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Napster – eficiência na distribuição de arquivos digitais

4. DIFUSÃO DA PIRATARIA VIA INTERNET: CONSEQÜENCIAS E

4.1. INTERNET E AS NOVAS FORMAS DE CONCORRÊNCIA

4.2.2. Napster – eficiência na distribuição de arquivos digitais

Criado por um então universitário americano em 1999, tendo causado uma melhora na eficiência na distribuição digital de fonogramas, o Napster é um software acessível através da www.nasper.com que permite a gravação de um CD e a sua posterior colocação para troca na Internet. Ao colocar à disposição dos seus usuários o Napster, a Internet permite a circulação de arquivos musicais no formato MP3, possibilitando aos internautas a apropriação gratuita de produções musicais sem qualquer degradação da qualidade, o que não acontecia com os softwares anteriores. O sistema de transferência de arquivos musicais viabilizado por meio do software Napster (e outros criados posteriormente a exemplo do Imesh e o Audio Galaxy) transforma todo 'cliente' em um servidor em 'potencial'. Embora o sistema funcione por intermédio de diversos servidores conectados a um ‘meta-servidor’, estes computadores não armazenam o conteúdo disponível para download. Sua função é apenas criar, em tempo real, listas de ‘endereços’ que indicam a cada usuário onde encontrar arquivos musicais armazenados nos discos rígidos de outros clientes47. No momento em que o usuário seleciona o fonograma que deseja transferir para seu computador, a conexão passa a ser feita cliente-a-cliente.

47 Quando o software é instalado, o usuário indica o diretório em que se encontram instalados os

arquivos de áudio que deseja compartilhar (em sua maioria no formato MP3). O programa então cria uma lista que é transferida para um servidor central assim que o usuário se conecta ao sistema. Estas

Neste sentido, pode-se afirmar que se trata de um aplicativo baseado no modelo que se convencionou denominar peer-to-peer, o qual explora os recursos dos computadores pessoais, em termos de armazenagem, processamento e conectividade. A arquitetura peer-to-peer também implica em uma descentralização das principais funções do sistema. A tecnologia peer-to-peer consiste na comunicação entre duas máquinas diretamente, visando o compartilhamento de arquivos ou serviços. A definição clássica estipula que os nós da rede devem estabelecer suas conexões de forma independente e descentralizada, cada um deles desempenhando ambas as funções de cliente e servidor. Na rede ligada em

peer-to-peer todos os usuários são cliente e servidor ao mesmo tempo, portanto não

há um servidor central.

Uma diferença fundamental em relação ao esquema cliente-servidor tradicional é em relação à troca de dados e responsabilidades. No modelo cliente-servidor, os softwares são diferentes, sendo que o cliente em geral faz uso de serviços e processamento disponibilizados pelo servidor. Trata-se, portanto, de uma troca assimétrica. Já o P2P efetua uma troca de serviços simétrica. Isto quer dizer que os nós do sistema possuem softwares idênticos com capacidades e responsabilidades semelhantes.

Em um software que funcione sob arquitetura Cliente/servidor, a tarefa de monitorar, impedir ou restringir o acesso de uma máquina a outra é realizada facilmente, ao passo que em uma rede sob a arquitetura peer-to-peer esta prática torna-se extremamente difícil. No caso do Napster, a transferência de arquivos (sua principal função) encontra-se descentralizada. Por outro lado, as funções de busca e intermediação das conexões são realizadas por servidores centrais.

O salto de eficiência proporcionado pelo Napster ao intercâmbio de fonogramas digitais via Internet está no fato de que, ao outorgar a cada usuário a capacidade de agir como servidor de informação, o sistema aumenta significativamente sua base de arquivos disponíveis. Ao mesmo tempo, na medida em que a capacidade de armazenamento dos computadores pessoais aumenta, há uma tendência a se listas são atualizadas permanentemente e, desta forma, o servidor pode determinar a localização de todas as músicas disponíveis em seu sistema a cada momento.

manter parte dos arquivos transferidos no próprio disco rígido. Isto significa que, em muitos casos, cada fonograma “consumido” (copiado de um computador para outro) é na realidade replicado no sistema48. A constante criação de réplicas das músicas mais populares também aumenta consideravelmente as chances de se localizar tais arquivos em um sistema no qual muitos computadores não se encontram conectados de forma permanente. Como afirma Shirk (2000)49, no caso do Napster, os recursos disponíveis nos computadores pessoais podem criar “externalidades positivas” – como é o caso, como foi visto, da capacidade de armazenamento – e a dinâmica e eficiência do sistema são baseadas exatamente na exploração compartilhada destes recursos.

A RIAA (Associação Americana da Indústria de Gravação) apresentou uma queixa contra a napster.com em dezembro de 1999, que foi considerada válida pelo tribunal em 28 de abril de 2000. Ao dar segmento à queixa, no início de 2001 o tribunal deu razão ao queixoso, considerando relevante a proteção dos direitos do autor na rede. De acordo com a decisão jurídica, os servidores do sistema foram obrigados a incluir filtros que impossibilitam o acesso aos arquivos musicais protegidos por direitos autorais. Tal dispositivo técnico age exatamente sobre a função do sistema que, como foi dito acima, se encontra centralizada, ou seja, o gerenciamento das listas de fonogramas armazenados nos computadores dos usuários. Com a instalação dos filtros, os servidores deixam de “enxergar” os arquivos protegidos, apagando-os virtualmente do sistema. Esta decisão, ao criar uma jurisprudência, seria capaz, teoricamente, de inviabilizar a manutenção de programas semelhantes ao Napster. Entretanto, o modelo Napster continua a ser replicado com grande êxito e, de acordo com o ranking da CNET (principal site de download de softwares da Internet), em junho de 2001, o AudioGalaxy ultrapassou a marca de 1 milhão de downloads semanais, ultrapassando o ICQ como o título de software mais procurado. Por outro lado, outros sistemas de trocas de arquivos digitais não-proprietários como o Gnutella50 e a Freenet (www.freenet.com), cuja arquitetura permite a

48 Aliás, a própria noção de “consumo” não pode ser aplicada às trocas de arquivos digitais na

Internet, pois, neste caso, a transferência não desfalca o estoque original. Ocorre, portanto, o princípio da não rivalidade/não exclusão.

49 SHIRKY, Clay: “In Praise of Freeloaders”: Http://www.oreillynet.com

descentralização inclusive da função de busca e intermediação51, tornam inócuos dispositivos técnicos de segurança tais como o que foi implementado pelo Napster.

Além do padrão MP3 e do software Napster, outras duas invenções contribuíram para abalar a indústria fonográfica: os gravadores baratos e portáteis de CDs e os aparelhos portáteis do tipo Rio. Lançados pela empresa americana Diamond Multimedia, estes últimos são capazes de copiar, armazenar e reproduzir músicas capturadas na internet. Por isso, são conhecidos pela indústria fonográfica como "walkman de pirata". As ameaças que estas invenções representam para a indústria fonográfica, especialmente às majors, podem ser explicadas em dois sentidos, conforme aponta Pessotti (2000, p.99):

1. De um lado, o novo formato de arquivo de som criou possibilidades até então não imaginadas de acesso gratuito à música, vale dizer, alavancou enormemente as possibilidades de pirataria num momento em que a indústria de discos, que depende inteiramente do pagamento de direitos autorais, já sofria com o ataque dos falsificadores de fitas e CDs. O MP3 tornou-se o formato preferido dos piratas da Internet, que copiam músicas de CDs e as distribuem de graça na rede, a partir de sites ilegais, de chats (salas virtuais de bate-papo) ou de correio eletrônico.

2. De outro, e o que talvez seja muito mais importante, o MP3 abriu caminho para a total “desmaterialização” da música; com ele, a música retorna ao que havia sido até o final do século XIX – um produto absolutamente intangível. Ora, isso significa dizer que toda a cadeia de valor da indústria fonográfica atual pode desaparecer, pois com o MP3, a Internet e os equipamentos do tipo Rio tornam-se inúteis às fábricas e gravadoras de CDs, as atuais entidades arrecadadoras de direito autoral, empresas de pesquisas de mercado, distribuidoras e lojas de discos etc.

Já existem mais de 20 companhias da indústria eletrônica desenvolvendo e/ou lançando novos modelos de sistemas portáteis de gravação e reprodução. Algumas previsões apontaram para um mercado mundial de mais de 30 milhões de gravadores de MP3 ou formatos similares em 2003. Ciente destes fatos, a indústria fonográfica tem procurado reagir - seu objetivo já não é simplesmente combater a pirataria na rede, mas, sobretudo, formalizar e controlar o novo mercado de música

on-line.

51 No caso destes sistemas, quando o usuário envia um pedido de busca de um arquivo específico,

este pedido é replicado através da rede até que o arquivo seja encontrado ou que o tempo de busca se esgote. Em caso de sucesso, estabelece-se uma conexão peer-to-peer e a transferência é realizada.

Em fins de 2000, a BMG anunciou uma aliança estratégica com o Napster para desenvolver um serviço de download de fonogramas por assinatura, em uma clara demonstração de que a indústria fonográfica reconhece as potencialidades do mercado de distribuição digital e começa a delinear estratégias mais diretas com o intuito explorá-lo.