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Neste subcapítulo pretendeu-se compreender o que as crianças desejam para o seu futuro, como se idealizam e se projetam no mesmo, dado ser também importante explorar como perspetivam o que vai para além do presente e as ambições que têm, o que será um mote para a luta pelas suas conquistas e para delinear o seu percurso de vida, compreender o que as faz sentir bem e como se sentem escutadas pelos adultos/as e auscultadas nas decisões da sua vida.

No que concerne aos objetivos para o seu futuro, parecem existir objetivos bem definidos, ambições. De forma geral parecem saber o que querem para si:

“Então, estar a trabalhar…” (CJ3)

”Completar 12º para conseguir ser treinador de futebol ou então tirar um curso de eletricidade. Acabar 9º, como está o CJ na Casa Pia, o 12º e depois entrar para desporto para ser treinador de futebol” (CJ15)

As crianças e jovens revelaram conseguir projetar-se num futuro próximo e mais longínquo:

“Uma casa e dinheiro” (CJ23) “Ah….professora” (CJ4)

“Então, é seguir a escola, depois o curso, gestão” (CJ5)

“Arranjar trabalho, ajudar a minha família…tratador de animais. Gostava de tratar cães” (CJ18)

“Sair daqui” (CJ1)

“Daqui a 2 anos vou ser mais esperto do que agora” (CJ10)

“Daqui a 2 anos eu estou a estudar mas já não estou aqui na instituição. O meu trabalho, casa, o meu namorado” (CJ6)

“Depende, se eu estiver aqui ou em casa da mãe” (CJ5). Neste último exemplo surge o fator da instabilidade que a situação de risco e acolhimento podem causar. Os jovens muitas vezes olham para o seu futuro como incógnito e estão dependentes das ações dos/as adultos/as, muitas vezes, para se poderem projetar no futuro e conduzi- lo.

A opinião do que as faz feliz traz respostas díspares: “Comer” (CJ6); “Tudo” (CJ23); “Acabar o curso, conseguir um bom emprego” (CJ6); “estar com a minha família e andar de patins” (CJ7) “Sair daqui” (CJ1), mas nota-se em algumas delas a dependência da felicidade em relação à família ou do que possa surgir do futuro.

Relativamente ao facto de os/as adultos/as as escutarem, ou não, e as pessoas darem importância ao que elas dizem, parece existir uma concordância que os adultos da casa são um elementos importante e que de forma geral escutam o que elas têm para dizer:

“sim, mas às vezes também tem a ver com a maneira como eu falo, mas sim, acho que sim” (CJ19)

“São os amigos e aqui também” (CJ10);

“A maioria dos monitores aqui. A minha DT. O meu S´tor de Educação Física também. O meu pai” (CJ22). Existe contudo, um sentimento de que em momentos isso possa não acontecer:

“Eu dizia que queria ir para o curso. Haviam monitores que em vez de ajudarem criticavam” (CJ3)

“depende do que acontecer e depende da pessoa que eu estou a falar” (CJ22). Parecem ainda sentir que são convidados a participar nos processos de decisão da sua vida: “Sim” (CJ5); “Sim” (CJ7); embora para alguns essa questão não seja ainda muito clara para si.:

E: “Ok. Os adultos convidam-te a participares nas decisões da tua vida?” CJ2: “Como assim?”

E: “Se pedem opinião naquilo que tem a ver com a tua vida? Nas decisões que têm que ser tomadas.”

E: “Mas gostavas que te perguntassem mais, o que é que tu queres?” CJ2: “Hum…”

E: “Mas aqui, na família?”

CJ2: “Na família, eles perguntavam muitas vezes se eu estava de acordo com, por exemplo, eles… eu… tinha que… por causa de… eu não sei. Esqueci-me. Por causa de não sei o quê eu tinha que frequentar apoio. Por causa das negas. Eu tinha que frequentar apoios. Só que… eu, como muitas das vezes eu não queria, perguntavam-me se eu concordava ou não em frequentar apoios e coisas assim.”

E: “E aqui, achas que te podiam perguntar mais?”

CJ2: “Hum, acho que não. Acho que eles perguntam-me sobre tudo”

Da mesma forma já foram escutados sobre o que desejam para a sua vida: “sim…ter uma família” (CJ16); “Hum…já” (CJ5), embora em, alguns casos tal não se tenha dado e nesse sentido foi questionado em entrevista.

Surgem ainda opiniões sobre o papel que o/a adulto/a pode ter como impacto na vida das crianças em acolhimento. Neste caso a presença de muitos educadores, por vezes pode trazer angústias, como se vê pelo exemplo: “Porque são muitos adultos a quererem saber a mesma coisa e tu se dizes a um, depois o outro vai-te perguntar e tu tens que repetir e se calhar disseste bem na primeira pessoa que te foi perguntar e na segunda achas que já é um bocado abuso estarem a perguntar então vais responder mal.” (CJ19)

Nota-se a saturação e deve-se refletir sobre a maior comunicação entre adultos e compreender os limites da criança ou jovem.

Analisando as informações partilhadas e opiniões das crianças e jovens da CA, pode dizer-se neste contexto “que a acção política das crianças se exerce, sob um modo pleno ou de forma subtil e oculta, em todos os seus mundos de vida” (Sarmento, Fernandes & Tomás, 2007, p.202), sob forma de se expressarem e influenciarem o seu meio.

CAPÍTULO VI Os discursos e as acções dos/as adultos/as da Casa de Acolhimento

Como forma de compreender casos específicos, dentro das suas particularidades quer no espaço quer no tempo e tendo por base aquilo que a população poderia demonstrar no seu próprio contexto (Flick, 2005), analisou-se os discursos e ações dos adultos/as da Casa de Acolhimento, podendo dessa forma complementar a informação com os dados recolhidos no capítulo V e dessa forma fazer uma análise do panorama geral existente nesse mesmo contexto a partir da visão dos dois grupos em estudo.

Por intermédio das entrevistas (Anexo O) foi possível compreender melhor o mundo do/as adultos/as desta CA, a sua interação com as crianças e jovens, com as famílias, a sua satisfação no trabalho e a forma como pensam e agem sobre o mundo do acolhimento residencial. As entrevistas a este grupo são compostas pelos mesmos blocos temáticos que as entrevistas do grupo das crianças e jovens, diferendo n apresentação das questões que contemplam um total de 37 conjuntos.