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4.3 – Usina Termelétrica Carioba II de Americana

NECESSIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE CRITÉRIO ÚNICO

85% 15%

6 – DISCUSSÃO

Na aplicação do Conceito Bolha, tanto nos Estados Unidos como no Brasil, o que se nota não é apenas a manutenção da taxa de emissão de poluentes tidos como saturados, sem qualquer avanço no sentido de reduzi-los dentro da bolha. Pior que isto, são os novos acréscimos de poluentes desconsiderados na análise de licenciamento desses novos empreendimentos, como, por exemplo:

Se, antes, a indústria operava com uma unidade, na ampliação passa a operar com duas, o que representa um incremento no potencial poluidor devido ao aparecimento de problemas de operação e manutenção, inerentes aos equipamentos de processo e de controle da poluição.

Ao operar com duas unidades, a indústria passou a receber mais matérias primas, insumos básicos e expedição de uma maior quantidade de produtos elaborados, o que representa um novo acréscimo de emissão de poluentes (fontes áreas).

Aumento da capacidade de armazenamento e manuseio, gerando problema de poluição difusa, principalmente pelo arraste de poeiras fugitivas (fontes áreas) e emanações.

Incremento da poluição difusa, representada pela emissão de poluentes provenientes do aumento do número de caminhões, operando no recebimento de matérias primas, insumos básicos e expedição de produtos elaborados.

Aumento do número de paradas e partidas das unidades, que comprovadamente nessa fase emitem mais poluição.

Outro aspecto a ser considerado é a não utilização de créditos de emissões fugitivas para aumentar a emissão de fontes pontuais, o que poderia agravar a situação de controle, ou mesmo a troca de poluentes de mesma natureza, como, por exemplo, material particulado com diâmetros diferentes de partículas (como mais grosseiros por inaláveis) ou poluentes menos tóxicos por outros mais tóxicos.

O depósito, crédito ou venda de emissões de poluentes não permite que haja uma redução real das emissões locais, apenas uma diminuição matemática da poluição.

O comércio de emissões deve ser evitado entre bacias aéreas diferentes, principalmente, entre áreas saturadas, pois poderia não representar um ganho ambiental, dependendo da situação.

Da mesma forma, o conceito de BACT (Best Available Control Technology), o qual pode ser traduzido como Melhor Tecnologia Prática Disponível, vem sendo aplicado no Estado de São Paulo, levando em consideração a eficiência do equipamento de controle de poluição do ar, sem se ater à sua emissão, uma vez que a legislação não contempla padrões de emissão de poluentes para todas as fontes, diferentemente do conceito aplicado pela Agência de Controle Ambiental Americana.

Como a emissão residual ainda pode ser alta, em áreas saturadas, isso pode não melhorar a qualidade do ar da região.

Um outro aspecto a ser considerado seria a abrangência do BACT, pois tem sido aplicado usualmente somente para equipamentos de controle de poluição do ar, mas segundo as definições da EPA, ele engloba processos de produção e métodos, sistemas e técnicas disponíveis. Além disso, o conceito original prevê a sua aplicação em áreas não-saturadas e atualmente vem sendo utilizado indistintamente.

Os índices de qualidade do ar no Estado de São Paulo, publicados anualmente pela CETESB, revelam que as regiões industrializadas, via de regra, apresentam concentrações de poluentes, primordialmente material particulado e ozônio, em desacordo com os padrões previstos na Resolução Federal CONAMA n. º 003, de 28 de junho de 1990.

Assim, faz-se necessário que a implantação de novos empreendimentos industriais ou a ampliação de empreendimentos industriais existentes em Região ou Sub-Região saturada de poluentes ou em vias de saturação, atenda não somente ao artigo 42 da Legislação Ambiental Estadual n. º 997/76, mas que busque, conforme previsto na Lei Federal 6938, a recuperação das áreas saturadas de poluentes.

Nesse sentido, os estudos de caso revelaram que as ações preventivas de controle de poluição ambiental não são aplicadas de forma efetiva pelo Órgão Ambiental e, como agravante, verifica-se a falta de sintonia entre as diferentes Agências

Regionais, onde a ausência de critérios bem definidos desencadeia ações subjetivas onde se permite a sistemática inserção de poluentes na atmosfera, podendo agravar o saturamento região.

Atualmente, o Órgão Ambiental tem desenvolvido políticas diferenciadas para regiões saturadas de poluentes atmosféricos. Na região da grande São Paulo não vem sendo aplicado qualquer tipo de compensação nas cargas de poluentes, o mesmo acontecendo com a região de Paulínia. Em Americana aprovou-se a licença de um empreendimento poluidor (Usina de Geração de Energia Carioba II), sem os necessários estudos prévios de qualidade do ar.

Já em Cubatão, por ter contemplado em 1983 um programa de controle de poluição industrial, aplica-se o “Conceito Bolha” como critério de compensação ambiental para implantação de novos empreendimentos industriais.

Porém, o fazem na proporção de troca de 1:1, ou seja: (cada nova unidade de emissão é aceita mediante a redução de uma unidade de emissão já existente na indústria).

Neste aspecto leva em consideração somente o disposto no artigo 42 da Lei Estadual 997/76, deixando de considerar a Legislação federal 6938.

Essa política é danosa a médio e longo prazo, pois em áreas saturadas não deveriam ser admitidas cargas adicionais, mesmo que infinitesimais. Cabe, portanto, programa adicional que preconize a redução da carga poluidora existente e, nas regiões onde não se tem conhecimento da qualidade do ar; deve-se aplicar o princípio da precaução, exigindo-se a realização de estudos prévios da qualidade do ar com duração mínima de 1 ano, tendo em vista que o padrões de qualidade do ar são expressos em médias anuais.

O Conceito Bolha, já utilizado pela Agência Ambiental da CETESB em Cubatão, pode ser uma boa ferramenta preventiva no controle da poluição, desde que devidamente modificada sua proporção de troca de emissões de poluentes, onde cada nova carga de emissão deverá ser aceita mediante uma redução acima da unidade de emissão já existente na indústria.

Há necessidade ainda da adoção de outras recomendações técnicas para consolidar o Conceito Bolha como um critério ambientalmente sustentável para que

possa ser utilizado no licenciamento de novos empreendimentos industriais e na ampliação dos já existentes.

O Conceito Bolha aplicado pela Agência de Controle Ambiental dos Estados Unidos (USEPA) e pela Agência Ambiental da CETESB em Cubatão, na forma em que se apresenta, visa somente a diminuição dos custos dos investimentos em equipamentos e sistemas de controle da poluição, privilegiando a produção industrial em detrimento ao meio ambiente.

O objetivo do controle preventivo e corretivo das fontes de poluição do ar é a melhoria da qualidade do ar, e não mantê-la simplesmente.

Contrário a esse objetivo o Conceito Bolha vigente, além de não contribuir para a melhoria da qualidade do ar, dá margem ao aparecimento de novas fontes secundárias (pontuais e difusas) de emissão de poluentes, podendo piorar a qualidade do ar com agravo nas regiões saturadas de poluentes atmosféricos.

Esse entendimento é o mesmo expresso nas discussões e nos resultados das entrevistas realizadas com os diversos profissionais e instituições: Indústrias, Órgãos Ambientais, Consultores Ambientais, Promotores de Justiça, Organizações Não- Governamentais e estudantes dos cursos de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e Gestão Ambiental, revelando a necessidade de mudanças no critério de compensação ambiental e nas ações de licenciamentos.

Observa-se nas opiniões dos entrevistados uma relação direta com as simulações e observações apresentadas nos estudos de caso, deixando claro que o novo critério deverá ser utilizado em âmbito nacional, respeitado os dispositivos legais e fundamentado no “Conceito Bolha” acrescido das propostas de mudanças recomendadas pelo autor da pesquisa.

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