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Total de Vacinas Aplicadas Vacinas Verdadeiras

126 marcada pelos debates e discussões em torno da eficácia da vacina Jenneriana, mostrando que a vacina era uma prática médica ainda não totalmente aceita na sociedade. Sua eficácia ainda era duvidosa e possuía o risco de transmissão de doenças como, por exemplo, a sífilis421. Além disso, segundo Hercules Octavianno Muzzi obras, como a de Heliodoro Jacinto de Araújo Carneiro, “Reflexões e Observações sobre a Prática da Inoculação da Vaccina, e as suas funestas consequencias feitas em Inglaterra” (1808), tiveram grande repercussão contra a vacina não só em Portugal mas também no Brasil. Um dos principais argumentos de Heliodoro Carneiro, em sua obra, era que as pessoas vacinadas, além de poderem contrair as “bexigas naturais”, podiam contrair outras moléstias advindas das vacas. Com isso, Hercules Muzzi afirmava que “derramado aquele prejuízo dificilmente seria desarraigado”422.

Por outro lado, a população rural também poderia resistir à vacinação por receio de prejudicar seus serviços, conforme o período das plantações e das colheitas. Além disso, foi evidenciado posteriormente que a vacinação produziria um tempo de imunidade aproximado de 10 anos, e que após esse período deveria ser feita uma dose de reforço na vacina, do contrário a “proteção” seria perdida. Com isso, podemos supor que muitas das pessoas que foram vacinadas no Rio de Janeiro nos anos de 1805, 1806 e 1807, podem ter contraído a varíola 10 anos depois e assim terem desacreditado do método ou mesmo depreciá-lo423.

Os boatos sobre a validade da vacina também poderiam atrapalhar os andamentos dos serviços. Um destes boatos gerou uma pequena polêmica nas páginas da Gazeta do Rio de Janeiro, quando o médico inglês João Jones, membro do Real Collegio de Cirurgiões de Londres, e residente no Rio de Janeiro, fez um comunicado, em 11 de outubro de 1815, na Gazeta do Rio de Janeiro, informando que após morar vários anos no Rio de Janeiro constatou que a vacina era encontrada pouquíssimas vezes e queestava em seu poder a “legítima Vaccina”, que buscava propagar o máximo possível vacinando gratuitamente duas vezes por semana em sua casa, e também oferecera linfa vacínica para os professores que a quisessem.

Segundo o médico inglês, a vacina estaria sendo disseminada no Rio de Janeiro,

421 CHALHOUB, Sidney. op. cit.

422Parecer de Muzzi ao governo sobre a necessidade da revacinação que foi reproduzida na matéria

intitulada: Revaccinação. Revista Médica Fluminense, Rio de Janeiro, n.2, maio de 1839, pp.44-49.

423 Sobre a temática da revacinação Chalhoub aponta que estava em jogo desde os argumentos que ela não

era necessária, pois os vacinados que adquiriram varíola, teriam recebido a vacina por pessoas que não tinham sido formadas em medicina fora isto o povo era contrário a vacinação de modo que a revacinação poderia reforçar opositores do método colocando em xeque a efetibilidade da vacina. CHALHOUB, Sidney. op. cit.,pp.118-119.

127 por meio de enxerto, uma moléstia que “se denomina vulgarmente Vaccina”, seguida de grande febre e muitas erupções, e que era notório que a vacina causava pouca ou nenhuma febre e nenhuma erupção com exceção da “vesícula vacina” no lugar vacinado424.

Hercules Muzzi respondeu ao dito cirurgião inglês, em matéria na Gazeta do Rio de Janeiro, afirmando que além de existir a vacina no Rio de Janeiro, esta era reconhecida por médicos europeus. Em relação à ocorrência de febres e erupções, o cirurgião atribuía à influência do clima e às constituições individuais, no que era apoiado por muitos médicos, nacionais e estrangeiros. Para corroborar sua posição, Muzzi citou a obra “Traité historique et pratique de lavaccine”(1801), do médico francês Louis Jacques Moreau de la Sart (1771-1826), na qual o autor afirmara que após a vacinação poderiam haver erupções semelhantes às bexigas naturais, ao sarampo e também a outras muitas anomalias, e até mesmo convulsões, as quais, segundo Hercules Muzzi, não seriam tão passageiras como acreditava o médico Jones425.

Hercules Muzzi afirmou, ainda, que a vacina era verdadeira e ratificava esta sua afirmação dizendo que havia conferido que um dos vacinados do médico Jones, no 9° dia, havia tido febre, e no 12° erupções de pequenos botões no rosto, braços e pernas, o que não significava que a vacina deixava de ser verdadeira. Ademais, segundo Hercules Muzzi, a vacina de Jones não havia sido adquirida braço a braço desde a Inglaterra, mas sim em vidros como era recorrente nas vacinas adquiridas pela Junta, de modo que os argumentos do cirurgião seriam uma estratégia para dizer que seu pus era verdadeiro e genuíno, enquanto o resto seria “espúrio” 426.

Voltando à difusão da vacina, sabemos que o governo joanino continuou procurando incentivar a vacina publicando os resultados obtidos com a vacinação na Gazeta do Rio de Janeiro. Em 1817 uma medida mais enérgica foi lançada e anunciada na Gazeta do Rio de Janeiro pelo Intendente Geral da Polícia:

Os administradores dos expostos da Misericórdia fazem saber as criadeiras dos mesmos expostos que forem maiores de quatro mezes e ainda não tenhão tido bexigas, que deverão levar a vacina no Consistório da Igreja do Rozario nas quintas feiras e domingos pelas 10 horas da manhã, devendo ahi appresentar a guia para se mostrar que se fez a vacina, ficando as mesmas certas que se lhe não farão pagamentos de criações e vestidos, enquanto não mostrarem os expostos vacinados427.

424Avisos. Gazeta do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.81, 11 de outubro de 1815, p.8. 425Avisos. Gazeta do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n.84,21 de outubro de 1815, p.4. 426Idem. Ibidem.

Em relação à atuação da Junta da Instituição Vaccinica da Corte, podemos apresentar que seus números cresceram, e que em todo o período joanino(1811

foram vacinados gratuitamente pelo governo: 4.791 brancos; 2.414 pardos; 37 índios e 12.705 pretos; dos quais 12.481 eram homens e 7.466 eram mulheres, como foram discriminados nos quadros abaixo

.

Gráfico 3 - Número de pessoas vacinadas pela Junta da Instituição Vaccinica da Corte, por etnias entre 1811

Gráfico 4 - Número de pessoas Corte, por sexo entre 1811

Estes números nos levam a perceber o quanto o trabalho da instituição vacínica, neste período, era voltado para a população escrava, o que também explica o fato do

428Os dados de 1811 a 1819 se encontram “Mappa das pessoas, que se tem vacinado na Caza da Camara,

desde o 1º de Julho de 1811 até 1819, e não se faz menção do grande numero, que particularmente tem se vacinado em suas cazas”, publicado na

1820, p.3. Os números referentes a 1820 também foram publicados e foram extraídos do pessoas que se vaccinarão na Caza da Camara no anno d

de Janeiro, Rio de Janeiro, n.32, 21 de abril de 1821 p.3. Negros

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