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Para a elaboração escrita do trabalho, foi consultado o Manual para Apresentação de Trabalhos Acadêmicos baseado nas normas de documentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), organizado pela biblioteca universitária da UFTM (ALVES; SILVA; ALMEIDA, 2013).

6- RESULTADOS

A média da idade dos 63 indivíduos avaliados foi de 29.46 anos (variando de 04 a 66 anos), sendo que no grupo falciforme foi significativamente menor que o grupo controle 23,31±16,07 e 37,14± 13,72 respectivamente. Quanto ao gênero, dos pacientes do grupo falciforme 22 (62,86%) eram do sexo feminino,enquanto no grupo controle o sexo feminino representava 75% (21). Quanto à etnia, 6 pacientes (17,14%) do grupo falciforme eram da etnia branca, 27 (77.14%) não branca e dois não informaram (5,71%). Do grupo controle, 19 (67,86%) eram da etnia branca e 9 (32,14%) não branca (Tabela 1).

Tabela 1– Distribuição da média de idade, gênero e etnia

Grupo Falciforme Grupo Controle

Total 35 28

Média de Idade 23,31±16,07 37,14± 13,72 *

Gênero Masculino 13 (37,14%) 7 (25%)

Gênero Feminino 22 (62,86%) 21 (75%)

Etnia Branca 6 (17,14%) 19 (67,86%)

Etnia não branca 27** (77,14%) 9 (32,14%)

* Teste t de Student pareado; p=0,0006 ** 2 não informaram.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

No que tange aos genótipos da doença falciforme, verificou-se que 20 (57,14%) apresentavam HbSS (anemia falciforme), 6 (17,14%) apresentavam Sβ talassemia, 7 (20,00%) apresentavam HbSC, 1 (2,86%) apresentou HbSF,1 (2,86%) apresentou HbS alfa talassemia (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição de genótipos de pacientes com a doença falciforme Formas de doença falciforme Valor absoluto Valor relativo (%)

HbSS 20 57,14 HbS/ β talassemia 6 17,14 HbSC 7 20,00 HbFS 1 2,86 HbS/ Alfa talassemia 1 2,86 Total 35 100

Quanto às manifestações orais, 21 (60%) pacientes do grupo falciforme, se apresentaram com palidez de mucosa oral e 18 (51,43%) apresentavam-secom língua lisa e despapilada; 18 (51,43%) tinham maloclusão sendo a classe II a mais encontrada, 18 (51,43%) com icterícia; 15 (42,86%) apresentaram pigmentações em gengiva ou dentes; 11 (31,43%) com anquiloglossia, 3 (8,5%) tinham hipoplasia de esmalte (Tabela 3).

Os dois grupos apresentaram gengivite, 28 (80%) do grupo falciforme e 27 (96,42%) do grupo controle. A média do índice de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados (CPO-D) dos pacientes do grupo falciforme foi de 10.80 e a média do índice de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados (ceo-d) foi 2.2. Para o grupo controle a média do índice CPO-D foi de 11.04 (Tabela 3).

Quanto aos hábitos de higiene bucal, todos os pacientes dos dois grupos (100%) disseram fazer escovação diária dos seus dentes; 13 (37,14%) do grupo falciforme e 10 (35,71%) do grupo controle afirmaram fazer uso de enxaguante bucal sem clorexidina na formulação enquanto 16 (45,71%) do grupo falciforme e 19 (67, 86%) do controle fazem uso de fio dental (Tabela 3).

Tabela 3 – Manifestações clínicas e hábitos de higiene bucal dos pacientes com doença falciforme comparados com o grupo controle

Grupo falciforme Grupo Controle

Palidez de mucosa oral 21(60%) 1 (3,57%)

Língua lisa e despapilada 18 (51,43%) 0

Maloclusão 18(51,43%) 6 (21,43%) Icterícia 18 (51,43%) 0 Pigmentação 15 (42,86%) 5 (17,85%) Anquiloglossia 11(31,43%) 3 (10,71%) Hipoplasia de esmalte 3 (8,5%) 1 (3,57%) Gengivite 28(80%) 27 (96,42%) Média CPO-D(dentes cariados, perdidos e obturados) 10,80 11,04

Média ceo-d(dentes cariados com extração indicada e

obturados)

2,2 0

Uso de enxaguante bucal (sem clorexidina)

13(37,14%) 10(35,71%)

Uso de fio dental 16 (45,71%) 19(67,86%)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Com relação às características específicas dos pacientes do grupo falciforme, 32 (91,43%) fazem uso de ácido fólico, 15 (42,86%) fazem uso da terapia com hidroxiureia (HU); 2 (5,71%) fizeram esplenectomia; 23 (65,71%) tinham histórico de transfusões de sangue frequentes, 19 (54,28%) com histórico de crises álgicas e 17 (48,57%) disseram já ter tido infecções em algum momento (Tabela 4).

Tabela 4 – Características específicas dos pacientes com doença falciforme

Uso de ácido fólico 32 (91,43%)

Uso de hidroxiureia 15 (42,86%)

Esplenectomia 2 (5,71%)

Relato de infecções 17 (48,57%)

Histórico de crise álgica 19 (54,28%)

Histórico de transfusão de sangue 23 (65,71%)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Em relação à dosagem das citocinas, a IL-1β apresentou níveis significativamente menores na saliva do grupo falciforme antes do tratamento periodontal (saliva 1) quando comparado com o grupo controle (Mann Whitney; p= 0.02). Após o tratamento periodontal não foi encontrada diferença significativa na expressão de IL-1β comparando os dois grupos (Mann Whitney; p= 0,15).Ao comparar a expressão de IL-1β antes e depois do tratamento periodontal (saliva 1 e 2) no grupo falciforme não houve diferença significativa (Wilcoxon; p=0,17). Entretanto, no grupo controle, os níveis de IL-1β na saliva diminuíram significativamente após o tratamento periodontal (saliva 2) comparada com a saliva 1, antes do tratamento (Wilcoxon; p=0.008) (Figura 3).

No fluido crevicular gengival não houve diferença significativa nos níveis de IL-1β nos pacientes do grupo falciforme comparados com o grupo controle, antes e após o tratamento periodontal (F. crev. 1 e 2), (Mann Whitney; p= 0,30 e p= 0,13, respectivamente). Ainda, ao comparar a expressão dos níveis de IL-1β no FCG antes e após o tratamento periodontal (F. crev. 1 e 2) tanto no grupo falciforme como do grupo controle não houve diferença significativa (Wilcoxon; p=0,32; p=0,46 respectivamente) (Figura 3).

Figura 3 – Expressão de IL-1β na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Expressão de IL-1β na saliva e no FCG dos pacientes com doença falciforme antes e depois do tratamento periodontal comparadas com o grupo controle. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Todos os pacientes com gengivite (56 indivíduos), independentemente de ter ou não a doença falciforme, apresentaram níveis significativamente aumentados de IL-1β na saliva antes do tratamento (saliva 1) comparados com o grupo sem gengivite e esses níveis permaneceram elevados mesmo após o tratamento periodontal (saliva 2) (Mann Whitney; p= 0.009 e p= 0.02 respectivamente).

Da mesma forma, no fluido crevicular gengival os níveis de IL-1β foram significativamente maiores nos pacientes com gengivite antes (F.crev.1) e após o tratamento (F.crev.2) comparado àqueles sem gengivite (Mann Whitney; p= 0.01 e p= 0.003 respectivamente) (Figura 4).

Figura 4 – Expressão de IL-1β na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal (gengivite)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Expressão de IL-1β na saliva e no FCG dos pacientes com gengivite comparada aos pacientes sem gengivite antes e depois do tratamento periodontal. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Ao avaliar a expressão de IL-8 na saliva dos pacientes do grupo falciforme comparado com o grupo controle não foi encontrada diferença significativa, antes e após o tratamento periodontal (Mann Whitney; p= 0,12; p= 0,16, respectivamente). Ainda, ao comparar a expressão dos níveis de IL-8 na saliva antes e após o tratamento periodontal (saliva 1 e 2) tanto no grupo falciforme como no grupo controle, não foi encontrada diferença significativa (Wilcoxon; p=0,11; p=0,07, respectivamente) (Figura 5).

No entanto, no fluido crevicular gengival, os níveis de IL-8 foram significativamente menores após o tratamento periodontal (F.crev.2) no grupo falciforme quando comparados ao grupo controle (Mann Whitney; p= 0.0002). Mas, embora houvesse uma diminuição dos níveis de IL-8 no fluido crevicular após o tratamento (F.crev.2) entre os pacientes com a doença falciforme comparado ao fluido crevicular antes do tratamento periodontal (F.crev.1), essa diminuição não foi significativa (Wilcoxon; p= 0.06) (Figura 5).

Figura 5 – Expressão de IL-8 na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Expressão de IL-8 na saliva e no FCG dos pacientes com doença falciforme antes e depois do tratamento periodontal comparadas com o grupo controle. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Ao comparar a expressão de IL-8 na saliva dos indivíduos com gengivite em relação àqueles sem gengivite, não houve diferença significativa antes (saliva 1) e após o tratamento periodontal (saliva 2) (Mann Whitney; p=0,16; p= 0,24 respectivamente) (Figura 6).

Entretanto, todos os pacientes com gengivite, independentemente de ter ou não a doença falciforme, apresentaram níveis significativamente aumentados de IL-8 no fluido crevicular antes do tratamento (F.Crev.1) quando comparados ao grupo sem gengivite e esses níveis permaneceram elevados mesmo após o tratamento periodontal (F.Crev.2) (Mann Whitney; p= 0.01 e p= 0.001 respectivamente) (Figura 6).

Figura 6 – Expressão de IL-8 na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal (gengivite)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Expressão de IL-8 na saliva e no FCG dos pacientes com gengivite comparada aos pacientes sem gengivite antes e depois do tratamento periodontal. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Ao comparar a expressão de IL-6 na saliva dos pacientes do grupo falciforme em relação ao grupo controle, não houve diferença significativa antes (saliva 1) e da mesma forma após o tratamento (saliva 2) (Mann Whitney; p=0,66; p= 0,20 respectivamente) (Figura 7).

Ainda, ao comparar a expressão dos níveis de IL-6 na saliva antes e após o tratamento periodontal (saliva 1 e 2) tanto no grupo falciforme como no grupo controle, não foi encontrada diferença significativa (Wilcoxon; p=0,57; p=0,44 respectivamente) (Figura 7).

No fluido crevicular gengival os níveis de IL-6 não foram detectados em nenhum dos grupos analisados (Figura 7).

Figura 7 – Expressão de IL-6 na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Expressão de IL-6 na saliva e no FCG dos pacientes com doença falciforme antes e depois do tratamento periodontal comparadas com o grupo controle. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Ao comparar a expressão de IL-6 na saliva de todos os indivíduos com gengivite em relação àqueles sem gengivite, não houve diferença significativa antes (saliva 1) e da mesma forma após o tratamento periodontal (saliva 2) (Mann Whitney; p=0,90; p= 0,21 respectivamente) (Figura 8).

No fluido crevicular gengival, os níveis de IL-6 não foram detectados em nenhum dos grupos analisados (Figura 8).

Figura 8 – Expressão de IL-6 na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal (gengivite)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Expressão de IL-6 na saliva e no FCG dos pacientes com gengivite comparada aos pacientes sem gengivite antes e depois do tratamento periodontal. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Quanto ao TNF-α, não houve diferença significativa na saliva dos pacientes do grupo falciforme em relação ao grupo controle antes (saliva 1) e da mesma forma após o tratamento periodontal (saliva 2) (Mann Whitney; p=0,22; p= 0,83, respectivamente) (Figura 9).

Ainda, ao comparar a expressão dos níveis de TNF-α na saliva antes e após o tratamento (saliva 1 e 2) tanto no grupo falciforme como no grupo controle, não foi encontrada diferença significativa (Wilcoxon; p=0,59; p=0,50, respectivamente) (Figura 9).

No fluido crevicular gengival os níveis de TNF-α não foram detectados em nenhum dos grupos analisados (Figura 9).

Figura 9 – Expressão de TNF-α na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Expressão de TNF-α na saliva e no FCG dos pacientes com doença falciforme antes e depois do tratamento periodontal comparadas com o grupo controle. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Também nos indivíduos com gengivite com ou sem doença falciforme, o TNF-α não apresentou diferença significativa na saliva tanto antes (saliva 1) como depois (saliva 2) do tratamento periodontal comparado àqueles sem gengivite (Mann Whitney; p= 0,32 e p= 0,56 respectivamente) (Figura 10).

No fluido crevicular gengival, os níveis de TNF-α não foram detectados em nenhum dos grupos analisados (Figura 10).

Figura 10 – Expressão de TNF-α na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal (gengivite)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Expressão de TNFα na saliva e no FCG dos pacientes com gengivite comparada aos pacientes sem gengivite antes e depois do tratamento periodontal. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Quanto ao uso de hidroxiureia (HU) para o grupo falciforme, não foi encontrada diferença significativa na expressão de IL-1β na saliva antes (saliva 1) e nem depois (saliva 2) do tratamento periodontal para pacientes que usam comparado àqueles que não usam (Mann Whitney; p= 0,79 e p= 0,66 respectivamente) (Figura 11).

Ainda, ao comparar a expressão dos níveis de IL-1β na saliva antes e após o tratamento periodontal (saliva 1 e 2) também não foi encontrada diferença significativa em pacientes que fazem uso como naqueles que não fazem uso de HU, (Wilcoxon; p=0,75 e p=0,83, respectivamente) (Figura 11).

Da mesma forma, não foi encontrada diferença significativa na expressão de IL-1β no FCG antes (F.Crev.1) e depois (F.Crev. 2) ao comparar pacientes que fazem uso de HU com aqueles que não usam (Mann Whitney; p=0,65 e p= 0,64 respectivamente) (Figura 11).

Também ao comparar a expressão dos níveis de IL-1β no FCG antes e após o tratamento periodontal (F.Crev. 1 e 2) não foi encontrada diferença significativa nos pacientes que fazem uso comparado àqueles que não fazem uso de HU, (Wilcoxon; p=0,79 e p=0,06, respectivamente) (Figura 11).

Figura 11 – Expressão de IL-1β na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal (uso de HU)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Expressão de IL-1β na saliva e no FCG dos pacientes com doença falciforme em relação ao uso do medicamento Hydreia antes e depois do tratamento periodontal. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Ainda com relação ao uso da HU, a expressão de IL-6 não apresentou diferença significativa na saliva antes (saliva 1) e depois (saliva 2) do tratamento periodontal para pacientes que usam comparado àqueles que não usam (Mann Whitney; p= 0,72 e p= 0,81, respectivamente) (Figura 12).

Igualmente, ao comparar a expressão dos níveis de IL-6 na saliva antes e após o tratamento periodontal (saliva 1 e 2) não foi encontrada diferença significativa tanto nos pacientes que fazem uso como naqueles que não fazem uso de HU, (Wilcoxon; p=0,77 e p=0,39, respectivamente) (Figura 12).

No fluido crevicular gengival, os níveis de IL-6 não foram detectados em nenhum dos grupos analisados (Figura 12).

Figura 12 – Expressão de IL-6 na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal (uso de HU)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Expressão de IL-6 na saliva e no FCG dos pacientes com doença falciforme em relação ao uso do medicamento Hydreia antes e depois do tratamento periodontal. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

Quanto à expressão de IL-8, também não foi encontrada diferença significativa na saliva antes (saliva 1) e após (saliva 2) o tratamento periodontal em pacientes que usam HU comparados com aqueles que não usam (Mann Whitney; p= 0,65 e p=0,96 respectivamente) (Figura 13).

Também não apresentou diferença significativa ao comparar a expressão de IL-8 na saliva antes e após o tratamento periodontal (saliva 1 e 2) dos pacientes que fazem uso de HU bem como àqueles que não usam (Wilcoxon; p=0,35 e p=0,18 respectivamente) (Figura 13).

No fluido crevicular gengival, ao comparar a expressão de IL-8 antes (F. crev. 1) e depois (F. crev. 2) do tratamento periodontal não foi encontrada diferença significativa entre os pacientes que usam HU com aqueles que não usam. (Mann Whitney; p= 0,39 e p= 0,37 respectivamente) (Figura 13).

Igualmente, não foi encontrada diferença significativa na expressão de IL-8 no FCG antes e após o tratamento periodontal (F.crev. 1 e 2) dos pacientes que fazem uso de HU e também naqueles que não usam. (Wilcoxon; p=0,07 e p=0,44 respectivamente) (Figura 13).

Figura 13 – Expressão de IL-8 na saliva e no FCG antes e depois do tratamento periodontal (uso de HU)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Expressão de IL-8 na saliva e no FCG dos pacientes com doença falciforme em relação ao uso de Hydreia antes e depois do tratamento periodontal. A linha horizontal representa a mediana, a barra o percentil de 25% a 75% e a linha vertical o percentil de 10 a 90%. p<0,05.

7. DISCUSSÃO

No presente estudo, a média de idade dos pacientes do grupo falciforme foi de 23,31 anos predominando o sexo feminino a etnia não branca e genótipo HbSS. Semelhante aos nossos resultados, a literatura mostra pacientes com doença falciforme com média de idade em torno de 33 anos, preponderando também o gênero feminino, etnia não branca e genótipo HbSS (PLATT et al., 1994; PEREIRA et al., 2008; FELIX; SOUZA; RIBEIRO, 2010; NAOUM; BONINI-DOMINGOS, 1997; GROSSE et al., 2011). Sugere-se que pacientes com doença falciforme têm uma expectativa de vida menor que a população em geral. As infecções recorrentes graves decorrentes de uma resposta imune insatisfatória são consideradas, como direta ou indiretamente responsáveis por crises vasoclusivas e alta morbidade (CHIES; NARDI, 2001). Após a introdução da profilaxia com penicilina até os cinco anos de idade, verificou-se menor frequência dos episódios infecciosos. Porém, a infecção continua sendo uma das principais causas de mortalidade na infância em crianças com doença falciforme (SIMÕES et al., 2010; REES; WILLIAMS; GLADWIN, 2010; GROSSE et al., 2011). Um estudo realizado em nossa região revelou idade predominante de 0 a 29 anos (82,5%) e um pequeno contingente de mais de 40 anos (8,7%), sugerindo que pacientes com doença falciforme morrem precocemente no Brasil (MARTINS et al., 2010). Os pacientes com doença falciforme de nosso estudo são acompanhados com cuidados médicos adequados desde a confirmação do diagnóstico o que favorece o menor número de eventos clínicos e diminui risco de mortalidade.

Em nosso estudo, os pacientes do grupo falciforme apresentaram palidez de mucosa oral, icterícia e língua lisa e despapilada. Nossos resultados vão de acordo com a literatura (KELLEHER; BISHOP; BRIGGS, 1996; BENOIST et al., 2008; HOSNI et al., 2008; BOTELHO et al., 2009; JAVED et al., 2013; MAHMOUD; GHANDOUR; ATTALLA, 2013; AL- JAFAR et al., 2016). A palidez da mucosa oral, a icterícia e a descoloração amarelada da gengiva em pacientes com DF resultam da deposição de pigmentos sanguíneos secundários à hiperbilirrubinemia causada pela hemólise. Um estudo demonstrou resultados semelhantes sendo que a palidez de mucosa foi muito evidente e observada principalmente na mucosa oral e labial de pacientes com DF (MELLO; PAULO; ALVES, 2012).

Língua despapilada ou língua atrófica é observada nas anemias crônicas em consequência da hemólise sendo atribuída à deficiência de vitamina B12 e ácido fólico (GRAELLS et al., 2009). Há atrofia das papilas filiformes e fungiformes e está relacionada à

gravidade da condição anêmica (PARAIZO et al., 2013; AL- JAFAR et al., 2016). No grupo controle essas manifestações não se apresentaram ou tiveram baixas porcentagens, sugerindo assim, a correlação destas manifestações com a doença falciforme.

No presente estudo, a pigmentação em dentes ou gengiva foi mais frequente nos pacientes do grupo falciforme. Sugere-se que, micro enfartes podem aprisionar hemácias falcizadas no interior dos túbulos dentinários provocando a coloração avermelhada pré- eruptiva, levando desta forma, à pigmentação dentária. Além disso, com a hemólise há liberação de hemoglobina e seus subprodutos na circulação periférica se incorporam na dentina e esmalte causando descoloração intrínseca (WALSH; LIU; VERHEYEN, 2004; PLOTINO et al., 2008). Porém, a correlação da pigmentação melânica gengival com a doença falciforme, ainda não foi esclarecida, por ser uma condição não patológica com prevalência variável em diferentes grupos étnicos (GONDAK et al., 2012). Em nosso estudo, não foi possível estabelecer uma associação direta com a doença falciforme, visto que, esse tipo de pigmentação é comum em indivíduos de etnia não branca, e a maioria dos pacientes do grupo falciforme era de etnia não branca.

Outras características clínicas observadas em nosso estudo foram uma maior porcentagem de anquiloglossia e deformidades dento-faciais nos pacientes do grupo falciforme. A anquiloglossia é uma anomalia oral congênita, que limita a mobilidade da língua podendo interferir nas funções orais. Quando não ocorre a apoptose completa do frênulo lingual durante o desenvolvimento embrionário, o tecido residual que permanece pode limitar os movimentos da língua (LALAKEA; MESSNER, 2003). Tem sido sugerido que a anquiloglossia tem caráter hereditário importante com possível ligação ao cromossomo X (HAN et al., 2012; SHAY; MANDELBAUM; SHAPIRO, 2016; DEVASYA; SARPANGALA, 2017). No entanto, nenhum estudo foi encontrado na literatura descrevendo sua possível ligação com a doença falciforme.

Já deformidades dento faciais, como maloclusão, nos pacientes falcêmicos, parecem ocorrer devido a alterações ósseas como a hiperplasia e expansão da medula óssea, na tentativa de compensar a vida curta das hemácias falcizadas, como resultado da progressão da doença (WILLIAMS; LAGUNDOYE; JOHNSON, 1975). Em nosso estudo a maloclusão de classe II foi a mais observada, semelhante a outros estudos e que consideraram a anemia falciforme um fator de risco para maloclusão moderada e muito grave (COSTA et al., 2014), embora esses dados sejam controversos, apontando que a Classe I é a forma mais comum entre os pacientes com doença falciforme não havendo consenso claro quanto à sua etiologia (SILVA JUNIOR; DAHER; ROCHA, 2012). Em nosso estudo avaliamos mais crianças e

adultos jovens, onde ocorre maior expansão da parede orbital porque há mais espaço de medula no osso orbital em crianças do que em adultos. Provavelmente por isso, esses pacientes apresentaram mais prognatismo do maxilar superior.

Nos grupos estudados, não houve diferença significativa em relação aos índices de dentes cariados perdidos e obturados (CPO-D). Esse índice é utilizado em levantamentos epidemiológicos de saúde bucal sendo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para medir e comparar a experiência de cárie dentária em populações (KLEIN; PALMER; KNUTSON, 1938). Estudos mostraram que pacientes com doença falciforme apresentaram baixa prevalência de cárie dentária em comparação com indivíduos saudáveis, tanto em adultos (OKAFOR et al., 1986; O'ROURKE; HAWLEY, 1998; PASSOS et al., 2012) como em crianças (FERNANDES et al., 2015). Tem sido sugerido que a antibioticoterapia profilática com penicilina preconizada para pacientes com doença falciforme, até os cinco anos de idade, diminui o quadro de infeção de Streptococcus mutans, reduzindo assim, o índice de cárie nesses pacientes (FUKUDA et al., 2005).

Por outro lado, há estudos demonstrando índices mais altos de cárie dental, provavelmente devido à hipomaturação e hipoplasia dentária que muitos pacientes falcêmicos apresentam. A presença de hipomineralização de esmalte em indivíduos com doença falciforme poderia indicar que a hipocalcificação da matriz do esmalte aumentaria o risco de cárie dentária nesses indivíduos. Além disso, o uso contínuo de medicamentos à base de sacarose e hospitalização frequente resultaria em higiene bucal inadequada (LAURENCE et al., 2006; SINGH et al., 2013; LUNA et al., 2012; HELALY; ABUAFFAN, 2015). Assim, o baixo índice de cárie observado nos pacientes com doença falciforme avaliados em nosso estudo deve-se provavelmente à baixa quantidade de hipoplasia de esmalte encontrada, além de bons hábitos de higiene bucal relatados.

Quanto à saúde gengival, tem sido considerada a correlação entre doença gengival/periodontal e doença falciforme, porém, os resultados são contraditórios (AL- JAFAR et al., 2016). Em nosso estudo, tanto os pacientes do grupo falciforme como os indivíduos do grupo controle apresentaram gengivite marginal, presença de biofilme dental e sangramento gengival provocado. Esses resultados têm sido descritos na literatura e os autores também não observaram associação significativa da doença falciforme com a doença gengival/periodontal quando comparado ao grupo controle (CRAWFORD, 1988; AROWOJOLU et al., 1999; GUZELDEMIR et al., 2011; Al-ALAWI et al., 2015). Entretanto, em um estudo, avaliando pacientes com idade de 12 a 16 anos, os autores encontraram uma prevalência significativamente maior de gengivite em crianças com

anemia falciforme quando comparados ao grupo controle (MAHMOUD; GHANDOUR; ATTALLA, 2013). Já outros autores sugerem que fatores conhecidos por causar doença periodontal como a idade mais avançada e a ausência de uso diário de fio dental tiveram maior influência na saúde bucal desses pacientes do que o impacto direto da doença

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