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PARTE I MARCO TEÓRICO

2. TEORIAS DA TERMINOLOGIA

2.5 Normas Terminológicas

Conforme mencionado na seção 2.1, o trabalho terminológico e os princípios metodológicos que levaram a Terminologia ao status de área do conhecimento tiveram início em meados dos anos 1930. Nessa data, o engenheiro austríaco Eugen Wüster organizou a terminologia da área de eletrotécnica com o objetivo de garantir uma comunicação mais precisa naquele campo técnico (CAMPOS, 2001).

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As proposições desenvolvidas por Wüster sobre Terminologia foram sintetizadas em formato de normas. Normas essas também conhecidas como metodologia para construção de instrumentos de representação da informação estabelecidas pela International Standard Organization (ISO).

As principais normas terminológicas são elaboradas pela ISO e, muitas vezes, é objeto de tradução e adaptação por organismos de normalização de âmbito nacional. Embora existam trabalhos, no Brasil, para a tradução e adaptação de normas terminológicas, nem todas são ou foram traduzidas, razão pela qual, para se ter acesso à todas as normas terminológicas, é necessário recorrer às normas originais da ISO, em língua inglesa ou francesa (LARA, 2005).

Dentre as várias normas terminológicas existentes, as citadas a seguir apresentam especial interesse, uso e aplicação para a Ciência da Informação. Elaboradas pela ISO e traduzidas por organismos nacionais, propõem recomendações sobre princípios e métodos do trabalho terminológico e definem os padrões de conceitos e termos, são elas: a ISO 704- Terminology work- principles and methods; ISO 1087- Terminology work- vocabulary.

Segundo Lara (2005), o conteúdo das referidas normas apresentam muita semelhança com o conteúdo da norma documentária de construção de tesauros, a ISO 2788-Guidelines to establishment and development of monolingual thesauri, principalmente no que se refere às relações entre os termos e conceitos, porém, cada uma delas volta-se para um objetivo específico.

Conforme já mencionado, há versões da norma de tesauro publicadas no Brasil, mas nenhuma delas elaborada sob a responsabilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As normas terminológicas constituem as principais referências para o desenvolvimento do trabalho terminológico. Dentre as principais normas brasileiras, destacam-se:

AUSTIN, D.; DALE, P. (1993). Diretrizes para o estabelecimento e desenvolvimento de tesauros monolíngues. Trad. de Bianca Amaro de Melo e rev. de Lígia Maria Café de Miranda. Brasília; IBICT; SENAI.

GOMES, H. E. (1990). Manual de elaboração de tesauros monolíngues: Ministério da Educação/Ministério da Ciência e Tecnologia, Programa Nacional de Bibliotecas das Instituições de Ensino Superior.

IBICT (1984). Diretrizes para elaboração de tesauros monolíngues; projeto coord. por Hagar Espanha Gomes. Brasília: IBICT.

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Conforme mencionado, dentre as inúmeras normas terminológicas internacionais, a ISO-704 e a ISO-1087 regem, particularmente, sobre a estruturação do sistema de conceitos. Para este estudo adotou-se como instrumento norteador e comparativo a norma ISO-704- Terminology work- principles and methods, por se tratar de um instrumento que tem como objetivo o estabelecimento dos princípios e métodos terminológicos baseados no pensamento corrente e em práticas da terminologia (ISO 704, 2009).

Além disso, trata-se de uma norma internacional que apresenta diretrizes para a construção de sistemas de conceitos, com princípios para elaboração de terminologias e as relações entre os objetos, conceitos, e suas representações terminológicas. Institui ainda os princípios gerais que regem a formação de designações e a formulação de definições, princípios e métodos, esses que constituem parte do objeto deste estudo.

A ISO-1087-Terminology work-vocabulary não será tratada nesse estudo por se tratar de uma norma focada na construção de um tipo especifico de instrumento terminológico: o glossário.

A seguir, apresentam-se algumas convenções conceituais e as principais temáticas tratadas na norma ISO-704, conforme Quadro 4. Estas convenções e temáticas são úteis para evidenciar sua posição quanto à temática terminológica abordada:

QUADRO 4- Convenções conceituais da norma ISO-704 CONCEITOS DESCRIÇÃO EXEMPLOS

Conceitos Cada conceito é constituído por meio de uma ou múltiplas características. Descrevem ou correspondem a um conjunto de objetos. Expressos na linguagem por termos ou definições. Organizados em sistemas de conceitos. São unidades de conhecimento. Representações mentais de objetos dentro de um contexto especializado ou campo.

Instrumento de escrita.

Características Convencionadas para combinar conceitos. Podem ser grupos de propriedades. Cada característica é parte de um ou múltiplos conceitos. São eliminatórias e reduzem o significado de um conceito hierarquicamente superior.

A cor amarela de um lápis qualquer é uma propriedade, a cor que todo o lápis possui, é a característica.

Termos Termos, designações ou símbolos são usados para representar um conceito. Os termos são atribuídos a um conceito

Lápis.

Objetos Qualquer coisa percebida ou concebida. Cada objeto é abstraído em um ou em múltiplos conceitos. Cada objeto tem uma ou múltiplas propriedades. São generalizados pelos conceitos.

Um diamante deve ser considerado como algo material; já a gravidade deve ser considerada imaterial ou abstrata; um unicórnio deve ser considerado imaginário.

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CONCEITOS DESCRIÇÃO EXEMPLOS

Propriedades As propriedades de um objeto são abstraídas6

como características que são combinados como um conjunto para a formação de um conceito, de modo que os objetos do mundo real sejam identificados por suas propriedades.

Os objetos são, então, captados como conceitos e as propriedades são abstraídas como características que compõem os conceitos, ou seja, cada propriedade de um tipo semelhante é abstraída em uma única característica.

Lápis amarelo.

Definições Uma definição é uma declaração que não forma frase completa.

A definição começa com um substantivo predicativo afirmando o conceito mais genérico (superordenado) associado ao conceito a ser definido, em conjunto com delimitadores indicam as características que delimitam o conceito a ser definido a partir de conceitos coordenados. A ligação entre um objeto e seu respectivo termo ou definição é feita por meio do conceito, em um maior nível de abstração.

Instrumentos de escrita são os objetos utilizados para escrever.

Produto

terminológico É o resultado do trabalho, o que suporta o uso da linguagem especial ou o domínio da terminologia.

Dicionários, bases de dados, glossários, tesauros.

Fonte: Adaptado da norma ISO 704 (2009).

Os princípios e métodos terminológicos previstos na norma ISO 704 baseiam-se em uma corrente de pensamento e práticas de trabalho terminológico multidisciplinar, apoiados por várias disciplinas, tais como: lógica, epistemologia, filosofia da ciência, linguística, estudos de tradução, ciência da informação e ciências cognitivas. Os estudos referem-se aos conceitos e suas representações em linguagem específica e em linguagem em geral. Combina elementos de abordagens teóricas que lidam com a descrição, ordenação e transferência de conhecimento.

A norma ISO 704 preocupa-se com a terminologia utilizada para comunicação inequívoca em linguagem natural humana, ou seja, o objetivo do trabalho de terminologia descrita na referida norma é, portanto, o esclarecimento e a padronização de conceitos para comunicação entre os seres humanos. Em matéria de normalização, no intuito de fornecer princípios orientadores, a norma ISO 704 propõe padronizar os elementos essenciais para o trabalho terminológico, propõe uma lógica de pensamento e explica como essa lógica de pensamento deve ser implementada.

6 Abstração consiste em reconhecer um conjunto de características comuns em um conjunto

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A norma ISO 704 estabelece os princípios e os métodos básicos para a preparação e compilação de terminologias, tanto dentro e fora do âmbito da normalização. Descreve as relações entre objetos, conceitos, e suas representações terminológicas. E, finalmente, delibera os princípios gerais que regem a formação de termos e denominações e a formulação de definições. Apresenta, ainda, as principais atividades terminológicas, tais como: i) identificação de conceitos e relações conceituais; ii) análise e modelagem de sistemas conceituais com base na identificação de conceitos e nas relações entre conceitos; iii) estabelecimento de representações de sistemas de conceitos por meio de diagramas; iv) definição de conceitos; v) atribuição de designações (predominantemente termos) para cada conceito em um ou mais idiomas; vi) registro e apresentação de dados terminológicos (Terminografia).

Para tratar dos tipos de relações conceituais, a norma ISO 704 afirma que os conceitos não existem como unidades isoladas de conhecimento, mas sempre em relação ao outro. O processo do pensamento humano está focado em criar e aperfeiçoar as relações entre os conceitos e principalmente se essas relações são formalmente reconhecidas ou não. Assim, conceitos estruturados de acordo com as relações entre eles são conhecidos como um sistema de conceitos e usados para clarificar as relações entre os conceitos, representando-os.

De acordo com a referida norma, quanto mais complexo um sistema de conceito, mais útil será para se definir as relações entre os mesmos e representá-los formalmente ou graficamente. As relações conceituais podem ser representadas numa lista e classificadas conforme mostra a Figura 2.

FIGURA 2- Classificação dos tipos de relações conceituais

1. Hierárquicas

1.1 Genéricas 1.2 Partitivas 2. Associativas

Fonte: Adaptado da norma ISO-704 (2009)

Nas relações hierárquicas, segundo a norma ISO 704, os conceitos são organizados em níveis, onde um conceito superordenado é dividido em conceitos subordinados. Os conceitos do mesmo nível devem seguir o mesmo critério de divisão e são denominados conceitos coordenados. O critério de divisão utilizado na elaboração dos conceitos coordenados é chamado de dimensão. Um conceito superordenado pode ter mais de uma dimensão e, neste caso, o sistema de conceitos é multidimensional. Como exemplo,

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temos as dimensões específicas e as partes expressas por meio de uma lista enumerada, conforme figura 3.

FIGURA 3- Lista enumerada

1. Instrumento de escrita 1.1 Caneta 1.1.1 (Específicos) 1.1.1.1 Caneta esferográfica 1.1.1.2 Caneta de pena 1.1.2 (Partes) 1.1.2.1 Refil 1.1.2.2 Corpo 1.1.2.3 Tampa

Fonte: Norma ISO 704 (2009).

Quanto aos tipos de relações hierárquicas, essas podem ser: relação genérica e relação partitiva. A relação genérica ocorre entre dois conceitos quando o subordinado (conceito específico) tem a intenção do superordenado (conceito genérico) e ao menos uma nova característica. A Figura 4, a seguir, apresenta um sistema de conceitos com relações genéricas representadas pelo diagrama em árvore:

FIGURA 4- Sistema de conceitos diagrama em árvore

1. Instrumento de escrita 1.1 Lápis 1.1.1 Lapiseira 1.2 Caneta 1.1.1.1 Caneta esferográfica 1.1.1.2 Caneta de pena

Fonte: Norma ISO 704 (2009)

Já a relação partitiva, acontece quando os conceitos subordinados (conceito partitivo) representam parte do conceito superordenado (conceito abrangente). A relação partitiva pode ser expressa em séries verticais ou em séries horizontais, conforme exemplo da Figura 5 a seguir.

FIGURA 5- Diagrama em série

Caneta

Fonte: Norma ISO 704 (2009)

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O outro tipo de relação conceitual é a associativa, que, segundo a norma ISO 704, não é um tipo de relação hierárquica e ocorre quando uma conexão entre dois conceitos é estabelecida em virtude da experiência. A relação associativa pode representar diversas coisas, tal como uma ação, um produto, uma propriedade ou uma substância conforme figura 6 a seguir.

FIGURA 6- Sistema de conceitos de relações associativas

Fonte: Norma ISO 704 (2009).

Pode-se verificar por meio das características e exemplos extraídos da norma ISO 704 e exemplos acima citados que a metodologia para a prática terminológica possui elementos como: conceito, objeto e a característica como atributo do conceito. As relações hierárquicas estão presentes na metodologia estudada. Além disso, a norma possui uma particularidade, que é a dimensão que explicita o critério usado na formação de uma relação hierárquica. A definição de um conceito é um elemento presente na metodologia.