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4. Desenvolvimento

4.3. GRÉCIA: A beligerância imposta

4.3.4. Nacionalismo e Imperialimo

No caso grego, os referidos vectores terão de ser analisados em conjunto, pois a Grécia, apesar de desprovida de um projecto colonial mantinha ambições imperiais, nomeadamente por via da unificação da nacionalidade grega sob o domínio de Atenas e da elevação do reino grego à condição de potência regional e europeia.

Muito à imagem das aspirações nacionais italianas, também a beligerância grega assume como principal motivador a resolução da questão latente da sua terra irredenta. Mais do que vantagens económicas ou estratégicas, o projecto de Venizelos pretendia colocar a beligerância grega no contexto aliado como instrumento para a conclusão do processo de unificação grega e para a defesa das conquistas territoriais da última década face às pretensões da Bulgária e otomanas. Assim, nas considerações intervencionistas, a inclusão da Grécia na Entente seria a forma mais profícua de materialização e defesa da Megale idea, ou seja, da unificação grega com a defesa das conquistas passadas e obtenção de novos domínios de maioria grega como o Chipre, o Dodecanese italiano e partes do território búlgaro, albanês e otomano (Hamilton e Herwig, 2004, p. 178). Tal como em Itália, para a Grécia, o projecto de unificação nacional assumiu-se como o ideário e o substrato ideológico da beligerância, em paralelo com a predisposição natural de Venizelos para o apoio a Entente. Por outro lado, o brio nacional grego veio a constituir um dos principais factores de adiamento da beligerância grega. A presença de um contingente aliado em Salónica, a partir de Outubro de 1915 foi interpretado pela maioria da população grega como se tratando de

uma ocupação militar hostil por parte da Entente e uma intromissão anglo-francesa na politica interna grega. Como tal, ao contrário do previsto por Venizelos, a presença do contingente aliado a Salónica tornou-se um factor de promoção das teses neutrais pro- germânicas e de incremento do apoio popular de Constantino I que terá mesmo referido que "I will not be treated like a native chieftain" (citado em Keegan, 1999, p. 275) e ordenado que o exército grego mantivesse um cordão de segurança em redor do acampamento aliado. Em face do referido, o "nacionalismo" e as pretensões imperiais gregas assumiram um contributo dicotómico para a definição da política externa grega na I Guerra Mundial, por um lado promovendo a beligerância junto da Entente, por outro, fomentando uma crescente aversão aos ocupantes ingleses e franceses

4.3.5. Pressão Mediática e Apoio Popular

A supracitada presença militar Aliada terá condicionado, ainda, o apoio popular e mediático aos intentos beligerantes de Venizelos. Embora consecutivamente reeleito nas eleições legislativas, Venizelos sofreu uma crescente erosão da sua popularidade junto do eleitorado grego como resultado da sua acção de mediador da fixação de forças militares estrangeiras em solo grego.

Nos contextos da definição da política externa grega e do Cisma Nacional, o povo grego apoiou maioritariamente Constantino I e a política de neutralidade. Ao contrário do registado em Itália e Espanha, na Grécia não se observou uma polarização da massa popular em face do posicionamento grego na I Guerra Mundial. Um exemplo da refutação popular da beligerância e da Entente foram os consecutivos episódios de confrontação física entre populares e milícias armadas e os contingentes Aliados estacionados em Salónica. Recorde-se que a primeira incursão militar Aliada em Atenas, em Dezembro de 1916, foi frustrada pela acção tanto de unidades militares leais ao monarca como pela intervenção, em massa, do povo ateniense armado. Como tal, a beligerância grega declarada em Junho de 1917 foi uma opção política desprovida de popularidade doméstica e de pressão mediática para o efeito.

4.3.6. Sistema Político e Decisores Políticos

Em 1914 a Grécia era regida por uma monarquia constitucional incipiente, à imagem dos seus congéneres da Europa do Sul. A Constituição permitia um sufrágio limitado para as eleições legislativas que privilegiava o eleitorado urbano e instruído, que assegurava a regular rotação entre os partidos Liberal e Conservador por funções executivas. Por altura do inicio das hostilidades europeias o Partido Liberal encontrava- se no poder, na forma de um Governo dirigido pelo seu líder Eleutherios Venizelos. Venizelos e os seus apoiantes assumiram as responsabilidades de condução da política intervencionista, sendo a beligerância grega de 1917 o produto da insistente acção destes no cenário doméstico - enquanto no poder em Atenas e, posteriormente, em Salónica - e no contexto externo, por via da construção de canais de aproximação a Londres e Paris. Nesse sentido, os "decisores políticos" foram um vector determinante para a beligerância grega, apenas limitada pela acção antagónica do monarca.

Igualmente enquanto "decisor político", Constantino I, com o lato apoio das Forças Armadas, foi o outro pólo do diferendo institucional grego, actuando a favor da neutralidade helénica apesar da crescente pressão externa e dos intentos do Governo eleito. Constantino I agiu em consonância com o interesse nacional grego, tal como percepcionado por si e por uma maioria da população: a Grécia não se encontrava preparada para uma guerra moderna e as disposições do Tratado bilateral com a Sérvia não se aplicavam ao caso (Leontaritis, 1940, 71).

A este facto acresceu a própria aversão do monarca a Venizelos, que sempre interpretou como um déspota ingénuo, ao serviço da Entente; e os seus laços familiares e biográficos de familiaridade com o Império Alemão (Cruttwell, 1991, p. 231). Constantino I havia estudado na Universidade de Heidelberg e na Academia Militar de Berlim, tendo inclusive servido, como oficial superior, na infantaria prussiana. Era, também, casado como a Princesa Sofia, irmã do Kaiser e intimo deste. Podemos, assim, concluir que a acção dicotómica dos dois pólos decisórios do sistema político grego condicionou, consideravelmente, o peso detido pelo vector "decisores políticos" na opção grega pela beligerância. O efeito de impasse decorrente do Cisma Nacional apenas seria revertido a favor da beligerância mediante a intervenção determinante de Paris e Londres no apoio a Venizelos e ao Governo paralelo de Salónica.

4.4. PORTUGAL: A beligerância esforçada

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