• Nenhum resultado encontrado

Números de acidentes fatais na Companhia Energética de Minas Gerais de

CAPÍTULO 1 VIVÊNCIAS E SUBJETIVIDADES: A PRECARIEDADE OBJETIVA

1.2 Insegurança e morte no dia a dia dos trabalhadores terceirizados da Cemig

1.2.2 Números de acidentes fatais na Companhia Energética de Minas Gerais de

A busca por informações sobre acidentes de trabalho em empresas terceirizadas da Cemig sempre foi um trabalho extremamente difícil e que demanda um enorme espírito investigativo. Há que se buscar informações de várias fontes, de forma minuciosa, contar com a ajuda, denúncia e colaboração de várias pessoas, entidades e instituições; trabalhadores (do quadro de contratados diretamente pela Cemig e também dos próprios terceirizados), sindicatos e sindicalistas de várias categorias e poder público: auditores fiscais do trabalho, delegacias e delegados do trabalho, etc.

Além disso, é sempre necessário e importante investigar pistas e suspeitas, por menores que elas sejam, que levem a alguma informação sobre um acidente ocorrido em alguma cidade ou região do estado de Minas Gerais. Estar também atento a algum afastamento do trabalho suspeito que muitas vezes pode passar despercebido, sem que se faça uma ligação direta com o trabalho que aquela pessoa afastada realizava. Com todo esse esforço e dificuldade o Sindieletro-MG elaborou e mantém atualizada uma lista que desde 1999 (acompanhamos esta lista até 2013) contabiliza o número de acidentes fatais ocorridos na Cemig e em suas empresas terceirizadas; empresas estas que ninguém sabe ao certo dizer quantas são atualmente. Este trabalho de averiguação permanente acaba se tornando ainda mais difícil porque muitas vezes as empresas terceirizadas escondem ou não notificam aos órgãos competentes sobre algum acidente acontecido com um de seus funcionários. O jornal Chave Geral, edição 190, de março de 2000 noticiou um desses casos. De acordo com o semanário produzido pelo Sindieletro-MG, a empreiteira Extel escondeu um acidente que vitimou um eletricitário contratado por ela e acabou sendo punida pela Cemig com a suspensão do contrato de atividades, após pressão do sindicato e dos trabalhadores.

A suspensão, desde fevereiro, ocorreu depois que o sindicato denunciou (no Jornal Chave Geral 180) o acidente com o eletricista Luciano Soares de Oliveira. O empregado da Extel foi vítima de um choque elétrico quando trocava o suporte de cruzeta numa linha alimentadora da zona rural de Sete Lagoas,

a serviço da Cemig. Ele queimou as mãos ao tocar na rede sem saber que estava energizada e não teve socorro imediato, tendo inclusive que descer sozinho do poste. (Chave Geral, pag. 4, 2000).

Esconder um acidente seja ele fatal ou não é, de fato, uma tarefa mais complicada de se fazer, no entanto, não se pode afirmar que não existam mortes não notificadas neste universo tão grande e nebuloso que é o da terceirização da força de trabalho na Cemig. Logo abaixo apresentaremos na Tabela 2 deste capítulo todas as mortes notificadas durante o período supracitado e contabilizadas pelo Sindieletro-MG.

Tabela 2 - Acidentes Fatais – Trabalhadores Eletricitários – Minas Gerais ANO Eletricitários a serviço da CEMIG

CEMIG Empreiteiras Obra Part.

2013 2 2 0 2012 0 3 1 2011 0 8 - 2010 0 7 - 2009 1 5 2008 1 8 2007 1 8 2006 2 10 2005 4 8 2004 0 5 2003 0 6 2002 1 6 2001 3 4 2000 3 3 1999 5 5 TOTAL 23 88 01

Fontes: Números apresentados pela Cemig - Relatório Anual de Acidentes de Trabalho – 1999/2011 e Informações das Regionais do– Jornal Chave geral.

Elaboração: SINDIELETRO/MG. Edição: Igor Figueiredo.

Nesta tabela, podemos visualizar o número de acidentes de trabalho fatais ocorridos na Cemig15 entre os anos de 1999 e 2013. Para efeito de entendimento sobre os dados que a tabela acima apresenta, é necessário explicar que optamos

15 Para mais informações sobre todas as vítimas de acidentes fatais na Cemig durante o

por apresentar todos os números sobre acidentes fatais ocorridos na Companhia Energética de Minas Gerais, seja de trabalhadores do quadro próprio, seja de força de trabalho terceirizada. Na tabela o subtítulo “Cemig” significa que os trabalhadores ali relacionados eram do quadro próprio da empresa e o subtítulo “Empreiteiras” significa que todos os dados abaixo deste subtítulo se referem à força de trabalho terceirizada. Existe ainda o subtítulo “Obra Part.” Nele está relacionado um único dado, referente ao ano de 2012, quando um trabalhador de uma empresa externa estava realizando um trabalho em uma obra para a Cemig e sofreu um acidente de trabalho que o levou a falecer.

Partindo para a análise dos dados, quando do início da contabilização de óbitos na Cemig percebemos que o número de mortes entre os trabalhadores terceirizados e do quadro próprio já foi bem parecida. Em 1999, ano de início da contagem, tanto nas empreiteiras quanto dentre os trabalhadores contratados diretamente foram registradas cinco mortes em cada uma das formas de contratação.

No entanto se formos observar os números pouco mais de uma década depois do início da contabilização dos acidentes fatais veremos grandes diferenças entre as duas formas de contratação de eletricitários. Em 2010, 2011 e 2012 não foi registrada nenhuma morte no quadro de trabalhadores próprios da Cemig. Mas no mesmo período, entre os trabalhadores terceirizados, foram registradas sete, oito e três mortes, respectivamente. De 1999 a 2013 foram registradas vinte e três mortes entre os trabalhadores do quadro próprio da Cemig, já dentre os terceirizados o número chegou a oitenta e oito falecimentos. Podemos assim dizer que entre os terceirizados, neste período apresentado na tabela, faleceram 3,8 vezes mais trabalhadores terceirizados desta forma de contratação do que da outra.

Com relação a esta situação o DIEESE argumenta que:

Com relação à terceirização no setor elétrico, ela se acentuou ao longo da década de 1990 num contexto de redefinição do modelo setorial e forte transferência (privatização) do controle acionário das empresas do setor público para o privado. A lógica de atuação privada, centrada no lucro, e o forte estímulo regulatório para redução de custos, sem uma legislação eficaz que impusesse limites, foram fatores preponderantes para se chegar à situação atual, na qual mais da metade da força de trabalho não está empregada nas empresas detentoras da

concessão para exploração da atividade. (DIEESE, pag. 2; 3. 2010).

De fato, a inversão da relação entre número de trabalhadores contratados versus trabalhadores terceirizados, ocorrida ao longo do fim dos anos 1990/primeira década dos anos 2000, explica em certa medida o aumento de mortes de trabalhadores terceirizados na Cemig. No próximo capítulo demonstraremos em números como se deu essa inversão na relação de número de trabalhadores contratados versus trabalhadores terceirizados, tanto no cenário nacional do setor elétrico, como na realidade específica da Cemig.

Como último ponto relevante que podemos destacar na tabela acima, o ano de 2013 se mostrou atípico tanto em uma, como em outra coluna. Por um lado, dentre os trabalhadores contratados diretamente pela empresa a mortalidade foi alta e voltou a subir, com duas mortes registradas. Desde o ano de 2006, ou seja, já fazia sete anos, que não se registrava mais do que uma morte por ano na companhia energética de Minas Gerais. Por outro lado, agora falando do universo dos trabalhadores terceirizados, o ano de 2013 foi o ano em que se registraram menos mortes desde que a série histórica começou a existir. Neste ano dois trabalhadores de empreiteiras perderam a vida a serviço da Cemig.