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Capítulo 3 – DANÇA VIVENCIADA NAS NARRATIVAS

3.4 NARRATIVAS DE CARLOS DERGAN

“Em minhas inquietudes busquei te conhecer dança. Na dança o amor é da dor, na súbita mudança fui movido a te conhecer. Conhecimento que gira sem parar, circunda os continente e até mente eloquentes “ Carlos Dergan Por volta do ano de 2000 morei na cidade do Rio de Janeiro, eu tive a oportunidade de conhecer inúmeros projetos gratuitos, com finalidades sociais, em todos esses projetos o foco era o de proporcionar para as pessoas os nobres ensinamentos da arte da dança, o balé clássico. Tive também a oportunidade de conhecer a consagrada escola Maria Oleneva, que também oferece técnicas do balé clássico de maneira gratuita.

A escola de balé Maria Oleneva possui uma característica pedagógica diferenciada, e não se restringe somente ao ensino básico da dança, esta instituição prima pela excelência na formação de seus bailarinos tornando-os profissionais qualificados.

A inserção dos aprendizes à instituição dá-se por meio de processo seletivo, que consiste em uma bateria de exames probatórios para verificar a aptidão e as capacidades musicais, rítmica, motora e cognitiva de cada candidato.

Oferecer às crianças pobres a oportunidade de conhecer outra oportunidade, colocar o brilho nos olhos de cada pequeno era a tarefa mais importante na minha vida que apesar do trabalho do dia a dia ainda encontrava tempo para dar aulas de balé clássico e promover eventos voluntários nas comunidades carentes, através do projeto social dança para todos.

Contando sonhos

Esse é um espetáculo que precisava ser aplaudido de pé, o ingresso cobrado para assisti-lo era apenas a minha dedicação, a temporada foi longa e a estrela da cena era uma juventude que precisava de uma oportunidade para sobreviver, havia um espetáculo em que o palco maior era o amparo.

Imagine só eu um jovem bailarino premiado e destacado nacionalmente, percebi que uma das mais perfeitas coreografias que existe é a partinha e, assim, dediquei meu tempo para dar aulas de graça para jovens carentes. Trabalho totalmente voluntário cujo o único retorno eram os sorrisos e os sonhos realizados das minhas criancinhas. Difícil imaginar? Pois é justamente isso que eu estava fazendo desde o inicio do ano. Num espaço cedido pelo desprendimento de uma diretora de escola de dança, neste espaço ensinava os truques e a magia do balé para 145 meninas da comunidade do Paar.

Como tudo começou

A iniciativa de montar o projeto nasceu em mim como surge a inspiração dos melhores bailarinos: exatamente na ponta dos pés. Tudo começou no ano de 2000, graças a uma viajem que eu fiz a Niterói cidade do Rio de Janeiro a fim de realizar um curso de aperfeiçoamento com a professora Reneé Simon.

Lá travei o contato com o projeto social realizado junto às comunidades carentes na Ilha do Governado, envolvendo medidas educativas e a dança. Fiquei muito impressionado com aquele projeto, as crianças e adolescentes atendidos dedicavam-se por completo, e o resultado era animador, a idéia caiu na minha alma.

De volta a Belém conheci a senhora Marlene Andrade diretora da escola de dança Ribalta, que me convidou para ministrar um curso em sua instituição de ensino. O contato com um alunado especial que tinha dificuldade para manter as mensalidades em dia, mais que demonstrava total dedicação, reacendeu em mim a lembrança do projeto social entendido no Rio de Janeiro.

Percebi que era preciso fazer algo parecido com aquelas meninas. Elas tinham potencial, só lhes faltavam estimulo, com aval e apoio de Marlene Andrade que me cedeu um espaço na escola, eu montei o meu próprio projeto e o batizei de ‘’dança para todos’’.

A proposta era simples e nobre: daria aula de graça a todas as jovens com vontade de seguir a carreira de bailarina, impedida por limitações financeiras. Fiz varias copias de um pequeno panfleto que foi distribuído em um centro comunitário local, o resultado foi espantoso, já na primeira aula 50 meninas responderam o convite. Na segunda o número pulou para 120, em pouco tempo eram 145 crianças e adolescentes.

Figura 13 - Alunas do Projeto “Dança para todos”

Fonte: Jornal “O Liberal”

O perfil sócio-econômico das futuras estrelas do palco variava de filhas de domesticas, autônomos... Mais para permanecer no projeto era preciso aceitar uma regra clara: só participariam aquelas que contassem com um bom desempenho na escola. ‘’Elas precisavam me prestar conta em todos os semestres com as suas médias’’. O estimulo teve como resultado o aumento do rendimento em seus colégios.

Em apenas seis meses o sucesso do empreendimento foi sentido. Todavia, embora a demanda fosse cada dia maior, a turma teve que se limitar a marca de 150 inscritos, seria impossível manter um ensino de qualidade com mais alunos. O

método utilizado era o vaganova, eu ministrava aulas diárias em dois turnos, de 9 as 11 da manhã e as 5 da tarde, a minha vida era delas. Vida esta que enfrentava vários obstáculos de transmitir conhecimentos mesmo em condições adversas.

Faltavam-nos muitas coisas entre elas, roupa apropriada, sapatilhas, piso adequado e não só isso, para que as aulas pudesse evoluir era preciso que nos mudássemos para um outro local onde o piso fosse especial , aja vista que o espaço em que eu trabalhava não contava com um assoalho próprio para um ensino técnico avançado, eu tinha que limitar o ensinamento dos passos básicos .

Figura 14 - Noticias do Projeto Dança Para Todos

Fonte; Jornal O Liberal.

As crianças do projeto deixavam claramente que estavam obstinadas a se empenharem nos seus estudos de dança clássico, graças a dedicação delas com apenas sete meses de existências. O projeto consegui arrebatar prêmios nos festivais locais.

Sempre fui rígido, exigente no ensinar da técnica do balé clássico às crianças do projeto. Este rigor era necessário, pois o ato disciplinar se traduziria em educação para cidadania.

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