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3 – NA LITERATURA MARGINAL, A POESIA SLAM PEDE PASSAGEM

3.2 Notas sobre o campo literário e sua ambiguidade contemporânea

Que cenário da literatura permitiria a emergência de um movimento artístico como o Slam, que questiona a “literatura de elite” e desafia as formas consagradas dessa arte? Quais caminhos foram trilhados para que nos deparássemos, na pós-modernidade, com um campo que tem passado por transformações significativas tanto no que diz respeito à produção literária quanto à própria teorização sobre literatura? Sem pretensões maiores de atualizar ou problematizar a fundo tais questões, focalizo determinados pontos que podem contribuir para uma compreensão mais aproximada do cenário atual do campo da literatura. Campo este, marcado (entre outros aspectos) pela desestabilização de uma tradição estruturada historicamente na cultura letrada, pelo borramento das fronteiras entre o popular e o erudito e, também, pela emergência de fenômenos literários e artísticos híbridos – perspectiva na qual desponta o Slam.

Como exemplo recente de como a literatura tem sido terreno constante de disputas e reinvenções, é possível citar o surgimento da literatura digital, que provocou mudanças consideráveis nos modos como um texto é acessado, produzido, disponibilizado, comercializado e o próprio modo como é lido – se comparado ao texto impresso. Em artigo sobre a leitura de textos literários na era da cultura digital, Kirchof (2017) argumenta que as amplas possibilidades de produção e divulgação de literatura na internet, em blogs e sites especializados, têm gerado discussões acadêmicas de avaliação deste panorama tanto a partir de um ponto de vista celebratório (como se se tratasse de uma revolução democratizante da produção e da leitura literária), quanto de um ponto de vista pessimista (como se tal fenômeno fosse o responsável pelo desaparecimento do livro impresso). Todavia, Kirchof pondera que, para além das perspectivas pessimistas e celebratórias, “o que parece estar ocorrendo é uma convergência entre o suporte impresso e dos meios digitais”, e cita o fato de que alguns escritores iniciam suas trajetórias na internet, chamam a atenção da crítica especializada e têm suas obras publicadas também no suporte impresso (2017, p. 119-120). A literatura digital, dessa forma, oportuniza uma convergência entre os suportes e denota um caráter híbrido, levando em conta a sua composição e as possibilidades produzidas a partir de suas características – o que gera resistências e dúvidas por parte dos estudos literários da academia e da crítica sobre como lidar com este objeto em curso (KIRCHOF, 2013, p. 136).

Ao voltarmos o olhar para uma perspectiva histórica da literatura, verifica-se a existência de processos anteriores que também desestabilizaram, de outras maneiras, uma determinada tradição cultural até então vigente. O campo literário passou por um processo de desconstrução de uma longa tradição – que foi constituída desde o século XV, com a invenção da imprensa, passando pelos séculos XVI, XVII e XVIII (tendo seu ápice no Romantismo), que se manteve até meados do século XIX.

As sociedades ocidentais, de maneira geral, se desenvolveram por meio da cultura letrada, centrada na palavra escrita – que foi canonizada, essencializada e normatizada pelo campo literário e também por outros campos como o jurídico, por exemplo. Ao discorrer sobre o escrito e as culturas escritas ocidentais, Chartier (2010, p.15) salienta: “A partir do século XV, e provavelmente antes, a utilização do escrito cumpriu um papel essencial em várias evoluções maiores das sociedades ocidentais”. Como exemplo dessas evoluções o historiador menciona a construção do Estado de justiça e de finanças, gerador de burocracias e de arquivos, além da comunicação administrativa e diplomática. Ainda, conforme Chartier, os poderes, por sua vez, “se apoiaram cada vez mais para o governo dos territórios e dos povos, na correspondência pública, no registro escrito, na ostentação epigráfica e na propaganda imprensa” (2010, p. 15). Os usos da escrita foram alargados para a governo dos corpos e das comunidades, para o registro da experiência religiosa, para a determinação de condutas de comportamento ou tratados de civilidade – convertendo, assim, as escritas em práticas. Entretanto o autor observa que tanto a escrita, quanto a capacidade de dominá- la e produzi-la, incorporou-se de formas bastante variadas e desiguais nas fragmentadas sociedades ocidentais (CHARTIER, 2010, p. 15).

A literatura, concebida como a arte da palavra, afunilou-se historicamente na palavra escrita e, de maneira especial, no livro impresso. Até meados de 1450 a reprodução de textos só era viável por meio de cópias feitas à mão122. Contudo, uma nova técnica baseada nos tipos móveis e na prensa, criada por Johannes Gutenberg, desenvolveu uma tecnologia de impressão, marco que revolucionou a leitura e “transfigurou a relação com a cultura escrita” – entre outros fatores, pela diminuição do

122 É pertinente ressaltar, de acordo com Chartier (1998, p. 7-9), que os textos manuscritos sobreviveram

por bastante tempo após a invenção de Gutenberg, tendo perdurado até o século XVIII e mesmo o XIX. A cultura do impresso, ao contrário do que se imaginava, não causou uma ruptura total com a cultura do manuscrito, mas o que houve foi uma herança de determinadas características e uma forte continuidade entre elas.

custo de produção do livro e da redução do tempo de reprodução dos textos (CHARTIER, 1998, p. 7).

Por outro lado, a invenção da imprensa no século XV e, séculos após, o fortalecimento e a disponibilidade de variados suportes de leitura contribuíram para o enfraquecimento da prática artesanal da narração oral (CHARTIER, 2010). A palavra falada perdia espaço para a palavra escrita e, na perspectiva de Benjamin (1996), o motivo para a “quase extinção” da narrativa oral estaria no romance, gênero surgido no começo do período moderno e que teria afastado as pessoas da prática na narração oral. Segundo o autor, o romance emerge fundamentalmente atrelado ao livro e sua difusão só teria sido possível graças à criação da imprensa. “A tradição oral (...) tem uma natureza fundamentalmente distinta da que caracteriza o romance. O que distingue o romance de todas as outras formas de prosa (...) é que ele nem procede da tradição oral nem a alimenta (BENJAMIN, 1996, p. 201).

Enquanto a narração oral emergia de um saber popular que geralmente vinha de longe, de forma lenta, e que sofria reelaborações com a marca do narrador (quase como uma forma artesanal de comunicação), a informação impressa se apresentava como novidade, repleta de fatos novos e explicações que davam conta daquele momento. Dessa forma, a literatura centrou-se na palavra e narrativa escrita (mais precisamente no livro impresso) e predominou sobre a narrativa oral. Até meados do século XVIII, no mundo ocidental a literatura ainda era vigorosamente associada à erudição, ao domínio de línguas clássicas e aos conhecimentos gramaticais, significados vinculados à escrita (LAJOLO, 2018, p. 58).

Neste sentido, para que um texto ou livro seja considerado literatura, deve ser proclamado como tal pelos “canais competentes” aos quais, conforme Lajolo, “cumpre apontar, atestar e chancelar a literariedade de certos textos em circulação” (2018, p.36). As instâncias competentes que legitimam o que pode ou não ser reconhecido como literatura são formadas por diferentes atores, entre eles: “os intelectuais, os professores, a crítica, o merchandising de editoras de prestígio, os cursos de Letras, os júris de concursos literários, os organizadores de programas escolares e de leituras para vestibular” entre outros. São eles que avaliam a qualidade e determinam o valor e natureza literária e artística de uma obra (LAJOLO, 2018, p.36).

Dentre as instâncias legitimadoras do caráter literário das obras, a autora ressalta que a escola desempenha papel fundamental, pois “(...) é a instituição que há mais tempo e com maior eficiência vem cumprindo o papel de avalista e de fiadora do que é

literatura. A escola é uma das maiores responsáveis pela sagração ou pela desqualificação de obras e de autores” (LAJOLO, 2018, p. 39). Se a escola é reconhecidamente uma das instâncias legitimadoras mais importantes da literatura, como se pode avaliar o fato de que algumas escolas de Porto Alegre e Região Metropolitana (públicas e privadas) convidam poetas do Slam (de forma individual ou por meio de coletivos) para recitarem suas poesias, darem palestras sobre o Slam e realizarem oficinas de escrita de poesia marginal com seus alunos? Conforme será verificado no decorrer deste capítulo, os dados obtidos para essa pesquisa dão conta de que nesses eventos os poetas que possuem produção impressa levam os seus zines/livros para vender nas escolas em que se apresentam. Desse modo, ao tomar por base a afirmação de Lajolo e pensá-la sob o prisma da presença do Slam em algumas escolas, é possível pensar que tais instituições estariam, em alguma medida e no contexto específico de suas comunidades, legitimando e valorizando tanto a existência do Slam como manifestação artístico-cultural quanto a produção impressa (alternativa e independente) de seus poetas.

Do ponto de vista da civilização ocidental, a literatura se constituiu como tradição a partir de uma perspectiva elitista e bem delimitada: “as vozes donas da verdade”, como denomina a autora, pertencem a determinados estratos sociais que há séculos vêm definindo e avaliando os textos considerados literatura: tais concepções predominantes que estabelecem padrões de bom gosto e de sensibilidade estética partiam de homens brancos, bem alfabetizados, quase sempre originários do chamado Primeiro Mundo. Eram poucas as discussões dos conceitos que seriam utilizados pelos/nos estudos literários a partir dos contextos de produção de um tempo e das práticas de leitura vigentes em uma época (2018, p. 44), uma vez que a concepção de que a literatura – e a arte em geral – é atemporal e universal vigorava e ainda vigora largamente.

Ao longo de sua história no mundo ocidental, a literatura vem passando por momentos de ruptura ou vanguarda que suscitam a invenção de novos paradigmas teóricos para dar conta da produção literária de um dado período (LAJOLO, 2018, p. 51). Essas rupturas costumam ser identificadas e nomeadas com rótulos específicos como, por exemplo, Pré-Modernismo, Modernismo, Pós-modernismo etc. Entretanto, tais rompimentos não acontecem de forma absoluta; pelo contrário, há um tensionamento permanente no campo literário entre as diferentes concepções e práticas de literatura. Dessa maneira, antigas e novas fórmulas coexistem de forma que os rompimentos

constituem um processo de idas e vindas – assim descrito por Lajolo (sob um prisma atual):

Em algumas situações contemporâneas, noções e práticas de literatura se afastam da exigência de formas fixas, da manifestação de altos saberes, de linguagens, emoções e sentimentos elevados. Mas esse rompimento não foi nem total nem definitivo. É lento, num vai e volta caprichoso (2018, p. 59).

No decorrer dos séculos XX e XXI, as rupturas teriam se revelado quando autores e críticos do campo literário passaram a contestar certas divisões rígidas e a questionar, por exemplo, os critérios que demarcavam a “literatura de elite” e a “literatura popular”, na crítica ao sistema tradicional de classificação e legitimação de obras literárias. Na perspectiva do Brasil e de sua pluralidade de vozes, é nessa época que, conforme Lajolo, a literatura reconstitui a sua identidade. A mudança passa a acontecer quando grupos minoritários que já disputavam espaço no espectro social mais amplo começaram a reivindicar o seu lugar também no campo literário. Mesmo sem o mesmo prestígio e capital, “os excluídos da tradição mais conservadora dos estudos literários têm agora seus livros e seus cursos”, o que possibilita uma visibilidade para suas produções (LAJOLO, 2018, p. 105). Na visão da pesquisadora, é esse reconhecimento que faz a diferença para tais grupos:

Faz tempo que se escreve para crianças. Faz tempo que mulheres, homossexuais, índios, negros e imigrantes escrevem livros. Mas a identidade dessa produção era invisibilizada. Essa identidade diluía-se na ideia tradicional de que a boa literatura não tem idade, não tem cor de pele, não tem gênero (LAJOLO, 2018, p. 107).

Com a mudança de paradigma, a partir da segunda metade do século XX essa produção escrita – até então marginalizada, invisibilizada e tida como menor – começa a ganhar destaque e a subverter a própria concepção de literatura (2018, p. 108). As fronteiras entre as dimensões do popular e do erudito se mostram cada vez mais borradas e os limites entre elas cada vez menos demarcados – cenário que se intensifica se pensarmos no advento da cultura digital e nos desafios que apresenta à literatura.

É possível afirmar, assim, a percepção de um caráter ambíguo no cenário contemporâneo da literatura, tendo em vista os sinais de ruptura e desestabilização deste campo em relação a uma tradição que por séculos se manteve sólida e bem estruturada. É esse contexto atual que parece permitir a emergência de fenômenos literários e artísticos como o Slam, que de forma híbrida focaliza em suas produções tanto a centralidade da palavra escrita quanto a importância do irrompimento da

oralidade. Dito de outro modo, o movimento Slam se mostra em consonância com a racionalidade do que está ocorrendo atualmente no cenário literário e artístico, pois retoma efetivamente a prática da oralidade sem deixar de capitalizar aspectos da cultura escrita. Ao mesmo tempo em que suscita ruptura ao resgatar a expressão oral, o Slam também catalisa uma tendência de produção escrita presente em uma cultura que ainda valoriza o impresso – como será verificado ao longo deste capítulo.

3.3 “Pega a visão”: Apontamentos sobre literatura marginal no Brasil

Queria falar dessa literatura que nasce das ruas violentas, da saúde precária, do ensino de má qualidade, do racismo, do preconceito de classe, do desemprego, do machismo, da homofobia e das mazelas sociais, etc. Dessa palavra escrita que denuncia o que se sofre na pele. Dessa literatura das letras descalças,

mas de pés firmes e calejados que não desistem nunca123.

(...)

(Sérgio Vaz, 2019).

No trecho do poema “Letras descalças”, as palavras de Sérgio Vaz dão o tom do universo de elementos que compõem a chamada literatura marginal, que fala de/sobre territórios bastante específicos. Como idealizador do primeiro sarau voltado à literatura marginal do país, o Sarau da Cooperifa, Vaz caracteriza com propriedade essa literatura que emerge das periferias e que denuncia “o que se se sofre na pele”. Esse mesmo tom está presente nas batalhas de Slam, pois há uma percepção, naturalizada nas rodas de poesia que foram frequentadas e observadas na pesquisa, de que os poetas produzem o que eles mesmos definem como poesia marginal. Não só nas entrevistas realizadas com poetas, quanto na própria observação das batalhas, tal convicção é evidente. Até mesmo em publicações dos grupos de Slam em redes sociais, é possível verificar este posicionamento. Na página do Slam Peleia no Facebook, por exemplo, há uma postagem que cita a poesia marginal; afirma-se:

Nosso intuito é fomentar a cultura literária e a cultura de rua do nosso Estado com poesia marginal, que além de contribuir para a formação dos jovens em diversos caráteres, inclusive o de autorrepresentação, abre espaço para a livre

expressão, o que julgamos de extrema importância (...) (SLAM PELEIA, 2018,

grifo meu).

123 O trecho do poema “Letras descalças”, de Sério Vaz, foi retirado da página do poeta no Facebook e

Para o Slam Peleia, a poesia marginal dentro da qual eles se identificam, seria um meio de desenvolver a cultura literária e a cultura de rua do RS junto ao público jovem. As produções poéticas também teriam o papel de atuar na formação desses jovens (tanto no âmbito da autorrepresentação das vozes minoritárias e socialmente marginalizadas – sob diferentes aspectos –, quanto na possibilidade de se exercer a expressão de forma livre e alternativa).

Para além das publicações dos grupos de Slam nas redes sociais que expressam essa convicção, os poetas também se manifestam na mesma direção em seus poemas. Como exemplo, cito os dois versos finais do poema de Ded’s124, publicada no zine independente “Poetas Vivos – Vida Longa à Resistência”, que reúne poesias dos integrantes do coletivo artístico homônimo.

Fig. 15: Felipe Ded’s

Fonte: Instagram @felipeded’s

(...)

Eu vim de lá Onde sabemos que a vida é difícil Mas não paramos de lutar

Fazemos poemas com lírica e conteúdo que a escola não vai passar

Buscando mostrar que a poesia marginal e o hip hop andam lado a lado no mesmo lugar

No fim, Eu vim de lá Do MUNDO DOS POETAS

Onde escrever dá forças a todos que não sabiam onde podiam chegar.

Vida longa à resistência. (Felipe Ded’s,2018, grifos meus).

No “mundo dos poetas” de Ded’s, o caminho é de lutas, a escrita dá forças e oferece novas perspectivas de vida. Na sua visão, a poesia marginal e o hip hop “andam lado a lado no mesmo lugar” – são linguagens que fazem parte de um mesmo contexto cultural na cena jovem e urbana da cidade. O grupo Slam RS, por exemplo, é um coletivo que costuma atrair jovens ligados à cultura hip hop que participam de batalhas de rima

124 Felipe de Freitas Corrêa (Deds), tem 22 anos, é escritor, poeta, MC e produtor cultural. Idealizador da

iniciativa cultural Poetas Vivos e do Slam da Tinga (1º Slam em zona periférica de Porto Alegre). Integrante do grupo de rap Siganus.

(também chamadas de batalhas125 de MC’s), em Porto Alegre. Um aspecto curioso é que em alguns casos é possível identificar – mesmo para uma pessoa leiga no assunto, como esta pesquisadora – quando algum competidor do Slam tem experiência com batalhas de rap, pois recita no Slam quase como se estivesse cantando, habituado ao ritmo da batida que funciona de base para as suas rimas126.

Também existe um trânsito considerável entre as modalidades, e há poetas do Slam que começaram sua trajetória nas batalhas de rima – do hip-hop – e migraram para as batalhas de poesia falada – do Slam, como é o caso de Igor Belchior127. Ele conta, em entrevista para esta pesquisa, que, depois de um ano nas batalhas de rima, foi para o Slam, pois sentia necessidade de se expressar sobre episódios de preconceito racial que havia vivido. Na sua percepção o Slam seria mais pessoal, já que o poeta escolhe um tema e elabora previamente a sua apresentação a partir dele. Belchior entende que no Slam o poeta se exporia em suas fragilidades já que estaria narrando suas experiências, enquanto que a batalha de rima teria mais a ver com a “encarnação” de um personagem cujo objetivo é duelar no improviso e responder, com rimas, às provocações do seu oponente. Nas palavras de Belchior:

É totalmente diferente da batalha [de rap], o Slam: as pessoas ficam em silêncio [no Slam], ao contrário da batalha, que é uma gritaria (...) O Slam é muito mais pessoal que a batalha. A batalha, quando tu entra ali, tu é um personagem. No Slam tu é tu, é as tuas vivências e as tuas verdades. Na batalha eu muitas vezes nem falo da minha vida, eu só tento “atacar” e responder ele [o adversário]. No Slam é o meu tema, eu que escolhi fazer (Entrevista pessoal, 2019).

Sem comparar as modalidades de batalha, mas refletindo especificamente sobre as potencialidades do Slam, Bruno Negrão acredita que o movimento abre portas e contribui para que os jovens descubram novos caminhos através da arte – seja na escrita, na atuação, na apresentação, na organização de eventos (pois tornam-se produtores culturais), e até mesmo na música – no próprio rap. Negrão reitera as

125 No cenário do rap porto-alegrense, destacam-se a Batalha do Mercado, a maior da Região

Metropolitana, próximo ao Mercado Público da cidade, a Batalha do Brooklyn, que ocorre embaixo do viaduto Imperatriz Dona Leopoldina e a Batalha das Monstras, uma iniciativa que estimula a presença feminina nas rodas de freestyle, com o intuito de reunir mulheres para rimar em rodas de improvisação.

126 Neste link https://www.youtube.com/watch?v=S5wZt7FGu-s é possível assistir a uma batalha de rap

entre dois MC’s que duelaram na Batalha do Arco, que acontece próximo aos arcos do Parque Farroupilha (Redenção), tradicional parque público de Porto Alegre.

127 Igor Belchior tem 18 anos, é estudante do Ensino Médio e mora no centro da cidade. Utilizo o nome da

entrevistado tendo em vista que, no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o mesmo informou o desejo de ser identificado pelo nome nos dados públicos desta pesquisa.

palavras de Belchior ao enfatizar que o trânsito entre as modalidades de batalha de rap e de Slam é intenso e também acontece no fluxo inverso:

Quando eu comecei, em 2017, muita gente era do rap e foi pro Slam. Como o Slam RS era no mesmo lugar128 da Batalha do Mercado, era tudo no mesmo

lugar, o mesmo pessoal. Agora tá tendo também isso de quem começou pelo Slam começar a ir pro rap (Entrevista pessoal, 2019).

Mais do que apontar diferenças entre os tipos de batalha, as falas de Belchior e