• Nenhum resultado encontrado

2.2 Cooperação em equipas de trabalho

2.2.3 Necessidades de cooperação numa equipa de trabalho

Apesar da cooperação, como já foi dito antes, ser um atributo quase inato à existência humana, existe um conjunto de factores situacionais, emotivos, pessoais e colectivos que podem suscitar um aumento deste comportamento no seio dos grupos de trabalho e, por conseguinte, das equipas de investigação.

As exigências que as tarefas exigem a um grupo de trabalho influenciam largamente a forma e a expressão da cooperação. Argyle (1991) dá o exemplo da construção de um lar para iludir à questão do tipo de tarefa e o comportamento cooperativo. Imaginemos, segundo o autor, que é necessário construir uma casa. Para esta tarefa se a casa for de dois pisos haverá a necessidade de existir uma maior cooperação entre os obreiros da tarefa do que a casa fosse somente térrea.

Este exemplo vai de encontro à realidade dos dias de hoje. Não é expectável que apenas uma pessoa consiga atingir um elevado número de descobertas e avanços tecnológicos e científicos sozinha, contudo é de esperar que, tal como num puzzle, o conhecimento específico numa determinada área de um investigador seja uma peça para ajudar à construção do puzzle final que, neste caso, será a conclusão de uma dada investigação resumindo-se ao alcance último da realidade investigatória, o progresso (idem).

20

Em todo este conceito de cooperação está a ideia de interdependência. Aqui está em causa não o contributo para a mesma tarefa de vários colaboradores mas sim, a noção que, para o atingir de um determinado objectivo, é necessário que cada indivíduo cumpra a sua parte, fomentando-se, deste modo a coesão grupal, dado que todos dependem de todos.

Contudo, segundo o mesmo autor, um excesso de coesão pode ser prejudicial ao desempenho da equipa, visto que, é usual em grupos de trabalho que são bastante coesos passar-se a fronteira da coesão profissional para a pessoal. Este facto pode levar a desconcentrações laborais, perdas de tempo e consequente perda de produtividade.

Por norma a coesão traz coisas benéficas ao trabalho. Quando se trabalha em equipa, numa mesma sala, o ambiente torna-se mais propício ao desenvolvimento pessoal entre as pessoas, existindo mais comunicação verbal e conversas “cara-a- cara” o que incrementa um maior sentido de compromisso laboral com o outro (Sundstrom, 1986).

Fazendo uma alusão ao esquema de incentivos, este factor altamente instaurado e evidenciado no seio das instituições pode não ser sinónimo de comportamentos egoístas e individualistas. Através de estudos empíricos, Deutsch (2000) demonstrou que havendo objectivos claros e definidos um grupo de trabalho tudo faz para coincidir os seus objectivos pessoais em consonância com essas metas comuns.

A montante dos incentivos estão as tomadas de decisão que um grupo de trabalho enfrenta no seu quotidiano. Por norma, segundo Lewin (1975), cada vez que um grupo toma uma determinada decisão, esta afecta mais o comportamento individual de cada um do que se a decisão fosse, meramente, individual. O autor reconheceu este facto quando, durante a Segunda Grande Guerra, um grupo de militares admitiu comer pão queimado e outro tipo de alimentos em mau estado de conservação para manterem por mais tempo as suas provisões alimentares, facto este que, individualmente recusavam liminarmente.

O facto das tomadas de decisão serem em grupo traz a vantagem de que todos os colaboradores chegam a um consenso, mais ou menos unânime, na solução encontrada e, além disso, todos eles sabem que opções foram rejeitadas e porquê, o que vai ajudar na responsabilização e empenho em seguir até ao fim e com sucesso as opções tomadas (Lawler & Hackman, 1969).

Além deste ponto, todos os colaboradores, até aqueles que, dado a sua personalidade, têm uma atitude e forma de estar mais discreta em relação ao grupo podem contribuir para as decisões ao aprová-las, desaprová-las ou apresentando

21

alternativas. Neste seguimento, os elementos constituintes do grupo, quando fixam objectivos em conjunto seguem-nos com mais persistência e empenho para alcança- los (Tubbs, 1986).

Seguindo directrizes da Psicologia Social, segundo Turner (1987), num grupo de trabalho pode-se criar a ideia de entidade grupal se os seus membros possuírem a consciência que fazem parte desse mesmo grupo. Se houver um processo de formação de identidade psicológica em que haja uma interdependência entre sujeitos, esta identidade pode fomentar a criação de comportamentos cooperativos. Deste modo Ao existir uma despersonalização individual em prol do sentimento de pertença ao grupo salientam-se as semelhanças e pontos comuns entre os membros e relativizam-se as suas diferenças individuais.

Esta despersonalização é benéfica porque os objectivos passam a ser percebidos como unitários do grupo em vez de individuais, havendo uma maior partilha de conhecimentos e experiências (Hogg e Turner, 1985).

Num grupo de trabalho, em que seja necessária a existência de comportamentos cooperativos, é imprescindível que a cooperação seja exercida segundo a existência de regras pré-estabelecidas, para que este comportamento traga benefícios aos seus membros. Estas normas consubstanciam-se na partilha de tarefas segundo a especialidade de cada um, no respeito pessoal nas relações, na consciência da individualidade e especificidades de cada membro do grupo e na entreajuda e na proximidade entre equipas e chefias.

Existem outros factores, que sem serem regras específicas, ajudam à criação de rotinas cooperativas no seio de equipas de trabalho. A saber: guardar confidências, estar disponível para ajudar, chamar os colegas pelo primeiro nome, olhar nos olhos das pessoas aquando de uma conversação, evitar relacionamentos amorosos com colegas de trabalho e evitar perguntas abusivas ou demasiado inquisitivas (Argyle & Henderson, 1985).

Estes parágrafos servem de suporte ao que foi mencionado anteriormente de que a cooperação é, quase que, inata ao Homem. Assim, foi possível verificar o porquê e os propósitos da extrema necessidade que o Ser Humano tem em adoptar comportamentos cooperativos especificamente quando se encontram em equipas que têm o propósito de alcançar objectivos.

22 2.3 O sujeito na cooperação