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PARTE II QUADRO METODOLÓGICO: DESCRIÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

3.1. Natureza da investigação

No decorrer do presente projeto de investigação foi pertinente atentar naquela que seria a metodologia de investigação que permitiria dar resposta à questão inicialmente levantada e por conseguinte alcançar os objetivos delineados. Deste modo, foram analisadas as linhas gerais do estudo de caso e da I-A por forma a perceber qual seria a natureza da investigação.

estudo de caso é “uma investiga ão empírica que investiga um fenómeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos (Yin, 2001, p. 2)”. Por conseguinte, o investigador, de forma a compreender se está perante um estudo de caso necessita de analisar um conjunto de procedimentos com as seguintes finalidades:

i) “Explicar os vínculos causais em interven ões da vida real que são complexas demais para as estratégias experimentais ou aquelas utilizadas em levantamentos;

ii) Descrever uma intervenção e o contexto da vida real em que ocorreu;

iii) Ilustrar determinados tópicos dentro de uma avaliação, às vezes de modo descritivo ou mesmo de uma perspetiva jornalística;

iv) Explorar situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não apresenta um conjunto simples e claro de resultados” (Yin, 2001, pp. 4-35).

Atentando em Pardal & Lopes (2011, p. 44) é perceptível que a I-A “consiste numa estratégia de recolha e de análise de dados sobre um fenómeno específico, geralmente crítico, tendo em vista a formalização e promoção de mudan a na realidade estudada”. Deste modo, o presente projeto de intervenção pedagógica supervisionada segue os princípios da metodologia da I-A, uma vez que tem como propósito a implementação de uma estratégia com o objetivo de mudar a realidade.

Para Coutinho et al. (2009, p. 60), “a Investigação-Ação é um processo em que os participantes analisam as suas próprias práticas educativas”, podendo “ser descrita como uma família de metodologias de investigação que incluem ação (ou mudança) e investigação (ou compreensão) ao mesmo tempo, utilizando um processo cíclico ou em espiral, que alterna entre a ão e reflexão crítica” (idem) traduzido por Latorre (2003):

Figura 1. Ciclo de Investigação-Ação de Latorre (2003, p.21).

Na perspetiva de Pardal & Lopes (2011, p. 44), a I-A apresenta um conjunto de traços gerais que permitem desdobrar este conceito. Assim, esta é:

i) uma estratégia que envolve a reflexão sobre um problema em específico. No sentido em que a I-A é “feita geralmente sobre um problema real a ocorrer num meio social determinado ou sobre algo que o indicia, sendo frequentemente crítico” (idem). Desta forma, e após o problema ser encontrado emerge a determinação em encontrar solu ões para o mesmo. Assim, “conhece-se a prática, ouvindo todos os que se entende ouvir. Lê-se, estuda-se, confronta-se o problema com outros já estudados noutros

contextos. Emergem as linhas gerais de um projeto; esboça-se uma estratégia de interven ão no sentido de transforma ão da realidade” (idem).

ii) uma metodologia com uma investigação aplicada. O investigador, ativamente envolvido no estudo, recorre a métodos de natureza qualitativa ou quantitativa e, “frequentemente, aos cru amentos dos mais diversos entre estes, a Investigação-Ação, enquanto estratégia de busca e de obtenção de resultados, assume-se como explicitamente aplicada a uma situa ão particular” (idem).

iii) uma investigação, tendo em vista uma mudança. A I-A exige que haja uma mudan a envolvida, sendo que a “transforma ão da realidade, mais ou menos intensa, é o seu objetivo” (idem). Para além disso, e como já foi referido, o investigador possui um papel ativo em todo o processo.

iv) uma metodologia com uma investigação com resultados visíveis. Uma vez que o objetivo da I-A é transformar a realidade, propondo mudanças na mesma, a investigação “tem sempre consequências visíveis, designadamente políticas. Contudo, e de acordo com Bogdan & Biklen (2013, p. 295), “só nos apercebemos de que a investiga ão está ao serviço de um objetivo particular, quando esse objetivo desafia um qualquer componente do status quo”.

Apresentadas as linhas gerais que caracterizam a presente investigação como uma I-A, é de salientar que a mesma é, igualmente, de natureza qualitativa. Uma vez que, também aqui o investigador assume um papel relevante. Como referem Bogdan & Taylor (1998), o método de investigação qualitativo implica que o investigador esteja totalmente envolvido no campo de ação, uma vez que este se baseia, essencialmente, em ouvir e conversar, permitindo a livre expressão dos participantes.

3.1.1. Tipologias da Investigação-Ação

A I-A assume diferentes formas. De acordo com Pardal & Lopes (2011, p. 45), “As características do problema em estudo e a necessidade de produção de um projeto de mudança social representam algumas das condicionantes do tipo de Investigação-Ação a desenvolver”.

A bibliografia da especialidade consagra Resweber (1995) pela sua tipologia, distinguindo cinco tipos de I-A:

i) “La recherche-action de diagnostic”, sendo tendenciosa numa situa ão de crise. O objetivo, em última análise, é a "cura" com a mudança de representações e de hábitos (Christen-Gueissaz, et al., 2006, p. 24);

ii) “La recherche-action participative”, que é essencialmente analítica. Esta tipologia baseia-se na análise social ou institucional ligadas aos modelos da psicologia. O seu objetivo é préventif, l’intervention visant prendre conscience du “surmoi” déterminant le style du lien social, par exemple dans une équipe de travail, “désobjectiver” les regards et “fluidifier” les r les» (Christen-Gueissaz, et al., 2006, pp. 24-25);

iii) “La recherche-action empirique”, isto é, o desenvolvimento de um projeto de ação ou de formação por atores (para si ou para outros usuários são responsáveis) a partir de informações recolhidas por especialistas (idem).

iv) “La recherche-action expérimentale”, sendo que

Ici, la situation est construite et l’efficacité de l’intervention est soumise la mesure et la comparaison. Le cas de figure en est l’expérience classique déj évoquée sur les modes de leadership dans des groupes d’enfants, menée par K. Lewin, R. Lippit et R.K. White (1939) (idem).

Para além disso, será de acrescentar que a I-A experimental difere dos demais pela sua orientação epistemológica. Por outras palavras,

il s’agit dans l’exemple donné de vérifier sur le terrain les hypoth ses préétablies sur les effets de tel ou tel type d’exercice de l’autorité, l’objectif étant de pouvoir appliquer ce modele d’autres réalités. La démarche de cette recherche- action relève donc assez clairement du paradigme positiviste (idem).

v) “La recherche-action spontanée et engagée” onde a ação antecede a reflexo e a Investigação-Ação

se présente comme militante, contestataire. Le changement attendu est la dissidence ou marginalité. Por Resweber, dans ce type de recherche-action, “l’implication est pour tous directe et mobilisée ‘ chaud’” (1995, p. 2 ). Les usagers sont eux-mêmes les experts (ou du moins certains d’entre eux - chefs syndicaux par exemple (Christen-Gueissaz, et al., 2006, p. 25).

No seguimento da breve análise das tipologias de I-A de Resweber (1995), importará referir que no presente projeto de investigação será dada ênfase à I-A. Uma ve que esta “torna-se pertinente como forma de protagonismo social que habitualmente os sujeitos intervenientes não usufruem”, permitindo, portanto, que “se tornem construtores da sua própria realidade e corresponsáveis por todo um projeto de mudan a” (Nóbrega, 2010, p. ).