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Após a segunda grande guerra, o Chile havia estruturado uma economia tipicamente fechada, protegida, no qual o Estado desempenhava um papel proeminente. Assim como nos outros países latino-americanos, a industrialização ocorreu por meio do processo de industrialização por substituição de importações (ISI). Neste modelo, o Chile foi um “caso sztremo”, porque operava com elevadas tarifas, com cotas de importação em todos os setores, com restrição aos fluxos de capital estrangeiro e o Estado controlava, direta e indiretamente, nua parte considerável da atividade econômica.

O governo do presidente Eduardo Frei Montalva (1964-70) privilegiou a estabilização cia economia, com câmbio flutuante, iniciou uma reforma agrária e promoveu a

"zhilenización” ou nacionalização do cobre. Já o governo do presidente de esquerda Salvador Allende Gossens (1970-73), da Unidad Popular, procurou instaurar o socialismo no país, gerou profunda instabilidade macroeconômica: a demanda doméstica expandiu frente ao crescente aumento dos gastos públicos, as exportações caíram e diminuíram drasticamente os fluxos de capitais estrangeiros. Além disso, esse governo completou a nacionalização da indústria de cobre e estatizou várias indústrias e bancos no país.

Os desequilíbrios macroeconômicos no período 1970-73 foram graves: a taxa média cie crescimento do PIB foi praticamente negativa, as exportações caíram, os investimentos diminuíram para 16% do PIB diante da resistência do setor privado à nacionalização do cobre. C déficit fiscal alcançou 11,5% do PIB. Distorções estruturais e desequilíbrios macroeconômicos como barreiras tarifárias de 100%, câmbio sobrevalorizado, taxas de juros negativas e controle do governo sobre grande parte da produção culminaram em um golpe militar em 11 de Setembro de 1973 (Stallings, 2001:27).

Capítulo III - Mineração no Chile: O Caso da Corporación Nacional Del Cobre de Chile - Codelco - _____________________________________________ _________________________________ 60

3.1.1 - A Importância da Mineração na

F

ase de

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ndustrialização

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hilena

Até os anos 1960, a indústria de cobre primário do mudo ocidental encontrava-se concentrada nas mãos de um reduzido núcleo de empresas transnacionais, em sua maioria, norte-americanas. Estas empresas controlavam a oferta e a demanda por meio de integração vertical com a indústria de semi-manufaturados. Isto ocorria, pois todas as vezes que um mercado encontra-se concentrado nas mãos de um grupo reduzido de empresas, as ações e as estratégias dessas companhias influenciavam sobre o comportamento da oferta, da demanda e dos preços de mercado. Em conjunto, estes fatores constituíam importantes barreiras à entrada de novos produtores (Moussa, 1999:12-15).

Este controle oligopolístico começou a fragilizar-se após a Segunda Guerra Mundial, cuando ocorreu um boom de demanda por cobre, abrindo, portanto, a possibilidade de entrada ve novos produtores. Entretanto, a principal causa de diluição do poder de mercado das grandes empresas transnacionais privadas foi a onda de nacionalização do cobre nos anos 1960-70.

Juntamente com as recentes empresas estatais, apareceram novos atores privados que realizaram mudanças de propriedade e iniciaram um processo de reestruturação nas grandes empresas privadas. Com essa nova configuração de mercado, os produtores perderam o poder de influencia que tinham sobre os preços do cobre e suas estratégias se focalizaram na redução dos custos de produção, para conseguirem um bom posicionamento frente ao recreado. A necessidade de redução dos custos implicou um maior esforço na busca de novas recnologias e do melhoramento da gestão empresarial.

Com a mineração chilena de cobre não foi diferente. O Chile é um país com abundantes recursos minerais e este setor tem uma enorme importância para a economia do vais, sobretudo após a fase de nacionalização do. cobre. Antes da nacionalização do cobre, a produção encontrava-se quase exclusivamente nas mãos de produtores estrangeiros, enquanto que o capital privado nacional se concentrava nas mãos de pequenos produtores de minerais metálicos e não-metálicos.

Monguillansky (1999:120) apresentou fatores históricos como as condições geológicas do país, um alto montante de capital requerido para a exploração das jazidas e o risco subjacente à atividade de mineração, para justificar a ausência de investidores domésticos na mineração chilena de cobre, até os anos 1960. A verdadeira importância do cobre para a

Capítulo III- Mineração no Chile: O Caso da Corporación Nacional Del Cobre de Chile - Codelco -

.67 economia chilena só foi reconhecida a partir da segunda metade dos anos 1960, quando o governo propôs a “chilenización” e, depois a “nacionalización poetada” das jazidas de cobre,

pertencentes até então a grandes empresas transnacionais norte-americanas. Em 1966, o governo passou a exigir destas empresas que o cobre fosse vendido com base na cotação da Bolsa de Metais de Londres, com supervisão e controle do Departamento de Cobre, órgão criado em 1955, pertencente ao Ministério de Minas, e não mais de acordo com seus próprios interesses.

Somente em 1971, quando foi aprovada a nova Constituição, as jazidas de cobre chilenas foram de fato nacionalizadas, com a conseqüente transferência de propriedade das mãos das empresas norte-americanas Anaconda, Kennecott e Cerro Corporation ao Estado chileno. Em 1976, foi criada, pelo governo militar, a Corporación Nacional dei Cobre (Codelco), formada por quatro divisões: Chuquicamata, El Salvador, Andina e El Teniente, correspondendo a 84% da produção chilena de cobre comercializável, desde então.

A nacionalização do cobre teria causado um certo “trauma” aos investidores estrangeiros e, por isso, o governo militar considerou fundamental desenvolver um marco institucional, bem como uma legislação específica para o setor, com o intuito de oferecer confiança para o retomo dos investidores privados ao setor. O Decreto Ley N° 600 e o Estatuto de La Inversión Extranjera passou a regular a entrada, a capitalização e as remessas ãe capitais, assegurando a estabilidade da carga tributária e a não discriminação em relação ao empresariado nacional (Monguillansky, 1998:11). Esse marco regulatório foi reafirmado pela Constituição Política de 1980, como será analisado na seção 3.2.1.

Então, é importante ressaltar que o setor de mineração chileno ocupou um papel pouco expressivo na fase de industrialização do país, uma vez que a produção encontrava-se sob responsabilidade de empresas transnacionais, em sua maioria norte-americana. A mineração

só ganhou um papel relevante após a nacionalização do cobre, quando o país mudou sua orientação política e econômica e a produção de cobre passou a ser de propriedade estatal.