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Em IP o trabalho com as famílias é fundamental, bem como nas casas de acolhimento, dado que se pretende, dentro dos casos possíveis, que as crianças e jovens possam ser reintegrados na sua família de origem. Mas para tal é necessário que aja intervenção com as famílias.

Embora os esforços dos profissionais, há ainda limitações à intervenção com as famílias que acabam por ter origem nas próprias, avaliando-se pela sua falta de envolvimento efetivo nos processo de tomada de decisão e escolha (Tegethof, 2007).

Deve a IP prestar o seu apoio junto das famílias e das crianças o mais cedo que lhe seja possível. No acolhimento residencial são muitos os constrangimentos para se trabalhar com as famílias: tempo, recursos, pouca trabalho articulado e em rede, desconhecimento das equipas e das famílias das respostas existentes, inibição das famílias em pedir apoio, entre outros, faz com que muitas famílias não recorram aos serviços competentes em matéria de infância. Há ainda casos de famílias que não conhecem outras dinâmicas familiares ou que por desconhecimento não sabem que as crianças estão a ver o seu desenvolvimento em risco. É necessário, com urgência a oferta de mais informação para as famílias e de projetos que as considerem não utentes de um serviço, objeto de intervenção dos experts, ou seja, combatendo que

Callon, Lascoumes & Barthe (2001) denomina processos de “dupla delegação” entre os que sabem e os que não sabem.

As famílias acabam por passar por tantos processos e profissionais que acabam por ficar descrentes em relação ao trabalho que é realizado em acolhimento (Siqueira, Zoltowski, Giordani, Otero & Dell’Aglio, 2010). Contudo, seja em que contexto for e no contexto de acolhimento mais sentido fará, para que os seus filhos se adequem socialmente, a relação com os seus pais terá uma grande importância (Morgado et al.,2013), já que o acolhimento poderá conferir às famílias uma religação e fortalecimento das relações (Barbas, 2014)

É importante que, no trabalho com as famílias, hajam estratégias que permitam a recuperação de funcionalidades, bem como a realização de um projeto de vida adequado para as crianças. Esse é um trabalho que deve ser articulado nas mais diversas áreas, seja da saúde, justiça, educação ou segurança social (Ramos, 2008).

As famílias de crianças e jovens acolhidos em casas de acolhimento são por norma famílias mais vulneráveis socialmente (Siqueira et al. 2010). O planeamento conjunto (Siqueira, Zoltowski, Giordani, Otero & Dell’Aglio, 2010) com as famílias poderá trazer benefícios no processo de reintegração familiar, pelo que a sua participação é sempre fundamental ser considerada e ao fim ao cabo é sobre a vida das famílias que se trabalha, de outra forma parece não fazer sentido. Deve existir especial atenção para o que a família partilha e uma base comunicacional forte, cooperativa e positiva. A dificuldade na intervenção com as famílias talvez esteja muitas vezes no pré conceito que os profissionais tenham com as mesmas, vendo-as como incapazes ao invés de uma oportunidade de investimento e crescimento e como parte integrante do processo.

As famílias têm um papel principal em acolhimento e investir nas mesmas, integrando-as poderá trazer benefícios e fazer o sistema crescer. Parece de todo interessante analisar qual poderá ser o impacto que a IP em contexto de acolhimento poderá ter na qualidade de vida das famílias (Paiva, 2013), pois Portugal ainda carece de estudos acerca da matéria.

No fundo se preconiza uma ação por parte da IP no contexto de acolhimento residencial que honre a premissa de uma intervenção que torne as famílias mais capazes, numa base de criação de relação de confiança e proximidade, delimitando o papel de cada interveniente na ação, com respeito pelas ligações familiares, a integração de uma rede de apoio, mais próxima e mais alargada, comunicação clara e

honesta e a consciência de que é um problema social, comunitário e não apenas intrínseco em determinada família (Costa, Martins, Bento & Henriques, 2015).

Foi nesse sentido que se pretendeu inicialmente com o projeto de intervenção integrar a participação das famílias a partir, numa primeira fase, pela realização de entrevistas. Contudo, não foi possível concretizar a ação pretendida pelas implicações e limitações que se impuseram, sobretudo centradas na falta de disponibilidade demonstrada pelas famílias.

Ao terminar este ponto, dizer que risco acarreta consigo muitos “ talvez” e o “talvez” é algo que não se planeia, que traz a hipótese de algo acontecer, mas também o surgimento daquilo que é incompreensível e imprevisível.

O pensamento do talvez embaralha os cálculos precisos que buscam prever e controlar o tempo que vem: um tempo que não é futuro, mas porvir. Um tempo que não é continuidade do presente, que não é linear, que não se orienta cronologicamente. O pensamento do talvez suspende os sinais da equação infância + pobreza, perturbando todos os cálculos, introduzindo a descontinuidade, a diferença, a abertura de um porvir. Desmancha-se a equação e permanece somente a infância: o talvez, o que não é, o que está por vir. (Hillesheim & Cruz, 2008, p.197)

CAPÍTULO III

PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS EM CASAS DE

ACOLHIMENTO: COMO? QUANDO? PARA QUÊ?

Haverá, para uma criança, interesse superior ao de ser reconhecida, respeitada e amada como sujeito dos seus direitos? Se assim é, a Convenção sobre os Direitos da Criança é o dom que dá conteúdo ao interesse superior da criança. Reconhecendo-a na plenitude da sua personalidade jurídica, como sujeito, de parte inteira, dos direitos do homem. A Convenção é como que um mapa ético para iluminar e guiar os adultos na procura e respeito do interesse superior da criança. (Monteiro, 2002, pp.154-155).

No presente capítulo será apresentada uma análise sintética acerca de questões que relacionem a vida em acolhimento residencial e a participação da criança, que se torna fundamental para que o profissionalismo e o trabalho realizado junto das mesma seja efetivamente de maior qualidade e haja respeito pelos seus direitos enquanto humanos que são: “todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão” [artigo 19º, DUDH, Unidos pelos Direitos Humanos (UDH), 2009].