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Nível Internacional: Conferência Mundial sobre o Ensino Superior

II. O ensino superior e a legislação atual

2.1. O ensino superior hoje

2.1.1. Nível Internacional: Conferência Mundial sobre o Ensino Superior

A Conferência Mundial foi um evento que contou com a participação de mais de 4.000 pessoas, (UNESCO/CRUB, 1998: 9), e aprovou a “Declaração Mundial sobre Ensino Superior no Século XXI: Visão e Ação”.

A UNESCO, ao convocar a Conferência Mundial, objetivou “prover soluções para os desafios e colocar em movimento um processo de profunda reforma na educação superior mundial”. O evento foi iniciado com a retomada da definição de educação superior, aprovada na 27ª Reunião da Conferência Geral da UNESCO, realizada em novembro de 1993, que compreendia “todo tipo de estudos, treinamento ou formação para pesquisa em nível pós-secundário, oferecido por universidades ou outros estabelecimentos educacionais aprovados como instituições de educação superior pelas autoridades competentes do Estado”. O objetivo da UNESCO e a revisão da definição forneceram a sustentação e o amparo necessários para a elaboração da Declaração Mundial.

A Declaração aprovada, dividida em três partes, é composta por 17 artigos, que retratam as preocupações com o ensino superior e orientam para ações que devem ser efetivadas pelas Universidades para garantir a formação profissional e, também, para assegurar o seu compromisso com a sociedade (UNESCO/CRUB, 1998: 20).

A primeira parte, que aborda as missões e funções da educação superior, compõe-se de dois artigos. O primeiro orienta para a necessidade de preservação, reforço e expansão da missão das universidades, pautada pela educação, formação e realização de pesquisas, e o segundo aborda as funções das instituições de educação

superior na identificação e tratamento dos problemas da sociedade, de forma independente, consciente de sua responsabilidade e atuando na previsão, alerta e prevenção das questões sociais, econômicas, culturais e políticas.

Na segunda parte, a Declaração orienta para a formação de uma nova visão de educação superior e é composta por 8 artigos, que estão direcionados à prestação de serviços à sociedade, à revisão dos cursos, à diversificação da educação e da formação, à igualdade de oportunidades, à participação da mulher e à adoção de professores, do pessoal administrativo e técnico e de estudantes como agentes principais da educação.

A terceira parte, Da visão à ação, composta por 7 artigos, aponta, de maneira resumida, para a avaliação da qualidade, o potencial e o desafio da tecnologia, o reforço da gestão e do financiamento da educação superior - este último como serviço público, o compartilhamento dos conhecimentos teóricos e práticos entre países e continentes, os programas que garantam o “ganho de talentos” científicos e as parcerias e alianças.

Na análise geral da Declaração fica evidente ser a principal missão da Universidade a de promover uma educação inovadora, voltada para a formação ética, para o pensamento crítico e a criatividade e para a autonomia intelectual, cujo acesso deve ser por mérito e não pelo favorecimento de elites. Enfatiza, ainda, que as decisões políticas devem ser tomadas, considerando-se os estudantes como o principal “centro das preocupações”. Isto não significa, porém, que os outros atores da educação superior - professores e pessoal de apoio - devam ser ignorados. Ao contrário, alerta para a promoção do trabalho da mulher, o aprimoramento do trabalho docente, o retorno de pesquisadores aos países de origem e a preparação adequada do pessoal administrativo e técnico.

De acordo com a Declaração, a Universidade tem, ainda, por missão formar o aluno para a plena cidadania, visando à produção e à disseminação do conhecimento, para que ocorra a harmonização entre o trabalho educacional e o mundo do trabalho. Na descrição dos artigos, um grande destaque é dado à necessária “reorganização dos vínculos entre a educação superior, o mundo do trabalho e a sociedade”. O ensino superior deve, pois, oferecer o conhecimento necessário ao mercado de

trabalho, para atender às necessidades da sociedade, devendo para isto reforçar as atividades de prestação de serviços – extensão.

Estas considerações denotam que os artigos da Declaração Mundial sugerem uma necessária revisão da função social da Universidade. Na discussão da identidade da Universidade nos dias atuais, Goergen (2000: 103) reforça este aspecto, enfatizando ser “urgente o debate em torno do tipo de universidade que a sociedade necessita e deseja”. Logo, tal compromisso deve ser assumido, pois a sociedade espera que a universidade seja “um instrumento capaz de mediar suas necessidades atuais e suas direções futuras“ (Pereira; 2000: 181).

A Declaração aponta ainda um forte indicativo para a atuação na educação superior, na perspectiva do cumprimento de sua função social, orientando a que esteja voltada para o progresso do conhecimento pela pesquisa, com enfoque para os potenciais e os perigos da tecnologia, com consciência da inexistência de fronteiras para o conhecimento. Deve procurar, portanto, desenvolver suas pesquisas de maneira a produzir os conhecimentos básicos e os aplicados. Tal progresso trará, se realizado de maneira equilibrada e consciente, melhores condições de ensino no nível superior e também fortalecerá as relações entre a universidade e a sociedade.

Nos artigos da Declaração apreende-se, ainda, que o compromisso da universidade deverá ser firmado de forma a atingir padrões internacionais de qualidade, e que isto será possível mediante “avaliação interna e externa, seleção rigorosa de pessoal, desenvolvimento contínuo e mobilidade de pessoal”. Todavia, no dia a dia, verifica-se que estes indicadores de qualidade nem sempre são considerados no ensino superior e que, por isso, a universidade precisa encontrar mecanismos de adequação a esta nova realidade.

Os referenciais indicados para os padrões de qualidade mostram que, no momento atual, a universidade precisa assumir que as mudanças são necessárias. Parafraseando Goergen, a principal questão que surge, quando se admite tal necessidade, é: como a universidade irá enfrentar a nova realidade? Pode-se ainda acrescentar a seguinte: em que medida tais mudanças afetarão a sala de aula, o relacionamento professor-aluno, as disciplinas com seus conteúdos e divisões, as bibliotecas com seus livros, os processos e os temas das pesquisas e a preparação

para o emprego? (2000: 137)

Trindade (1999: 122) destaca e reforça a importância para as universidades da Declaração Mundial, ao afirmar: “Conscientes, pois, do papel construtivo da UNESCO na elaboração de uma concepção estratégica capaz de oferecer alternativas consistentes e viáveis para a nova reforma das instituições de ensino superior latino- americanas na perspectiva do novo século, é que consideramos fundamental discutir o conteúdo dos recentes documentos elaborados na Conferência Mundial de Paris”.

De forma sintética, é possível depreender das orientações emanadas da Declaração Mundial e das preocupações expressas por diversos autores, que o desenvolvimento da educação superior deve estar pautado por uma ampla discussão a respeito da atuação docente, sobre as propostas atuais e os avanços esperados, como forma de conscientização de todos os envolvidos com o ensino superior.