• Nenhum resultado encontrado

No decorrer deste estudo, se identificaram, dentro das negociações do setor agrícola, alguns grupos que, de uma forma ou outra, e através de distintos mecanismos, foram mais fortes e exerceram mais pressão no processo, demonstrando que possuíam na prática uma fatia de poder maior do que outros setores.

O primeiro grupo, e o que mais poder tinha no momento de tomar decisões, era a equipe oficial. Este ator, muito importante, além de negociar diretamente com a contraparte estadunidense, negociava também com todos os setores, grupos, empresas, consórcios do setor agrícola, fato que lhe permitia, por primeiro ser o portador de toda a informação, o que significa poder, pois conhecia os pontos fracos e fortes de todos os envolvidos, o que era a melhor ferramenta para persuadir as distintas posições. Além disso, é importante lembrar que, sendo eles a equipe oficial, também podiam negociar por parte do governo, e isso foi importante para que se consolidassem as posições e a participação dos setores sensíveis, mediante a agenda interna. Esta agenda era uma boa arma de persuasão e que foi eficazmente utilizada para calar grupos que se sentiam ameaçados pela abertura comercial.

147 CHIRIBOGA, Manuel. Entrevista, 2008. 148 ASPIAZU, Roberto. Op.cit.

De igual forma, foi útil para apresentar aos Estados Unidos uma oferta mais flexível, que permitiria ter mais chances de negociação.

Outro grupo relevante, quanto ao nível de poder que possuía, eram as câmaras de agricultura, mais especificamente as empresas que compõem essas câmaras. Câmaras e empresas possuem poder de influência, pois elas são as donas dos produtos e também são as que compram produtos, neste caso, dos Estados Unidos. Portanto, o poder que possuem foi também relevante. Também pode ser refletido o seu poder na grande quantidade de setores que as câmaras agrupam. São empresas muito poderosas economicamente, que têm um nível alto de influência em algumas instância governamentais, e por isso podem exigir até certo ponto ou pelo menos pressionar, para que, neste caso, as negociações terminassem com a assinatura do TLC149. Possuem também grande poder de convocação no que diz respeito a manifestações, que também constituem uma maneira de exercer pressão.

Um terceiro setor que teve uma importante fatia de poder foram os grupos dos setores sensíveis, de forma especial, os produtores de carne da Costa e dos produtores de milho. Mas foi diversa a forma de sua atuação. Ambos os setores são compostos por grupos de empresas e grandes grêmios, com muito poder econômico. Mas no caso dos milheiros, eles foram sempre um setor, embora sensível, proativo ao processo, e seu poder era exercido, quando participavam no quarto adjunto durante as rodadas, pois estando lá, podiam ser informados e consultados diretamente pelos negociadores150.

Já no caso dos produtores de carne da Costa, ocorreu outra dinâmica. Eles foram muito contrários às negociações, pressionando inclusive para que seu setor fosse excluído das negociações. Seu poder refletiu-se nos meios de comunicação, pois apareciam dando declarações muito negativas sobre o processo, o que produziu um ambiente de conflito, que estimulou outros setores também a fazer oposição.

149 DONOSO, Patrício. Entrevista, 2008.

150 Representantes de CONAVE e PRONACA sempre estiveram presentes, tanto nas negociações internas como nos quartos adjuntos nas rodadas internacionais.

A fatia de poder dos arrozeiros, no processo decisório interno, foi muito limitada, apesar de, neste caso, o setor ter sido muito protegido na oferta final151, e durante as rodadas de negociação, em razão do seu alto grau de sensibilidade. Mas isso foi atingido por uma preocupação especial da equipe interna, por questões de soberania alimentar, e não pela própria ação do setor, que, como foi mencionado anteriormente, não estava organizado.

Um caso curioso de não-utilização do poder que possuíam foi o dos floricultores. Não obstante a organização que tinham e o poder econômico do setor, eles desempenharam um papel limitado no processo. Poderiam ter incentivado a outros setores, ou exercido maior pressão no governo, visto que seriam uns dos os mais afetados, em caso de não- assinatura do TLC.

Os camponeses não desempenharam nenhum papel, pois não tinham nem poder econômico, nem político representativo, mas finalmente uniram-se tanto à CONAIE, como ao FENOCIN, associações que tiveram importância e poder de convocação. O poder deles estava na forte oposição que criaram durante o processo. Sua capacidade de mobilização é muito grande e isso lhes permitiu realizar manifestações, greves, entre outras coisas, cujos resultados se refletiram num descontentamento da população e numa distorção de informação que finalmente contribuíram para não-assinatura do TLC152.

Um último ator que, embora no interior da mesa agrícola não representasse diretamente um ator que definisse as posições, mas que no desenlace foi o que teve a maior fatia de poder e terminou resultando na não-assinatura do TLC, foi o executivo, representado na época por Alfredo Palácio. Este ator nunca definiu uma estratégia, nem sequer deu sinais de querer continuar ou não no processo. O governo, em termos gerais, com a promulgação da Reforma de Lei de Hidrocarbonetos e a término do contrato da

151 No caso do setor arrozeiro, a oferta final do Equador sempre se manteve. Não foi feito nenhum tipo de cessões, dado que se tratava de proteger a segurança alimentar da população nacional.

152 A REDAÇÃO. Ecuador: Marcha contra el TLC en Quito. Agencia de los Pueblos en Pie. Quito, Equador, 30 de março de 2006.

OXY153, deu o sinal definitivo à contraparte estadunidense de não querer continuar com o processo. Quando Rafael Correa assumiu o poder, já foi definitiva e explícita a queda das negociações sem pelo menos deixar uma janela aberta para uma possível retomada do processo.

Documentos relacionados