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Capítulo 1: Alice Piffer Canabrava entre duas culturas acadêmicas: a Faculdade de

1.3 Na crise, uma noção de Ciência Econômica

Os primeiros dez anos de funcionamento da FCEA foram bastante conturbados, sendo que durante a diretoria de Alice Canabrava (1954-1957) a faculdade enfrentou uma greve de três dias, 17, 18 e 19 de setembro de 1956, por parte dos alunos capitaneados pelo Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC), fundado em 22 de julho de 1946. Dentre as motivações para a greve estão as irregularidades na constituição e funcionamento do corpo docente e a campanha pela reforma curricular137. Conforme rememorado acima, houve uma intervenção do governo estadual, do governador Jânio Quadros, para instaurar uma sindicância na faculdade. A documentação que encontramos sobre esta crise da FCEA não trata de dois importantes aspectos rememorados pela historiadora: a perseguição política promovida por Jânio Quadros aos professores ademaristas e a oposição interna à sua diretoria.

As demandas dos estudantes da FCEA em relação à reforma curricular e ao corpo docente inserem-se em um quadro mais amplo, qual seja, a da progressiva organização dos movimentos sociais face, principalmente, ao aumento das taxas de inflação, o que conduzia ao crescente custo de vida, acentuado durante o governo de Juscelino 136 PINHO, Diva Benevides. Economia Política e a história das doutrinas econômicas. Economia Aplicada, São Paulo, 1994, p. 326. As sociedades de classe, como o Sindicato dos Contabilistas de São Paulo e o Sindicato dos Economistas no Estado de São Paulo, desempenharam importante papel nas discussões sobre o ensino universitário em Administração, Contabilidade e Economia. Exemplo disso, encontramos em nota publicada pelas entidades em O Estado de S. Paulo. Dentre outros pontos, sugerem que as cadeiras de Economia Política, Valor e Formação de Preços e a cadeira de Ciência da Administração sejam regidas por professores provenientes de centros mais avançados no estudo das ciências econômicas e administrativas em âmbito universitário, com o fim de formar seus sucessores brasileiros. Cf. Ao público e aos contabilistas e economistas do Estado de S. Paulo. A propósito da instalação da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas na Universidade de São Paulo. O Estado de S. Paulo. 26/02/1946, p. 13.

137 Cf. MARCOVITCH, Jacques. O Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC). In: CANABRAVA, op. cit., 1984, p. 337-346. Em 01 de junho de 1954 o CAVC organizou a conferência “Causas da corrupção no ensino e meios de combatê-la” ministrada por Heraldo Barbuy. Cf. Conferências e cursos. O Estado de

S. Paulo. 01/06/1954, p. 15. A greve de estudantes do CAVC parece estar ligada à um movimento maior,

qual seja, a greve geral dos estudantes das instituições de ensino superior do Estado de São Paulo capitaneados pela União Estadual dos Estudantes em apoio ao grêmio da Escola Politécnica da USP e do grêmio da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” de Piracicaba. A Escola Politécnica não reconheceu a nova diretoria do grêmio e a Escola de Piracicaba estava sem diretor, uma vez que a Congregação não enviou nomes ao governo do Estado. Estes eventos conduziram à um questionamento maior: pode uma Congregação não reconhecer o grêmio ou centro acadêmico de sua Faculdade ou Escola? Pode uma faculdade da USP não enviar nomes para que o governo estadual escolha seu diretor e vice? Cf. O Conselho de presidentes da União Estadual de Estudantes declara greve geral. O Estado de S. Paulo. 16/09/1954, p. 12.

Kubistchek (1956-1960), o qual utilizava como principal instrumento de financiamento dos gastos públicos a emissão primária de moeda138. Nesse contexto, ao lado do posicionamento estudantil junto às demandas das classes trabalhadoras, o fortalecimento da União Nacional dos Estudantes (UNE) tornou-se mais um elemento envolvido nas relações entre governos e universidade na busca pela autonomia universitária139. A relação dos governos, federal e estaduais, com as universidades em seu processo de institucionalização sempre foi conturbada.

No caso da USP e dos governos federal e estadual, José Sebastião Witter indica períodos-chave: desde o Estado Novo com um sistema universitário autoritário e unitário, com normas uniformizantes dos currículos, por exemplo; passando pelas conturbadas relações com o governo estadual de Jânio Quadros (1955-1959); pela tentativa de reforma de João Goulart; até a reforma universitária de 1968. O que mais nos interessa aqui é o caso das relações entre Jânio Quadros e o sistema universitário paulista, uma vez que a diretoria de Alice Canabrava foi exercida nesse período. O ponto inicial da crise se deu em relação à revogação do decreto 15.610 de 26 de janeiro de 1946, conhecido por “decreto Macedo Soares” que instituiu a lista dúplice para indicação do nome de diretor e vice-diretor das unidades da USP por suas respectivas Congregações140. Ademais, durante o governo de Jânio Quadros o orçamento destinado à USP também foi motivo de embates, uma vez que para o período 1953/1957 os 3,5% da receita estadual destinados à USP foram reduzidos para 1,5%141.

Uma das hipóteses aventadas por Diva B. Pinho quanto à mobilização dos alunos em torno do CAVC com o fito de requerer melhorias de ensino na faculdade é de que o

138 Além da instabilidade econômica, o país também enfrentava séria instabilidade política, principalmente por conta do suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e da necessidade de um golpe “preventivo” para garantir a posse de JK em 1956. Para um panorama político do período, ver: SKIDMORE, Thomas. Governo Transitório (1954-1956). In: . Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco, 1930-1964. 7ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 181-202. Para questões mais específicas do período como movimentos sociais, artísticos, estudantis e culturais no geral, ver os vários capítulos de: GOMES. Angela Maria de Castro Gomes et ali. O Brasil Republicano: sociedade e política (1930-1964). In: FAUSTO, Boris (dir.).

História Geral da Civilização Brasileira. T. 3, v. 10. 9ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. E:

PIERUCCI, Antônio Flávio de Oliveira et ali. O Brasil Republicano: economia e cultura (1930-1964). In: FAUSTO, Boris (dir.). História Geral da Civilização Brasileira. T. 3, v. 11. 9ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

139 Cf. CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade crítica: o ensino superior na República Populista. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983, p. 11-71.

140 Cf. WITTER, José Sebastião. Uma universidade autônoma. In: . USP 50 anos: registros de um debate. 2ª edição. São Paulo: EDUSP, 2006, p. 53-99.

141 Cf. RODRIGUES, Lidiane Soares. Os catedráticos da USP e o governo Jânio Quadros. Revista Pensata. São Paulo, v. 2, n. 1, p. 90-107, 2012.

espaço compartilhado entre a FFCL e a FCEA promoveu uma sinergia entre a Maria Antonia e a Faculdade de Economia, uma vez que a instalação desta se dera na esquina da rua Dr. Vila Nova com a rua Maria Antonia. Além disso, se podia entrar pela FFCL e sair pela FCEA e vice-versa e também possuíam espaços de sociabilidade comuns, como a cafeteria, por exemplo142. Em suas “reminiscências” de seus tempos de Maria Antonia, Diva Pinho rememora a crise que também atingiu a FFCL durante o governo Jânio Quadros e a postura do então diretor Eurípedes Simões de Paula. “Lembro-me de seu caminhar solitário e pensativo pelo pátio entre a FFCL e FCEA [...]. Precisava eliminar determinado percentual de docentes e funcionários, para atender imposições do então governador Jânio Quadros, mas seu coração relutava...”143.

Paul Singer, que ingressou na FCEA em 1956, assim como Diva Pinho, fez carreira na FCEA e atingiu a condição de professor titular, matiza a hipótese desta por meio da caracterização da FCEA como um ambiente político conservador em oposição à FFCL, intelectualmente brilhante, engajada e com vida política fervilhante. Para ele, “[...] a FCEA estava preocupada em delimitar um campo de competência técnica, no qual o economista – então um profissional relativamente novo e desconhecido – pudesse se auto- afirmar [sic]”144. A partir de um debate sobre o plano de metas de JK realizado na faculdade em 1956, no qual os professores advogavam pela teoria clássica das vantagens comparativas e, por isso, o Brasil não deveria produzir automóveis e caminhões, Singer caracteriza seu corpo docente como neoclássico e pré-keynesiano. Corrobora a análise de Singer, uma nota emitida pelo CAVC em 02 de setembro de1954 e publicada no jornal O Estado de S. Paulo. O CAVC

[...] declara que não tomou parte no movimento de solidariedade à greve de hoje, por julgar que, no momento atual, mais do que nunca, é com trabalho e não com a paralisação de atividades que só pode contribuir para aumentar a produção e, em consequência, baratear o custo de vida145.

Podemos inferir das memórias de Diva Pinho e de Paul Singer que os alunos da FCEA estavam mais preocupados em se profissionalizar; em requerer um currículo que

142 PINHO, Diva Benevides. A FEA-USP no tempo: contribuição à memória de seus 60 anos. São Paulo: FEA/USP, 2006.

143 PINHO, Diva Benevides. Reminiscências da faculdade da Maria Antonia. In: SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos (orga.). Maria Antônia: uma rua na contramão. São Paulo: Nobel, 1988, p. 147. Sobre os detalhes dessa crise na FFCL, ver: RODRIGUES, op. cit., 2012.

144 SINGER, Paul. Nos arredores da Maria Antônia. In: SANTOS, op. cit., 1988, p. 83. 145 Comunicado do centro “Visconde de Cairu”. O Estado de S. Paulo. 02/09/1954, p. 28.

se adequasse aos seus anseios. Ao passo que os alunos da FFCL estavam envolvidos com questões de política nacional e seus desdobramentos. O número de alunos nos dez primeiros anos de funcionamento da FCEA era reduzido. Os formados pela FCEA entre 1949 e 1957 totalizavam 105 bacharéis em seus dois cursos: Ciências Econômicas e Ciências Contábeis e Atuariais146. Dos 75 bacharéis em Ciências Econômicas formados no período, temos 67 homens e 8 mulheres. Composição por gênero bastante diferente do curso de Geografia e História da FFCL, no qual, como apontado acima, já nos anos 1940 o número de mulheres superava o de homens. No caso do curso de Ciências Contábeis e Atuariais, dos 30 bacharéis formados no período, não há nenhuma mulher147. Segundo dados coletados por Diva Benevides Pinho, o período com menor número de mulheres formadas em Economia foi entre 1954-1958, apenas 6%148.

Alice se apresentava diante de uma audiência predominantemente masculina e era a única mulher do corpo docente, até que no período entre 1959 e 1963, Lenita Côrrea Camargo atingiu a cátedra por concurso. Neste sentido, a inserção da mulher enquanto catedrática na FCEA se deu antes do que na FFCL, sendo que esta última não contou com nenhuma catedrática até a reforma de 1968, quando a cátedra foi extinta e a carreira docente organizada de outra maneira. Após a reforma, na atual FEA, Diva Benevides Pinho e Maria José Villaça atingiram o cargo de professor-adjunto por concurso em 1973. E Diva Pinho tornou-se a terceira mulher da história da FCEA a atingir o posto mais alto da carreira docente: o de professor titular, ao lado das catedráticas Alice Canabrava e Lenita Côrrea Camargo, em 1977.

É neste ambiente acadêmico que Alice Canabrava enfrenta a “primeira” crise da FCEA. Os estudantes, como apontado acima, tinham uma dupla demanda: reforma curricular e concurso para os professores, uma vez que muitos não tinham o ensino como prioridade da carreira profissional. Quanto ao ensino, os alunos demandavam uma

146 Dados extraídos da lista de bacharéis: Cf. O corpo discente: 1946/81. In: CANABRAVA, op. cit., 1984a, p. 355-385.

147 Na quarta sessão da Congregação da FCEA realizada em 10 de maio de 1950, a primeira sessão em que Alice participou, o então diretor Theotônio Monteiro de Barros Filho, também em sua primeira sessão, demonstrou preocupação com a baixa inserção dos contabilistas e atuários formados pela faculdade e propôs a formação de uma comissão para manter contato com várias entidades como a federação das indústrias e sindicatos para que se pudesse informar sobre o perfil do egresso da faculdade o que também alavancaria o número de matriculados. Cf. Ata da quarta sessão da Congregação. Atas. Congregação. São Paulo: FCEA/FEA, v. 1 (1946-1964), p. 8-10. Arquivo da assessoria acadêmica da FEA/USP.

148 PINHO, op. cit., 2006, p. 41-57. Em seus primeiros 25 anos de existência (1946-1971) a participação da mulher entre os graduados em Economia foi de 10% e até o ano de 2004, o departamento de Economia da atual FEA/USP formou 930 mulheres de um total de 4.736 alunos, perfazendo 20% do total.

formação mais específica, com mais disciplinas profissionalizantes. Até a reforma de 1968, predominava o ensino de economia política ligado à concepção francesa, de caráter institucionalista, como organizado por Paul Hugon, e seus cursos eram “[...] marcados por uma concepção predominantemente especulativa, pura, desinteressada, em busca da interpretação do mundo econômico a partir de debates fundamentalmente doutrinários, humanistas e históricos [itálico no original]”149. Com a crise institucional de 1954-1957, a concepção de ciência econômica na FCEA tornou-se predominantemente quantitativa e pragmática – intensificando-se com a reforma universitária de 1968 – principalmente com o financiamento de estudos de professores da FEA nos EUA. O desenvolvimento dos estudos quantitativos se liga aos esforços dos EUA durante a II Guerra Mundial, recrutando cientistas em todas as partes do mundo para o desenvolvimento de tecnologia militar. Foi assim que o currículo incorporou com força a econometria como subsidiária à formulação em teoria econômica. Ao lado dos econometristas, formou-se um grupo de professores que orientaram suas pesquisas inspirados na Nova Economia Institucional (NEI)150.

A estrutura curricular no curso de ciências econômicas evoluiu, ao longo dos anos, de uma concepção de economia predominantemente especulativa e institucional para a aplicação de um instrumental analítico econométrico e a formulação da teoria econômica em linguagem matemática, possibilitando testes com dados empíricos e recursos da estatística e da econometria151.

Alguns indícios nos conduzem a matizar o período de direção de Alice Canabrava como único momento de crise da FCEA, uma vez que o problema da contratação do corpo docente, surgira logo no primeiro ano de funcionamento da faculdade. André Dreyfus, então diretor da FFCL, na sessão do CO de 29 de março de 1946, manifesta-se contrário à nomeação de catedráticos sem concurso.

Como diretor de uma Faculdade na qual a cátedra é conquistada após concurso de títulos e provas, venho manifestar a este Colendo Conselho o meu protesto contra a nomeação de catedráticos, independentemente 149 PINHO, Diva Benevides. O tempo revisitado: releitura proustiana de 70 anos como estudante e docente

da USP. São Paulo: FUNDACI, 2015, p. 99.

150 A principal teoria da NEI é de que as instituições em uma sociedade, são formadas pelo processo de negociação entre indivíduos e grupos de indivíduos com o fito de reduzir os custos de transação, ou seja, custos potenciais de rompimento de acordos. Cf. BUENO, Newton Paulo. Possíveis contribuições da Nova Economia Institucional para à pesquisa em história econômica brasileira: uma releitura das três obras clássicas sobre o período colonial. Estudos Econômicos. São Paulo, v. 34, n. 4, p. 777-804, 2004.

151 FISCHMANN, Alberto Américo; GUERREIRO, Reinaldo. As contribuições da FEA para o avanço da ciência e para a implementação de políticas públicas. In: GOLDEMBERG, José. USP 80 anos. São Paulo: EDUSP, 2015, p. 80.

daquelas formalidades. Assim procedi no caso da Faculdade de Higiene e assim venho proceder no caso da Faculdade de Ciências Econômicas152.

Podemos notar que a questão da autonomia universitária não dizia respeito apenas à ingerência dos governos federal e estadual na Universidade. Havia também uma tentativa de controle das faculdades já estabelecidas, como a FFCL, sobre as mais novas. As faculdades tradicionais, como a Faculdade de Direito, a Escola Politécnica e a Faculdade de Medicina também tentavam exercer seu poder sobre as demais. O corpo docente da Escola Politécnica protestou junto ao CO contra a contratação sem concurso de três professores da FCEA153.

Pelo que pudemos inferir das duas fontes aqui privilegiadas, quais sejam, as atas do CO e matérias, notas e informações veiculadas em O Estado de S. Paulo, o principal catalisador da crise enfrentada por Alice durante o período em que foi diretora da FCEA foram os protestos dos estudantes representados pelo CAVC. A greve de protesto por eles organizada durou três dias e foi anunciada pela imprensa em 16 de setembro de 1956. Através de uma nota publicada sob o título de “Greve de protesto dos alunos da Fac. de Ciências Econômicas”, os alunos esclarecem que nos dias 17, 18 e 19 estarão em greve, alegando os seguintes motivos: a não renovação de contratos de professores que são assíduos em suas obrigações, ao passo que professores que não comparecem às aulas possuem situação estável; problemas de horários para a frequência das aulas, que mesmo tendo sido acordado com a direção não foram cumpridos; irregularidades de funcionamento do IA; a biblioteca não funciona por falta de regulamentação; não foi instalado o curso de doutoramento depois de 10 anos de funcionamento da faculdade; não funcionamento da Congregação. A nota esclarece ainda que irão enviar relatório à reitoria

152 Ata da 218ª sessão do Conselho Universitário ocorrida em 29/03/1946. Atas do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo. Vol. 8 (1946-1947). Arquivo da Secretaria Geral, f. 4-5. Reitoria da USP. 153 Em “A nomeação de professores para a Faculdade de Ciências Econômicas” o jornal traz a notícia de que o CO aprovou, por unanimidade, protesto apresentado pela Congregação da Escola Politécnica. Ademais, a seção traz ainda dois protestos em nota: um do sindicato dos contabilistas ao diretor José Reis e outro ao interventor federal proveniente do sindicato dos economistas do estado de São Paulo. O primeiro protesta contra a nomeação de professor para reger a cadeira de Contabilidade Industrial e Agrícola, por não possuir título na área. O segundo, assevera que os profissionais vinculados ao sindicato não puderam concorrer às cadeiras, uma vez que o provimento destas se fez por meio de nomeação. Cf. O Estado de S.

e ao governo do Estado sobre a situação precária da faculdade e que “[...] o nosso movimento visa à moralização do ensino”154.

As demandas dos estudantes foram comentadas por Alice, ponto a ponto, em sessão do CO. No que tange aos horários de aulas, a historiadora afirma que a faculdade, por determinação do CO, enquadrou-se na lei federal de 1951 que instituiu a grade curricular mínima para os cursos de Ciências Econômicas e Ciências Contábeis e Atuariais. Portanto, os professores, auxiliares e assistentes se adaptaram à lei, reestruturando os horários da faculdade. Quanto ao caso de auxiliares e assistentes afirma que estão sendo fiscalizados por ela e que há um sistema de fichas de frequência, inclusive onde constam as faltas da própria diretora. Sobre a instauração do doutoramento, Canabrava relata que elaborou um anteprojeto que foi amplamente discutido com os professores da FCEA e que será remetido ao CO para aprovação. Pelo fato de que há duas bibliotecas na FCEA, uma da própria faculdade e outra do IA, a questão necessita de estudos para sua resolução155.

A mobilização dos estudantes, apoiados por outras entidades estudantis e noticiada pela imprensa, teve o resultado esperado ao atingir o governo e a reitoria. No dia seguinte ao término da greve O Estado de S. Paulo informa que serão instituídas duas comissões para averiguar as demandas dos mesmos: uma instaurada pela reitoria e outra pelo governo do estado. Relata ainda que a reitoria encaminhou as demandas dos estudantes à comissão de correição, presidida por Eurípedes Simões de Paula e composta por Gama e Silva, da Faculdade de Direito; Antonio Guimarães Ferri, da Faculdade de Medicina Veterinária; João Alves Meira, da Faculdade de Medicina e Paulo Ribeiro Arruda, da Escola Politécnica. O governo instaurou sindicância sob a presidência de Alvaro Guimarães Filho, da Faculdade de Higiene e Saúde Pública156. Para O Estado de S. Paulo esta foi a maior crise já enfrentada pela USP.

154 Greve de protesto dos alunos da Fac. de Ciências Econômicas. O Estado de S. Paulo. 16/09/1956, p. 17. Em matéria de 19 de setembro de 1956 o jornal expõe que o centro acadêmico da FFCL apoia o movimento dos estudantes do CAVC e que a determinação do governo de não abonar as faltas dos dias de greve não tem efeito, uma vez que a frequência à faculdade é livre. Cf. Termina hoje a greve dos alunos de economia da USP. O Estado de S. Paulo. 19/09/1956, p. 31.

155 Cf. 423ª sessão do CO: 24/09/1956. Atas do CO. v. 19, verso f. 94-verso f. 97. Arquivo da Secretaria Geral. Reitoria da USP.

156 Cf. Retornam as aulas os estudantes de Ciências Econômicas. O Estado de S. Paulo. 20/09/1956, p. 12. No dia seguinte, o jornal noticiou que os estudantes iriam apresentar um memorial ao reitor em reunião no sábado e agradecem o apoio da UEE e do governo estadual. Cf. O reitor receberá sábado os grevistas. O

Abre-se agora, com a greve de protestos dos alunos da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, novo foco de inquietações que, em última análise, patenteia o desacerto da orientação que vem presidindo aos destinos da escola desde a sua fundação157.

As três comissões à que se refere O Estado de S. Paulo são: a primeira comissão presidida por Alvaro Guimarães Filho, da Faculdade de Higiene e Saúde Pública e