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Nota de síntese

No documento armando fernandes dissertacao (páginas 131-137)

4. Estudo comparativo de Cidades Europeias da Cultura

4.3. A cidade e a realização da Capital Europeia da Cultura

4.3.1. AVIGNON 2000 “arte e criatividade”

4.3.1.4. Nota de síntese

A cidade de Avignon com os seus noventa mil habitantes, em que somente vinte por cento destes reside na zona intra-muros, tem nas muralhas o elemento divisório de uma geografia particular, a que se junta a divisão social e cultural, com o segmento de população mais baixo da hierarquia social se encontrar fora dos limites amuralhados e os principais equipamentos culturais estarem localizados na zona intra-muros (PALMER, 2004). A cidade, no centro histórico, é de crescimento “orgânico”, conforme refere CANDEIRA (1999 p. 34) e que ocorreu durante séculos em momentos de vários crescimentos, identificados nos seus anéis (CANDEIRA, 1999). Foi durante a presença do Papado, séc. XIV, que a forma urbana da cidade se consolidou, designadamente a zona intra-muros, marcada pelo seu elemento mais identificativo, o Palácio dos Papas.

Entenda-se que a referida presença do Papa, foi sem dúvida o elemento precursor da cidade como imagem de marca na sociedade francesa e internacional. Comum a muitas cidades da Europa, de tradição histórica, vê na época da Revolução Industrial, mais precisamente durante o século XIX e com a chegada do comboio, como elementos de impulso

intacto o seu burgo medieval com os seus diversos elementos, onde se destacam, as muralhas, sem sofrer com a já referida atitude haussmaniana, de ímpetos de modernização, higienização e salubridade, com o seu desenho geométrico, sendo residual a sua identificação na forma urbana intra-muros da cidade.

Como cidade histórica e conforme referem os responsáveis de Avignon:

“esta é uma área que apresenta um carácter histórico, estético e natural, que justifica a sua conservação, restauração e o desenvolvimento de todas ou parte de um grupo de edifícios”

Tradução directa (WAGON, et al., 2009 p. 12)

O Plano de Salvaguarda, processo que se inicia nos anos sessenta do século XX, com a primeira zona de salvaguarda criado com a La Balance, em 1964, com a inscrição do seu perímetro amuralhado do século XI em 1966, a concepção de um Plano de Salvaguarda, o PSMV (atenção à abreviatura), que compreende a inclusão de todo o perímetro amuralhado do século XIV e zona limítrofe junto do rio Rhône, iniciado em 1991, apresentado em 2005 e aprovado em 2007, e por último o reconhecimento por parte da Unesco como Património Mundial desde 1995 no perímetro compreendido entre o Palácio dos Papas e ponte de Saint Bézénet, elementos de maior identificação histórica da cidade de Avignon (mapa 14).

As considerações finais no que se refere à realização do evento CEC, reportadas nos diversos relatórios COGLIANDRO (2001) e PALMER (2004), permitem enunciar algumas ponderações sobre o que de melhor aconteceu e de lastro ficou, bem como na referência do menos alcançado com a realização do evento na cidade. Os objectivos propostos por Avignon 2000 foram múltiplos, destacando o desenvolvimento do turismo cultural na cidade e o reforço da sua reputação, consubstanciada pela realização do seu evento anual, o Festival de Teatro, marcando a cidade como ícone internacional no sector da cultura, na esperança de atrair o máximo de visitantes durante o período de realização da CEC, não descurando o aumento de visibilidade a nível mundial do perfil da cidade, bem como no desenvolvimento e apoios da criatividade ao nível local.

O apoio por parte do poder central, com a realização do evento nacional La Beauté, a ocorrer na cidade de Avignon, com todo o apoio e suporte, nomeadamente financeiro para sua realização, estando na base da criação da estrutura organizativa do evento CEC, a Missão Avignon 2000. As infra-estruturas afectas ao evento, nomeadamente o Museu de Arte Contemporânea Yvon Lambert, considerado o maior símbolo do legado da realização CEC, dando um elevada notoriedade às artes visuais acumulando com a existente reputação da cidade nas artes performativas, designadamente o teatro. Outro dos apontamentos à realização do evento CEC no ano 2000, o crédito na realização do evento Trans Dance Europe, com a participação de duas companhias, de funcionamento em rede e de actuação nos palcos das cidades CEC nesse ano, mas que pelo seu sucesso comprovado na cooperação europeia de diversos artistas do mesmo universo, perdurou nos anos seguintes, sendo inclusivamente apoiada pelas autoridades culturais europeias.

De entre os vários indicadores enunciados como menos alcançados, destacam-se organização e realização do evento depender directamente do responsável municipal, partidarizando o evento, tirando partido pessoal em função das eleições no ano seguinte, 2001. Referências à falta de representatividade cultural e da comunidade local, como na carência de experiência e conhecimento na realização de um evento deste tipo. O facto de o evento perder a liderança, visão e direcção quando o director geral resignou ao cargo, em 1998, não tendo sido preenchido o seu lugar com uma personalidade com as características que o cargo impunha. O sentimento generalizado da população da cidade da CEC como um evento nacional, importado de Paris, sem a participação dos locais, facto atribuído em boa parte à realização do La Beauté. Apesar deste evento se ter traduzido numa vasta audiência, de elevada satisfação artística, mas que no aspecto financeiro se ter traduzido num grande prejuízo, ascendendo a quatro milhões e meio de euros, consumindo um terço do orçamento para a realização do evento, e com alguns movimentos contra a sua realização, designadamente em conferências de imprensa e

comunicações nos media. A indicação de criticas à organização do evento pela realização se ter situado preferencialmente na zona intra-muros, não descentralizando para a periferia, local de concentração de grande parte da população. A falta de estratégia e desenvolvimento de mais programas ao nível de cooperação europeia, apesar deste tema ser um objectivo enunciado no inicio da realização, como no facto do maior evento deste género ser atribuído a companhias independentes, sem relação com a organização. Directamente confrontado com os problemas de financiamento, a impossibilidade na realização de alguns eventos já consagrados e agendados para a CEC. Apesar de ter existido uma grande exposição mediática do evento, a notoriedade reduziu-se aos seus dois maiores eventos, o La Beaté e o Festival de Teatro de Avignon, sendo também referido a falta de verbas, recursos humanos e experiência na forma como o evento foi comunicado (COGLIANDRO, 2001) (PALMER, 2004).

Podemos destacar, de entre as inúmeras apreciações ao evento, o desenvolvimento das infra-estruturas culturais, reconhecendo no Museu de Arte Contemporânea o seu maior símbolo, a oferta de uma maior mobilidade regional, com a chegada do TGV, permitindo a ligação a Paris em duas horas e meia, como indicadores positivos da CEC, mas no sentimento geral da população de Avignon como um acontecimento de prestígio para a cidade, mas de efeito efémero.

Com a colocação de todos os equipamentos propostos para a realização da CEC, em conjunto com a já existente oferta e lendo a estrutura urbana na sua forma, depreende-se a predominância de um eixo sul/norte do centro histórico da cidade (mapa 16), reconhecido no seu perímetro amuralhado, com inicio na entrada de acesso à rua da Republica até à ilha de Barthelasse, transpondo o rio Rhône, com o canal cultural predominante da cidade, de utilização dos seus espaços públicos, os de maior dimensão, um pouco à semelhança do que ocorrera séculos antes, em tempos da sua formação como cidade, a partir do seu burgo medieval (fotografia 16).

No documento armando fernandes dissertacao (páginas 131-137)