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1. A INTERNET E OS NOMES DE DOMÍNIO

1.4 Natureza do nome de domínio

Conforme visto anteriormente, do ponto de vista puramente técnico, o nome de domínio é

uma seqüência alfa-numérica, de fácil memorização, que substitui o endereço IP para a

localização de um host na internet.

Sob o ponto de vista jurídico, entretanto, os autores que se dedicaram ao tema apresentam

algumas divergências quanto à natureza jurídica do nome de domínio.

Fábio Ulhoa Coelho

46

sustenta que os nomes de domínio, além de possuírem função

técnica, equivaleriam a um “título de estabelecimento virtual”:

A primeira é técnica: proporciona a interconexão dos equipamentos. (...) A segunda função tem sentido jurídico: identifica o estabelecimento virtual na rede. Cumpre, assim, em relação à página acessível via internete (sic), igual função à do título de estabelecimento em relação ao ponto.

Também Sérgio Campinho

47

sustenta a tese do "título de estabelecimento virtual",

equivalendo o nome de domínio ao título de estabelecimento e indicando sua função técnica.

Apesar de bastante aceita, a tese do “título de estabelecimento virtual" não se mostra

completa, vez que o nome de domínio não é utilizado apenas por empresas. O nome de domínio

pode ser utilizado por empresas, entidades governamentais, pessoas físicas, etc. Não se pode

reduzir sua importância apenas a seara empresarial, muito embora aí residam grande parte dos

conflitos.

Para Patrícia Peck

48

, o nome de domínio, além de deter sua função técnica, é "muito mais

que o representante virtual do ponto comercial". Para a citada autora, enquanto no mundo "real" o

endereço de uma empresa não necessariamente lhe agrega valor, no mundo virtual uma empresa

estará mais acessível aos seus clientes se ostentar nome de domínio próximo de sua marca. Diz a

renomada autora:

46 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, 20. ed. rev. e atual., São Paulo, Saraiva, 2008.

47 CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo código civil, 9. ed. rev. e atual., Rio de Janeiro, Renovar,

2008.

Para o Direito Digital, o domínio de um indivíduo na Internet não é um endereço eletrônico, mas a união entre território e valor. Deter o nome de uma empresa na rede é deter-lhe o valor; é deter-lhe a capacidade de ser alcançada por seu público-alvo, o que pode representar um sério problema, especialmente no caso de marcas conhecidas do público em geral.

Luiz Edgard Montaury Pimenta e Marcelle Franco Espíndola

49

comungam desta idéia de

que o nome de domínio é instrumento que agrega valor à marca:

Parece-nos muito claro concluir que o nome de domínio não reflete apenas o endereço virtual da empresa, mas também agrega valor à marca, pois, evidentemente, uma marca que possui um nome de domínio correspondente pode ser mais facilmente localizada na grande rede, representando, portanto, recurso valioso na era da informação em que conhecimento siginifica poder.

Luciana Batista Esteves

50

defende que o nome de domínio só adquire caráter distintivo

quando ocorre alguma violação de direitos de terceiros, ao afirmar que “os nomes de domínio são

endereços virtuais, que podem assumir o caráter de sinal distintivo do comércio, caso seja

utilizado de forma a violar um direito de exclusivo anteriormente existente”.

Já Sofia Mentz Albrecht

51

sustenta que:

Sendo o nome de domínio hoje um bem imaterial de valor econômico, está incluído no acervo patrimonial das pessoas, situação que fica clara quando se observa a venda de empresas. Os nomes de domínio são vendidos juntamente com o estabelecimento comercial ou industrial, por valores que podem, dependendo da expressão que tenham em termos de retorno econômico, chegar a margens bastante elevadas. Assim é que os nomes de domínio são entendidos como propriedade privada das pessoas, do mesmo modo que as marcas hoje gozam de tal característica, seguindo a tendência mundial. Uma marca é hoje indubitavelmente compreendida como bem imaterial de valor econômico bastante expressivo, o que deve ser levado em conta por uma regulamentação que busque agilizar as atividades no meio virtual, posto que o consumidor identificará mais facilmente um endereço de site que esteja atrelado à marca do produto sobre o qual busca informações.

49 PIMENTA, Luiz Edgard Montaury; ESPÍNDOLA, Marcelle Franco. O sistema de nomes de domínio: uma visão

ampla e atual sobre o tema. Revista da Associação Brasileira da Propriedade Industrial, Rio de Janeiro, n. 96, Set./Out. De 2008, p. 44.

50 ESTEVES, Luciana Batista. A ICANN e a regulamentação dos nomes de domínio. Revista da Associação

Brasileira da Propriedade Industrial, Rio de Janeiro, n. 79, Nov/Dez de 2005, p. 36.

51 ALBRECHT, Sofia Mentz. A inconstitucionalidade da regulamentação sobre nomes de domínio na internet.

Para José Antonio B.L. Faria Correa

52

os nomes de domínio são um novo sinal distintivo:

Nomes de domínio são sinais designativos da presença de uma pessoa física ou jurídica que presta serviços profissionais, fabrica ou fornece produtos. São, em última análise, forma de identificação de agentes econômicos. Assim, devem integrar-se a toda a galáxia de sinais que compõem o estabelecimento, alinhando-se às marcas, aos títulos de estabelecimento e aos nomes comerciais e subsumindo-se aos mesmos princípios que regulam a competição.

Para o professor Denis Borges Barbosa teria a dupla natureza de “lugar virtual na

internet” e signo distintivo:

Não exatamente signos distintivos, mas lugares virtuais na internet, os nomes de domínio ou sites na internet têm atraído importante discussão no tocante à proteção da propriedade intelectual. (...)

Não obstante constituírem-se lugares virtuais, há inegavelmente uma parcela de signos distintivos nos nomes de domínio. Assim, parcela considerável das normas gerias abstraídas da Propriedade Intelectual são extensíveis a esse campo especialmente à falta de norma legal explícita.

Jacques Labrunie

53

, embora não dedique especial atenção à conceituação do nome de

domínio, intitula seu trabalho de “Conflitos entre nomes de domínio e outros sinais distintivos”, o

que nos leva a crer que o autor considera o nome de domínio também como um sinal distintivo.

Marcos Rolim Fernandes Fontes

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sustenta que o nome de domínio é um sinal distintivo

sui generis, ao afirmar que:

Em grande parte das vezes, abrange os demais sinais distintivos já reconhecidos pela teoria do Direito e pela lei, através do qual pessoas, entidades das mais variadas natureza e empresas em geral, são acessadas na internet. Como sinal distintivo sui generis indicativo de um endereço na internet, pode assumir diversas feições, dependendo do modo como é utilizado, isto é, da atividade desenvolvida no site que designa. Quando utilizado no âmbito da atividade empresarial, pode assumir a forma de um dos desígnios empresariais tais como a marca, nome empresarial e título de estabelecimento empresarial. Se utilizado fora do âmbito empresarial, pode significar simplesmente a expressão de um direito da personalidade de uma pessoa (o seu nome civil), através do qual essa

52 CORREA, José Antonio B.L. Faria. Nome de domínio: considerações sobre um intruso no domínio das marcas.

Revista da Associação Brasileira da Propriedade Industrial, Rio de Janeiro, n. 47, Jul./Ago. de 2000, p. 24.

53 LABRUNIE, Jacques. Conflitos entre nomes de domínio e outros sinais distintivos in LUCCA, Newton de;

FILHO, Adalberto Simão (Organizadores) Direito e Internet, São Paulo, EDIPRO, 2000.

pessoa expõe àqueles que o visitam coisas da sua personalidade, preferências e idéias.

Antonella Carminatti e Alexandre da Cunha Lyrio assim se posicionam sobre a natureza

do nome de domínio:

Para nós, o nome de domínio indica o ambiente de manifestação de atividade de uma pessoa. Isto porque em um simples endereço não há espaço para a auto- exposição de interesses e negócios. O endereço, por si só, é apenas um lugar, uma indicação geográfica. Já o nome de domínio, além de indicar um local na Web, pode vender e descrever o prórpio produto, comumente identificado com aquela marca.

Apesar de algumas diferenças nas teses defendidas pelos autores supracitados, é

majoritário o entendimento da doutrina de que o nome de domínio é ou pode assumir o caráter de

sinal distintivo, sendo possível passível de gerar conflitos com outros sinais distintivos, como

veremos a seguir.

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