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ANEXO I – Portaria 17 R

2 POLÍTICAS PÚBLICAS E POLÍTICAS PÚBLICAS DE ARQUIVOS

2.1 NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE POLÍTICA

O termo política é empregado, normalmente, para designar a esfera das ações que têm relação direta ou indireta com a conquista e o exercício do poder último (supremo ou soberano), sobre uma comunidade de indivíduos em um território (BOBBIO, 2003).

Através de um conceito mais filosófico, explicado por Hanna Arendt (2002), notamos que a noção de “política”, originária na Grécia, é idêntica à de liberdade. Baseia-se no fato da pluralidade dos homens e sua função é organizar e regular o convívio de diferentes, que se agrupam para certas coisas em comum. Tal noção é essencial para evitar o caos absoluto.

O Dicionário de Política define esse termo como derivado do adjetivo pólis

(politikós), que significa tudo o que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social. O termo Política se expandiu graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada como o primeiro tratado sobre a natureza funções e divisão do Estado. Nesse tratado são analisadas várias formas de Governo, com a significação mais comum de arte ou ciência do Governo; isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente descritivas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discrimináveis, sobre as coisas da cidade (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998).

No entendimento de Machado e Kyosen (2000), a política é denominada como a ciência de bem governar um povo, constituído em Estado democrático. Essa governabilidade é exercida pelo poder público, via representantes conduzidos ao poder, direta ou indiretamente, pelo povo e [...] “tem como objetivo estabelecer os

princípios que se mostrem indispensáveis à realização de um governo” [...] “ao cumprimento de suas precípuas finalidades, isto é, em melhor proveito dos governados” (MACHADO e KYOSEN 2000, p. 1).

As necessidades sociais comuns geram normas legais que são utilizadas para a equidade dos cidadãos, através das instituições que administradas pelo Estado implementam a política. Machado e Kyosen (2000) comentam que a política é formada por doutrinas, indispensáveis ao bom governo de um povo, por isso são estabelecidas as normas jurídicas necessárias ao bom funcionamento das instituições administrativas do Estado.

Muito além de pensamentos pragmáticos, Hanna Arendt (2002) compreende a política por ideias de liberdade e da espontaneidade humanas, para qual deve haver um espaço para o desenvolvimento humano. Essa definição está muito acima da compreensão usual e mais burocrática da coisa política, que realça apenas a organização e a garantia da vida dos homens.

Pereira (2009, p. 88) considera “a política uma relação de pessoas diferentes ou desiguais, tendo por isso caráter conflituoso”, em que homens e mulheres se organizam para atingir objetivos comuns.

Os cidadãos buscam consensos para a convivência mediados pelo Estado para impedir o caos. Os consensos são a forma de regulação civilizada, que substituem outras formas de poder e resolvem os conflitos pela coerção, subjugando os cidadãos; ou seja, são formas de poder utilizadas nas ditaduras. A política, como instrumento de consenso, negociação e entendimento entre as partes conflitantes, evita a coerção que é a falência de sua dimensão civilizada. Ao rejeitar a coerção e fazer o uso legítimo da política, são possíveis os procedimentos democráticos sem cogitar a eliminação do opositor. Contudo, em algumas circunstâncias, é possível o uso da coerção, porque ela prevê penalidades através de regras aplicadas pelo Estado contra quem as infringe (PEREIRA, 2009).

Considera Pereira (2009) que na Grécia “a política era associada a pólis isto é, à cidade, e relacionava a toda atividade humana na esfera social, pública e cidadã”. Kerr Pinheiro (2011, p. 1488) “informa que a palavra pólis muitas vezes imperceptível é invertido seu conceito original que representa a reunião de indivíduos em um único, o Estado, descrito por Rousseau como um promotor da vontade geral”. Há um sentido mais geral referente aos temas clássicos que constitui a base da atividade política entendido como eleições, voto, partido, parlamento e

governo, mas há também um sentido mais recente que se refere às ações do Estado face às demandas e as necessidades sociais (PEREIRA, 2009).

Pode-se conceituar a política como [...] “o espaço onde os indivíduos e grupos postulam a condição de determinar a conduta, as orientações e as opções dos demais”, Nogueira (apud PEREIRA, 2009, p. 90) [...] “tendo como meta as vantagens da comunidade e a satisfação das necessidades sociais [...] compõe-se, ao mesmo tempo, de atividades formais (regras estabelecidas, por exemplo) e informais (negociações, diálogos, confabulações) [...]” (PEREIRA, 2009, p. 91).

Devemos ser cautelosos quando mencionamos a palavra “política”, porque é um termo polissêmico. Na língua inglesa são atribuídos três significados ao termo:

Polity para a esfera da política e para diferenciar o mundo da política da

sociedade civil 4, politics, como a atividade política na disputa de cargos políticos, o debate partidário etc., policies, para a ação pública, ou seja, os processos que elaboram e implementam programas e projetos públicos (MULLER; SUREL apud SILVA, 2008, p. 48).

Ao conceituarmos “políticas públicas”, notamos a noção de que as decisões devem ser viabilizadas ante as necessidades coletivas. Caracterizam-se como ações do governo para os governados, no combate das diferenças e das desigualdades da vida social, por meio de decisões coletivas através de instituições administrativas do Estado, configuradas como ações que visam o bem estar comum. Quando acontece a intervenção estatal na vida social, verificamos a implementação da política pública. Apresentaremos, a seguir, esta intervenção planejada pelo poder público para solucionar as demandas coletivas relevantes, legitimadas através da governabilidade. Essa intervenção estatal - expressa como exercício do poder na democracia contemporânea - é denominada “política pública”.