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4 ASPECTOS METODOLÓGICOS: A TRAJETÓRIA TRAÇADA

4.1 Natureza da pesquisa

As metodologias de caráter qualitativo-interpretativista têm sido utilizadas nas pesquisas em LA em função de contemplar as necessidades do estudo voltado para os usos reais da linguagem envolvendo as questões sociais. A esse respeito, De Grande (2011) afirma que,

Essa escolha não é aleatória. Ela decorre de uma compreensão sobre o que é fazer pesquisa, sobre os objetivos e objetos de pesquisa, sobre o que está implicado na relação entre pesquisador e pesquisados e se articula com os objetivos e pressupostos teóricos da pesquisa. (DE GRANDE, 2011, p. 11). Esse modo de pensar a pesquisa sob a ótica da LA compreende uma relação indissociável entre o pesquisador e os pesquisados, além de considerar que tudo se encontra interligado com a finalidade do estudo. Nessa direção, Borges da Silva (2003) discorre sobre a relação dialética entre a perspectiva responsável pelo desenho de pesquisa e a natureza do

objeto. Assim, enquanto a própria concepção do objeto de estudo aponta para o tipo de pesquisa a ser desenvolvida, por outro lado, a dimensão teórico-metodológica ajuda a delimitar o objeto de pesquisa.

Dessa forma, o modelo teórico-metodológico adotado nesta pesquisa foi de natureza qualitativa e interpretativista, como exposto a seguir. Entendo com De Grande (2011) que as questões sociais complexas ligadas aos usos da linguagem numa diversidade de contexto sóciohistórico abordadas nas reflexões baseadas em uma experiência de pesquisa, podem servir para outros pesquisadores no campo da LA.

4.1.1 Pesquisa qualitativa e interpretativista

Neste estudo, busquei utilizar a pesquisa qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994; CHIZZOTTI, 1991; DE GRANDE, 2007; DENZIN; LINCOLN, 2006; HUGHES, 1983). O paradigma qualitativo de pesquisa surgiu como uma reação ao paradigma positivista que nega o fato de que fazer ciência compreende uma atividade atrelada aos fatores sociais, além de desconsiderar o fato de que o pesquisador não é neutro. A esse respeito, Hughes (1983) afirma que as versões particulares do mundo e modos de conhecimento do mundo adotados pelo pesquisador que os utiliza encontram-se presentes em todo instrumento ou procedimento de pesquisa.

A questão é que, no paradigma qualitativo, a realidade não é única e acabada, ao contrário, ela é múltipla e complexa. Tal complexidade se deve ao fato de que a compreensão do mundo social é construída pelo homem, a partir dos seus significados. Observo com De Grande (2007, p. 8) que “o paradigma qualitativo não almeja a uma categorização do real como um fato acabado”, ao contrário, esse paradigma considera a multiplicidade do mundo social permeado pelas diferentes relações.

Denzin e Lincoln (2006) destacam que a perspectiva positivista neutra ou objetiva se contrapõe ao fazer pesquisa qualitativa, uma vez que estamos num momento de descoberta e redescoberta. Esse momento é significado e ressignificado por meio de diferentes olhares de cada pesquisador, influenciado por suas experiências de vida e suas diferentes relações no contexto social. Segundo essa ótica, Fabrício (2006) assevera que a pesquisa qualitativa, em suas descobertas e redescobertas, pode ser considerada como um “território movente” no fazer pesquisa em LA na contemporaneidade.

Dessa forma, a investigação qualitativa em educação tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento chave; “ao apreender as perspectivas

dos participantes, a investigação qualitativa faz luz sobre a dinâmica interna das situações, dinâmica esta que é frequentemente invisível para o observador exterior” (BOGDAN; BIKLE, 1994, p. 51).

Diante de tais afirmações, a metodologia adotada nesse estudo se situa dentro do paradigma qualitativo de pesquisa, o que implica que o pesquisador acredite que o homem constrói o mundo social através dos vários significados atribuídos por ele, mediante a linguagem nas relações e nas interações.

Tendo isso em mente, é possível entender que no paradigma qualitativo a pesquisa interpretativa possibilita compreender que os participantes de uma situação constroem os significados sobre/no contexto social, levando em conta que a presença do pesquisador está incluída. A esse respeito, Moita Lopes (1994,) assevera que para o pesquisador interpretativista, a padronização dos fatos do mundo social e a redução da realidade a uma causa é uma distorção da realidade criada pela investigação científica.

O fazer ciência como uma prática interpretativista pressupõe a alteração da concepção do que seja verdade em favor do resultado momentâneo da negociação – intersubjetiva e discursiva - de sentidos numa comunidade científica. Nesse caminho de investigar à luz do modelo interpretativista, considerei importante ressaltar que os significados foram construídos socialmente, na interação entre pesquisador e pesquisados. Nesse sentido, entendo com Moita Lopes (1994, p. 331) que “o significado não é o resultado da intenção individual, mas de inteligibilidade interindividual”, em outras palavras, o significado é construído socialmente.

Diante do exposto, o presente estudo abrangeu a coleta de dados através da metodologia qualitativa com a utilização de questionários, apresentando questões mistas - abertas e fechadas - aos participantes da pesquisa. Sobre a pesquisa qualitativa, Chizzotti (1991, p.79) indica uma relação dinâmica entre o indivíduo e o mundo real, assim, “o objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações”.

4.1.2 Pesquisa documental

Em termos metodológicos, o presente estudo se vale da pesquisa documental para analisar os documentos oficiais do curso de Letras: LP do ILEEL (UFU), além dos documentos legais referentes à educação de surdos. Lüdke e André (1986) apontam que, ao construir novos aspectos e problemas de um tema à luz dos estudos dos documentos, a análise documental apresenta uma importante técnica para a pesquisa qualitativa.

Entendo com Marconi e Lakatos (2011, p. 48) que a pesquisa documental tem como fonte a coleta de dados restrita a documentos. A esse respeito, Vergara (1998, p. 46) ressalta que:

Investigação documental é a realizada em documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas: registros, anais, regulamentos, circulares, ofícios, memorandos, balancetes, comunicações informais, filmes, microfilmes, fotografias, vídeo-tape, informações em disquete, diários, cartas pessoais e outros. (VERGARA, 1998, p.46).

Como Vergara descreve, a pesquisa documental é realizada em documentos internos, tanto em órgãos públicos como privados. No caso do presente estudo, analisei o Projeto Político Pedagógico do curso de Letras: LP do ILEEL (UFU) - PLLP, como um documento interno, com vistas a analisar as diretrizes de avaliação do trabalho pedagógico propostas por esse documento.

Além disso, também analisei o histórico acadêmico da aluna surda matriculada no curso supracitado, com a intenção de fazer um levantamento dos resultados obtidos em todas as disciplinas, no intuito de triangular esses dados com a análise do PLLP e com as respostas alcançadas por meio dos questionários aplicados aos participantes da pesquisa.

4.1.3 Estudo de caso

O método utilizado, de estudo de caso, é considerado por Leffa (2006, p.15) “como uma das mais antigas ferramentas de pesquisa”. Para esse linguista, o estudo de caso compreende uma metodologia indutiva, em que as observações empíricas com ênfase na interação entre os dados e sua análise constituem a base de sua teoria. Ainda segundo o autor, o contexto em que se encontram os dados aliado às descrições e explicações que são realizadas com ênfase no processo, permeiam o estudo de caso (LEFFA, 2006).

A perspectiva adotada pelo autor supracitado, por seu turno, vai ao encontro à considerada por Yin (2005), em que o estudo de caso é conceituado como um tipo de análise qualitativa, como uma “investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real” (YIN, 2005, p. 32). Esse autor também discorre sobre as muitas vantagens do estudo de caso, citando dentre elas, a flexibilidade. Novas informações e constatações obtidas durante a coleta de dados pode modificar o projeto de um estudo de caso, o que, do ponto de vista da pesquisa científica, ressalta o caráter flexível desse método de pesquisa.

Diante do exposto, o estudo de caso do presente estudo está centrado na abordagem interpretativista, pois teve, como ambiente natural, o curso de Letras: LP do ILEEL (UFU) como fonte direta de dados. Como pesquisadora, me propus a investigar sobre os mecanismos de avaliação da aprendizagem de aluno surdo no ensino superior no âmbito da LA.