• Nenhum resultado encontrado

Não se veste de noiva, presta atenção [aponta para a cabeça] S: Bola

5 CENAS DA PESQUISA: TRAVESSURAS LÚDICAS

M. Não se veste de noiva, presta atenção [aponta para a cabeça] S: Bola

M: acertou! (02/ 09/2015)

As crianças são claras entre si quando produzem suas travessuras lúdicas. O fato de estarem com as mãos ocupadas não as impediu de brincar, pois a partir de seus etnométodos reproduzem as palmas com o som “Tá tá tá” para tornar uma atividade proposta pela professora, que tinha como um dos objetivos a concentração, em algo dinâmico e interativo sem perderem o foco. Estavam concentrados em se divertir. Revelavam suas aprendizagens resgatando parlendas e recriando adivinhas produzindo seus atos de currículo. No que se refere ao papel do educador nesse momento de travessura lúdica, Macedo (2013, p.65) aconselha:

Nesses termos, faz-se necessário acolher a transgressão, a negatricidade que significa a capacidade da criança desjogar o jogo

do outro, e a traição, na qual se contrariam as expectativas colocadas, enquanto inflexões que apontam para experiências aprendentes independentes e autorizantes a serem refletidas por uma ética da autonomia

A programação diária das classes de Educação Infantil deve conter momentos de trabalhos orientados e momentos livres. É necessário propor atividades que possibilitem o desenvolvimento da fala, do corpo, das artes plásticas, da música, da dança, da leitura e da escrita e da tecnologia (ABRAMOWICZ; WAJSKOP, 1999). Essas diferentes linguagens são ampliadas nos espaços específicos do ambiente escolar. Nas salas de Educação Infantil, o espaço físico pode ser utilizado de forma separada, cada habilidade sendo desenvolvida uma por vez ou várias ao mesmo tempo, à escolha da criança, e muitas vezes, a depender da abordagem proposta pelo professor, que precisa organizar os ambientes de forma que estimulem o letramento e a motricidade, a autonomia e a heteronomia. A organização do espaço possibilita o melhor desenvolvimento da criança e permite que as mesmas sejam autoras das suas aprendizagens.

No livro Este admirável mundo louco de Ruth Rocha (2003, p.36), no capítulo, “Quando a escola é de vidro”, a autora nos conta, de forma lúdica, o cotidiano de uma escola na qual “cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!”. Nessa escola, algumas crianças nunca sabiam inventar brincadeiras, nem dar risadas à toa. Até que um dia chegou nessa instituição um menino chamado Firuli que começou a assistir às aulas sem estar no vidro. “O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado” (ROCHA, 2003, p.42).

De forma literária, Ruth Rocha aponta o quanto à autonomia no espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento das crianças e não foi à toa que o Firuli conseguiu destacar- se das outras crianças que estudavam na mesma escola que ele. A história criada por Ruth Rocha exemplifica como o espaço escolar busca emoldurar as crianças desde tão cedo, dizendo o que elas têm que fazer e o modo “certo” de fazer. Entretanto, as crianças tentam nos dizer a todo tempo como é a escola que elas desejam. Nesse contexto, as crianças do Grupo 4 são levadas pela professora para um parquinho que pertence a uma instituição vizinha da escola, pois

a escola não tem espaço adequado para brincadeira das crianças, muito menos um parque. A escola, atualmente, está adaptada em contêiner, conforme a Figura 1 abaixo.

Figura 1 - Quando a escola é de container

As crianças brincam, geralmente, na sala de atividades ou em um pequeno espaço fora da sala. Sendo assim, elas estão radiantes por estar indo ao parquinho. Ao chegarem lá, cada criança se dirige aos poucos brinquedos que tem no grande espaço. Todos estão brincando e um grupo de crianças que está em um dos brinquedos do parquinho canta de felicidade:

D., G., R., E.: “Hakuna Matata, é lindo dizer

Hakuna Matata!!, sim vai entender!! Os seus problemas, você deve esquecer Isso é viver, é aprender

Hakuna Matata!” [e repetem a canção várias vezes, tornando-a a trilha sonora daquele momento brincante em um espaço que não era o da escola]. (09/10/15)

Não há como negar o quanto a brincadeira é importante para o desenvolvimento da criança. Pesquisas apontam para essa importância, adultos dizem o porquê e para quê a criança brinca, mas quem já parou para ouvir o que as crianças dizem e pensam sobre essa ação que lhes é tão peculiar? Quando as crianças se deparam com o espaço do parquinho não hesitam em cantar: “isso é viver, é aprender”.

Infelizmente, são raras as instituições de Educação Infantil que estão com a infraestrutura física dentro do padrão ideal de como devem ser os estabelecimentos que atendem às crianças pequenas. Poucos são os exemplos bem sucedidos como a da Reggio Emília, na Itália, que mesmo tendo seus espaços cuidadosamente ambientados para favorecer o desenvolvimento pleno das crianças, ao serem questionados sobre o que é necessário na escola, seus educadores não hesitam em afirmar “gostaríamos de ter mais espaços” (NEW, 1999, p.222).

Essa problemática também é identificada por Santos (2001) que garante que apesar das dificuldades encontradas pelo docente nessas instituições, existe um caminho de superação a ser trilhado:

Nem sempre as escolas dispõem de espaços adequados, tanto no que se refere à dimensão, à luminosidade, ao mobiliário, e até mesmo, às condições de segurança e higiene, para realização das atividades que se propõem. Mesmo contando com mínimas condições, com um pouco de atenção e bom senso é possível transformar significativamente o ambiente da sala de aula, tornando- o mais agradável e estimulante ao pleno desenvolvimento das crianças. (SANTOS, 2001, p. 97)

Como disse o saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade em seu reconhecido poema no meio do caminho: “havia uma pedra no meio do caminho” e ele nunca se esquecerá desse acontecimento. Essa pedra não é um problema, mas algo importante que marcou a sua vida. Encontrar os meios de superação diante das pedras que existem no meio do caminho é tarefa árdua, que exige do professor os saberes apontados por Paulo Freire (1996): pesquisa, respeito aos saberes do educando, criticidade, estética e ética, reconhecimento da identidade cultural, rigorosidade metódica, bom senso e acima de tudo alegria e esperança.

5.1 TRAVESSURAS LÚDICAS: RODA DE CONVERSA

A roda de conversa tem sido usada como importante instrumento pedagógico nas turmas de Educação Infantil. Nesse espaço, as crianças têm a oportunidade de falar e ouvir adultos e outras crianças sobre diversos assuntos. São desafiadas a expor suas opiniões, dúvidas, desejos, etc. A rodinha chamada assim, carinhosamente, por professores e crianças pode ser estabelecida em diferentes momentos no cotidiano da Educação Infantil: como parte do planejamento realizado

pela educadora, que tem como objetivo a construção de ideias em torno de um tema e nos momentos exigidos, quando há tensões no interior do grupo e necessidade de resolver os conflitos coletivamente. Nesses casos a roda funciona como dispositivo democrático (ANGELO, 2011, p. 62, 63). Entretanto, esse não é o único espaço no qual a fala da criança precisa ser ouvida e valorizada.

O grande desafio do educador da infância, de acordo com Angelo (2011, p.61)é “estar vigilante para que essa vivência se estabeleça verdadeiramente como momento de construção e de troca dialógica entre diferentes sujeitos e não como momento trivial, rotineiro e mecânico”. Para tal é preciso levar para roda diversidade de assuntos, novas canções, objetos diferentes e dar espaço para que as crianças tragam seus interesses de estudos e análises. Respeitando os interesses individuais, as heterogeneidades e os ritmos das crianças (ANGELO, 2011).

Nesse sentido, foi proposto como tema da roda de conversa, das turmas de Educação Infantil da Escola Municipal Francisca de Sande, as brincadeiras realizadas na escola. As crianças foram convidadas pela docente a expor suas opiniões e pensamentos acerca das brincadeiras realizadas. A primeira roda de conversa foi realizada no grupo quatro.

Professora: eu quero saber de vocês, quais são as brincadeiras que

vocês mais gostam de brincar na escola?

Crianças: [todas falam ao mesmo tempo] Cabo de guerra; telefone

sem fio; serra, serra, serrador; pé-de-lata; eu gosto de brincar de avião; eu gosto de brincar de boneca.

Professora: Calma, um de cada vez... L: Casinha

E.N: Eu gosto de brincar de Comidinha

Documentos relacionados