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PARTE I MARCO TEÓRICO

2. TEORIAS DA TERMINOLOGIA

3.2 Ontologia na Ciência da Informação

Nesta seção foi feita uma exposição sobre o uso da ontologia e sua aplicação no âmbito da Ciência da Informação (CI), a qual, segundo Vickery (1997), tem adotado várias abordagens ontológicas mesmo que sob diferentes denominações.

Por sua natureza classificatória, as ontologias são objeto de estudo na CI cuja contribuição, nas investigações científicas sobre o tema, fundamenta-se nas teorias e princípios da classificação (SOUZA JÚNIOR; CAFÉ, 2012). Se, na Filosofia, a ontologia já possui tradição e autoridade incontestáveis, na Ciência da Informação, faz-se necessário uma discussão que normalize a compreensão suficientemente abrangente para que se atenda às necessidades dos pesquisadores da área (SCHIESSL; BRÄSCHER, 2012).

O tema ontologia tem sido exaustivamente discutido, o que não o caracteriza como algo novo. Ao contrário, o conceito de ontologia surgiu com Aristóteles onde era abordado como um ramo da metafísica tomado da existência. Smith (2003) posiciona a ontologia como a ciência “do que é”, dos tipos e estruturas de objetos, propriedades, eventos, processos e relações em todas as áreas da realidade, trata a representação do que existe, do que é real.

Na literatura da CI, o termo ontologia passou a ser utilizado no final da década de 1990, momento histórico em que instrumentos e métodos de classificação começaram a despertar o interesse também de pesquisadores da Ciência da Computação. Isso se deu porque a web e a informação em meio digital exigia organização (VICKERY, 1997).

Conforme, mencionado na seção 3.1, a ontologia, enquanto “algo terminológico”, pressupõe determinado domínio de conhecimento e, a partir da análise de conteúdo dos conceitos desse domínio, se propõe a classificar e representar as coisas em categorias, na perspectiva do sujeito e da linguagem do domínio. Conforme destacam Sales et al. (2008), um importante processo das ontologias é a representação da informação e do conhecimento, que envolve análise semântica. Por meio das ontologias, visam otimizar a recuperação e prover o computador de alguma “inteligência”.

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Neste contexto, as ontologias apresentam-se como uma nova categoria de instrumentos de representação da informação e do conhecimento e como um sistema de inferência, possibilitando a descrição formal das relações existentes entre os conceitos, favorecendo melhorias nos processos de representação, organização, disseminação e recuperação de conteúdos informacionais.

Trata-se de um modo de representação do conhecimento de parte do mundo real ou de um domínio do saber e de suas relações, com o fim de estruturar e manipular o conhecimento humano em suas bases, de modo ágil e organizado em sistemas automatizados. É um modelo utilizado para representar e recuperar informação por meio de estruturas conceituais que têm como meio de ação o informático (SALES; CAFÉ, 2009).

Tais visões tornaram-se comuns porque muitos trabalhos na ontologia repousam sobre práticas predominantes na área de representação da informação e do conhecimento, onde se assume que a representação reflete, não a realidade, mas, sim, conceitos concebidos por criações humanas, conforme detalhado no item “Conceitos e Universais” na seção 3.1.

A ontologia tem sido foco de estudo da CI, ao se tratar também de soluções para problemas relativos à recuperação da informação na web. A ontologia opera na composição de agentes de softwares inteligentes para fazerem o papel do raciocínio humano e realizam tarefas de análise de conteúdo dos documentos, intencionando recuperar as informações neles contidas (BERNERS-LEE et al., 2001).

Assim, a ontologia apresenta-se como um instrumento adequado para disponibilização de informações na web. Ontologias são os modelos de organização e representação de informações que, por serem dotados de técnicas de indexação automática, de normas e procedimentos terminológicos e de programas de interoperabilidade linguística, demonstram serem, atualmente, os instrumentos mais adaptáveis aos propósitos informacionais da web semântica (DIAS; COSTA, 2011).

A ontologia é um instrumento que representa o conhecimento contido nos documentos e que sua utilização visa a diminuir as ambiguidades presentes na linguagem natural por meio do consenso terminológico, procurando dar semântica aos termos constantes nos índices dos mecanismos de busca, e, assim, melhorar a recuperação da informação (SANTOS et al., 2013).

Almeida e Bax (2003) afirmam que a ontologia é um instrumento de organização da informação. Criada por especialistas, define as regras que regulam a combinação entre termos e relações em um domínio do conhecimento. São criadas para representarem um

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domínio específico devido a sua complexidade na construção das relações entre os termos que vão muito além das relações presentes em um tesauro.

Souza e Alvarenga (2004) referem-se às ontologias como sendo um modelo de relacionamento de entidades e suas interações, em algum domínio particular do conhecimento ou específico a alguma atividade. E são criadas em domínios específicos devido à complexidade de sua construção que demandam profissionais de diversas áreas do conhecimento.

Conforme se pode notar, a literatura apresenta várias definições para o termo “ontologia” (GRUBER, 1993; VICKERY, 1997; SMITH, 2004), definições essas que se diferem, se complementam e em alguns casos se divergem. Mas, percebe-se que se trata de uma disciplina que propõe alternativas para representar e organizar informações e conhecimento e, nesse ponto, há anuência entre vários autores.

Sendo assim, as ontologias apresentam de maneira objetiva similaridades técnicas e metodológicas comuns à CI, no que envolve a representação e organização da informação. Similaridades que justificam o interesse e a importância na utilização de ontologias em CI, que, conforme colocado por Vickery (1997) e ressaltado por Smith (2004), tem aumentado principalmente em certas aplicações e contextos, tais como: i) suporte à extração de informação de bases de dados médicas; ii) tradução de linguagem natural, na qual as ontologias podem ser úteis para resolver problemas de ambiguidade; iii) integração automática de um conjunto de vocabulários padronizados ou dicionários de dados, o que pode auxiliar na construção de um único vocabulário padrão; iv) banco de dados com informações sobre categorias (conceitos) existentes no mundo/no domínio, além das propriedades referentes a esses conceitos, bem como as relações existentes entre eles; v) integração de bancos de dados, de softwares ou de modelos de negócio.

Segundo Smith (2004), as ontologias vêm exercendo um papel de extrema importância e notoriedade, principalmente, na área médica, uma vez que propõem iniciativas de padronização da linguagem, função semelhante àquela desempenhada pelas terminologias médicas. Além de ser uma alternativa para os sistemas de terminologia médica, acrescenta-se, ainda, o fato de que as ontologias podem ser usadas para a recuperação de informação e no processamento dos registros eletrônicos dos pacientes.

Em Almeida (2014), pode-se verificar como de fato a CI utiliza-se dos princípios ontológicos: na CI, os princípios ontológicos são usados no suporte à construção de estruturas de categorização para representação do conteúdo de documentos. O trabalho em ontologias não está confinado à representação de conteúdo, mas engloba a representação

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desses recursos como um todo, em geral, da perspectiva de uma comunidade específica de usuários.

O que de fato conecta os diferentes campos de pesquisa é o que tem sido chamado de “princípios ontológicos”. É o elemento comum presente nas iniciativas de várias áreas que se utilizam das aplicações e usos da ontologia, tais como: Filosofia, Ciência da Computação e Ciência da Informação. De modo a alcançar um nível interdisciplinar de pesquisa, a tarefa de manipular os princípios ontológicos deve ocorrer em dois estágios: i) o primeiro é a priori e devotado a estabelecer que tipos de coisas possam existir e coexistir no mundo; ii) o segundo envolve um esforço para estabelecer que tipos de coisas existem de acordo com evidências empíricas. A primeira tarefa tem lugar na Filosofia, a segunda nas ciências aplicadas, como por exemplo, a Ciência da Informação (ALMEIDA, 2014).