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Compreendendo que todo fenômeno educacional está situado em um âmbito social objeto de uma série de determinações por fazer parte de uma realidade histórica complexa e dinâmica, consideramos um grande desafio à pesquisa educacional captar seu objeto de estudo inserido em sua realidade histórica, de acordo com Ludke e André (1986).

Assim, percebendo a dimensão social da pesquisa e do pesquisador, concordamos com a visão de Pedro Demo (apud LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 02), ao constatar que “a construção da ciência é um fenômeno social por excelência”, pois esses conhecimentos são necessariamente marcados pelos sinais de seu tempo, sendo, portanto, comprometidos em sua realidade histórica e não situados acima dela, como se fossem verdades absolutas e imutáveis.

Como estratégia de investigação, optamos por fundamentar nosso estudo num levantamento de natureza quali-quantitativa, uma vez que as pesquisas quantitativas fornecem dados de grupos de objetos de estudos comparáveis entre si (gênero, tempo de magistério, em tratamento de dados em freqüências, percentuais, dentre outros) e a pesquisa qualitativa aprofunda seu interesse em conhecer cada sujeito mais particularmente, consolidando a realidade pesquisada. Assim, o caminho metodológico desta pesquisa procurou integrar os dois métodos: análises quali-quantitativas e ênfase na interdependência desses caminhos.

Para Minayo (1994, p. 32), as relações entre abordagens qualitativas e quantitativas demonstram que

[...] as duas metodologias não são incompatíveis e podem ser integradas num mesmo projeto; que uma pesquisa quantitativa pode conduzir o investigador à escolha de um problema particular a ser analisado em toda sua complexidade, através de métodos e técnicas qualitativas e vice-versa; que a investigação qualitativa é a que melhor se coaduna ao reconhecimento de situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos.

De acordo com Koche (1997, p. 121), “[...] a investigação não deve estar em função das normas mas em função do seu objetivo que é buscar a explicação para o problema investigado”. Assim, consideramos que a pesquisa quali-quantitativa é a que melhor se adequa aos propósitos deste estudo, pois ensejará tanto a compreensão quanto a explicitação do fenômeno pesquisado.

A dimensão qualitativa, porém, foi privilegiada nesta pesquisa, considerando o que pondera Haguete (1999, p. 63), ao assinalar a complementaridade dos métodos quantitativos e qualitativos: “os métodos quantitativos supõem uma população de objetos de observação comparável entre si e os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de ser”. Isso se verifica em decorrência da nossa pesquisa bibliográfica remontar à história da sistemática de avaliação do ensino aprendizagem no Estado do Ceará, desde a década de 1970, a partir de documentos oficiais e da legislação em que se amparou sua origem, e por questionar a sua razão de ser no momento atual, mediante a implementação de novas propostas avaliativas.

Nesse sentido, procuramos realizar o nosso trabalho de pesquisa considerando o contexto histórico no qual se encontra o nosso objeto de estudo, visando a torná-lo um instrumento de enriquecimento à tarefa dos professores e um elemento de reflexão às instituições educacionais do Estado que tratam das questões da avaliação da aprendizagem, considerando os objetivos que uma pesquisa qualitativa pode assumir de acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 70).

[...]O objetivo dos investigadores qualitativos é o de melhor compreender o comportamento e experiência humanos. Tentam compreender o processo mediante o qual as pessoas constroem significados e descrever em que consistem estes mesmos significados.

Assim, nossa opção por desenvolver uma pesquisa quali-quantitativa, privilegiando a dimensão qualitativa, baseou-se em seu conceito adotado por Bogdan e Biklen (1994, p. 47), que configuram cinco características fundamentais para pesquisa qualitativa:

• ter o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento;

• envolver a obtenção de dados descritivos;

• enfatizar mais a complexidade do processo do que o produto;

• considerar que a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo; e

• preocupar-se em retratar a perspectiva dos sujeitos participantes da pesquisa, dando importância relevante ao seu significado.

Nessa dimensão, buscamos desenvolver habilidades e conhecimentos necessários à implementação desse tipo de pesquisa com dimensão qualitativa, com a intenção de tratar os sujeitos da pesquisa de forma ética no que diz respeito à investigação, respeitando os princípios éticos mais gerais que orientam a investigação qualitativa, segundo Bogdan e Biklen (1994, p. 77), sendo que as identidades dos sujeitos foram protegidas a fim de evitar qualquer tipo de transtorno ou prejuízo. Os sujeitos foram tratados respeitosamente, as negociações acerca da autorização para realizar o estudo foram efetuadas de forma clara e respeitadas até a conclusão do estudo. Procuramos, também, ser autêntica ao escrever os resultados da nossa investigação, evitando os vieses do investigador que normalmente influenciam nos dados analisados, considerando que,

[...] Ainda que as conclusões a que chega possam, por razões ideológicas, não lhe agradar, e se possam verificar pressões por parte de terceiros para apresentar alguns resultados que os dados não contemplam, a característica mais importante de um investigador deve ser a sua devoção e fidelidade aos dados que obtém. Confeccionar ou distorcer dados constitui o pecado mortal do cientista.

Com efeito, tivemos o cuidado de submeter o nosso projeto de pesquisa à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará, no qual obtivemos aprovação em 23 de junho de 2005. Só então, a partir daí, iniciamos o trabalho de campo.

Escolhemos como forma de pesquisa o estudo de caso, em virtude do seu grande potencial em estudar questões relacionadas à escola, como anotam Ludke e André (1986). Considerando ainda que, para o estudo de caso, o objeto da pesquisa é estudado a partir de uma representação singular da realidade, que é multidimensional e historicamente situada, agregando, segundo Ludke e André (1986, p. 18), os seguintes princípios norteadores: visam à descoberta, enfatizam a interpretação em contexto, buscam retratar a realidade de forma

completa e profunda, usam uma variedade de fontes de informações, permitem generalizações naturalísticas, procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista de uma situação social e utilizam uma linguagem mais acessível.

Levando em conta, essas características e o fato de que o estudo de caso requer o contato direto e prolongado do pesquisador com o cenário da pesquisa e com seus informantes, é que optamos por desenvolver a pesquisa sob a forma dessa modalidade metodológica.