• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO

1.2 Pressupostos

2.1.3 Normas de Rotulagem Ambiental

As normas de rotulagem ambiental, assim como as normas de ACV, são oriundas da série ISO 14000 de gestão ambiental. A série ISO 14000 é produto da criação do grupo de assessoria Strategic Advisory Group on the Environment (SAGE) que tinha como objetivo estudar as questões decorrentes da diversidade crescente de normas ambientais e seus impactos sobre o comércio internacional. A partir desse grupo, a ISO reuniu diversos profissionais e criou um comitê, intitulado Comitê Técnico TC 207, que teve como objetivo desenvolver normas sobre gestão ambiental (série 14000). Em 1996, foram criadas por esse comitê as primeiras normas sobre gestão ambiental que se somam a outras normas criadas pelo mesmo comitê para tratar de vários tópicos da gestão ambiental. Desde seu surgimento, a série ISO 14000 procurou afinidades com a série da Gestão da Qualidade, ficando clara a conexão necessária entre os conceitos de qualidade e meio ambiente (KOHLRASCH, 2003). De acordo com a ABNT (2004), um sistema da gestão ambiental é parte do sistema de gestão de uma organização utilizado para desenvolver e implementar sua política ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais.

Uma característica das normas ISO 14000 é que elas se referem ao processo e não ao desempenho, ou seja, buscam estabelecer um sistema que alcance internamente o estabelecimento de políticas, objetivos e alvos. Outro aspecto da série ISO 14000 é que, de todas as normas desta família, a única formulada para certificação junto a terceiros é a ISO 14001 (KOHLRASCH, 2003). A série ISO 14000 contempla dois grandes blocos:

a) Avaliação da Organização: compreende o Sistema de Gestão Ambiental e está subdividido em Avaliação do Desempenho Ambiental e a Auditoria Ambiental; e

b) Avaliação de Produtos e Processos que abrange a Avaliação do Ciclo de Vida do Produto e está subdividido em Aspectos Ambientais em Normas de Produtos e a Rotulagem Ambiental.

Todas as normas da gestão têm como base o ciclo PDCA, criado na década de 1930 por Walter A. Stewart para efeito da gestão da qualidade, e que passou a ser utilizado para outros propósitos, tornando-se uma espécie de modelo padrão de gestão para implementar qualquer melhoria de modo sistemático e contínuo. As normas citadas são autônomas, podendo ser implementadas de modo isolado (ABRE, 2008).

Para o desenvolvimento desta pesquisa focou-se no estudo da norma 14020, de selos e declarações ambientais. No Brasil, os padrões da ISO estão sendo adequados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Portanto, as normas de rotulagem ambiental orientam todas as declarações ambientais ou símbolos apostos nos produtos, incluindo também orientações para os programas de Selo Verde. No Quadro 2, encontra-se um resumo da série 14020 sobre selos e declarações ambientais.

Quadro 2 - Normas de rotulagem ambiental

NORMA DESCRIÇÃO

ISO 14020

Contém princípios básicos, aplicáveis a todos os tipos de rotulagem ambiental, recomenda que, sempre que apropriado, seja levada em consideração a Análise de Ciclo de Vida-ACV.

ISO 14021

Rotulagem Ambiental Tipo II

Trata das auto declarações das organizações que podem descrever apenas um aspecto ambiental do seu produto não obrigando à realização de uma ACV, reduzindo assim, os custos para atender de uma forma rápida às demandas do marketing.

ISO 14024

Rotulagem Ambiental Tipo I

Recomenda que estes programas sejam desenvolvidos levando-se em consideração a ACV para a definição dos

“critérios” de avaliação do produto e seus valores limites.

Isso quer dizer que deve haver múltiplos critérios identificados e padronizados, pelo menos os mais relevantes, nas fases do ciclo de vida, facilitando a avaliação e reduzindo os custos de certificação.

Relatório Técnico TR/ISO 14025

Rotulagem Ambiental Tipo III

Princípios e procedimentos orientam os programas de rotulagem que pretendem padronizar o Ciclo de Vida e certificar o padrão do Ciclo de Vida, ou seja, garantindo que os valores dos impactos informados são corretos, sem definir valores limites.

Fonte: Preussler et al (2006)

A norma ISO 14020 (2002) define, por sua vez, nove princípios que devem ser a base de todos os tipos de atividades de rotulagem ambiental:

a) Os rótulos e declarações ambientais devem ser precisos, verificáveis, relevantes e não enganosos;

b) Os procedimentos e requisitos criados, tanto para rótulos, como declarações, não devem criar obstáculos/barreiras ao comércio internacional;

c) Tanto rótulos, como declarações, devem ser baseados em metodologia científica, com fundamentação que dê suporte às afirmações e que produza resultados precisos e reproduzíveis;

d) Todas as partes interessadas devem ter acesso sempre que solicitarem a toda a informação referente aos procedimentos, metodologias e quaisquer critérios que dêem suporte aos rótulos e declarações ambientais;

e) Para que seja desenvolvido um rótulo ou declaração ambiental, será preciso que se considere todos os aspectos relevantes do ciclo de vida do produto; f) Tanto os rótulos, como as declarações ambientais não devem inibir inovações

que mantenham ou tenham potencial de melhorar o desempenho ambiental; g) Os requisitos administrativos ou demandas de informações relacionadas a

rótulos e declarações ambientais devem ser limitados àqueles necessários para estabelecer a conformidade com os critérios e normas aplicáveis dos rótulos e declarações ambientais;

h) Convém que o processo de desenvolvimento de rótulos e declarações ambientais inclua uma consulta participativa e aberta às partes interessadas. Convém que sejam feitos esforços razoáveis para chegar a um consenso no decorrer do processo; e

i) As informações sobre aspectos ambientais dos produtos e serviços relevantes a um rótulo ou declaração ambiental devem ser disponibilizadas aos compradores e potenciais compradores junto à parte que concede o rótulo ou declaração ambiental.

A norma ISO 14021 de Rotulagem Ambiental Tipo II aborda programas que são classificados como de 1ª parte, ou seja, trata-se de reivindicações baseadas em auto declaração ambiental produzida pelo próprio fabricante do produto. Segundo Kohlrausch (2003), este tipo de rotulagem informa sobre uma ou mais características do produto em particular. As declarações podem ser feitas tanto por fabricantes, importadores, distribuidores, varejistas ou por qualquer cidadão que tenha a probabilidade de se beneficiar das autodeclarações. Tibor e Feldman (1996, p.214) apontam dois objetivos para os rótulos de 1ª parte:

a) Estabelecer diretrizes gerais no tocante a reivindicações ambientais em relação ao fornecimento de bens e serviços;

b) Definir e fornecer regras para o uso de termos específicos utilizados em reivindicações ambientais.

Os rótulos de 1ª parte são divididos em reivindicações e relativos a uma causa ambiental. Como exemplos de reivindicações comumente utilizadas no Brasil tem-se: “reciclado”, “não contém CFC”, “não contém cloro”, “economiza água”, “economiza energia” e “produto amigo do meio ambiente”. Kohlrausch (2003) coloca a rotulagem de primeira parte como a que mais gera polêmica, devido ao fato de partirem do próprio fabricante. Tais fabricantes podem omitir ou até mesmo enganar o consumidor com informações errôneas ou incompletas. Já os rótulos relativos a uma causa ambiental são aqueles que não comprovam necessariamente um ganho ambiental do produto, mas uma contribuição indireta a causa ambiental, quando parte do lucro da venda é destinada a propósitos conservacionistas ou de recuperação (NEUENFELD et al, 2006).

A norma ISO 14024 de Rotulagem Ambiental Tipo I aborda programas que são classificados como de 3ª parte, ou seja, quando entidades independentes, baseadas em critérios ambientais ou normas, concedem a utilização de rótulos aos produtos. Para que o produto tenha direito a esse tipo de rótulo ele é avaliado em todo o seu ciclo de vida, desde a produção até sua eliminação. Esse tipo de rotulagem é baseado em múltiplos critérios, por isso diz-se que ele é multicriterioso e tem como objetivo identificar produtos que causem menos impacto ao meio ambiente que similares na mesma categoria de produtos existentes no mercado (KOHLRASCH, 2003).

A maioria dos programas de selo verde de critérios múltiplos, formulados a partir da análise do ciclo de vida do produto foram criados e são administrados por órgãos governamentais. As características comuns a todos os programas de rotulagem ambiental de 3ª parte são: caráter voluntário; administração por órgãos governamentais ou entidades sem interesses comerciais, com a participação e apoio do governo; decisões sobre seleção de categorias e formulação de critérios correspondentes tomadas por conselho independente, com representação dos diversos grupos de interesse; logotipo como marca registrada; determinação de critérios com base em análise de ciclo de vida do produto; aceitação de candidaturas de produtos estrangeiros: critérios traduzidos por índices quantitativos; e reavaliação periódica das categorias e critérios para levar em consideração desenvolvimentos tecnológicos. Muitos programas estabelecem ainda limites no número de selos a serem conferidos em cada categoria, por percentual de mercado, de modo a encorajar o desenvolvimento de produtos de menor impacto ambiental (CORRÊA, 1998).

Os rótulos de 3ª parte podem ser voluntários, quando o interessado na venda busca a diferenciação de seus produtos através da rotulagem, ou podem ainda ser mandatários, quando o fabricante é obrigado a prestar informações ao consumidor (NEUENFELD et al, 2006). Kohlrasch (2003) citou em sua pesquisa alguns exemplos de programas governamentais de rotulagem ambiental, sendo eles: Blau Angel – Alemanha, Environmental Choice Program– Canadá; Ecolabel– União Européia; Green Seal – Estados Unidos; ABNT - Qualidade Ambiental – Brasil. Este último é um selo representante da ISO no Brasil. Este selo da ABNT tem como objetivo certificar os produtos disponíveis no mercado, considerando seu ciclo de vida e dinamizar a criação de novos programas de certificação ambiental de produtos no qual seja necessário. A ABNT também busca seguir os padrões internacionais de certificação, procurando ser um padrão de referência como o “rótulo ecológico brasileiro” (ABNT, 2009).

O programa ABNT – Qualidade Ambiental possui dez famílias de produtos selecionados para certificação: papel e celulose, couro e calçados, eletrodomésticos, aerossóis sem CFC, baterias automotivas, detergentes biodegradáveis, lâmpadas, móveis de madeira, embalagens, cosméticos e produtos de higiene pessoal.

A norma ISO 14025 de Rotulagem Ambiental Tipo III lista critérios de impactos ambientais para produtos através do seu ciclo de vida. São semelhantes aos selos de produtos alimentícios que detalham seu teor de gordura, açúcar ou vitaminas. São classificados como de 2ª parte, pois as categorias de informação podem ser estabelecidas pelo setor industrial ou por organismos independentes. O que diferencia esse tipo de selo é que os mesmos não tem padronização para alcançar, os usuários mesmos avaliam o nível de impacto ambiental dos produtos baseados em dados quantitativos obtidos pela ACV.