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4 ESTUDO EMPÍRICO

4.1 Escolas de Caruaru

4.1.1 Notas sobre o Campo de Pesquisa: Escola A

Ao chegar na Escola A já fomos impactados com a quantidade de grades, portas e portões que existem da entrada da escola até a sala da gestão escolar. Foram pelo menos 3 portões com grades de ferro e duas portas. Após romper essas barreiras fomos gentilmente atendido pela Gestora da Escola A (Gestora A) que aceitou ser voluntária dessa pesquisa e nos recebeu muito bem.

Durante a primeira conversa com a Gestora A, apresentamos os objetivos da nossa pesquisa, nosso referencial teórico, os fatores que nos motivaram a desenvolver uma dissertação com tal problema de pesquisa e a Carta de Anuência fornecida pela Gerência Regional de Educação Agreste Centro Norte, autorizando a realização da pesquisa nas escolas da Rede Estadual de Ensino em Caruaru. Apesar de termos tido uma boa recepção, pudemos notar um certo desconforto inicial com a temática da pesquisa, parcialmente superado posteriormente.

A grandiosidade da Escola A também foi outro ponto que nos chamou bastante atenção. São diversas turmas das três séries do ensino médio nos três turnos escolares (manhã, tarde e noite). Essa escola está localizada em um bairro da periferia do município de Caruaru e oferece o Ensino Médio Regular. Outra característica importante dessa escola é o seu elevado número de discentes, estando entre as escolas estaduais com o maior número de estudantes em Caruaru. Para atender essa grande demanda, o corpo docente da escola também é bastante grande, sendo a maior parte dos professores sem vínculo estável com a Secretaria de Educação de Pernambuco.

Na ocasião da nossa primeira visita a escola, finalizada a primeira conversa com a Gestora A, fomos convidados pela mesma a conhecer a escola. Andamos pelos corredores da

Escola A, observamos as salas de aula, a quadra, o pátio, a cantina e os quadros de avisos. Para nossa surpresa, encontramos em um quadro de avisos desgastado e com marcas de fita adesiva, um cartaz com mensagens que faziam referência ao nome social de travestis e transexuais.

Figura 2 – Quadro de Avisos da Escola A.

Fonte: O Autor (2018).

Conforme a Figura 2, o cartaz foi protagonizado pela Iyà Andreia Deloizi, mulher transexual que já atuou no campo do ativismo LGBT no município de Caruaru. O cartaz foi produzido pela Assessoria de Políticas LGBT da Secretaria Especial da Mulher e Direitos Humanos da Prefeitura de Caruaru, em 2015. O seu objetivo foi divulgar o Decreto 050/2014 editado pelo então Prefeito José Queiroz que dispõe sobre a inclusão e o uso do nome social por pessoas travestis e transexuais em todos os órgãos da Administração Pública Municipal de Caruaru. Nesse caso, o curioso é que a Escola A pertence a Rede Estadual de Ensino, sendo assim os efeitos do Decreto Municipal 050/2014 não se estendem a ela.

Ao retornarmos na Escola A para realização da entrevista com a Gestora A, em horário previamente agendado com a mesma durante a nossa primeira conversa, antes de ligar o gravador tivemos uma conversa informal. Nessa conversa, questionei a Gestora A sobre o cartaz fixado no quadro de avisos da escola e percebemos, pela sua surpresa, que a mesma não tinha conhecimento dessa questão. Apesar de tentar disfarçar, notamos a reação surpresa ao saber da existência de tal cartaz em um dos quadros de aviso da escola. Cabe ressaltar que a Gestora A não emitiu qualquer palavra ou reação contrária a existência do referido cartaz, pelo contrário,

após entender do que se tratava, teceu comentários positivos sobre o respeito ao nome social de travestis e transexuais nas escolas.

As conversas informais que tivemos com a Gestora A na primeira visita e também no dia da entrevista, nos mostraram uma total desinformação sobre questões relacionadas à diversidade sexual e à identidade de gênero. Ao mesmo tempo, rompido o desconforto inicial com o tema dessa dissertação, pudemos notar uma certa curiosidade em relação as nossas falas sobre essas questões. Além desses elementos, as conversas informais com a Gestora A resultaram num convite que a mesma nos fez para ministrar uma formação sobre diversidade sexual e identidade de gênero na educação básica, durante a reunião de planejamento do bimestre, para todo o corpo docente da Escola A. Por questões de agenda não pudemos aceitar o convite, mas intermediamos o contato da Gestora A com os/as ativistas do Coletivo LGBT Lutas e Cores que acabaram indo na escola realizar a formação já citada.

No dia da entrevista com a Gestora A, tivemos a oportunidade de permanecer mais tempo em sua sala, um ambiente grande e espaçoso, com algumas mesas. Notamos a presença da Bíblia na mesa em que a gestora estava sentada. Mas, no decorrer da entrevista a mesma não deu nenhuma resposta de cunho religioso, tampouco demostrou nem explicitou pertencer a nenhuma religião.

No decorrer da entrevista com a Gestora A, notamos um clima inicial de receio, com respostas curtas e rápidas. Conforme a entrevista foi sendo realizada, esse clima foi sendo parcialmente superado e a Gestora A passou a responder as perguntas de forma mais calma e trazendo mais elementos em suas falas. Nessa ocasião também notamos que a Gestora A é bastante demandada. Do início ao fim da entrevista, diversas pessoas foram até a sua sala com alguma demanda. Acreditamos que o fato da Escola A ter uma grande quantidade de alunos, ocasiona um grande volume de trabalho para gestão escolar.

Findada a entrevista com a Gestora A, fomos então em busca de um professor e de uma professora que se disponibilizassem a participar da pesquisa. Após algumas tentativas, conseguimos os/as voluntários, marcamos as entrevistas e voltamos posteriormente para realizá-las.

Na ocasião da nossa visita para realização da entrevista com a Professora da Escola A (Professora A), verificamos a presença Instrução Normativa nº 02/201632 publicada pela

32 Essa Instrução Normativa foi motivada por um inquérito civil, instaurado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para apurar denúncias de discriminações motivadas por intolerância à identidade de gênero em uma escola da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco. Consta no inquérito diversos relatos de constrangimentos e discriminações praticados pela gestão da escola denunciada.

Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco, fixada nas portas das salas de aula da escola. A Instrução Normativa 02/2016 estabelece que os/as estudantes maiores de 18 anos de idade têm o direito de requisitar o uso do nome social na matrícula e nos diários de classe, já os/as estudantes menores de 18 anos terão de apresentar uma autorização do seu/a responsável legal para requisitar a utilização do seu nome social na escola.

Antes de iniciar a entrevista com a Professora A, também realizei uma conversa informal com a mesma e externei minha curiosidade sobre os motivos da Instrução Normativa nº 02/2016 estar fixada na porta de todas as salas de aula da escola. De acordo com a Professora A, essa ação foi resultado das discussões provocadas pela formação sobre diversidade sexual e identidade de gênero, ocorrida na ocasião da reunião de planejamento de bimestre.

Para concluir o conjunto de entrevistas nessa escola, realizamos a entrevista com o Professor da Escola A (Professor A). Essa última entrevista com os participantes da Escola A teve uma particularidade, o Professor A sugeriu que a sua entrevista não fosse realizada na escola. Não sabemos se essa solicitação se deu em virtude da agenda apertada do professor, ou se o mesmo se sentiu mais à vontade para ser entrevistado fora do seu ambiente de trabalho.

Finalizando essa breve apresentação do campo de pesquisa na Escola A, julgamos ser importante pontuar só mais alguns elementos dos/as participantes entrevistados. A Gestora A possui licenciatura e mestrado, além disso é professora efetiva da rede. Do mesmo modo, o Professor A possui licenciatura e mestrado, também sendo professor efetivo da rede. Por sua vez, a Professora A possui licenciatura e vínculo temporário com a Rede Estadual de Ensino de Pernambuco.