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3 A PERSPECTIVA MULTIMODAL E A FORMAÇÃO LEITORA

4.1 Natureza da pesquisa

Os rumos e os passos a seguir no desenrolar do projeto indicam a metodologia, que definirá as técnicas que devem ser utilizadas para coleta de dados. Os objetivos da pesquisa e as respostas procuradas devem ser levados em conta para a definição da metodologia. A metodologia é a explicação detalhada, rigorosa e exata de toda ação desenvolvida no método do trabalho de pesquisa. Os aspectos metodológicos são compostos de partes que descrevem o local, os sujeitos, o objeto de estudo, os métodos e técnicas, as limitações da pesquisa e o tratamento dado ao corpus (CHIOZZOTTI, 2007).

O emprego de um método de pesquisa é responsável por apresentar caminhos para a solução do problema investigado. As ciências sociais dispõem de vários métodos com características bem particulares e que se ajustam a cada necessidade do pesquisador. Assim, a definição do método é um passo fundamental para o desenrolar da pesquisar. Para esta pesquisa, elegemos como método o indutivo, pois partimos de uma premissa particular para o geral. Tomamos como ponto de partida a ideia de que o trabalho com a multimodalidade textual na escola pesquisada pode contribuir para a formação de leitores críticos. Após

verificarmos a eficácia do nosso trabalho com a multimodalidade, poderemos afirmar que o mesmo efeito pode ser conseguido em outros ambientes escolares.

De acordo com (Gil, 2008), o método indutivo é um tipo de argumento que parte de uma premissa particular para atingir uma afirmação mais generalizada. No referido método as explicações são obtidas a partir de observações dos fatos. O autor supracitado destaca ainda que a indução apresenta quatro fases: observação e anotações dos fatos, análise, generalização e verificação. No processo de pesquisa e aplicação do método indutivo para se confirmar a natureza dos fatos é necessária uma grande variedade de observações e experiências para se verificar a possibilidade de variações que podem surgir. Nesse método, inicia-se da observação de um fato ou fenômeno que se quer conhecer.

A perspectiva indutiva, segundo Gil (2008), contribuiu para desenvolvimento do pensamento científico desde o seu surgimento com Francis Bacon (1561- 1626). Com o surgimento do Positivismo, o referido método ganhou relevância e passou a ser considerado adequado para investigação nas ciências sociais. A partir da aceitação da indução nas pesquisas de cunho social, a postura especulativa foi renegada ao um segundo plano e a observação se tornou um procedimento para se alcançar o conhecimento científico, tornando dessa forma, os instrumentos de pesquisa mais adequados para se entender os fenômenos sociais.

A nossa pesquisa é caracterizada como pesquisa descritiva. As pesquisas descritivas têm como meta fundamental descrever as características de um determinado fenômeno e, geralmente são realizadas por pesquisadores preocupados com a atuação prática. Essa pesquisa tem como características a observação, o registro, e a análise dos fatos, procurando identificar a natureza, a causa e a frequência dos dados coletados. Para coletar os dados nesse tipo de investigação, empregam-se técnicas específicas dentre as quais citamos entrevista, questionário e observação (GIL, 2008).

Segundo Chiozzotti (2007), as pesquisas de caráter descritivo possibilitam ao pesquisador conhecer em profundidade uma comunidade específica, suas características e os seus valores. A pesquisa descritiva visa à enumeração e a ordenação de dados sem interesse em comprovar ou rejeitar hipóteses, permitindo, assim, o surgimento de uma nova investigação. As investigações com perspectiva descritiva podem ir além da simples identificação das relações entre as variáveis, podendo estabelecer ligações entre a natureza das relações estudadas. Prodanov e Freitas (2013, p. 35), discutindo sobre pesquisa descritiva, enfatizam que esse tipo de investigação “exige do investigador uma série de informação sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de uma

determinada realidade”. Uma das características mais acentuadas das pesquisas descritivas é que se procuram formas para se projetar as respostas obtidas, considerando que os problemas podem ser solucionados através de análises e observações. A presente pesquisa se insere na perspectiva descritiva, pois visa a partir da descrição, análise e atuação prática provocar mudanças na nossa prática pedagógica, mais especificamente na formação leitora dos alunos.

Este estudo também adota uma abordagem qualitativa. A abordagem qualitativa teve origem no século XIX, na Alemanha, em razão da necessidade das ciências sociais estudarem os fenômenos humanos. Sua realidade é construída a partir do quadro referencial dos próprios sujeitos do estudo, cabendo ao pesquisador decifrar o significado da ação humana, e não apenas descrever os comportamentos. As pesquisas qualitativas possuem características multimetodológicas, utilizando um número variado de métodos e instrumentos de coleta de dados. Entre os mais aplicados, está a entrevista em profundidade (individual e grupal), a análise de documentos e a observação participante ou não.

A pesquisa qualitativa estabelece uma estreita relação entre o mundo e o sujeito. De acordo com Prodanov e Freitas (2013), esse tipo de pesquisa não utiliza método nem técnica estatística e os dados são coletados do ambiente natural. Os dados são colhidos de forma indutiva e o pesquisador tem um papel fundamental nesse processo. A pesquisa qualitativa tem um caráter descritivo. Conforme já afirmamos, os dados coletados nessa pesquisa são descritivos, retratando o maior número possível de elementos existentes na realidade pesquisada. Na análise dos dados coletados, não há preocupação em comprovar hipóteses previamente estabelecidas, porém estas não eliminam a existência de um quadro teórico que direcione a coleta, a análise e a interpretação dos dados.

Segundo Gil (2008), os estudos de enfoque qualitativo têm grande preocupação com o contato do pesquisador com a realidade pesquisada. Nessa perspectiva, é fundamental que o pesquisador mantenha contato direto e intensivo no campo de pesquisa. Para o autor supracitado, um fenômeno se torna melhor investigado quando é observado de perto, no contexto em que ocorre. O pesquisador deve se tornar um instrumento para observação, coleta e análise dos dados. A pesquisa qualitativa visa uma compreensão confiável da realidade estudada, por isso, se preocupa com todo o processo e não apenas com os resultados. Corroborando com a discussão dos pressupostos que caracterizam a pesquisa qualitativa, Prodanov e Freitas (2013, p. 70) enfatizam:

Pesquisa qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzida em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Tal pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Nessa perspectiva, percebemos que a pesquisa qualitativa de base descritiva e interpretativista é adequada a nossa investigação porque posiciona o pesquisador na realidade pesquisada, e é constituída por uma sequência de atividades interpretativas capazes de representar em os fenômenos em seus contextos naturais. A pesquisa qualitativa tem como foco de estudo o processo vivenciado pelos sujeitos. Assim, as investigações qualitativas são capazes de responder à necessidade de compreender em profundidade alguns fenômenos.

Para a realização desta investigação, elegemos como enfoque a pesquisa qualitativa, pois esta exige o envolvimento ativo do pesquisador e a ação. Nessa perspectiva, a pesquisa qualitativa constitui uma forma adequada de entender a natureza de fenômenos sociais. Para esta pesquisa, escolhemos a abordagem qualitativa por ser mais adequada aos objetivos do nosso processo investigativo, que visa encontrar respostas para o problema pesquisado. A pesquisa qualitativa tem como características marcantes a flexibilidade e a diversidade. É flexível porque não admite regras rígidas, nem estruturação exaustiva e prévia. A diversidade está no emprego de vários métodos em cada processo investigativo para torná-lo mais flexível e coerente. Todas as pessoas que participam do processo investigativo são reconhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas adequadas para interferir no problema que está sendo pesquisado.

Nossa investigação está pautada na vertente da pesquisa-ação e caracteriza-se por uma intervenção na prática escolar, na qual o pesquisador é o professor que procura refletir sobre sua prática, buscando formas para provocar mudanças na sua ação pedagógica e superar as dificuldades encontradas. Para isso, o professor planeja as ações, realiza a intervenção e analisa os dados baseado nas teorias referentes ao tema abordado. Nossa intervenção se concretizará através de um trabalho sistemático de leitura e interpretação textual de textos multimodais – anúncios publicitários e charges. A referida pesquisa abrirá espaço para refletirmos sobre nossa prática docente, já que nos colocamos como sujeitos participativos e investigativos. De posse dos dados levantados, resta-nos analisá-los e interpretá-los, para deles tirar conclusões, verificando se o plano de ação surtiu efeito e o que eventualmente precisa ser aperfeiçoado num novo ciclo de pesquisa.

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa de caráter interpretativa que envolve um processo metodológico empírico. A pesquisa-ação coloca pesquisador e pesquisados frente a frente possibilitando uma ação colaborativa. Assim, a pesquisa-ação exige ações planejadas que são implementadas e analisadas posteriormente, suscitando reflexão e mudanças. Segundo Tripp (2005), a referida pesquisa é um processo de aprimoramento da prática, por isso, deve ter um rigoroso controle e avaliação das mudanças provocadas. Corroborando com as discussões, Thiollent (2008, p.16) assevera:

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

Considerando a afirmação anterior, é possível destacarmos que a pesquisa-ação envolve além da investigação o agir no campo da prática. Outros aspectos fundamentais do processo de investigação são a descrição de todos os procedimentos e a avaliação da sua eficácia, ou seja, as pessoas trabalham juntas como co-pesquisadores. Tripp (2005) considera a pesquisa-ação é um dos muitos tipos de investigação-ação que visa aperfeiçoar a prática através da efetivação entre agir no campo de atuação e investigá-lo. Os procedimentos de investigação-ação seguem passos bem definidos como planejamento, organização, descrição e avaliação na tentativa de melhorar a prática. “A solução de problemas, por exemplo, começa com a identificação do problema, o planejamento de uma solução, sua implementação, seu monitoramento e a avaliação de sua eficácia” (TRIPP, 2005, p. 446). A pesquisa-ação, de acordo com o referido autor, é uma forma de efetivação da investigação-ação cujo objetivo é provocar mudanças dentro da própria prática. A pesquisa-ação requer ação tanto na área da prática quanto da pesquisa unindo, assim, características tanto da prática rotineira quanto da pesquisa científica.

Thiollent (2008) afirma que a pesquisa-ação por se caracterizar como uma prática de aprimoramento e permitir o monitoramento das mudanças conduzem a um processo de compreensão mais profundo de fatores relativos à situação, às pessoas e à própria prática. A pesquisa-ação apresenta um caráter coletivo, um fator interativo entre os envolvidos. O pesquisador e os demais participantes se relacionam de forma cooperativa e participativa. Esse tipo de pesquisa não se restringe ao levantamento de informações para serem arquivadas, os pesquisadores procuram desempenhar um papel ativo na realidade observada avaliando e intervindo no problema investigado. O referido autor, argumentando sobre a pesquisa-ação,

reforça que a prioridade desse tipo de pesquisa é concretizar uma ação, tendo como objeto de investigação, além de pessoas, situações que necessitem serem resolvidas ou esclarecidas. Para o autor, o trabalho com a investigação colaborativa exige um acompanhamento sistemático de todas as ações e todas as atividades dos envolvidos.

A pesquisa-ação tem como pressuposto básico uma participação sistematizada do pesquisador no processo de investigação com o intuito de transformar a realidade observada. Esse tipo de pesquisa é segundo Thiollent (2008), uma importante ferramenta para auxiliar os professores a melhorarem sua prática, pois oferecem subsídios para se buscar a resolução dos problemas detectados. Essa é uma abordagem científica cujo objetivo é provocar transformações em ambientes sociais através da intervenção do pesquisador. A intervenção do pesquisador pode trazer mudanças imediatas para problemas relacionados ao processo ensino - aprendizagem. A pesquisa-ação, na visão do referido autor, pode provocar desenvolvimento pessoal para os professores pesquisadores porque têm como foco suas preocupações e os problemas que dificultam o êxito na sua atuação. Além disso, o período que corresponde à realização da pesquisa deve constituir uma fase de aprendizagem para todos os envolvidos.

Esse tipo de pesquisa caracteriza-se pelo envolvimento do pesquisador com as pessoas investigadas. Para Gil, (2008), a pesquisa-ação insere o pesquisador no campo de pesquisa como coautor, num processo de interação e participação ativa. A pesquisa-ação permite ao pesquisador participar de todo percurso investigativo, intervindo e observando cada etapa. Chiozzotti (2007, p. 79), afirma: “o sujeito observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado”. Dessa forma, o pesquisador deve ser um ávido descobridor de significados que se ocultam nas estruturas sociais e educacionais. A pesquisa participante possibilita o contato direto do pesquisador com o problema pesquisado, num contexto natural, permitindo ao pesquisador participar de forma interativa à medida que coleta os dados.

Prodanov e Freitas (2013) afirmam que quando a pesquisa-ação é aplicada no âmbito do ensino tem como meta as situações que interferem no desenvolvimento do processo ensino - aprendizagem e são propensas a transformações se forem tratadas com estratégias e ações adequadas. Por ser autoavaliativo, o referido tipo de pesquisa permite o monitoramento constante da prática durante a intervenção, criando a possibilidade de redefinir as ações e os caminhos em busca das respostas. Assim, percebemos que esse tipo de pesquisa está relacionado à união entre conhecimento e ação, visto que a prática (ação) é um componente essencial também do processo de conhecimento e de intervenção na realidade. Isso porque, à medida que a ação acontece, descobrimos novos problemas que não haviam sido pensados.