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4 OS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO SINDICATO E DO DIREITO

4.2 Natureza Jurídica

Ponto bastante discutido na doutrina juslaboral é o enquadramento sindical quanto a sua natureza jurídica. A classificação mais usual é aquela em que o sindicato pode adotar uma natureza jurídica de direito público ou de direito privado. Inclusive esta natureza jurídica é decorrente dos conceitos

mencionados no item anterior. Entretanto, esta não é a única corrente defendida pelos estudiosos.

A dicotomia utilizada pela doutrina para dividir os diversos ramos da ciência jurídica em direito público e direito privado, é bastante discutida, por não haver um limite claro e objetivo para estabelecer tal divisão, pois não é possível se distinguir se os interesses tutelados são os do Estado ou os do indivíduo, contudo, para efeitos didáticos, continua-se a utilizar essa distinção, e aqui também será operada para estabelecer a natureza jurídica do sindicato

Nas pesquisas realizadas para a elaboração desta dissertação, pode-se constatar que a doutrina justrabalhista clássica, majoritariamente costuma classificar a natureza jurídica do sindicato como pessoa jurídica de direito privado. Nesse sentido, apontam desde os autores mais antigos como Amauri Mascaro Nascimento, Arnaldo Sussekind, Orlando Gomes até a doutrina mais recente de Alice Monteiro Barros, Maurício Godinho Delgado, Sergio Pinto Martins, José Carlos Arouca, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Ricardo Resende para citar apenas alguns.

Aponta a maioria da doutrina que os sindicatos são associações e como tal, possui natureza jurídica de direito privado, surgidas a partir do ajuntamento de determinados grupos, sejam de trabalhadores ou de empregadores.

Dentre os autores da doutrina justrabalhista tradicional, pode-se citar Homero Batista Mateus da Silva (SILVA, 2015. p.) para quem “o sindicato é uma pessoa jurídica de direito privado interno, assimilando-se quase integralmente ao conceito de uma associação de pessoas congregadas em busca de um fim comum”.

Trata-se de nova abordagem que reforça o caráter privatista do sindicato, pois, até então, a Consolidação das Leis do Trabalho possuía diversos dispositivos a permitir outra interpretação dessa natureza jurídica, e retirava dos

sindicatos sua autonomia de fundação e administração e gestão de seus interesses.

Em um outro momento histórico, no qual os sindicatos eram atrelados ao Estado, e exerciam funções delegadas, complementares e de apoio ao Estado, prevaleceu a tese de da natureza jurídica de direito público dos sindicatos. Porém, tal concepção publicista perdeu razão na Europa e em diversos países do ocidente, após o rompimento com a estrutura fascista que dominava o sistema sindical. Pode-se apontar, também, que a Constituição Federal de 1988, que rompeu com o modelo corporativista autoritário implantado pelo Estado Novo de Vargas, seguiu esse caminho ao vedar qualquer forma de intervenção ou interferência do Estado na criação do ente sindical, exigindo, apenas, o registro no órgão competente, conforme se verifica na leitura do inciso II de seu artigo 8º, que dispôs que “a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical”,

Assevera Maurício Godinho Delgado (2016. p. 1147) que:

Na tradição cultural democrática, hoje predominante no Ocidente, compreende-se desse modo, que a natureza jurídica dos sindicatos é de associação privada de caráter coletivo, com funções de defesa e incremento dos interesses profissionais e econômicos de seus representantes, empregados e outros trabalhadores subordinados ou autônomos, além de empregadores. Em períodos autoritários vivenciados na história ocidental, particularmente na primeira metade do século XX, teve também grande influência a concepção publicística sobre a natureza jurídica do sindicato. A partir das construções teóricas do corporativismo, atadas ao ideário político ideológico do fascismo, assim como do segmento cultural correlato, nazismo, entendeu-se que as entidades sindicais eram pessoas jurídicas de direito público, realizadoras de funções delegadas do poder público. Os sindicatos tinham estrutura e funcionamento de órgãos estatais ou paraestatais, com funções de caráter público. Daí sua natureza publicística.

Uma terceira corrente advogada a tese de ser o sindicato uma pessoa jurídica de direito social. Para os defensores dessa corrente doutrinária, o sindicato teria essa natureza, por não se enquadrar em nenhuma outra. Bem como, por exercer uma função social junto aos seus representados. Origina-se

da ideia da própria questão social. O sindicato teria essa natureza social em função da prevalência do interesse coletivo da categoria em detrimento ao interesse individual.

Dentre os autores que defendiam o enquadramento do Direito Social, cita-se Cesarino Júnior (idem, 1970. p. 137):

Sendo o sindicato uma autarquia, isto é, um ente jurídico que não se pode classificar exatamente nem entre as pessoas jurídicas de direito privado, nem entre as pessoas jurídicas de direito público, parece-nos muito mais lógico qualificá-lo como pessoa jurídica de direito social. (

Ao explanar sobre a opção de alguns doutrinadores pelo enquadramento do sindicato como pessoa jurídica de direito social, Amauri Mascaro Nascimento (2009. p. 288) assim se pronunciou:

Outra posição é a do sindicato como pessoa jurídica de direito social. Um de seus defensores é o mexicano Mano de La Cueva. Justifica-a com o poder normativo dos sindicatos assim considerado o poder de, mediante negociações coletivas, pactuar convênios coletivos, instrumentos de direito privado. A mesma tese foi defendida por Cezarino Júnior, para quem o sindicato é um ente jurídico que não se pode classificar exatamente nem entre as pessoas jurídicas de direito privado nem entre as pessoas jurídicas de direito público.

Portanto, conforme se verificou ao longo deste item, atualmente, a natureza jurídica do sindicato é de direito privado, com fundamento na autonomia sindical em relação ao Estado, dele não mais dependendo para exercer suas funções e prerrogativas, rompendo, assim, ao menos em parte, com o modelo corporativo de invenção e interferência estatal na organização sindical.