada correlação de forças que pode ser alterada, superada na perspectiva de uma sociedade justa, solidária.

UMA VISÃO DE EDUCAÇÃO que a enxerga como a prática

social, cuja tarefa é realizar o processo de formação dos sujeitos necessários a cada momento histórico-social. A partir deste olhar, compreender que cada sujeito se humaniza na medida em que se apropria do patrimônio histórico-cultural acumulado. A partir deste olhar, entendemos que ela pode contraditoriamente servir a reprodução – alienação – ou servir a transformação – emancipação individual e coletiva. Ver então que ela pode fazer nascer em cada sujeito o homem que ele pode ser.

UMA VISÃO DE CULTURA que a enxerga, como dissemos

antes, como patrimônio histórico-social acumulado pela humanidade no decorrer do processo histórico, nas mais diferentes formas de conhecimento – Ciência, Filosofia, Arte, Religião – e os artefatos tecnológicos resultantes da aplicação pratica destes conhecimentos. A partir deste olhar reverter o processo de apropriação privada deste patrimônio, que exclui a maioria dos homens e os priva de compreender o mundo e a vida de poder transformá-los ver e entender então que todo homem tem direito a se apropriar deste patrimônio histórico e socialmente acumulado como condição para humaniza-se.

UMA VISÃO DE ESCOLA que a enxerga como o lugar que

histórico e socialmente foi concebido para, privilegiadamente, te, intencional e organizadamente garantir a socialização – apropriação do conhecimento universal acumulado e sistematizado – a Ciência, a Técnica, a Filosofia e a Arte – convertidos em saber escolar. A partir deste olhar, entendemos que a escola é o lugar de superação do senso comum pela apropriação crítica e criativa do saber mais elaborado que o gênero humano produziu para interpretar e transformar o

mundo, ver, então, que a educação escolar tem a tarefa de formar os sujeitos individuais e coletivos à altura do que o gênero humano é capaz na contemporaneidade.

UMA VISÃO DE HOMEM que o enxerga como um ser que

tem sua gênese na natureza, em seu processo de transformação quantitativa e qualitativa – a hominização – o engendra enquanto historicidade – sociabilidade. O enxerga como um ser que por sua atividade-trabalho sempre realizada nas relações sociais, produz a vida e a si mesmo e, para produzi-la produz cultura e este processo de produção e todas as suas conseqüências é a história. É a partir deste olhar que superamos o mediatismo do modo de pensar hegemônico, se quisermos que haja futuro para as novas gerações. Entendemos que precisamos ver o homem como ser histórico-social que ao transformar o mundo-natureza transforma-se a si mesmo e vai acumulando um patrimônio cultural que cada homem novo precisa se apropriar para se fazer homem, se fazer sujeito que faz a história.

UMA VISÃO DE CURRÍCULO que o enxerga como um

“artefato”, um instrumento, em torno do qual se articula o trabalho educativo escolar, que ao operar recortes no patrimônio histórico-cultural da humanidade o faz criticamente no sentido de garantir que as novas gerações se apropriem do que há de mais avançado, relevante e significativo, e se aproprie, também dos métodos de produção de conhecimentos novos, necessários a interpretação e transformação do mundo natural, histórico- econômico-social-cultural e também subjetivo-individual. A partir deste olhar, entender que o currículo organiza o conhecimento convertido em saber escolar e suas formas de socialização – apropriação, considerando seus vários elementos constituídos – os conteúdos, os métodos, a relação pedagógica, as formas de avaliação entre outros. (SÃO JOSÉ, 2000, p. 32 / Errata p.2-3).

Como diretrizes e encaminhamentos à Educação de Jovens e Adultos, a Proposta Curricular (2000, p.120) descreve que a forma de organização das aulas deve possibilitar aos estudantes a conciliação com seus horários de trabalho. Contudo, na prática, segundo a Secretaria de Educação, a EJA no município de São José, em todas as unidades escolares, funciona no período noturno. No documento, os estudantes que procuram a EJA trazem em seus históricos a exclusão econômica,

social e política.

É um sujeito que busca respostas às contradições de uma sociedade capitalista marcada pela desigualdade, pela competição no mercado de trabalho, pelo surgimento das novas tecnologias que exigem o domínio de instrumentos da cultura letrada. (SÃO JOSE, 2000, p.121).

Aqui, resgatando os resultados da aplicação da enquête realizada por esta pesquisa, percebemos no contexto do Ensino Médio a forte presença de estudantes que migraram de suas cidades de origem. As diretrizes referentes a formulação curricular, que pressupõe a seleção dos saberes escolares neste documento, orientam que:

O desafio dos professores de EJA é articular o conhecimento já apropriado pelos sujeitos nas suas atividades cotidianas com as novas aprendizagens escolares e com as formas sistematizadas de resolver os problemas. Pensa-se então, em desenvolver um ensino significativo e não somente funcional, ou restritamente utilitário. [...] Numa visão progressista e emancipatória a escola constrói seu currículo em processo e não abre mão do tempo histórico em que vivem os educando. Nesta perspectiva só faz sentido pensar currículo como forma de problematizar as questões econômicas, sociais e culturais, ou seja, como aglutinador do vivido. Para tanto, é preciso compreender o que se passa no mundo onde estamos vivendo e as formas de agir e atuar neste mundo. (SÃO JOSE, 2000, p.126).

Com relação à Disciplina de História, a Proposta Curricular não apresenta um direcionamento voltado para os saberes escolares dirigidos à Educação de Jovens e Adultos. Contudo, há um item neste documento, direcionado à Disciplina de História que ressalta “O Ensino de História na Rede de Educação de São José”. Como a EJA faz parte desta rede, destacamos a perspectiva dialética do encaminhamento para a disciplina de História:

Entendemos que o ensino de História, precisa estar a serviço da transformação social, levando os educandos a conhecerem, analisarem e entenderem o seu cotidiano, conhecendo, analisando e entendendo a sua história e a história da sociedade na qual se inserem. Um ensino de História que esteja preocupado com a formação de cidadãos deve possibilitar aos alunos a leitura crítica do mundo que os cerca, bem como se entenderem como sujeitos da história. Para tanto, faz-se necessário compreender a história como uma produção humana. E para se estudar essa história/produção, entendemos que se deva partir da totalidade da realidade concreta em que o educando está inserido. [...] Não podemos mais admitir um

ensino que simplesmente repita o que está sistematizado em livros, levando o aluno à passividade. (SÃO JOSE, 2000,

2.4.2 – O CADERNO PEDAGÓGICO MUNICIPAL DA