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No presente estudo, a análise do PISF se deu mediante diversas simulações, acompanhadas de um conjunto de premissas, expostas a seguir:

Considera-se a entrada de vazão firme (fixa, em caráter contínuo), sem custo, de 2,7 m³/s, sob a suposição de que 1 m³/s seja destinado a Paraíba, enquanto 1,7 m³/s são garantidos de adentrar a divisa com o Rio Grande do Sul, desconsiderando-se assim, as perdas de trajeto entre os dois estados. Tal vazão foi adotada como constante tanto para as simulações hidrológicas quanto para as valorações econômicas. Respeita, adicionalmente, o acordo vigente de repartimento de água estabelecidos entre as regiões contempladas;

Considera-se como medida de adaptação à mudança do clima, diversos cenários de

entradas de vazão variável (em caráter de necessidade, não de forma contínua), com

custos associados, sempre a partir do Eixo Norte do Projeto, cuja água adentra a bacia do PPA pelo reservatório de Engenheiro Ávidos e se integra, a partir daí, à rede da bacia;

 Os custos de adução de água, em maior ou menor vazão, a partir do PISF e seus sistemas de adução e entrada até o açude Engenheiro Ávidos pelo valor de 0,774 R$/m³ aduzido. O valor atende ao aposto na Nota Técnica Conjunta nº 2/2016/COSER/SRE/SAS da Agência Nacional de Águas (ANA, 2016c);

 O custo de 0,774 R$/m³ embute dois componentes: i) referentes à disponibilidade de água (aqueles custos que ocorrem mesmo sem bombeamento de água, tais como os custos administrativos e de manutenção da estrutura do PISF); e ii) referentes ao consumo de água do Projeto (aqueles que ocorrem quando há bombeamento de água, tais como consumo de energia elétrica e encargos tributários respectivos);

 Desconsidera-se os custos de construção e operação da obra de transposição em si, pois estes são, sob a ótica da bacia do PPA, exógenos;

 Dadas as capacidades de transferência da infraestrutura construída, bem como dos padrões de repartimento de água estabelecidos entre as regiões contempladas, a bacia de interesse poderia receber um montante de até 16,3 m³/s;

 Em situações críticas, as vazões recebidas de forma emergencial podem, em função do reservatório que recebe a água de entrada da transposição, equivaler a 54,53 m³/s, assumindo a realocação acordada entre os estados receptores pelo Eixo Norte;

 Considerou-se a plena disponibilidade de atendimento a partir do rio São Francisco, desde que dentro dos limites máximos do Eixo Norte, responsável pela distribuição da água para os estados de interesse.

Nota-se que a entrada das vazões variáveis do PISF na bacia do PPA atende às demandas não supridas pela disponibilidade hídrica local, que a cada momento de simulação (mês) são identificadas na bacia. Isto pressupõe que há ganhos de sinergia entre os reservatórios, ou seja, a operação otimizada permite que as infraestruturas hídricas, agindo em conjunto, viabilizem uma alocação mais inteligente. Este aspecto pôde ser observado nas primeiras simulações realizadas, uma vez que foi identificado um ponto ótimo de vazão bombeada. A água que adentra a bacia não

apenas supre a demanda de seus usuários, mas também enche os reservatórios quando pertinente, permitindo maior conectividade entre eles.

A contabilidade dos custos da água variável, que é – a cada medida adaptativa – demandada da transposição, é realizada por meio da transformação da vazão requerida mensalmente pelo sistema (m3/s) em volume de água. Este volume, então, é multiplicado pelo custo em reais do m3 unitário e somado, mês-a-mês, dentro dos doze meses-calendário para o cômputo do gasto anual.

Esse gasto difere não apenas entre as medidas adaptativas, pois cada uma delas parte de algum pressuposto distinto, mas também entre os cenários climáticos. Claramente, no cenário de clima “Árido” as demandas de vazões complementares do PISF são maiores e mais frequentes do que no cenário “Moderado”.

Nota-se que os custos totais das vazões variáveis do PISF são relativamente baixos quando comparados aos custos das demais medidas adaptativas de infraestrutura. Isso ocorre por uma combinação de dois fatores, abaixo detalhados.

O primeiro deles advém da distribuição dos custos ao longo dos cinquenta anos simulados.

A título de exemplo, tem-se a medida adaptativa que considera a possibilidade de bombeamento máximo do PISF (54,53 m3/s) para atendimento de todos os usuários (ou seja, sem prioridade) e ainda considerando as perdas no trajeto da água (o que faz com que a demanda do PISF seja maior para compensar as perdas que ocorrem em trânsito). A partir das simulações realizadas a partir de tais premissas, tem-se que a medida demanda – no cenário “Árido” – a vazão máxima durante 41% do tempo (245 meses). Não obstante, a vazão média demandada do PISF é de 28,64 m3/s, já que durante outros 39% do tempo a vazão requerida foi nula (233 meses).

Quanto aos custos dessa medida, novamente pelo cenário “Árido”, tem-se o montante de R$ 1,15 bilhão. Esse valor representa a somatória, mês a mês, das vazões requeridas do PISF ao longo dos cinquenta anos. Uma vez que o cenário “Árido” representa, para a bacia do PPA, um clima que cada vez detém menores produções hídricas próprias, o PISF é mais demandado com o passar dos anos e consequente agravamento das condições climáticas Nos primeiros 20 anos, a vazão média mensal requerida do PISF é de 17,96 m3/s; já nos últimos 20 anos, o valor sobe para 39,52 m3/s.

Uma vez que se distribui o custo total ao longo dos cinquenta anos e compila-se o valor presente líquido desse fluxo financeiro, tem-se que sob este mesmo cenário de clima os gastos com a medida resultam em R$ 283 milhões. Este é o valor que se espera desembolsar, em valores atuais, para a solução do PISF dada a taxa de desconto adotada pelo estudo (5,64%).

Em comparação com outras medidas de infraestrutura, o custo de bombeamento do PISF acaba sendo relativamente diminuto. A obra de Oiticica e do eixo de integração do Seridó, por exemplo, custam R$ 355 milhões no 1º ano (ou seja, em valor presente líquido, já supera em 25% o custo do PISF exemplificado pela medida apenas descrita). Já as adutoras voltadas ao abastecimento prioritário e que percorrem o trajeto do eixo perenizado para evitar perdas em trânsito, somam R$ 1,07 bilhão de despesas em apenas 5 anos. Ao contabilizar o custo de operação desses sistemas adutores, tem-se um custo total, em VPL, de R$ 1,11 bilhão.

É justamente na contabilidade dos custos de implantação que reside o segundo fator: a premissa

de não ratear os custos de construção do PISF para a bacia do PPA. Uma vez que a obra de

implantação do PISF supera em propósito o território da bacia do PPA, adotou-se a premissa de que estes custos não são arcados pela própria bacia quando da utilização das águas do rio São Francisco. Dessa forma, os custos das medidas de adaptação que consideram o uso das águas do PISF pressupõem a construção da infraestrutura hídrica (nota-se que tanto a disponibilidade da infraestrutura quanto o valor de operação do bombeamento estão devidamente considerados no valor unitário do m3).

Para fins de comparação de ordens de grandeza, realiza-se a seguir um exercício numérico sobre o rateio dos custos de implantação do PISF. Grosso modo, pode-se supor que o PISF terá um custo total de R$ 10 bilhões4. A divisão entre os eixos Norte e Leste do projeto contam com as seguintes

características: vazão máxima de 99 m³/s para o Norte (77,95%) e 28 m³/s para o Leste; vazão firme (regime contínuo) de 16,4 m³/s para o Norte (62,12%) e 10,0 m³/s para o Leste; 260 km de extensão para o Norte (54,51%) e 217 km de extensão para o Leste. Assumindo que os custos são uma função de igual peso entre volume de água (máximo e firme) e extensão, o Eixo Norte representa 64,86% do PISF, o que representa, por sua vez, um investimento de R$ 6,49 bilhões.

Da vazão firme de 16,4 m³/s, projetada para o Eixo Norte, tem-se um mínimo garantido para a bacia do Piancó-Piranhas-Açu de 2,7 m³/s, que representa 10,23% do total do Projeto e 16,46% do Eixo Norte. Considerando-se, de forma simplista, que o Eixo Norte custou R$ 6,49 bilhões, 16,46% desse valor representa R$ 1,07 bilhão para a bacia do PPA. Tem-se, no cálculo aproximado de rateio do valor de implantação do PISF, um montante equivalente à implantação de adutoras no eixo principal da bacia (Medida Adaptativa de Perdas Trânsito).

4 O orçamento no início de 2017 apontava para R$ 9,6 bilhões. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2017/01/projeto- de-integracao-do-rio-sao-francisco-vai-beneficiar-12-milhoes-de-pessoas

Tomando-se novamente a medida adaptativa que considera todos os usos e a disponibilidade de vazão máxima do PISF, no cenário Árido, tem-se sob as premissas normais uma razão de custo- benefício de 0,09, ou seja, uma medida extremamente custo-benéfica, pois gera benefícios de R$ 3,27 bilhões contra custos de R$ 283 milhões (ambos valores em VPL). Pode-se, para fins de exemplo, realizar esta análise sob a consideração de valor rateado do custo de implantação do PISF: a razão de custo-benefício passaria a ser de 0,38, uma vez que os mesmos benefícios estariam sendo contrastados com um custo de R$ 1,24 bilhão.

Sob uma perspectiva de análise de projetos, os custos já incorridos para a construção do PISF podem ser considerados como irrecuperáveis5, e somente os custos futuros devem ser levados em

consideração por gestores e analistas. Isto é, no caso do PISF, dever-se-ia considerar apenas os custos (e os benefícios) associados ao bombeamento da(s) próxima(s) unidade(s) de água oriundas do Projeto para a bacia do PPA.

Efeito da premissa de entrada firme do PISF na ACB

A premissa de que o PISF fornece água de forma ininterrupta na medida de 1 m³/s na Paraíba e outros 1,7 m³/s na divisa com o Rio Grande do Sul foi utilizada não apenas na estimativa do risco climático (Produto 1-C) que a bacia do PPA está sujeita, mas também na estimativa de todas as demais medidas adaptativas que compuseram o Produto 1-D e demais medidas apresentadas neste apêndice (Açudes de 3ª Ordem na Paraíba e Perdas-Rio), de forma constante e ao longo dos 50 anos de simulação.

Desconsiderou-se, dessa forma, as perdas de trajeto entre a entrada do PISF e a divisa dos estados, sejam elas por evaporação, infiltração, retiradas permitidas e não permitidas – ou a somatória de todos estes. Sabe-se que a premissa descola da realidade atual da bacia, e sua adoção seguiu as justificativas pertinentes à fase de conclusão da obra e da expectativa de cumprimento da vazão firme de 2,7 m3/s nos pontos estabelecidos.

Uma vez que a adoção dessa premissa se manteve constante tanto na estimativa do risco climático como na simulação das medidas adaptativas, não foram geradas distorções quanto à avaliação comparativa das diversas possibilidades levantadas e avaliadas pela metodologia de avaliação de custo-benefício.

Entretempo, para fins de análise da situação da bacia do PPA para os próximos 50 anos sem a entrada de vazão firme do PISF, cabe excetuar a premissa adotada para compor resultados comparativos sobre a importância da utilização das águas da transposição. A Tabela 3.6 apresenta os déficits acumulados em 50 anos com e sem a premissa de entrada firme da vazão de 2,7 m3/s.

Tabela 3.6 – Déficits totais (m3) em 50 anos com e sem a premissa da vazão firme do PISF

Cenário Ab.

Urbano Ab.

Rural Irrigação

Dess.

Animal Industrial Aquicultura Transferências Total

Sem Mudança do Clima C/PISF 47 7 963 31 85 366 95 1.594 S/PISF 168 25 1.119 34 93 388 220 2.046 Var. % 259% 236% 16% 8% 10% 6% 131% 28% Árido C/PISF 216 40 2.087 98 196 498 215 3.350 S/PISF 495 74 2.133 102 204 505 399 3.911 Var. % 129% 87% 2% 4% 4% 1% 85% 17% Extremos C/PISF 135 25 1.716 70 152 451 162 2.712 S/PISF 336 52 1.795 72 159 462 336 3.212 Var. % 148% 105% 5% 4% 5% 2% 107% 18% Moderado C/PISF 48 9 1.104 38 94 391 108 1.791 S/PISF 188 29 1.223 40 101 392 241 2.213 Var. % 294% 207% 11% 5% 7% 0% 124% 24%

Obs.: não se considera o aporte de nenhuma medida adaptativa. Fonte: elaboração própria.

A maior influência da premissa de vazão firme do PISF se dá nos usos prioritários (abastecimento urbano, rural e transferência). Uma vez que estes usos são primeiramente beneficiados pela entrada firme de 2,7 m3/s, são justamente os que mais apresentam variações nos déficits caso essa entrada fosse suprimida. Enquanto o abastecimento urbano sofreria um déficit acumulado em 50 anos 148% superior sem o PISF firme, no cenário Árido, o total através dos sete setores usuários seria de 18%.

A Tabela 3.7 (abaixo) traz as mesmas informações que a anterior, mas em valores monetários que representam as perdas econômicas decorrentes dos déficits hídricos identificados. Nota-se que a influência relativa é bastante similar, com cerca de 20% de influência da premissa de vazão firme do PISF. Tem-se que, acaso o compromisso de fornecer 2,7 m3/s do PISF de forma constante à bacia do PPA não seja observado, o risco climático auferido pelo presente estudo aumenta em uma quinta parte – montante que representa, no cenário climático de menor perda (“Moderado”), R$ 0,9 bilhão (em valor presente líquido). Já para o caso do cenário “Extremos”, tem-se a adição de R$ 1,34 bilhão ao risco climático.

Tabela 3.7 – Risco climático (R$ MM, VPL) com e sem a premissa da vazão firme do PISF Cenário Ab. Urbano Ab. Rural Irrigação Dess.

Animal Industrial Aquicultura Transferências Total

Sem Mudança do Clima C/PISF 89 10 310 894 2.107 285 157 3.852 S/PISF 341 34 364 918 2.350 295 366 4.668 Var. % 283% 241% 18% 3% 12% 4% 133% 21% Árido C/PISF 403 42 460 1.796 4.324 417 370 7.812 S/PISF 976 91 490 1.864 4.596 417 729 9.163 Var. % 142% 115% 6% 4% 6% 0% 97% 17% Extremos C/PISF 294 30 489 1.577 3.775 426 302 6.892 S/PISF 765 72 507 1.638 4.171 430 649 8.231 Var. % 160% 136% 4% 4% 10% 1% 115% 19% Moderado C/PISF 100 12 356 1.018 2.454 332 196 4.468 S/PISF 417 40 417 1.060 2.674 332 432 5.372 Var. % 317% 239% 17% 4% 9% 0% 120% 20%

4 Considerações Finais

A simulação de alocação hídrica conduzida para cada medida de adaptação envolveu um complexo processo de levantamento de informações e definição de premissas. Tal processo visa captar as características construtivas e operacionais de intervenções humanas no meio físico, de forma a modelar seus impactos na disponibilidade e distribuição de água. Nesse trajeto, a coerência com a realidade dos parâmetros estabelecidos é fundamental, sendo tanto mais sua revisão e atualização conforme novas percepções.

O refinamento permitiu uma análise crítica dos resultados obtidos anteriormente, pondo em perspectiva as dificuldades em se obter uma representação satisfatória dos fenômenos sendo estudados. Ao mesmo tempo, a possibilidade em se aprofundar o entendimento de aspectos específicos enriqueceu os resultados do estudo, possibilitando considerações importantes.

Essa passagem foi especialmente importante para medidas com alto potencial de impacto sobre a bacia, como é o caso do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Estando esta alternativa condicionada a diferentes fatores, em grande parte indefinidos, uma compreensão mais precisa, mesmo que restrita aos limites de uma simulação, se torna indispensável. O refinamento propõe, assim, não só aprimorar os resultados finais, como explorar novas facetas desta alternativa que se destaca por sua importância política e social.

Por outro lado, a medida de redução das perdas em trânsito conseguiu tanto demonstrar os benefícios significativos de ações que evitem as perdas por infiltração e evaporação, quanto evidenciar as dificuldades desse tipo de empreitada. Dadas as particularidades do semiárido brasileiro, poucas são as regiões se deparam com o desafio de canalizar grande parte de seu sistema de distribuição de água. Nesse sentido, as referências para estimar custos e aspectos construtivos de tal estrutura são escassos. O caráter inédito desta medida não desconsidera sua relevância no contexto local, o que em conjunto com o grande potencial demostrado, justifica estudos mais aprofundados.

A medida de aumento da reservação via açudes de médio porte, apesar de não custo-benéfica, evidenciou que qualquer esforço infraestrutural que altere a distribuição de água na bacia deve ser bem planejada. A multiplicação não estratégica de estruturas para acúmulo superficial de água não promove sua redistribuição igualitária se não considerada a disponibilidade hídrica do local de implantação. Existe potencial para novos açudes, porém esses devem ser estudados e somente considerados para implantação após a confirmação de seu potencial de contribuição hidrológica.

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