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CAPÍTULO III A POLÍTICA DE NUCLEAÇÃO E O FECHAMENTO DE ESCOLAS NO

3.1 A territorialização da política de Nucleação e o fechamento de escolas no campo no

3.1.5 Núcleo 6: Escola Municipal Pedro Pereira da Silva (escola sede)

A Escola Municipal Pedro Pereira da Silva foi fundada em 1993, e se localiza no Povoado Quilombola Muquém, a aproximadamente 5 km da área urbana do município de União dos Palmares/AL. No que diz respeito à sua estrutura física, ela apresenta características diferentes da maioria das escolas localizadas no campo, no município estudado. A principal diferença reside no fato de que algumas das escolas sede pesquisadas no desenvolvimento deste trabalho funcionam em prédios com infraestrutura precária, o que não acontece hoje com a escola em análise.

A princípio ela funcionava no espaço precário de um prédio antigo, como é comum nessas escolas situadas no campo. No entanto, a enchente provocada pelo rio Mundaú, em 2010, atingiu a região da mata alagoana e causou transtornos para a população, com a destruição e alagamento de casas e prédios públicos. Nessa cheia, a comunidade quilombola Muquém foi praticamente devastada pelas águas e a escola foi alagada, assim como ocorreu com a Escola Municipal Antônio Gomes de Barros, sede do Núcleo 1, já apresentada nesta análise. Em 2014 foi transferida para uma nova sede, ainda dentro da comunidade quilombola Muquém, construída para evitar que outras enchentes atingissem a escola.

Essa construção deu à escola uma estrutura física notadamente diferente da anterior. A nova sede (Figuras 9 e 10), por sua vez, possui 7 (sete) salas de aula amplas, 1 (uma) biblioteca, 1 (um) laboratório de informática, que não está funcionando, 1 (um) espaço recreativo, uma sala de professores, uma sala da direção, 2 (dois) almoxarifados, 1 (um) refeitório, e 1 (uma) lavanderia, tendo assim as devidas condições físicas para que os professores possam realizar seu trabalho.

Figura 9 – E. M. Pedro Pereira da Silva, União dos Palmares/AL

Fonte: Trabalho de Campo, 2015. Organização: Edilma José da Silva (2016).

Figura 10 – Sala de aula da E. M. Pedro Pereira da Silva

Fonte: Trabalho de Campo, 2015. Organização: Edilma José da Silva (2016).

No que diz respeito ao seu quadro docente, no ano de 2015, a escola possuía 29 professores, dos quais apenas 6 (seis) são efetivos. De acordo com as entrevistas realizadas na pesquisa de campo, todos os outros fazem parte do quadro de professores contratados pela rede municipal. Dentre esses contratados, 5 (cinco) concluíram a graduação, mas apenas 1 (um) atua na área da sua formação, 2 (dois) têm apenas o Magistério e os demais fazem graduação em Pedagogia. O contrato desses docentes é renovado a cada 4 (quatro) meses e eles estão na escola há três anos.

Já em relação ao quadro discente, a escola obteve, em 2015, um total de 391 (trezentas e noventa e uma) matrículas, das quais 334 (trezentos e trinta e quatro) concentram-se na escola sede do núcleo e as demais estão distribuídas em suas escolas anexo. A escola oferta turmas de Creche e Educação Infantil, no turno matutino; turmas de Ensino Fundamental, do 1º ao 9º ano, nos turnos matutino e vespertino; e turmas de EJA, no turno noturno.

Os alunos matriculados para estudar na sede são moradores de localidades do seu entorno: Serra da Barriga, Sítio Riacho do Curtume, Sítio Recanto, Assentamento Santo Antônio da Lavagem, Sítio Brejo dos Vieiras, Fazenda Anhumas, Povoado Taquari e Sítio Muquém. Para atender às necessidades de 96 (noventa e seis) desses alunos, o núcleo dispõe de 5 (cinco) transportes escolares administrados pela SEMED: 3 (três) micro-ônibus que fazem parte do PNTE, “caminho da escola”, 2 (dois) caminhões pau-de-arara, contratados na Serra da Barriga, devido à dificuldade de acesso de transporte provenientes de outras localidades, segundo informações concedidas durante a realização das entrevistas.

Assim como se verificou em todos os casos anteriormente apresentados, a escola iniciou suas atividades como escola núcleo, em 2008, por meio da promulgação da Lei 1114/2008. Semelhante ao que se averiguou nas outras escolas, nessa também não houve discussão ou consulta prévia para a implantação dessa política de Nucleação.

As entrevistas revelaram ainda que a escola em questão não possui um PPP, não tem regimento interno e o conselho escolar não funciona. Além disso ela não dispõe de gestão democrática, embora isso seja uma obrigatoriedade legal, prevista na LDB 9394/ 96. No que diz respeito às reuniões pedagógicas e à formação continuada dos professores que compõem este núcleo, as entrevistas realizadas demonstraram que “as formações são todas feitas na escola sede e os professores das escolas anexo vêm por conta própria fazer as formações” (informação verbal)9. No caso desse e da maioria dos núcleos, o transporte escolar é ofertado apenas para atender às necessidades de locomoção dos alunos. Assim, os professores das escolas anexo enfrentam dificuldades para ir à sede, bem como a direção e a coordenação, que trabalham na sede, ficam impossibilitadas de ir aos anexos para realizar o acompanhamento pedagógico e administrativo das atividades desenvolvidas lá.

Apresentada a situação da escola sede, faz-se necessário trazer as informações das escolas anexo que compõem o núcleo 6 (Quadro 7).

9 Entrevista concedida por Entrevistado D. [nov. 2015]. Entrevistador: Edilma José da Silva. União dos

Quadro 7 – Escolas Anexos Pertencentes ao Núcleo 6, União dos Palmares/AL

Anexos Escolas anexos Localidade Situação de

funcionamento Anexo I Escola Municipal Manoel Feitosa de

Souza

Sítio Riacho Multisseriada

Anexo II Escola Municipal Santa Quitéria Serra da Barriga Multisseriada Anexo III Escola Municipal Manoel Bernardo de

Mendonça

Sítio Riacho do Curtume Multisseriada Fonte: Documentos SEMED - Trabalho de Campo, 2015.

Organização: Edilma José da Silva (2016).

Conforme demonstra o quadro acima, todas essas escolas anexo pertencentes ao núcleo 6 são multisseriadas. De acordo com os dados obtidos durante a pesquisa de campo, todas elas funcionam em um espaço cuja estrutura física é composta por apenas uma sala de aula. No caso dos anexos I e II, o funcionamento acontece nos turnos matutino e vespertino, com a presença de 1 (um) professor por turno. Ainda levando em consideração a estrutura física, a escola que funciona como anexo I possui, além da já mencionada sala de aula, 2 (dois) banheiros, 1 (um) pátio e 1 (uma) cozinha. Nessa escola trabalham 4 (quatro) funcionários, dos quais 2 (dois) são professores. O anexo II, por sua vez, apresenta as mesmas características do ponto de vista da estrutura física descritas no anexo I, mas possui um quadro de 7 (sete) funcionários, dos quais apenas 2 (dois) são professores. A mesma estrutura física foi observada no anexo III, mas ele funciona apenas no turno vespertino, com a presença de 1 (um) professor e 1 (um) funcionário responsável pelos serviços gerais.

Como se trata de escolas desestruturadas e com número limitado de funcionários para atender administrativa e pedagogicamente ao seu público, bem como por possuir um número reduzido de alunos, elas se encontram em atividade na condição de anexo, mantendo-se dependentes da escola sede. Essa dependência, no entanto, intensifica a precarização das condições de trabalho nas escolas anexo, visto que o acompanhamento pedagógico não é efetivamente cumprido, conforme mencionado anteriormente, quando se falou a respeito das dificuldades de acesso a essas escolas, bem como à dificuldade de transporte dos seus professores para a sede.

Além das dificuldades provocadas pela localização isolada das escolas, bem como da falta de infraestrutura das estradas de barro que dão acesso às escolas, o acompanhamento pedagógico das atividades desenvolvidas nas escolas anexo deste núcleo é prejudicado pela falta de segurança nas estradas que dão acesso a elas, bem como nas comunidades onde elas se localizam.

A ida a essa escola demonstrou que o fato de ela estar inserida em uma comunidade quilombola, não foi considerado como um fator determinante para o direcionamento pedagógico das atividades desenvolvidas, no sentido de considerar as especificidades do lugar onde está inserida e do público ao qual atende. Na verdade, esse é um contexto que se repete em todas as escolas visitadas. Sejam elas quilombolas ou não, o trabalho desenvolvido por seu corpo docente é uma reprodução da proposta pedagógica aplicada nas escolas da cidade. Essa atitude desenvolve-se na contramão de todas as lutas construídas pelos movimentos socioterritoriais, as quais se alicerçam numa proposta de educação do campo.