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CAPÍTULO 1 - NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS

1.4 NEGOCIAÇÕES PROCEDIMENTAIS SEGUNDO ARTIGO 190 DO

O artigo 190 do CPC de 2015 cria uma cláusula geral de negociação procedimental em que se extrai o subprincípio da atipicidade da negociação processual. Isso porque serve de fomento e concretização do autorregramento da vontade em termos processuais, com possibilidade de advir espécies de negócios jurídicos processuais atípicos. Assim consta sua disciplina:

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.

Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

A nova codificação88 processual civil realça e inova a possibilidade de pactos jurídicos, tendo por objeto temas de interesse processual segundo autorregramento das partes acerca de aspectos procedimentais. Vale dizer que, por meio delas, as partes podem entabular negociações processuais que sejam de seus interesses, conforme uma conveniência já conhecida do direito privado.

É inegável que aquelas se desenvolvem em parâmetros mais intensos e com maior amplitude, mas, agora, com a nova legislação, novas cores são lançadas em temas um pouco tímidos, se comparados ao CPC de 1973. Elas não representam, então, feição totalmente inédita, uma vez que já existiam, a exemplo da suspensão da causa e convenção acerca da distribuição do ônus da prova (art. 265, II e 333

§ único do CPC de 1973).

Aquele dispositivo representa uma abertura nesse contexto, quando se tem por conteúdo ônus, poderes, faculdades e deveres, lembrando que, na doutrina nacional,        

88 Vale observar ainda os enunciados n.os 257 e 259 do Fórum Permanente de Processualistas Civis que estabelecem: n.o 257: "O art. 190 autoriza que as partes tanta estipulem mudanças do procedimento quanto convencionarem sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais". Do mesmo modo o enunciado n.o 259: "As partes podem convencionar sobre seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, ainda que essa convenção não importe ajuste às especificidades da causa".

existem tanto autores que são contrários89 a sua existência como os favoráveis a sua realização. Os contrários a sua existência partem normalmente da ideia de que os negócios jurídicos precisam de intervenção judicial para que se realizem ou se baseiam na ótica de que a vontade não tinha relevância para produção de efeitos pelo ato processual.90

Aqueles que já admitiam sua existência partiam inclusive do art. 158 do CPC de 197391, reproduzido agora no art. 200 do novel estatuto, que dispõe:

Os atos das partes consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a constituição, modificação ou extinção de direitos processuais. Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeitos após homologação judicial.92

Assim, autores como Pontes de Miranda entendem que os atos processuais não são, em princípio, negócios jurídicos, mas reconhecem os negócios jurídicos processuais como a desistência da demanda.93 Moacyr Amaral Santos indica a existência de atos dispositivos, podendo ser unilaterais, concordantes ou contratuais.94 Ovídio Baptista da Silva, citando Carnelutti, admite sua existência, a exemplo da propositura da demanda.95 Barbosa Moreira aceita as convenções processuais, advertindo que a liberdade de convenção entre as partes está inserida no âmbito

       

89 Por entender que a lei estabelece consequências dos atos praticados no processo, não conferindo margem de intervenção ás partes. (DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2014. v.1. p.276). Entendendo que eles não existem porque os atos de vontades praticado pelas partes produziriam no processo apenas os efeitos da lei está CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 25.ed. São Paulo: Atlas, 2014. v.1. p.276.

90 REDONDO, Bruno Garcia. Negócios processuais: necessidade de rompimento radical com o sistema do CPC/1973 para a adequada compreensão da inovação do CPC/2015. Revista Dialética de Direito Processual, São Paulo, n.19, p.12, ago. 2015.

91 "Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais".

92 Em consonância ainda com o tema está o enunciado n.o 261 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "O art. 200 aplica-se tanto aos negócios unilaterais quanto aos bilaterais, incluído as convenções processuais do art. 190".

93 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito privado. Rio de Janeiro:

Borsoi, 1954. Tomo 3. p.31.

94 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 25.ed. São Paulo:

Saraiva, 2007. v.1. p.292.

95 BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Curso de processo civil. 6.ed. São Paulo: RT, 2003. v.1. p.196.

das normas processuais dispositivas.96 No CPC de 1973, já existiam exemplos de negócios jurídicos processuais típicos.97

Além dos negócios jurídicos processuais típicos, é possível identificar os atípicos, uma vez que não se enquadram nos tipos legais, estruturados de forma a atender a suas conveniências e necessidades, sem propriamente existir um detalhamento legal. Eles podem ser unilaterais, bilaterais ou plurilaterais com efeitos imediatos nos termos processuais civis.

Esses acordos já vêm ocorrendo no novo CPC, com as suas intenções estabelecidas segundo aquele autorregramento das partes. A visão instrumental do processo98, tão difundida ao tempo do anterior estatuto, notadamente por seus escopos sociais, políticos e jurídicos, sofreu adaptações aos postulados de um processo voltado também para sua estrutura mais argumentativa. Com propriedade a doutrina afirma que:

Valoriza-se aí, em maior escala, o papel de todos que nele tomam parte, o modelo cooperativo de processo civil e o valor participação inerente à nossa democracia constitucional. Tudo conflui, pois, à compreensão do processo civil a partir de uma nova fase metodológica – o formalismo valorativo.99

Essa concepção colaborativa vem regulada no artigo 6.o do CPC de 2015, trazendo um incremento para a discussão do litígio em relação às partes. Procura equacionar de maneira adequada direito e processo, processo e Constituição, colocando o direito processual civil no centro das discussões, analisando ainda temas como justiça, igualdade, participação, racionalidade, efetividade e segurança.

       

96 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Convenções das partes sobre matéria processual. In: Temas de direito processual: terceira série. São Paulo: Saraiva, 1984. p.87-88.

97 A) Modificação do réu na nomeação à autoria (arts. 65 e 66); b) Acordo de eleição de foro (art. 111); c) Prorrogação da competência territorial por inércia do réu (art. 114); d) Desistência do recurso (art. 158 e 500, III); e) Convenção para suspensão do processo (art. 265, II); f) Desistência da ação (art. 267, § 4.o; g) Convenção de arbitragem (art. 267, VII); h) Reconhecimento da procedência do pedido (art. 269, II); i) Renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação (art. 269, V); j) Convenção sobre a distribuição do ônus da prova (art. 333 parágrafo único); k) Conciliação em audiência (art. 447 e 449); l) Adiamento da audiência por convenção das partes; m) Escolha do juízo da execução (art. 475-P;parágrafo único); n) Desistência da penhora pelo exequente (art. 667, III); o) Acordo de partilha (art. 1.031) etc.

98 DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 9.ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p.149.

99 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil. 4.ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p.22.

O fim último do processo já não é apenas a realização do direito material, mas também a concretização da justiça material100, somada ao perfil de um juiz mais ativo e comprometido com a democracia deliberativa.101

Dito de outro modo, a chegada do CPC de 2015 ampliou consideravelmente situações específicas como:

a) Redução de prazos peremptórios. O juiz, nesse caso, com a concordância das partes, pode reduzir tais prazos ante o permissivo art. 222 § 1.o do novo CPC, numa hipótese de negócio plurilateral típico realizado entre partes e juiz.

b) Calendário processual. As partes com apoio do juiz podem calendarizar o procedimento, fixando datas para ocorrência de atos processuais, ficando eles previamente agendados. Isso ocorrendo, dispensa-se a intimação das partes num tipo de negócio plurilateral típico. O calendário vincula as partes e o juiz só podendo ser alterado em casos excepcionais devidamente justificados.

Por meio dele, é possível conhecer o prognóstico de sua duração102, com previsões saudáveis como audiências, sentenças e ajustes de velocidade, em sintonia com os ditames constitucionais da razoável duração do processo.103 Evitam-se ainda indefinições processuais, passando tudo a ser mais previsível, não só em termos probatórios104, mas também no planejamento geral da causa.

       

100ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil. 4.ed. São Paulo:

Saraiva, 2010. p.23.

101REICHELT, Luiz Alberto. O conteúdo da garantia do contraditório no direito processual civil.

Repro, São Paulo, v.33, n.162, p.334, ago. 2008. Acerca do tema da democracia deliberativa:

KOZICKI, Katia. Democracia deliberativa: A recuperação do componente moral da esfera pública.

Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, n.41, p.43-57, 2004.

102ANDRADE, Érico. As novas perspectivas do gerenciamento e da contratualização do processo.

Repro, São Paulo, v.36, n.193, p.185, 2011.

103Artigo 5.o LXXVIII: A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

104A respeito verifica-se ainda o enunciado n.o 299 do Fórum Permanente de Processualistas Civis:

"O juiz pode designar audiência também (ouso) como objetivo de ajustar com as partes a fixação de calendário para fase de instrução e decisão".

c) Escolha consensual do perito.105 O CPC de 1973 estabelecia que o perito fosse nomeado por escolha do juiz, mantendo-se a mencionada regra no CPC de 2015, somado ao fato de que as partes podem, de comum acordo, indicar o expert. A causa, todavia, segundo dicção do art. 471, deve admitir solução por autocomposição.

d) Audiência de saneamento e organização em cooperação.106 Por tal regramento, as partes que conhecem os detalhes da controvérsia podem colaborar na realização dessa audiência com medidas a serem adotadas por meio do diálogo visando a finalidades específicas num típico negócio jurídico plurilateral.

e) Acordo de saneamento. Estabelece o art. 364 do novo CPC um negócio processual típico bilateral para que as partes determinem um acordo para delimitar e estabelecer pontos controvertidos que devam ser examinados pelo juiz, com reflexos inclusive na delimitação de análise na solução de mérito.

f) Desistência de documento cuja falsidade foi arguida. Com adaptações ao que já existiu no art. 392 do CPC de 1973, o novo código não exige mais a concordância da parte contrária quando a parte que apresentou o documento desejar retirá-lo dos autos por motivos de uma suposta falsidade. É o que estabelece a respeito o art. 432 do novo CPC.

Quanto ao momento de sua celebração, os negócios processuais podem ocorrer antes ou durante a causa, podendo ser celebrados em qualquer fase processual.

Todavia, o momento adequado para sua realização, é bom registrar, é a audiência de saneamento e organização do processo consoante (art. 357, § 3.o do CPC).

Como qualquer negócio jurídico, os acordos processuais, para serem válidos, devem: a) ser celebrados por pessoas capazes; b) possuir objeto lícito; c) observar forma prevista ou não proibida em lei (arts. 104, 166 e 167 do Código Civil).

Eventual desrespeito a qualquer desses requisitos implica nulidade do negócio processual reconhecida ex officio nos termos do art. 190 § único do CPC.

       

105CUNHA, Leonardo Carneiro da. Negócios jurídicos processuais no processo civil brasileiro. In:

CABRAL, Antonio; NOGUEIRA, Pedro Henrique. Negócios processuais. Salvador. Juspodivm, 2015. p.54.

106Ibid., p.55.

A capacidade processual exigida é a negocial107, não se limitando a ela, já que a vulnerabilidade é caso de incapacidade processual negocial.

Não existe empecilho de celebração das convenções processuais pelo poder público108, bem como pelo Ministério Público, sobretudo na condição de parte, a exemplo do que já ocorre em termos de ajustes de conduta.109

A vulnerabilidade estabelecida pelo parágrafo único do art. 190 do CPC/2015 é a que ocorre quando houver desequilíbrio entre os sujeitos na relação jurídica, fazendo com que a negociação não se aperfeiçoe em igualdade de condições. Podem ser lembradas as posições jurídicas de consumidor e trabalhador, devendo ser verificadas no caso concreto, cabendo ao órgão jurisdicional o controle dessa igualdade, caso em que se deve recusar a eficácia do negócio.110

O objeto do negócio processual versa sobre seus elementos essenciais regulando condutas humanas a serem realizadas em processos jurisdicionais e destinadas a produzir efeitos sobre ele.111 É essencial sobre isso que sua regulação verse sobre relação jurídica processual ou pelo menos de seu procedimento, vale dizer, sobre os componentes substanciais e formais da causa.

Há diretrizes na sua disciplina, bem como parâmetros, como o fato de que, na negociação atípica, somente ocorra em causas que admitam solução por autocomposição.

Embora o negócio processual não se refira ao objeto litigioso do processo, é certo que a negociação sobre situações jurídicas processuais ou sobre a estrutura do procedimento pode afetar a resolução de mérito da causa, diminuindo suas chances de êxito.

Registre-se que o direito em litígio pode ser indisponível, mas admitir solução por autocomposição, como acontece com os direitos coletivos112 e o direito aos

       

107DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 17.ed. Salvador: Juspodivm, 2015. v.1. p.385.

108Bom lembrar a respeito do enunciado n.o 256 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "A fazenda pública pode celebrar negócio processual".

109Enunciado n.o 253 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "O Ministério Público pode celebrar negócio processual quando atua como parte". A respeito ainda a Resolução n.o 118/2014 do Conselho nacional do Ministério Público.

110Enunciado n.o 18 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "Há indícios de vulnerabilidade quando a parte celebra acordo de procedimento sem assistência técnico-jurídica".

111YARSHELL, Flávio Luiz. Convenção das partes em matéria processual: rumo a uma nova era? In:

CABRAL, Antonio; NOGUEIRA, Pedro Henrique (Org.). Negócios processuais. Salvador:

Juspodivm, 2015. p.66.

112Enunciado n.o 258 do Fórum permanente de processualistas Civis: "É admissível à celebração de convenção processual coletiva".

alimentos. Desse modo, a eventual indisponibilidade do direito material não impede, por si só, a realização do negócio jurídico processual.113

Tudo quanto se conhece sobre a licitude do objeto do negócio jurídico privado aplica-se também ao negócio processual, ou seja, somente são possíveis negócios processuais sobre comportamentos lícitos. Ficam excluídos, assim, negócios processuais realizados de modo contrário ao sistema jurídico, em que exista desacordo com os ditames da lei, ou mesmo em desrespeito a princípios constitucionais ou processuais.

É bom enfatizar ainda que a lei delimitará os contornos do seu objeto, uma vez que acordos sobre competência, por exemplo, somente poderão incidir sobre a relativa. Ficam excluídas os critérios acerca da matéria da função e da pessoa, bem como as questões sobre a supressão de primeira instância por se tratar de competência funcional para que a causa tramite diretamente ao tribunal.114

Em matéria recursal, valendo-se do princípio da taxatividade, não podem as partes estabelecer negócio processual para criar recursos, nem mesmo para alterar regras de cabimento, pois se estaria negociando sobre competência funcional, que é absoluta.

Não se admite ainda negócio processual que tenha por intenção afastar proteção de direito indisponível, incidindo diretamente sobre norma processual cogente, como a tentativa de se afastar a intimação obrigatória do Ministério Público.115

Destaca-se outro ponto como a disciplina de negócio processual atípico sobre deveres e sanções, diferente do rol legal de circunstâncias para o caso do seu descumprimento.116 Esse é ponto inclusive de abordagem específica no capítulo IV.

Quanto à forma, é importante dizer que ela é livre quanto a sua elaboração, podendo ser oral ou escrita, não sendo exigível que seja celebrada por instrumento público, podendo ser apresentada extrajudicialmente ou em audiência. Em nome do princípio da liberdade das formas, sustenta Antonio do Passo Cabral que "em qualquer

       

113Por isso o texto legal fala em "direito que admita autocomposição" e não "direitos indisponíveis".

114Enunciado n.o 20 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "Não são admissíveis os seguintes negócios, dentre outros: acordo para modificação da competência absoluta, acordo para supressão da 1.a instância".

115Art. 178 do CPC.

116Enunciado n.o 17 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "As partes podem, no negócio processual, estabelecer outros deveres e sanções para o caso do descumprimento da convenção".

contrato, e também nos acordos processuais, a forma é relevante para atribuir ao ato jurídico uma esfera de segurança adequada".117

De outro lado, além de nulo, o negócio pode ser anulável. Vícios de vontade podem contaminar negócios processuais como coações ou erros incidentes sobre o negócio118, mas, nesse caso, dependendo de provocação do interessado (art. 177 do Código Civil).

Quanto à eficácia e revogabilidade, é bom registrar que existem negócios processuais que dependem de homologação, como a desistência da demanda.

Nesse caso, deve existir previsão em lei119, já que é uma condição de eficácia do negócio processual.120

O negócio processual atípico baseado no art. 190 do NCPC produz efeitos imediatamente, salvo se as partes expressamente tiverem modulado a eficácia do negócio. Assim, não possuindo defeito, o juiz não pode recusar a aplicação do negócio processual, ou de forma similar, "dentro do processo, não há dever de o juiz examinar a integralidade do negócio".121 O controle há que ser realizado em correspondência com a fase processual, incidente a preclusão para o tema, não tanto sobre o momento em que podem ser celebradas, mas sim de quando podem ser invocadas, uma vez que as convenções alteram o procedimento. No momento de aplicar a regra, o juiz deixará de fazê-lo se compreender que ela seja inválida.

Aplica-se aos negócios processuais bilaterais, ainda, a regra da irrevogabilidade da declaração de vontade, ou seja, salvo previsão legal ou negocial expressa, o negócio processual atípico celebrado com base no art. 190 do CPC é irrevogável.

Considerando ainda a interpretação que visa buscar uma ampliação a ser dada aos negócios jurídicos processuais, é importante registrar que nos mais diferentes tipos de lides existentes no campo processual elas podem acontecer. Isso significa        

117CABRAL, Antonio do Passo. Convenções processuais. Salvador: Juspodivm, 2016. p.287.

118Enunciado n.o 132 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "Além dos defeitos processuais, os vícios da vontade e os vícios sociais podem dar ensejo à invalidação dos negócios jurídicos atípicos".

119Enunciado n.o133 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "Salvo nos casos expressamente previstos em lei, os negócios processuais do caput do art. 190 não dependem de homologação judicial".

120Enunciado n.o 260 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "A homologação, pelo juiz, da convenção processual, quando prevista em lei, corresponde a uma condição de eficácia do negócio".

121YARSHELL, Flávio Luiz. Convenção das partes em matéria processual: rumo a uma nova era? In:

CABRAL, Antonio; NOGUEIRA, Pedro Henrique (Org.). Negócios processuais. Salvador:

Juspodivm, 2015. p.77.

que nas mais variadas causas em distintas possibilidades de aplicação, é aceitável a ocorrência dos acordos processuais, homenageando-se o autorregramento dos litigantes.

Não existe impedimento a priori sobre a ocorrência das convenções processuais existentes nos mais diversos tipos de litígio que um conflito apresente, podendo, assim, ocorrer sua incidência segundo regramento de aplicação da norma do art.

190 do NCPC.

Qualquer que seja o tipo existente de causa em que as partes postulem, se contenciosa ou mesmo voluntária, seja procedimento ordinário, seja especial e não apenas para direitos disponíveis, poderão os envolvidos celebrar acordos processuais típicos ou atípicos segundo seus interesses estabelecidos. Isso representa um ganho significativo e um incremento saudável em instrumento ainda pouco conhecido, mas que com a devida e racional utilização, permitirá uma modificação importante nas diretrizes determinadas pelo novo CPC.