2.1 Revisão Bibliográfica
2.1.7 Natureza dos efeitos estatísticos nos modelos matemáticos
As mensurações realizadas nas plantas são explicadas por meio de modelos
matemáticos, compostos por efeitos de naturezas fixa e/ou aleatória (JOMAR FILHO, 2002).
Além destes efeitos, fazem parte dos modelos uma média geral, sempre considerada de efeito
fixo, e o erro, sempre tido como aleatório. Os modelos ainda podem ser classificados como
fixo (todos os efeitos, com exceção do erro, são fixos), aleatório (todos os efeitos, com
exceção da média geral, são aleatórios) ou então como misto (tem efeitos fixos e aleatórios
misturados). Escolher se determinado modelo classifica-se em um ou outro tipo não têm sido
uma tarefa simples e tem gerado uma série de discussões na literatura (SEARLE; CASELLA;
McCULLOCH, 1992; BUENO FILHO, 1997; SMITH; CULLIS; THOMPSON, 2001).
a) Efeito de genótipos
Tradicionalmente a classificação do efeito de genótipos em fixo ou aleatório num
modelo misto é feita da seguinte maneira: se há uma amostragem casual dos indivíduos na
população o efeito de genótipos é tido como aleatório e os resultados podem ser extrapolados
para toda a população. Se não há esse tipo de amostragem, isto é, os indivíduos são escolhidos
fenotipicamente, esse efeito passa a ser de natureza fixa e os resultados são específicos para
aquela situação experimental, ano ou local, para um resultado inerente ao observado no
experimento (FERREIRA FILHO, 2009).
Outra condição para que o efeito de genótipos seja considerado como aleatório é quanto
ao tamanho da população. Preconiza-se que para genótipos serem considerados efeitos
aleatórios as populações devem ser de tamanho suficientemente grande. Searle, Casella e
McCulloch (1992) relatam que não são necessários tamanhos infinitos para os efeitos serem
aleatórios. Assim populações de dimensão finita também permitem que os efeitos de
genótipos sejam classificados como aleatório, necessitando apenas de algumas adaptações
metodológicas para validar este conceito. Kennedy (1981) sugere utilizar estimadores para tal,
pois estes minimizam a flutuação ocasionada pela mudança do efeito fixo para o aleatório, ou
em outras palavras, um estimador aproxima uma média observada em uma determinada
população, de tamanho reduzido (finito), a uma média global generalizada (tamanho infinito),
validando as estimativas. O REML (máxima verossimilhança restrita) é um exemplo destes
estimadores, em que se elimina o viés devido a mudanças nas freqüências alélicas causadas
pela seleção, através da utilização da matriz de parentesco completa. Essa matriz de
parentesco leva em consideração os efeitos da seleção, como a endogamia e o desequilíbrio de
ligação (SORENSEN, 1988 citado por RESENDE, 2007a).
Vários autores, entre eles Piepho (1994); Duarte (2000); Duarte e Vencovsky (2001);
Smith, Cullis e Thompson (2001); Resende (2002); Resende e Duarte (2007) enfatizam a
necessidade de se considerar os materiais genéticos como de efeitos aleatórios, mesmo se
estes materiais forem tidos como de efeitos fixos pelas abordagens tradicionais anteriormente
relatadas. Como conseqüência desta seleção as esperanças, as variâncias e as covariâncias são
alteradas, o que resulta em estimativas e predições viesadas (HENDERSON, 1975). Para
evitar estas conseqüências, Piepho, Büchse e Emrich (2003) afirmam que a teoria dos
modelos mistos se ajusta a dados obtidos a partir de experimentos em que os níveis de um
fator foram selecionados em uma população, isto é, não são amostras aleatórias.
Smith, Cullis e Thompson (2001) acrescentam que a escolha depende do objetivo: se a
finalidade é presumir o desempenho futuro do material em seleção isto só será conseguido se
for assumido que os efeitos de genótipos são aleatórios, caso contrário a seleção é fenotípica e
não genotípica.
Resende e Duarte (2007) demonstraram que quando o número de genótipos for acima
de 10 devem-se considerar como aleatórios os efeitos, pois estatisticamente essa consideração
minimiza o erro quadrático médio na predição dos verdadeiros valores genéticos. Piepho;
Büchse e Emrich (2003) recomendam que quando o número de tratamentos/genótipos for
superior a cinco, estes devem ser classificados como aleatórios também.
Resende (2007a) é bem enfático sobre o tema: “A questão de assumir efeitos de
genótipos como fixos ou aleatórios merece um comentário adicional. O melhorista de plantas,
em geral, assume facilmente que os efeitos de blocos são aleatórios, mesmo quando se têm
apenas dois ou três deles previamente escolhidos em uma área restrita da área de plantio. Por
outro lado, o mesmo melhorista geralmente tem dificuldade em assumir que cinco, dez, vinte
ou mesmo cinqüenta genótipos possam ser tratados como de efeitos aleatórios, mesmo
sabendo-se que, intrinsecamente, os efeitos genotípicos são variáveis aleatórias não
observáveis. Isso constitui um contra-senso que precisa ser vencido...”.
b) Efeito de blocos
A decisão de escolher se o efeito de blocos deve ser de origem fixa ou aleatória é
também uma discussão que gera inúmeras opiniões na literatura.
Há uma tendência de se tratar o efeito de blocos como aleatórios, permitindo conclusões
mais amplas. Normalmente os blocos não são amostras aleatórias (o que são casualizados são
os tratamentos e não os blocos, segundo Resende 2002) ou por serem escolhidos ou por
estarem próximos, o que pode causar a subestimação do erro padrão da média (PIEPHO,
1997). O autor conclui ainda que não é fácil decidir a natureza dos efeitos e neste caso é
melhor classificá-los como fixos, reduzindo os erros de uma escolha incorreta.
Gusmão (1986) observou que, para serem considerados aleatórios, os blocos não devem
ser alocados de forma sistemática como geralmente o são. Por outro lado, assumir blocos
como fixos significa que a população está confinada apenas aos blocos incluídos no
experimento, o que também não parece correto.
Resende (2002) apresentou justificativas para considerar os efeitos de blocos como
fixos no melhoramento de perenes. O bloco não contribui com informações genéticas a
respeito dos indivíduos, pois devido à homogeneidade dentro dele os indivíduos são
eminentemente comparáveis; já para a comparação dos indivíduos entre os blocos há
necessidade de se fazer um ajuste dos valores individuais para os efeitos dos blocos, a fim de
não correr o risco de estes valores serem viesados. A maneira de se conseguir esta condição é
classificar o efeito de blocos como fixo, o que torna os dados não influenciados pelo efeito
dos blocos e não viciados devido à correlação entre os efeitos de blocos e nível genético dos
indivíduos que neles se desenvolvem. O autor acrescenta que, de maneira geral, blocos
completos devem ser classificados como fixos quando o número de blocos for inferior a cinco
e aleatórios quando maior que 10, ao passo que entre seis e dez é melhor tratá-lo como
aleatórios. Delineamentos em blocos incompletos, como o látice, devem ser tidos como
aleatórios, a fim de recuperar as informações entre os blocos para a estimação dos efeitos dos
tratamentos (recuperação da informação interblocos). Dessa maneira os ajustamentos das
médias combinam os contrastes de parcela dentro do bloco e dos contrastes entre os blocos. A
análise intrabloco resulta em médias possivelmente viciadas ao passo que a análise interbloco
elimina esta possibilidade.
No documento
Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(páginas 43-46)