• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Ocorrência de Nevoeiro

4.2 Situação Sinótica

4.2.4 Análise sinóticos dos casos típicos e raros

4.2.4.1 Nevoeiro de radiação dentro de massa de ar

4.2.4.2.3 Nevoeiro influenciado por Ciclogênese

Entre os 2 casos deste tipo de nevoeiro foi escolhido para apresentação, como exemplo, o evento ocorrido no dia 2 de Junho de 2008 por ser o que apresentou a menor visibilidade dentre os 2 (Tabela 2).

Um dia antes da formação do nevoeiro foi possível observar que a cidade de Porto Alegre estava sem nebulosidade de topo frio, apenas pequenos vestígios de nuvens com formato granuloso, que se formaram no ar frio (Figura 35, a). O ar frio, de origem polar, invadiu a região por conta de um anticiclone baroclínico que se estabeleceu na região (Figura 36, a). Este anticiclone foi observado 3 dias antes do evento de nevoeiro.

As 0000UTC do dia do evento, surgiram nuvens altas (cirros estratus) sobre Porto Alegre, as estruturas das mesmas mostravam que em altos níveis estava sob atuação de corrente de jato (Figura 35 b). Na superfície o anticiclone permanecia na região, mas a cidade de Porto Alegre estava sobre influência de um cavado proveniente do centro da Argentina. Nesta hora, Porto Alegre esta sendo influenciada por uma onda quente vinda da região central tropical da América do Sul (Figura 36, b).

Figura 35- Imagem do satélite GOES-12 no canal infravermelho, as 1200UTC do dia 01 (a), as 0000UTC (b) e as 1200UTC (c) do dia 02 de Junho de 2008.

Fonte: GIBBS/NOAA.

Na hora da formação do nevoeiro, a imagem de satélite e os modelos NCEP e CFSR mostraram que o sistema frontal localizava distante da região de estudo (a leste, sobre o oceano), entretanto, o anticiclone a retaguarda do sistema frontal, visto sobre a região 12 horas antes, não influenciava a cidade de Porto Alegre na hora do nevoeiro. Os modelos mostraram que em baixos níveis Porto Alegre estava sob forte influência do cavado, vindo da região do centro da Argentina. O centro da Argentina apresentava atividade ciclogenética (Figura 36, c e f).

O nevoeiro se formou sob condições diferentes aos definidos por Willet (1928), Peterson (1940), Byers (1959) e Jiusto (1981). Esse episódio de nevoeiro se formou entre a massa de ar quente na vanguarda do cavado sobre o centro da Argentina e a massa de ar menos quente na retaguarda do anticiclone (Figura 36, c e f).

Figura 36- Espessura da camada e pressão ao nível médio do mar as 1200UTC do dia 01 (a) e (d), as 0000UTC (b) e (e) e as 1200UTC (c) e (f) do dia 02 de Junho de 2008, Modelo NCEP linha superior e modelo CFSR linha inferior.

(a) (b) (c)

Fonte: NCEP e CFSR.

As condições da atmosfera na hora do evento foram favoráveis a intensificação da ciclogénese sobre o centro da Argentina. Os modelos mostraram que acima do cavado na superfície foram observados cavados na vanguarda e crista na retaguarda na atmosfera média (entre 850hPa e 500hPa), e também foi observado CJBN sobre a vanguarda do cavado (Figura 37, b e e). Todas essas condições são favoráveis a intensificação da ciclogénese (Fedorova 2001).

Também foram observadas corrente de jato em altos níveis que foram importantes na intensificação da ciclogénese. A entrada da corrente de jato nos altos níveis (200hPa) estava posicionada sobre a região do centro da Argentina, onde ocorria o processo ciclogenetico (Figura 37, c e f). O lado frio da entrada da corrente de jato (caracterizado por movimentos descendentes, segundo Fedorova 2001) estava posicionado na retaguarda do cavado. O movimento descendente da corrente de jato em altos niveis intensificou o movimento descendente do lado frio do cavado (Figura 37 c e f).

Figura 37- Linhas de corrente e magnitude do vento nos níveis de 1000hPa (a) e (d), 925hPa (b) e (e) e em 200hPa (c) e (f) no dia 02 de Junho de 2008, na hora do evento de nevoeiro. Modelo NCEP (linha superior) e CFSR (linha inferior).

Fonte: NCEP e CFSR.

A dinâmica das condições atmosféricas descritas acima intensificaram o processo ciclogenetico, que influenciou na evolução do cavado para um ciclone no estágio de onda na superfície, mostrado apenas pelo modelo NCEP as 1800UTC (Figura 38, a e c).

Nessa hora, o modelo NCEP mostrava confluência acima da onda, desde o nível 1000hPa até o nível de 850hPa, e cavado intenso com corrente de jato em 750hPa; enquanto que o modelo CFSR apresentou confluência do nível 1000hPa até 925hPa, e circulação ciclônica em 850hPa. Os dois modelos mostravam ainda a influência da crista do anticiclone sobre a região (Figura 39 a e c). No momento, o CFSR já tinha apresentado a formação do ciclone (Figura 39 a e c).

As situações atmosféricas acima da superfície continuaram as mesmas, com cavados na vanguarda e crista na retaguarda (na atmosfera média), e correntes de jato em altos níveis. Esses processos intensificaram a onda apresentada pelo modelo NCEP e o ciclone no estágio jovem do CFSR.

(a) (b) (c)

As 0000UTC do dia 03 de Junho já foi possível observar os ciclones nos dois modelos (Figura 39, b e d), e horas depois (0600UTC), os dois modelos mostravam o ciclone mais intenso sobre a região.

Figura 38- Espessura da camada e pressão ao nível médio do mar as 1800UTC do dia 02 (a) e (c), e as 0000UTC do dia 03 de Junho de 2008 Modelo NCEP linha superior e CFSR linha inferior.

Fonte: NCEP e CFSR.

(a) (b)

Figura 39- Linhas de corrente e magnitude do vento nos níveis de 850hPa, as 1800UTC do dia 02 (a) e (c), e as 0000UTC do dia 03 (b) e (d) de Junho de 2008. Modelo NCEP (linha superior) e CFSR (linha inferior).

Fonte: NCEP e CFSR.

O outro caso de nevoeiro ciclogenético (ocorrido no dia 25 de Junho de 2008), na hora da formação do nevoeiro também mostrou condições semelhantes ao apresentado anteriormente. A imagem de satélite mostrou que sistemas frontais não influenciavam a região (Figura 40, b).

Figura 40- Imagem do satélite GOES-12 no canal infravermelho, as 1200UTC, do dia 02 de Junho de 2008 (a) e do dia 25 de Junho de 2008 (b).

Fonte: GIBBS/NOAA (a) (b) (a) (d) (c) (b)

Os campos de espessura também apresentaram cavado na superfície em Porto Alegre, e um anticiclone a leste de Porto Alegre, sobre o oceano atlântico. Condições ciclogenética foi apresentada no centro da Argentina, com onda quente sobre o cavado na região (Figura 41, b e d).

Figura 41- Espessura da camada e pressão ao nível médio do mar as 1200UTC, do dia 02 de Junho de 2008 (a) e (c) e do dia 25 de Junho de 2008 (b) e (d). Modelo NCEP linha superior e CFSR linha inferior.

Fonte: NCEP e CFSR.

A diferença dos 2 casos ciclogenéticos, foi que o caso ocorrido no dia 25 de Junho de 2008 o ciclone não chegou a desenvolver, pois as condições da atmosfera neste dia não foram favoráveis a sua intensificação (ausência de cavados na vanguarda da onda na atmosfera média, etc), que dissipou horas depois, dando lugar a uma crista do anticiclone posicionado sobre o oceano (Figura 42, b e d).

(a) (b)

Figura 42- Linhas de corrente e magnitude do vento nos níveis de 850hPa, as 1800UTC do dia 02 (a) e (c), e as 0000UTC do dia 03 (b) e (d) de Junho de 2008. Modelo NCEP (linha superior) e CFSR (linha inferior).

Fonte: NCEP e CFSR.