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“Nós temos uma riqueza no Brasil que são as frutas do Cerrado, principalmente o pequi Eu

No documento Agricultores que cultivam árvores no Cerrado. (páginas 105-109)

sei que o brasileiro gosta de pequi, mas não

come porque não tem. Você vai ao mercado

e lá tem maçã, tomate; e o pequi? O pequi só

tem na época da colheita. Não! Tem que ter o

ano inteiro.”

HISTÓRIA

Édemo é pecuarista há 19 anos e um apaixonado por pequi. Em sua pro- priedade, o sítio Recanto Água Limpa, de 90 hectares, ele inova com o sistema silvipastoril, consorciando o capim com pequizeiros de diversas variedades. Para tanto, destinou 30 hectares de seu sítio ao sistema e pretende expandi-lo. Seu Édemo é um estudioso do pequi. Segundo ele, há em seu sítio 23 varieda- des de pequi trazidas de diversas regiões. Além da produção de pequi (carro- -chefe do sítio, com mais de cinco mil pés) e do gado, o sítio abriga o Viveiro Recanto Água Limpa, com capacidade para produção de 20 mil mudas, com destaque para 2.500 são de pequi sem espinho. A produção do viveiro é desti- nada tanto à comercialização como ao plantio no próprio sítio.

Hoje, o produtor é uma referência na produção do pequi, participando de eventos para difundir o plantio, formas de propagação, armazenamento e consumo.

PORQUE EU PLANTO ÁRVORES

O pequi se tornou a principal atividade econômica de seu Édemo, na me- dida em que agregou valor ao fruto. Em seu sítio, produz e comercializa pequi nas formas de massa, utilizada em bolos, pães e pudins, em lasca, em compota com e sem pimenta e óleo. Durante a safra, contrata mão de obra especialmente para despolpá-los. Para chegar a este ponto, há dois anos ad- quiriu uma câmara fria, que o permite vender os produtos e seus deriva- dos congelados fora da época de colheita. Desta maneira, o produtor espera contribuir para a popularização do consumo de pequi e seus derivados no mercado brasileiro.

A comercialização de mudas de pequi para outros interessados tem um peso importante na geração de renda do sítio, além de servir de exemplo para outros produtores. “Algumas fazendas estavam me comunicando o seguinte: ‘é seu Édemo, eu cortei meus pequizais antigos porque eu achei que não iam valer nada, e é onde o gado mais fica, onde o capim mais fica verde’. Eu vendi muita muda pra eles. E tem muitos lugares que eu já estou comprando pequi daqueles que compraram as minhas mudas. Lá em Que- rência/MT mesmo, tem umas duas lavouras que foram mudas daqui, e a gente, no ano passado, comprou pequi deles”.

“O importante da árvore é a sombra. Ela segura o vento, principalmente as nossas árvores do Cerrado. Então as árvores regionais trazem muita uti- lidade. Principalmente porque produzem as sementes, as frutas, e com isso nós temos aqui uma fauna muito boa, que eu acho que é importante pra nossa vida”.

TÉCNICA

O primeiro plantio de pequizeiros foi realizado em uma área de pasta- gem, com espaçamento de 7 × 8 metros. Porém, nos plantios seguintes Éde- mo testou diferentes espaçamentos, como 8 × 10 metros, 10 × 10 metros e 12 × 12 metros, sendo os últimos pensados para permitir consórcios com cultivos agrícolas e pecuária. O espaçamento 8 × 10 metros proporcionou um sombreamento adequado sobre a pastagem e uma boa produtividade de pequis (Figura 1A). “Aqui na sombra do pequizeiro você está vendo o capim verde, mas você vê capim verde fora da sombra? Não vê. Por quê? Porque debaixo da árvore temos sol e a sombra, é o que eu chamo de sombrite. Do mesmo jeito que está sombra agora, daqui a pouquinho vai vir o sol, e no lugar que estava sol, vai vir a sombra (Figura 1B e 1C). Por exemplo, o an- dropogon prefere ficar aqui por causa dessa sombra”.

Em busca de um melhor arranjo para seu sistema, em 2010, Édemo ini- ciou um plantio diversificado, inserindo outras espécies do Cerrado, como o baru e o jatobá. Neste caso, o espaçamento entre pequizeiros foi de 16 × 16 metros, e entre cada um deles foi plantada uma árvore de baru ou de jatobá. Logo, a cada 8 metros ele possui uma árvore.

O manejo do pequizal é realizado com a poda de galhos secos e dos mais baixos, para que o gado possa pastar embaixo das árvores. Ao final da poda deve-se aplicar a calda bordalesa nos locais de corte para evitar apodre- cimento. Édemo chama atenção para uma característica dos pequizeiros. Eles oscilam sua produção de um ano para o outro, alternando um ano de grande produção com outro de pequena safra, sendo normal chegarem a produzir em um ano apenas 30% da produção do ano anterior.

Quando a pastagem encontra-se desgastada, o sistema entra em pousio (ação passiva cujo objetivo é recuperar o solo com o aumento da atividade biológica e da biomassa) para ser reformado. A reforma deve ser feita fora do período de colheita dos frutos de pequi, que ocorre de setembro a de- zembro, realizando o gradeamento do solo entre as linhas de pequizeiros

Figura 1. Sistema silvipastoril composto por pequizeiros e nas bordas cajueiros. (A e B) Plantio realizado com mudas no espaçamento de 10×10 metros com objetivo de criar animais. (C) dossel do plantio de pequizeiros. (D) Dois pé de pequi juntos resultado do plantio realizado por sementes. Nas covas são inseridas 3 sementes de pequi, quando brota mais de uma planta essa deve ser retirada para replantio antes que tenha 5 folhas.

A

C

D B

a 2 metros de distância das árvores para não danificar suas raízes. Após o gradeamento, são semeados os capins andropogon e braquiarão. “Aqui era uma pastagem, mas eu pus muito gado, tive que reformar. Ouvia dizer que o gado não gostava de sombra, mas o gado adora uma sombra. Então ele não sai daqui, é dia e noite aqui dentro”.

Édemo iniciou os plantios de pequi utilizando sementes, tendo sido ne- cessário o plantio de algumas mudas mais tarde para preencher as falhas. Atualmente, planta também com mudas que produz em seu viveiro. De acordo com ele, o plantio com sementes é muito atacado pelas formigas. Mas, caso a preferência seja por plantar com sementes, deve-se colocar três delas por cova. Caso todas germinem, pode-se separá-las até que produzam cinco folhas. O agricultor também explica que, quando uma árvore não se desenvolve bem, deve-se plantar uma semente ao lado dela e selecionar o melhor indivíduo no futuro (Figura 1D). Édemo recomenda que quando o sistema silvipastoril for iniciado em área com pastagem já formada, deve- -se coroar o local de plantio da semente ou da muda. Ele pretende testar o plantio direto sob a palhada. Esta técnica seria interessante por manter a umidade do solo e favorecer a germinação das sementes. Caso esta técni- ca funcione, afirma que futuramente será um produtor de sementes e não mais de mudas.

Édemo já possuiu um rebanho com cerca de 500 ovelhas, mas como elas danificavam os pés de pequi, se desfez dele. Já o gado não danifica as ár- vores, podendo ser colocados na pastagem com pequis quando as árvores estão com 1,5 metros de altura, ou com dois anos de idade, no caso de plan- tios originados por muda, pois crescem mais rápido. Porém, diferente de outros pecuaristas, para seu Édemo o gado é um coadjuvante neste sistema. “O gado é um complemento, um carro na garagem, você precisou, está ali. Ele é o dinheiro pra uma emergência. Nos apertos, vou dispondo do gado”.

Nos arredores do sistema silvipastoril, Édemo planta outras espécies fru- tíferas para que os animais que se alimentam de pequi, como as araras, comam outros frutos e evitem os pequizeiros. “Os cajueiros são excelentes atrativos para estas aves”.

No documento Agricultores que cultivam árvores no Cerrado. (páginas 105-109)