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Em relação à atuação da Junta da Instituição Vaccinica da Corte, podemos apresentar que seus números cresceram, e que em todo o período joanino(1811

foram vacinados gratuitamente pelo governo: 4.791 brancos; 2.414 pardos; 37 índios e tos; dos quais 12.481 eram homens e 7.466 eram mulheres, como foram discriminados nos quadros abaixo428:

Número de pessoas vacinadas pela Junta da Instituição Vaccinica da Corte, por etnias entre 1811-1820.

Número de pessoas vacinadas pela Junta da Instituição Vaccinica da Corte, por sexo entre 1811-1820.

Estes números nos levam a perceber o quanto o trabalho da instituição vacínica, neste período, era voltado para a população escrava, o que também explica o fato do

Os dados de 1811 a 1819 se encontram “Mappa das pessoas, que se tem vacinado na Caza da Camara, desde o 1º de Julho de 1811 até 1819, e não se faz menção do grande numero, que particularmente tem se as”, publicado na Gazeta do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.59, 22 de julho de 1820, p.3. Os números referentes a 1820 também foram publicados e foram extraídos do

pessoas que se vaccinarão na Caza da Camara no anno de 1820”, publicado no periódico , Rio de Janeiro, n.32, 21 de abril de 1821 p.3.

Brancos Pardos Índios

4791 2414

37

Número de pessoas vacinadas

de 1811 a 1820

Homens Mulheres

12481

7466

Número de pessoas vacinadas de

1811 a 1820

128 Em relação à atuação da Junta da Instituição Vaccinica da Corte, podemos apresentar que seus números cresceram, e que em todo o período joanino(1811-1820) foram vacinados gratuitamente pelo governo: 4.791 brancos; 2.414 pardos; 37 índios e tos; dos quais 12.481 eram homens e 7.466 eram mulheres, como foram

Número de pessoas vacinadas pela Junta da Instituição Vaccinica da

vacinadas pela Junta da Instituição Vaccinica da

Estes números nos levam a perceber o quanto o trabalho da instituição vacínica, neste período, era voltado para a população escrava, o que também explica o fato do

Os dados de 1811 a 1819 se encontram “Mappa das pessoas, que se tem vacinado na Caza da Camara, desde o 1º de Julho de 1811 até 1819, e não se faz menção do grande numero, que particularmente tem se , Rio de Janeiro, n.59, 22 de julho de 1820, p.3. Os números referentes a 1820 também foram publicados e foram extraídos do “Mappa das ódico Gazeta do Rio

129 número de mulheres ser muito menor que o de homens, tendo em vista que os escravos do sexo masculino eram a maioria em grande parte do país.

Ao pensarmos a relação entre a instituição e a escravidão, é interessante ressaltar que a vacina passou a aumentar o valor dos escravizados, dada a proteção que conferia contra a varíola. Também é interessante pensarmos que, de maneira indireta, podemos conjeturar que os próprios serviços da Junta da Instituição Vaccinica seriam financiados indiretamente pelo tráfico negreiro, na medida em que os pagamentos desses serviços eram custeados pelo governo, que possuía como parte importante de seus rendimentos os impostos sobre a compra e venda de escravos, bem como com a emissão de passaportes e outras questões relacionadas à escravidão.

Mesmo que a vacinação fosse aplicada em sua maioria em escravizados, a lógica que explica o financiamento estatal da vacinação ainda seria o de que quanto mais o estado fosse populoso mais lucro o país teria em diversos setores da economia e na própria defesa do território. Podemos perceber essa idéia de maneira sintetizada na fala na fala do médico Bernadino Antonio Gomes em seu discurso, pronunciado em 1815, em sessão na Academia Real das Sciencias de Lisboa:

[...] Os homens, nos seus desertos nem tem animo, nem industria. Onde não ha industria, não podem florescer as Artes, o Commercio, e a Agricultura;não pode por conseguinte haver riqueza; e onde não ha riqueza e falece o animo, he mui percaria a independencia e honra nacional. He pois essencialmente necessario para a prosperidade de hum paiz que elle não seja deserto, ou que seja sufficientemente povoado429.

Ainda neste discurso, Bernardino Antonio Gomes afirmou que as populações nas possessões ultramarinas estariam na razão inversa da extensão do país, fato este que ocorreria principalmente no Brasil, onde os viajantes se deparavam com florestas de tal magnitude, “que seriam impermeáveis não só aos homens, mas até mesmo aos raios do Sol”. Deste modo, Bernardino Gomes, discorreu que apesar da boa qualidade do solo nestas florestas, a falta de habitantes era o que as deixava crescer, e ressaltou a escassez da povoação no “vasto rico e fertilissimo paiz”430.

O médico português comentou, ainda, sobre a falta de habitantes no Brasil e deu o exemplo de que 401. 469 pessoas estariam localizadas nas capitanias de São Paulo, Goiás, Paraíba do Norte, Espírito Santo, e Ilha de S.Catarina, e destes pelo menos

429Conta annual da instituição vaccinica da Academia Real das Sciencias de Lisboa, pronunciada na

sessão pública de 1815 por Bernardino Antonio Gomes. Historia e Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Tomo IV, parte II, 1816, pp.30-55.

130 97.700, ou seja¼, seriam escravos. Segundo Bernardino Gomes esta seria uma média da proporção de escravos por todo o Brasil, todavia “essa sorte de habitantes” seria menos “prolifera” por ser mais “celibatária”, de modo que a perda rotineira de suas vidas só seria reparada pelo comercio e importação da escravatura africana431.

Sobre essa baixa taxa de reprodução, Bernardino Gomes acreditava que ela ocorria “por educação talvez, e por falta de liberdade”, o que também levaria os escravizados a serem menos “industriosos” que a casta branca. Curiosamente para Bernardino Gomes, os mestiços seriam a prova de que o “cruzamento de raças as melhora”, pois em sua concepção em geral “os mulatos excedem, em talento e sagacidade, as duas raças de que provém”. No fim de seu discurso Bernardino Gomes relatou que:

A parte porém, como vinha de dizer, da população Brasiliana, que se compõe de Escravos, sendo pouco plorifera, menos industriosa, e quasi toda de importação, não só não he equivalente a hum igual número de habitantes brancos ou mestiços, mas ha de vir a ser nula, porque he notorio que Sua Alteza quer abolir o Commercio da Escravatura, o qual permite ainda nos seus Vastos dominios Ultramarinos, porque o estado da sua população e bem dos seus vassallos assim o exigem432.

Bernardino Antonio Gomes parece ter subestimado a importância do tráfico de escravos para o Brasil e superestimado as pretensões de D. João quanto ao fim da escravidão. Todavia em sua fala podemos perceber o caráter político da prática de vacinação, a qual seria o meio mais eficaz de aumentar a população portuguesa e brasileira, trazendo com isso inúmeros benefícios. Deste modo, este seria um dos elementos fundamentais que explicava a criação e manutenção estatal da Junta da Instituição Vaccinica da Corte, no Rio de Janeiro.

3.3-A Junta da Instituição Vaccinica da Corte no período Imperial (1821-1834). Em 1821, quando D. João voltou para Portugal, levou consigo o seu cirurgião e diretor da Junta da Instituição Vaccinica, Theodoro Ferreira de Aguiar, e com isso o comando da instituição passou para o cirurgião português Joaquim da Rocha Mazarem(1775-1849),que também ficaria por pouco tempo no cargo433. Joaquim da

431Idem. Ibidem.

432Idem. Ibidem.

433Mazarem embarcou, em 26 de abril de 1821, junto com a comitiva de D. João VI, para Portugal, e

assim novamente o cargo de diretor da instituição ficou vago. Sobre a biografia deste personagem ver: FERREIRA, Bernardo da Veiga; FONSECA, Maria Rachel Fróes da. Joaquim da Rocha Mazarem. Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1932). Casa de Oswaldo Cruz /

131 Rocha Mazarem comentou sobre os trabalhos da instituição nos primeiros cinco meses de serviço no ano de 1821, que teria contabilizado apenas 140 vacinados (17 brancos, 22 pessoas de cor e 95 pretos). Deste total, 90 não haviam retornado no 8° dia para conferir a vacina e repassar o pús. Joaquim Mazarem afirmou que este grande número de faltosos seria recorrente nos serviços daquela instituição, e que isto prejudicava a continuidade da vacinação, e demonstrava um desleixo e falta de filantropia do povo quanto à vacina. Buscando dar solução a estas questões, Mazarem sugeriu 4 alternativas:

1-Dar um lugar mais decente a esta instituição, pois que se acha estabelecida no patim ou salleta da casa da Camara.

2-Como vão vacinar um grande número de pretos boçais, e muitas vezes conduzidos por hum, que não inteleção pouco dista deles, não sabe dizer o nome do senhor a que pertencem, nem a moradia, resultando disto o incoveniente de se não poderem procurar quando deixam de comparecer no tempo determinado, parece me que deverião ser obrigados, tais individuos, a remeter um papel em que declaressem, os seus nomes, o da rua em que morão, e o número da porta.

3-acontece também por enviarem pretos para se vacinarem ainda por batizar, e por consequência sem nome, o que causa embaraço para legalizar os assentamentos.

4-Que se publique nas gazetas os nomes daqueles, que deixam de comparecer, assim como a sua morada, huma vez que tenhão hido, ou mandado vacinar.434

Ainda em 1821, Joaquim da Rocha Mazarem publicou em periódicos, como o Diario do Rio de Janeiro, algumas recomendações que corroboravam com as suas propostas no mapa supracitado. Nestas recomendações sinalizou que as pessoas que enviassem escravizados recém chegados para se vacinarem, e que o condutor não soubesse explicar os requisitos pedidos pela Junta da Instituição Vaccinica, deveriam ter um papel no qual estivesse declarado o nome do chefe da família, o da rua, e o número da casa na qual habitava, sem o que não seria vacinado. Joaquim da Rocha Mazarem ressaltou, ainda, que quando os vacinados não pudessem comparecer na casa da vacinação “por algum acidente morboso ou por sintomas febris que poderiam se manifestar em meio ao desenvolvimento da vacina”, o chefe da família deveria se reportar a qualquer um dos professores empregados na instituição vacínica,que iriam observá-los e fazer os competentes assentamentos435.

Fiocruz. Disponível em http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br. Acessado em 04 de dezembro de 2017.

434Reflexões. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.10, 12 de julho de 1821, p.75.

132 Neste mesmo aviso, Joaquim da Rocha Mazarem afirmou que não seriam vacinados pela Junta da Instituição Vaccinica os indivíduos que se apresentassem com sarnas, pois a vacina se daria sempre de forma irregular. Além disso, de uma maneira mais punitiva, o médico anunciou que todas as pessoas que conduzissem ou mandassem à casa da vacina indivíduos para se vacinarem, contraiam a obrigação de se apresentar na instituição depois de oito dias, e aqueles que negligenciassem esta obrigação ficariam sujeitos que seus nomes e moradias fossem publicados nas Gazetas como “transgressores de um tão útil estabelecimento público”436.

Joaquim Mazarém comentou, também, sobre os trabalhos vacínicos no mês de julho de 1821, e afirmou que o baixo número de vacinados ocorreu devido aos dias chuvosos, mas lembrou que quando isso ocorresse os vacinados deveriam voltar outro dia para que os médicos verificassem o estado da vacina437. Deste modo, em julho de 1821, dos 69 vacinados 23 não retornaram.

Embora com estas ordens expressas, o pouco retorno dos vacinados seria um problema que atrapalhou os trabalhos da instituição por toda década de 1820, como fica exemplificado nos números de faltosos, do segundo semestre de 1824 até o ano de 1827:

-Segundo Semestre de 1824- de 3.377 vacinados, faltaram 2.344438. -Primeiro Semestre de 1825- de 2.018 vacinados, faltaram 1547439. -Segundo Semestre de 1825- de 2.648 vacinados, faltaram 2251440. -Primeiro Semestre de 1826- de 3.147 vacinados, faltaram 2722441. -Segundo Semestre de 1826- de 2.734 vacinados, faltara, 1955442. -Primeiro semestre de 1827- de 2.895 vacinados, faltaram 1987443.

436Idem. Ibidem.

437Neste mês foram contabilizados 20 brancos, 10 pessoas de cor e 39 pretos. Instituição Vacinica. Diario

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.21, 26 de julho de 1821, p.162.

438Mappa das pessoas Vaccinadas na casa da Camara desta Corte desde Julho até o último de Dezembro

de 1824. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro, vol. 5, n.27,5 de fevereiro de 1825, p.108

439Mappa das pessoas Vaccinadas na casa da Camara desta Corte desde Janeiro até o último de Junho de

1825. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro, vol.6, n.27, 2 de agosto de 1825, p.107.

440Mappa das pessoas Vaccinadas na casa da Camara desta Corte desde Julho até o último de Dezembro

de 1825. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro, vol7. n.21, 27 de janeiro de 1826, p.84

441Mappa das pessoas Vaccinadas na casa da Camara desta Corte desde Janeiro até o último de Junho de

1826. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro, vol.8 n. 23, 28 de julho de 1826, p.94.

442Mappa das pessoas Vaccinadas na casa da Camara desta Corte desde Julho até o último de Dezembro

de 1826. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro, vol.9, n.42,22 de fevereiro de 1827, p.168.

443Mappa das pessoas Vaccinadas na casa da Camara desta Corte desde Janeiro até o último de Dezembro

133 -Segundo Semestre de 1827- de 3.253 vacinados faltaram 2327444.

Devido ao alto número de faltosos, em 1828, os cirurgiões da Junta da Instituição Vaccinica da Corte entraram com uma representação perante o Intendente Geral da Policia, José Clemente Pereira, na qual reclamavam do número de pessoas que não retornavam no 8° dia para fazer os devidos procedimentos. Devido a este requerimento, o intendente publicou uma Ordem composta de 4 artigos445.

No primeiro artigo determinava que as crianças que fossem enviadas à casa da vacina deveriam sempre levar um escrito em que estivesse declarado o seu nome, sua idade e filiação (no caso de ser escrava deveria constar o nome do senhor), o número da casa de sua moradia, e na falta deste escrito, deveria haver uma pessoa que soubesse dar todas estas declarações446.

No segundo artigo ressaltava que os senhores que enviavam seus escravos para serem vacinados, deveriam ter o cuidado de os mandar lavados, pois como fora observado pelos membros daquela instituição seria difícil que a vacina pegasse em negros “apresentados cobertos de imundice”. No terceiro artigo constava que todos vacinados deveriam retornar no 8° dia, para ali se verificar se a vacina era verdadeira, e que seriam enviados soldados, ou oficiais da polícia, para que fosse cumprida esta determinação. No quarto e último artigo discriminava que as ordens também compreendiam os escravos novos, os quais deveriam ser primeiro vacinados para depois serem vendidos fora da Corte, já como vacinados e que assim receberiam um valor mais alto447.

O Intendente alertou ainda aos donos destes escravos que os membros da Junta da Instituição Vaccinica da Corte não poderiam atestar que os mesmos escravos estavam vacinados, antes que passassem os 8 dias e fosse verificada a validade da vacina, pois caso contrário poderiam estar autorizando um engano, que poderia ser fatal aos compradores448.

A Junta da Instituição Vaccinica também havia feito uma representação no ano de 1827, na qual havia relatado ao Intendente Geral da Polícia que só haviam sido vacinados dois expostos da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e que devido a isto poderia ocorrer mortes devido às bexigas atingindo em grande parte os mesmos

444Idem. Ibidem.

445Edital. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.6, 7 de março de 1828, p.21. 446Idem. Ibidem.

447Idem. Ibidem. 448Idem. Ibidem.

134 expostos.

Para o intendente seria uma “deshumanidade deixar de prestar esse serviço aos inocentes que por si o não podem procurar”, e por isso, em 1828, expediu ordens ao provedor da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro para que tomasse as providencias adequadas para que os meninos que fossem levados à casa dos expostos fossem apresentados para receberem a vacina, dentro dos primeiros dois meses do seu recebimento449.

Sobre esta questão o provedor da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro apresentou um ofício, em 1830, ao Governo Imperial, no qual comentava sobre a ineficácia das providências adotadas para a vacinação dos expostos. Com isto José Joaquim Carneiro de Campos (1768-1836), Marques de Caravelas, determinou, em 10 de maio de 1830, que se estabelecesse como medida mais conveniente que a vacina fosse aplicada na própria casa dos expostos sob a supervisão do próprio Provedor, e com a inspeção do cirurgião-mor da mesma Santa Casa, conforme determinava o plano enviado. Tendo em vista este fato, o Governo Imperial ordenou por meio da Secretaria de Estado dos Negócios do Império, que a Junta da Instituição Vaccinica da Corte enviasse toda a vacina que aquele “pio estabelecimento” necessitasse, quando lhe fosse requisitado pelo cirurgião-mor da instituição450.

Retornando às ordens do Intendente da Polícia, estas não tiveram um efeito direto quanto aos faltosos em geral na vacinação da Junta da Instituição Vaccinica da Corte, pois embora contabilizasse um sensível aumento no número de vacinados, o número de faltosos permanecia alto. Neste sentido, o mapa de vacinação da junta do ano de 1828 demonstra que num total de 6.338 vacinados, 5.336 pessoas não haviam retornado no oitavo dia451. Em 1829, novamente com um número expressivo de vacinação de 8.836vacinados, 7.764 pessoas não retornaram no oitavo dia452.

No ano de 1828, o quadro de vacinados fornecido pela instituição é interessante, pois discriminou as etnias dos faltosos, bem como se os vacinados eram adultos ou

449Repartição da Intendencia Geral da Policia. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro,

n.50,29 de fevereiro de 1828, p.197.

450Repartição dos Negócios do Império. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro, v.15,

n.114,24 de fevereiro de 1830, p.453.

451Mappa dos individuos que se vacinarão na caza da Vaccina, em todo o anno de 1828, com declaração

de n°dos que tiverão vaccina verdadeira, falsa e os que não comparecerão no oitavo dia, para o exame de costume. Império do Brasil: Diario Fluminense, Rio de Janeiro, v.13, n.46, 27 de fevereiro de1829, p.190.

452Mappa do estado da Vaccina, e seus progressos na Corte do Rio de Janeiro no anno de 1829. Império

135 crianças e seu correspondente sexo, como apresentamos na tabela453 abaixo:

Total Vacinas verdadeiras Vacinas falsas Não compareceram no 8° dia

Crianças Brancas –

Homens 403 101 1 301

Crianças Brancas –

Mulheres 405 95 2 308

Crianças Pardas - Homens 188 0 71 117

Crianças Pardas –

Mulheres 227 0 51 176

Crianças pretas 809 198 7 611

Adultos brancos de ambos

os sexos 217 103 1 113

Adultos Pardos de ambos

os sexos 132 56 1 75

Adultos Pretos de ambos os sexos

3957 315 7 3635

Tabela 1- Número de vacinados pela Junta da Instituição Vaccinica da Corte no ano de 1828

Como os números apontavam, a quantidade de faltosos era regular em todas as classes de pessoas que frequentavam a instituição, fosse ela livre ou escrava, e talvez por isso a crítica dos vacinadores da instituição não eram remetidas a uma classe específica, mas aos “chefes de família” no geral. Por outro lado, podemos observar que o número de vacinações falsas, frequentes nos primeiros anos do serviço de funcionamento da Junta da Instituição Vaccinica, estavam praticamente sanados neste período. Todavia vale destacar que as crianças pardas vacinadas na instituição, que retornaram no oitavo dia, nenhuma delas recebeu a verdadeira vacina.

É importante ressaltarmos que em meio às mudanças políticas, que estavam ocorrendo no Brasil desde o processo de independência desencadeado em 1821, as práticas de saúde acabariam por serem reformuladas no período. Neste sentido, foram promulgadas a Constituição de 1824 e a Lei de 1828 no país, e estabeleciam as atribuições das Câmaras Municipais que passariam a existir em todas as cidades e vilas, que passariam a ser regidas por um código de posturas. Esses códigos foram formulados pelas próprias Câmaras e funcionavam como leis municipais, e constituíam preceitos escritos que obrigavam os municípios a cumprirem certos deveres para a manutenção da ordem pública. Segundo Tania Fernandes, essas mudanças não trouxeram transformações substanciais aos serviços, e atenderam, na realidade, à proposta de

453Mappa dos individuos que se vacinarão na caza da Vaccina, em todo o anno de 1828, com declaração

de n°dos que tiverão vaccina verdadeira, falsa e os que não comparecerão no oitavo dia, para o exame de costume. Império do Brasil: Diario Fluminense, v.13, Rio de Janeiro, n.46, 27 de fevereiro de1829, p.190.

136 descentralização do poder estatal em função da consolidação das relações locais regidas pela ascendente classe senhorial454.

Passar a saúde para a incumbência das Câmaras Municipais geraram críticas e tensões no Governo Imperial, e um dos maiores críticos deste projeto político foi médico e professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro José Martins da Cruz

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