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Já foi assinalado que, no decorrer da história republicana do Equador, e até mesmo antes, existiu uma acentuada diferenciação principalmente entre duas das quatro regiões do país. A Sierra e a Costa contam, cada uma, com um clima totalmente diverso, o que faz com que a população seja diferente e se dedique a atividades também diferentes. A Costa teve menor população indígena e uma menor influência religiosa.

Tanto pelo boom cacaueiro, como pelo cultivo da bananeira, a região da Costa foi sempre mais aberta ao comércio e à agroexportação e teve uma maior presença estrangeira do que as outras regiões.

Nos começos do século XIX, foi registrada uma grande onda migratória da sierra para a costa. Camponeses e muitos jovens de todas as províncias da sierra foram até o litoral, atraídos pelas grandes oportunidades que ofereciam as enormes plantações, assim como o ativo comércio. A Costa foi assim se povoando, levando a um aumento de

32 HURTADO, Oswaldo. Op.cit.

produção e exportação, atraindo a maior parte da mão-de-obra do país. Construíram-se grandes fortunas naquele período33.

No caso da Sierra, se dá um desenvolvimento espetacular, especificamente, na agricultura de exportação, como que nunca visto até hoje. Depois da Reforma Agrária, os índios continuaram pobres. Conseguiram independência, sim, e também puderam negociar em melhores condições a mão-de-obra, mas como foi mencionado, continuaram pobres.

Na década dos 90, quando começaram a cultivar-se os denominados produtos não tradicionais, tais como flores e outros produtos agrícolas de exportação, se dá uma mudança radical no mundo indígena, porque este deixa de ser pobre. Há poucas décadas, bastava dar uma olhada e se verificava a existência de massas de miseráveis a rodear os pólos de cultivo das flores. Hoje isto se modificou. Há classes populares e até classe média que, embora ainda tenham carências, já não constituem classes pobres.

Este progresso notável que tem tido o mundo camponês da Sierra contrasta radicalmente com o que ocorre no mundo camponês da costa. Apesar de a Costa produzir banana há mais de 50 anos, mesmo assim não se evidencia uma transformação ao estilo do que se tem visto na Sierra, que tem produzido flores, brócolis. E a banana, há de se reconhecer, é uma fruta que tem bastante valor e que tem mais importância na exportação daqueles dois produtos da Sierra.

Por outro lado, nas povoações que rodeiam as plantações de bananeiras, por exemplo, não se vê uma mudança que, como já foi exposto, se percebe nos povoados da Sierra. Salta à vista os benefícios que possui a população da sierra em termos de boutiques, cabeleireiros, academias, produtos relativamente sofisticados apesar de não serem de marca, melhores alimentos, vestimentas importadas, motéis, e alguns meios de transporte como carros, motos, entre outros.

33 HURTADO, Oswaldo. Op.Cit.

Um exemplo representativo deste fenômeno constitui o vale de Guallabamba, próximo a capital, onde a mudança é tão abismal, que se tem produzido uma alteração nas migrações no Equador. Durante toda história do país e da Audiência de Quito os serranos migraram para a Costa. Mas hoje, existe uma forte corrente migratória da Costa à Sierra e particularmente às zonas de influência de Quito.

Guallabamba, vale que fora praticamente um deserto há umas poucas décadas, hoje é um oásis, e está cheia de habitantes provenientes da Costa. Isso é produto, possivelmente, de uma melhor qualidade de vida. Nessa região, as pessoas encontram melhores condições ou porque existe uma distribuição da riqueza mais equitativa, embora não exista ainda um estudo sobre o caso.

Os últimos parágrafos servem para ilustrar as mudanças existentes nas duas regiões principais do Equador. É preciso considerar que esse avanço de ambas tem contribuído a que não se produza uma correlativa diferenciação dos grupos que integram a oligarquia, em ambas as regiões. Se bem que tenha melhorado a integração nacional, ainda o regionalismo constitui um fator que frequentemente determina a conduta política de amplos setores sociais.

De fato, desde o fim da década de noventa, está emergindo um sentimento regional. Existem varias propostas que defendem as autonomias, ou seja, que cada província seja responsável pelos próprios recursos e não tenha que responder ao governo central. Este debate, levantado dentro dos setores produtivos da Costa, principalmente em Guayaquil, tem trazido vários desencontros com a capital, Quito.

O debate está ainda sobre a mesa, e cada vez mais províncias reclamam ao governo central o que lhes pertence. Isso poderia ter duas interpretações dentro da conjuntura do Equador. Primeiro que se constituam, efetivamente, aquelas autonomias, onde cada uma das províncias seja responsável pelos seus recursos, o que teria como conseqüência um déficit em um grande número de províncias, as quais não possuem os recursos necessários para abastecer as suas necessidades. De outro lado, tem a vantagem de que cada província, neste caso governo da província ou prefeitura, conhece mais a fundo as próprias

necessidades, o que permitiria investir os recursos de uma forma mais consciente e equitativa.

Mas com esta onda de autonomias, até agora, a única que se tem produzido é a divisão dentro das mesmas províncias. Tem dois casos concretos de cantões que foram declarados províncias, apenas no ano passado. Santa Elena e Santo Domingo de los Tsachilas têm-se separado das suas províncias, Guayaquil e Quito, respectivamente. Isso tem provocado que outros cantões de todo pais pretendam fazer o mesmo, o que traz como resultado uma maior fragmentação ainda maior do país.

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