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Notas sobre “O caso Machado de Assis”

Para entender o processo crítico movido por Sílvio Romero contra Machado Assis, Roberto Ventura contrasta os critérios adotados pelo crítico sergipano com aqueles seguidos por José Veríssimo na composição da cena literária e crítica da segunda metade dos oitocentos. Um século no qual a crítica, sob diferentes argumentos, traçou roteiros para que a literatura brasileira fosse tomada de uma originalidade, não raro, de definição pouco precisa. Um movimento que a geração anterior teria sido incapaz de realizar ao converter suas inquietações em critérios de valorização da obra literária que implicavam, principalmente, avaliar o quanto o exemplar em questão contribuiria para a constituição de uma noção romântica de brasilidade ligada à presença dos chamados índices de nacionalidade.185 Em

185

Machado de Assis refletiu sobre o tema em “Instinto de nacionalidade”, um ensaio que está posicionado entre os textos fundamentais da crítica brasileira, pois ainda que a sua publicação, que data do ano de 1873, tenha ocorrido há mais de um século, o texto permanece capital para a compreensão dos critérios que, na época e

97 busca de outros caminhos, os críticos se lançaram em direção à superação do nacionalismo romântico, que passa, com o avançar da segunda metade do século dezenove, por um momento descendente na penetração de seu ideário, dando lugar ao irrompimento de insatisfações sobre o status da produção literária aflorada até então. O próprio Machado Assis, em “Instinto de Nacionalidade” (1873), ao referir-se aos textos de Basílio da Gama e Santa Rita Durão, respectivamente Uraguai e Caramuru, afirmou que estas obras “quiseram antes ostentar certa côr local do que tornar independente a literatura brasileira, literatura que não existe ainda, que mal poderá ir alvorecendo agora”.186 Antonio Candido, em seu estudo sobre o método crítico de Sílvio Romero, ao referir-se ao livro A literatura brasileira e a crítica moderna, que reúne uma série de estudos produzidos pelo crítico sergipano entre 1872 e 1874, dá mostras de como este pensava naquele conturbado momento: “é importante o capítulo IV – ‘O nacionalismo literário’ – em que coloca três problemas. O romantismo pretendeu criar aqui uma literatura nacional e original. Pergunta-se: criou literatura? é ela nacional? é original?”187 Silvio responde a essas perguntas de modo pouco entusiasmado, lembrando que “nacionalismo foi aqui sinônimo de indianismo e sertanejismo” e, diante disso, a conclusão a que chega é que “‘a literatura brasileira nada menos é do que original, mas pode se chamar nacional’, porque revela, em certo grau, características nossas, não

por longo tempo, nortearam as opções de escritores e críticos. Machado de Assis concentra o foco nos chamados índices de nacionalidade, ou seja, nos elementos que davam a ver a imagem de brasilidade almejada no período romântico, uma imagem pedagógica com a incumbência permanente de fazer-se ilustração dos aspectos pitorescos da natureza e da cultura brasileiras. Ainda que visse com bons olhos a preocupação em vestir-se com as cores do país, Machado de Assis colocou em xeque a presença dessa construção imagética romântica como único critério válido na análise da literatura brasileira. Ater-se a esse limite como objetivação básica da produção literária parecia-lhe deveras limitado, já que, para o ensaísta, o resultado seria de empobrecimento. Em uma das elaborações mais conhecidas do ensaio, Machado redireciona o foco dos índices de nacionalidade para algo que denomina “sentimento íntimo”. Tal medida foi estopim para a realização de muitas leituras nas quais a expressão foi entendida como sinônima de um sentimento de brasilidade, de um espírito de brasilidade, ou ainda, de um nacionalismo interior que não se manifestaria necessariamente na inclusão dos índices de nacionalidade. O citado crítico português Abel Barros Baptista, em A formação do nome (1991), sugere que o “instinto de nacionalidade” para o escritor não era missão e nem obrigação, mas uma opção entre outras possíveis. Por outro lado, o crítico lembra que isto não significa que o tema tenha sido negligenciado pelo autor, visto que o mesmo reitera o aspecto meritório do “geral desejo de criar uma literatura mais independente”. No entanto, de acordo com o crítico português, Machado de Assis não considerava este o único caminho para o trabalho literário, o que se verificaria em “Instinto de nacionalidade” através das reflexões que gravitam em torno da separação entre a produção literária e a idéia de nação: “(...) a estratégia de Machado é lucidamente crítica: trata-se de separar a discussão e a reflexão sobre a literatura brasileira da discussão e da reflexão sobre o Brasil. Abre-se, então, o espaço para uma nova formulação dos problemas, em termos de literatura”. A leitura de Abel Barros Baptista se encaminha em direção à constatação de que o critério que Machado visa elevar no ensaio é o literário, que não necessariamente passaria por uma originalidade brasileira que daria vez uma originalidade literária, enfim, trata- se de um critério que não passa forçosamente pela questão da nacionalidade. Ao afirmar que “tudo é matéria de poesia, uma vez que traga as condições do belo ou os elementos de que êle se compõe”, Machado enfatiza, segundo Abel, algo que faz com que a literatura brasileira seja literatura e não o que a torna brasileira.

186

ASSIS, Machado de. Instinto de nacionalidade. Obras completas de Machado de Assis: crítica literária. Rio de Janeiro – São Paulo – Porto Alegre – Recife: W. M. Jackson Editores, 1961, p.131.

187

98 importando se fracas ou vigorosas”.188 José Veríssimo, em “A Literatura brasileira: sua formação e destino”, de 1877, exibe a sua decepção com o acervo romântico que, para ele, não vinha cumprindo o seu papel: “À literatura cabia o papel de, pelo estudo profundo do passado, levantar o espírito nacional – tão precocemente abatido – por uma forte reação contra o presente”.189 O não cumprimento dessa expectativa, segundo o crítico, teria sido uma decorrência da “ignorância popular” que engendrava a falta de “amor à leitura”, obrigando os escritores brasileiros “a mentirem à sua vocação e a escreverem somente de modo a poderem ser lidos e benquistos de leitores ignorantes e sem gosto, para não verem seus livros comidos pelas traças nas estantes das livrarias”.190 A chamada “geração de 70” se dedica ao questionamento do que se produziu até então, pois, como lembra Antonio Candido, ao participar do desenho do momento romântico, “a literatura se fez linguagem de celebração e terno apego”, em textos que transformavam “o exotismo em estado de alma” e desenhavam uma natureza em que o nosso “céu era mais azul, as nossas flores mais viçosas, a nossa paisagem mais inspiradora (...). A idéia de pátria se vinculava estreitamente à de natureza e em parte extraía dela a sua justificativa”.191 Uma face que em definitivo não agradou a Sílvio Romero, que buscou vislumbrar alternativas a essa estética por ele tão combatida, principalmente na sua faceta indigenista.

Aos olhos de Romero, entre as criações mais significativas no ambiente literário da segunda metade do século dezenove, não se incluíam os livros do autor de Memórias póstumas de Brás Cubas, contra quem o crítico moveu um processo crítico composto por ásperas considerações e também por muitos silêncios, imbuídos de alguns ressentimentos e também de convicções filosóficas e literárias. Sua ira inicial foi conseqüência de um ensaio publicado em 1879 na Revista Brasileira, no qual Machado de Assis avalia “a nova geração” de poetas, um grupo do qual fazia parte o jovem escritor Sílvio Romero, considerado pelo ensaísta desprovido de “estilo” tanto nos textos críticos quanto nos poéticos.192 A essa

188

Idem. Ibidem, p.47-48.

189

VERÍSSIMO, José. A Literatura brasileira: sua formação e destino. In: BARBOSA, João Alexandre (Org.).

José Veríssimo: teoria, crítica e história literária. São Paulo: Ed. da Universidade de São paulo, 1977, p.156.

190

Idem. Ibidem, p.156.

191

CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: A educação pela noite. São Paulo: Editora Ática, 1989, p.141.

192

Para que se entenda melhor o cerne do “caso Machado de Assis” descrito por Roberto Ventura, reproduzo o trecho no qual o crítico Machado se refere à “poesia científica” do escritor Sílvio Romero: “O autor dos Cantos

do fim do século é um dos mais estudiosos representantes da geração nova; é laborioso e hábil. Os leitores desta Revista acompanham certamente com interêsse as apreciações críticas espalhadas no estudo que acêrca da poesia

popular no Brasil, está publicando o Sr. Silvio Romero. Os artigos de crítica parlamentar, dados há meses no

repórter, e atribuídos a êste escritor, não eram todos justos, nem todos nem sempre variavam no mérito, mas

99 reprovação o sergipano respondeu com críticas à poesia de Machado e a sua filiação “tardia” ao romantismo. Para completar as investidas, Romero não incluiu os textos do “bruxo do Cosme Velho” entre os focalizados em sua História da literatura brasileira, publicada em 1888.

No conciso tópico “O critério nacionalista”, Roberto Ventura dá a ver o inconformismo de José Veríssimo com a decisão de Romero de submeter a literatura de Machado de Assis a um crivo pautado nas bases ideológicas sugeridas no título:

A obra do Sr. Machado de Assis não pode ser julgada segundo critério que peço licença para chamar nacionalístico. Esse critério, que é o princípio diretor da História da literatura brasileira e de toda a obra crítica de Sílvio Romero, consiste (...) em indagar o modo porque um escritor contribuiu para a determinação do caráter nacional”.193

Roberto Ventura estranhamente não entra em detalhes sobre a conformação do nacionalismo romeriano, limitando-se a citar a filiação da “geração de 70” às idéias de Hippolyte Taine e Ferdinand Brunetière, que impregnaram o cientificismo naturalista desses autores. Vale acrescentar que o método crítico de Sílvio Romero já envolvia desde seus primeiros passos uma teoria pautada na idéia de que a literatura teria de estar em harmonia com o caráter do povo que a produz, o que no caso do crítico sergipano significava refletir acerca de sua evolução social e realidade étnica, pois “em oposição à crítica brasileira da época”, Sílvio Romero “não apela para as categorias estéticas”.194 Ao voltar os olhos para a “geração

do Sr. Sílvio Romero; não me refiro às flores de ornamentação, à ginástica de palavras; refiro-me ao estilo, condição indispensável do escritor, indispensável à própria ciência (...).

Os Cantos do fim do século podem ser também documento de aplicação, mas não dão a conhecer um poeta; e para tudo dizer numa só palavra, o Sr. Romero não possui a forma poética. Creio que o leitor não será tão inadvertido que suponha referir-me a uma certa terminologia convencional; também não aludo especialmente à metrificação. Falo da forma poética, em seu genuíno sentido. Um homem pode ter as mais elevadas idéias, as comoções mais fortes, e realçá-las tôdas por uma imaginação viva; dará com isso uma excelente página de prosa, se souber escrevê-la; um trecho de grande ou maviosa poesia, se fôr poeta. O que é indispensável é que possua a forma em que se exprimir. Que o Sr. Romero tenha algumas idéias de poeta não lho negará a crítica; mas logo que a expressão não traduz as idéias, tanto importa não as ter absolutamente. Estou que muitas decepções literárias originam-se nesse contraste da concepção e da forma; o espírito, que formulou a idéia, a seu modo, supõe havê-la transmitido nitidamente ao papel, e daí um equívoco. No livro do Sr. Romero achamos essa luta entre o pensamento que busca romper o cérebro, e a forma que não lhe acode ou só acode reversa e obscura: o que dá a impressão de um estrangeiro que apenas balbucia a língua nacional”. (ASSIS, Machado de. A nova geração. In: Obras completas de Machado de Assis: crítica literária. Rio de Janeiro – São Paulo – Porto Alegre – Recife: W. M. Jackson INC, 1961, p.224-225)

193

VERÌSSIMO, José. O Sr. Machado de Assis. In: Estudos brasileiros: 2a série (1889-1893). Rio de Janeiro:

Laemmert, 1894, p.198.

194

CANDIDO, Antonio. O método crítico de Sílvio Romero. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988, p.44.

100 contestante” de 70, João Alexandre Barbosa chama a atenção para uma fratura no discurso de Romero, que, do alto da vinculação ao positivismo e ao naturalismo, no seu combate à linguagem das Retóricas e Poéticas dos primeiros anos do século dezenove, teria sido incapaz de conciliar avaliação literária e empenho social e ideológico. Para João Alexandre, aquele grupo de intelectuais que constrói o arcabouço de uma primeira reflexão crítica no Brasil, liberta dos esquemas retóricos e beletrísticos herdados do passado imediato, não conseguiu superar a instalação de um vazio entre o campo das pesquisas eruditas ou das explicações etnográficas e sociológicas e o processo de análise das obras literárias, sejam essas interpretações apoiadas em pressupostos mesológicos ou em ideais nacionalísticos.195 É nesse espaço vazio, ou seja, nessa carência de instrumentais, evidenciada pela a adoção exclusiva do referido critério nacionalista, que Roberto Ventura centraliza “o caso Machado de Assis”. Ventura esclarece que “o nacionalismo é criticado por Veríssimo como critério por demais restrito, para constituir um princípio exclusivo ou dominante na crítica literária”, pois, para ele, se pensada sob o crivo da exigência de uma inspiração mais pegada à vida nacional, ou seja, se “julgada pelo critério nacionalista, a obra de Machado seria ‘nula’ ou ‘quase nula’, o que mostraria quão ‘injusto’ pode ser o ‘emprego sistemático de fórmulas críticas’”.196 A opinião de José Veríssimo era de que a literatura machadiana deveria ser enfocada sob outra luz: pelo exame de sua concepção e modo de execução. Em resposta aos protestos daqueles que, como o crítico paraense, combatiam os seus critérios, Silvio Romero afirma o seguinte:

Outro preconceito que é mister arredar, é o de não poder o autor de Iaiá Garcia ser apreciado pelo critério nacionalista.

Machado de Assis pode e deve ser também julgado pelo critério nacionalista, que aliás não reputamos o único critério nestes assuntos; por mais de uma face o poeta das Falenas, o romancista de Ressurreição, presta-se à operação e não sai amesquinhado. (...)

Machado de Assis não sai fora da lei comum, não pode sair, e ai dele se saísse. Não teria valor. Ele é um dos nossos, um genuíno representante da sub-raça brasileira cruzada.197

195

BARBOSA, João Alexandre. Uma geração contestante. In: A tradição do impasse: linguagem da crítica e

crítica da linguagem em José Veríssimo. São Paulo: Ática, 1974, p.93.

196

VENTURA, Roberto. O caso Machado de Assis. Revista USP n.8. São Paulo: Edusp, 1990 – 1991, p.162.

197

ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. (7a ed.) Rio de Janeiro: J. Olympio. Brasília: INL, 1980, 1501-1502.

101 Sílvio Romero reputa como principal responsabilidade de escritores e críticos a ênfase nos motivos das originalidades, das particularidades, das diferenciações do seu povo, mas reforça que a maneira de cumprir esses objetivos não poderia variar, pois teria que se efetivar dentro dos preceitos das forças estáveis e móveis oriundas do meio físico e social. Essas diretrizes norteiam a construção de sua História da literatura brasileira, comparada por Roberto Ventura ao projeto de história de Veríssimo como uma forma de constatar as diferenças de método crítico entre ambos:

Na História da literatura brasileira (1888) de Romero, predominam os critérios naturalistas e sociológicos e uma concepção ampla de literatura, tomada como sinônimo de cultura. Já Veríssimo, na História da literatura brasileira (1916), atenuou o naturalismo, ao adotar a crítica impressionista e definir literatura, em termos estritos, como “arte da palavra”, o que tornava possível o enfoque das questões literárias.198

Embora o professor Roberto Ventura aponte as diferenças entre os projetos de história da literatura dos dois críticos como ótimas pistas para a compreensão de seus respectivos métodos críticos, sua concisão dá a ver pouquíssimos esclarecimentos sobre os mesmos. Em relação às noções de literatura nas quais se baseiam os dois críticos, é importante frisar que José Veríssimo incluiu Machado em sua sistematização pautando-se em uma noção de literatura apoiada em um critério preponderantemente estético: “Literatura é arte literária. Somente o escrito com o propósito ou a intuição dessa arte, isto é, com os artifícios de invenção e de composição que a constituem é, a meu ver, literatura”. Na História de Veríssimo, literatura é “sinônimo de boas ou belas letras”.199 Sílvio Romero, ao contrário, valeu-se de uma noção amplíssima de literatura, que inclui, como observou Antonio Candido, “todos os produtos da criação espiritual”, pois, no seu percurso, examina, dentre outros, o poema, a prosa poética, a política, o folclore, a filosofia, a etnografia, a sociologia e a geografia. O empenho do autor é concentrado na necessidade de configurar uma teoria da história, que, nas suas palavras, deve ser “ampla e compreensiva”, a ponto de dar conta da explicação completa da marcha evolutiva de um povo. Tal evolução, no caso brasileiro, deveria se encaminhar na direção de uma diferenciação da metrópole lusitana; uma diferenciação que se daria pelo cruzamento da hereditariedade, ou seja, da energia estável das

198

VENTURA, Roberto. O caso Machado de Assis. Revista USP n.8. São Paulo: Edusp, 1990 – 1991, p.162.

199

VERÍSSIMO, José. História da literatura brasileira: de Bento Teixeira, 1601 a Machado de Assis, 1908. 5a ed. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1998, p.30.

102 raças, com a adaptação, que expressaria os elementos móveis. Assim, pela via do cruzamento dessas duas forças, produtos naturais do meio físico e social, deixaríamos de nos contentar com a posição de imitadores da literatura portuguesa, francesa, ou de qualquer outra parte. Para Romero, enfim, a teoria da história de um povo não poderia limitar-se ao que este tem de comum com outros povos, pois sua principal responsabilidade seria mostrar “os motivos das originalidades, das particularidades, das diferenciações desse povo no meio de todos os outros”.200 Um intento que, de acordo com a sua avaliação na época, não teria sido perseguido por Machado de Assis, em virtude de uma postura que a crítica empenhada deveria denunciar.

Desde o início dos anos 70, em A literatura brasileira e a crítica moderna, Sílvio Romero se refere à necessidade de realizar uma análise retrospectiva das criações intelectuais para apreciar a fisionomia do povo brasileiro, de modo que fossem observados aspectos como o folclore e sua gênese, a formação e origem racial, a ação do clima sobre as populações e, ainda, as influências estrangeiras, que, para ele, já constituíam “um verdadeiro princípio para o estudo da nossa literatura” em virtude do “caráter de importação de quase todos, senão de todos, os nossos movimentos intelectuais”.201 Os ensaios apresentados pela Revista USP sobre Memórias póstumas de Brás Cubas estão relacionados com o último item definido por Silvio Romero, pois em todos eles, em alguma medida, os ensaístas se debruçam sobre a forma como Machado de Assis se posicionou em relação à tradição literária. Evidentemente, depois das proposições modernistas e de uma sucessão de discussões em torno da dependência cultural, o debate sobre a literatura de Machado não mais se polariza com base no nacionalismo romeriano e no esteticismo de Veríssimo. As reflexões se constroem à luz de outras movimentações, de outros gestos, algo que o retorno à imagem miniaturizada deixa ver.