SUMÁRIO Página
3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
3.1. TRATAMENTO DE ESGOTO
3.1.2. Níveis de tratamento
Segundo Lin (2014), as instalações de tratamento de águas residuais são projetadas para acelerar o processo de purificação natural que ocorre em águas naturais e para remover contaminantes nas águas residuais que poderiam interferir com o processo natural nas águas receptoras. O esgoto contém quantidades variáveis de sólidos em suspensão e flutuantes, matéria orgânica, e fragmentos de detritos. Sistemas de tratamento de águas residuais convencionais são combinações de processos físicos, biológicos e químicos para remover suas impurezas.
A remoção de poluentes no tratamento de esgotos visa adequar o efluente tratado aos padrões vigentes de qualidade para lançamento em corpos receptores. O nível e a eficiência do tratamento estão associados a esta qualidade desejada.
Os métodos de tratamento de esgotos domésticos são simplesmente classificados em três categorias principais: primário (processo físico), secundário (processo biológico), e superior ou avançado (combinação dos processos físico, químico e biológico). Cada categoria deve incluir dispositivos de tratamento preliminar, desinfecção e gestão dos lodos (tratamento e eliminação) (LIN, 2014).
Os sistemas preliminares são projetados para remover e/ou cortar materiais maiores em suspensão e flutuantes, bem como remover sólidos inorgânicos pesados e quantidades excessivas de óleo e graxa. O objetivo do tratamento preliminar é proteger o equipamento de bombeamento e as unidades de tratamento subsequentes. Sistemas preliminares consistem em: dispositivos de medição de vazão e reguladores, racks e telas, moedores, cortadores e trituradores, desarenadores, reservatórios de pré-aeração, e cloração. A qualidade das águas residuais não é substancialmente melhorada por tratamento preliminar (LIN, 2014).
Segundo Davis (2010), no sistema de gradeamento, os sólidos passam, em alta velocidade, através de lâminas cortantes de grelhas estacionárias que envolvem o conjunto. Pode estar localizada a jusante das caixas de areia para reduzir o desgaste no mecanismo de corte, mas tipicamente são colocadas em frente das caixas de areia para evitar trapos, sacos, e outros detritos que possam sujar o equipamento de remoção de areia. Tal como as caixas de areia, os canais são construídos com um bypass e dispositivo para isolar o canal, quando é necessária a manutenção.
Toda areia, cascalho, vidro quebrado, casca de ovo, e outros materiais que tenham uma velocidade de sedimentação substancialmente maior do que o material orgânico nas águas residuais é chamado de sólido grosseiro. A remoção destes sólidos é fornecida para proteger equipamentos mecânicos de abrasão e desgaste; reduzir a formação de depósitos em dutos e canais; e reduzir a frequência de limpeza que é necessária por causa de sólidos grosseiros acumulados. Como segundo objetivo, mas não menos importante, o sistema de remoção de sólidos separa a areia a partir do material orgânico nas águas residuais. Esta separação permite que o material orgânico possa ser tratado em processos subsequentes (DAVIS, 2010).
O objetivo do tratamento primário é reduzir a velocidade de fluxo do efluente suficientemente para permitir a sedimentação de materiais sedimentáveis, removendo cerca de 50% a 70% de sólidos totais em suspensão a partir do efluente. Materiais flutuantes também são removidos por raspadores. Quando produtos químicos são aplicados, a maior parte do material coloidal, bem como os sólidos sedimentáveis, é removida totalizando 80% a 90% de sólidos suspensos totais. Unidades auxiliares, tais como dosadores químicos, dispositivos de mistura, floculadores e gestão de lodo (tratamento e descarte do biossólido), são necessários se não há mais tratamento. Durante o processo de tratamento primário, a atividade biológica nas águas residuais é negligenciável (LIN, 2014).
O tratamento secundário é utilizado para remover a matéria orgânica solúvel e coloidal que permanece após o tratamento primário. Apesar de o tratamento secundário remover sólidos em suspensão através de processos físico-químicos, normalmente predominam processos biológicos. Os processos de tratamento secundário podem remover mais de 85% de DBO5 e SST. No entanto, eles não são eficazes para a remoção de nutrientes (N e P), de metais, de matéria orgânica não biodegradável, bactérias, vírus e outros micro- organismos (LIN, 2014).
O tratamento avançado pode ser definido como métodos e processos que eliminam os contaminantes da água residual mais do que o tratamento convencional. O termo, tratamento avançado, pode ser aplicado a qualquer sistema que segue o tratamento secundário, sendo chamado de terciário nestes casos, e ao sistema que modifica ou substitui uma etapa no processo convencional. O objetivo do tratamento avançado é especificamente reduzir SST, SDT, DBO, nitrogênio orgânico, nitrogênio amoniacal, nitrogênio total, ou fósforo (LIN, 2014).
Segundo Von Sperling (2005), o tratamento terciário tem como objetivo a remoção de poluentes específicos (usualmente tóxicos ou compostos não biodegradáveis) ou ainda, a remoção complementar de poluentes não suficientemente removidos no tratamento secundário.
A Tabela 3.1 apresenta os níveis de tratamento de esgotos relacionados a remoção que promovem, enquanto que a Tabela 3.2 mostra as características principais dos níveis de tratamento de esgotos.
Tabela 3.1: Níveis do tratamento de esgoto.
Nível Remoção
Preliminar Sólidos em suspensão grosseiros (materiais de maiores dimensões e areia) Primário Sólidos em suspensão sedimentáveis
DBO em suspensão (associada à matéria orgânica componente dos sólidos em suspensão sedimentáveis)
Secundário DBO em suspensão (caso não haja tratamento primário: DBO associada à matéria orgânica em suspensão, presente no esgoto bruto)
DBO em suspensão finamente particulada (caso haja tratamento primário: DBO associada à matéria orgânica em suspensão não sedimentável, não removida no tratamento primário)
DBO solúvel (associada à matéria orgânica na forma de sólidos dissolvidos, presentes, tantos nos esgotos brutos, quanto no efluente do eventual
tratamento primário, uma vez que sólidos dissolvidos não são removidos por sedimentação)
Terciário Nutrientes
Organismos patogênicos
Compostos não biodegradáveis
Metais
Sólidos inorgânicos dissolvidos
Sólidos em suspensão remanescentes
Fonte: VON SPERLING (2005).
Segundo Gloyna (1971), os poluentes podem ser classificados como biodegradáveis ou não biodegradáveis. Poluentes como, materiais inorgânicos, não são biodegradados, e uma vez presentes na água podem ser diluídos, mas não reduzidos necessariamente em quantidade. Outros poluentes são alterados por forças físicas, biológicas e químicas, e por causa dessas mudanças o material orgânico instável em águas residuais domésticas pode ser convertido em substâncias inofensivas. Do mesmo modo, alguns resíduos industriais podem ser convertidos em efluentes estáveis.
Tabela 3.2: Principais características dos níveis de tratamento de esgoto.
Item Nível de tratamento
Preliminar Primário Secundário
Poluentes removidos Sólidos grosseiros Sólidos sedimentáveis DBO em suspensão Sólidos não sedimentáveis DBO em suspensão fina DBO solúvel Eventualmente nutrientes Eventualmente patógenos Eficiências de remoção - SS: 60 a 70% DBO: 25 a 35% Coliformes: 30 a 40% DBO: 60 a 98% Coliformes: 60 a 99% Mecanismos de tratamento predominantes
Físico Físico Biológico
Cumpre padrões de lançamento usuais?
Não Não Usualmente sim
Aplicação Montante de elevatória Etapa inicial de todos os processos de tratamento Tratamento parcial Etapa intermediaria de tratamento mais completo Tratamento mais completo (para remoção de matéria orgânica)
O tratamento secundário é composto pelas unidades de tratamento preliminar podendo ou não incluir as unidades do tratamento primário. Tem como objetivo a remoção da matéria orgânica tanto dissolvida quanto em suspensão. Os processos desse tratamento visam acelerar a degradação da matéria orgânica que ocorre naturalmente nos corpos receptores. Para isso, o tratamento secundário conta com uma etapa biológica composta por reações bioquímicas realizadas por micro-organismos sobre a matéria orgânica.
Os dispositivos para tratamento secundário podem ser divididos em dois grupos: processos de crescimento anexos e suspensos. Os processos de crescimento anexados (filme) são filtros biológicos e filtros de areia intermitentes. Os processos de crescimento em suspensão incluem lodos e suas modificações, como tanques de estabilização de contato (aeração), reatores em batelada sequenciais, digestores anaeróbios e aeróbios, filtros anaeróbios, lagoas de estabilização, e lagoas ativadas aeradas (LIN, 2014).
Os métodos de tratamento podem dividir-se em operações e processos unitários que integrados definem os sistemas de tratamento. Os principais sistemas de tratamento de esgotos domésticos, frequentemente empregados em países de clima quente como o Brasil, em nível secundário são apresentados na Tabela 3.3.
Tabela 3.3: Sistemas de tratamento em nível secundário e suas subdivisões.
Sistemas de tratamento Subdivisões de sistemas de tratamento Lagoas de estabilização Lagoa facultativa
Lagoa anaeróbia - lagoa facultativa
Lagoa aerada facultativa
Lagoa aerada de mistura completa-lagoa de decantação
Lagoas de alta taxa
Lagoas de maturação Disposição no solo Infiltração lenta
Infiltração rápida
Infiltração subsuperficial
Escoamento superficial
Terras úmidas construídas Sistemas anaeróbios Filtro anaeróbio
Reator anaeróbio de manta de lodo e fluxo ascendente (UASB)
Reator anaeróbio - pós-tratamento Lodos ativados Lodos ativados convencional
Lodos ativados por aeração prolongada
Lodos ativados de fluxo intermitente
Lodos ativados com remoção biológica de nitrogênio
Lodos ativados com remoção biológica de nitrogênio e fósforo
Reatores aeróbios com biofilmes
Filtro de baixa carga
Filtro de alta carga
Biofiltro aerado submerso
Biodisco
Fonte: VON SPERLING (2005).