• Nenhum resultado encontrado

NOVA CULTURA DO VINHO

No documento Instituto Politécnico de Santarém (páginas 81-84)

CAPÍTULO 3 O VINHO

3.3 O VINHO PORTUGUÊS

3.4.1 NOVA CULTURA DO VINHO

O vinho sempre esteve presente como alimento, como bebida festiva, comemorativa, sagrada e religiosa (Real, 1993). Partindo dessa premissa, o vinho é um elemento integrante e unificou o Homem a culturas, costumes e técnicas que se aperfeiçoam ao longo dos tempos. Como reitera Maria Sttefens Castro (2004, p.221) “[…] elemento unificador é o vinho, objeto mágico, apresentado numa linguagem metafórica, associando ideias como alta estirpe, rei, rival, vigor […]”. Por todas as associações que lhe são conferidas, o vinho é personificado e metaforizado com diversas analogias às suas caraterísticas. Na obra “Ritual do Vinho” (2004), o enófilo Paulo Bessa contou cerca de 127 citações sobre o vinho, onde é glorificado em epístolas da Bíblia, personificado em figuras míticas, como o deus grego Dionísio e o deus romano Baco. Benzido e agradecido pelos judeus antes da toma e essencial no symposium de Sócrates e Platão, o vinho era nestes rituais a ementa principal.

Hoje em dia, de outras formas, o vinho é estudado por muitos enólogos e enófilos, que tentam adaptar a tecnologia de cultivo às exigências do mercado atual, a vinhos de qualidade comprovada. Nasce uma “nova cultura do vinho” do século XX. O vinho passa a ser estudado como um elemento informativo, onde o apreciador para além de experienciar a bebida em si, procura saber mais sobre ela, ou seja, vai além do ato de consumo momentâneo e assume o papel de consumidor de informação, como o denominam Douglas e Isherwood (2004), em “No Mundo dos Bens: para uma antropologia de consumo”, em estudos acerca do comportamento do consumidor moderno. Assim, quanto mais conhecimento do bem de consumo o consumidor possuir, maior conhecimento terá dele mesmo e maior perceção terão os outros sobre ele próprio enquanto consumidor; o vinho comunica algo, os “bens são vistos como comunicadores de valores sociais e categorias culturais […] Todas as escolhas de consumo refletem julgamentos morais e valorativos culturalmente dados” (Oliveira, 2013, p. 159). Assim, o vinho torna-se um sistema de informação que permite exibir um determinado status, riqueza pessoal e material. Segundo

64

MARKETINGDIGITALNOSVINHOSTINTOSPREMIUMPORTUGUESES

o sociólogo Gabriel Tarde (citado por Douglas. M. & Isherwood, B., 2004, p. 131) “o indivíduo racional deve interpretar o seu universo como inteligível; depois, afirmamos que ele precisa dos serviços de outras pessoas para confirmar e estabilizar a sua inteligibilidade e os bens são o meio de revelar tal consenso”. Ou seja, existe um consenso social face aos padrões de consumo, e por maioria de razão em relação ao consumo de vinhos premium, o qual está aliado a um reconhecimento de caraterísticas indissociáveis do seu consumidor.

QUALIDADE E PREÇO DOS VINHOS PREMIUM

Os vinhos premium são um produto de preço elevado e posicionam-se no segmento dos “preços prestígio”, cujo reconhecimento é eficaz no mercado em que está inserido. Os “preços prestígio” inserem-se no segmento dos produtos de luxo: quanto maior o preço, maior o seu valor de unicidade e perceção de qualidade. Há um compromisso de exclusividade entre o vendedor e o comprador, ou seja, os preços devem sustentar valores sempre altos, independentemente da redução da procura e é esta caraterística que lhes confere o estatuto de premium (Meehan, 2017).

Em Portugal, os vinhos com preços mais elevados estão associados a denominações de qualidade reconhecida, através de regulamentos específicos no que toca a técnicas de vinificação, a escolha das castas e a métodos de produção. Os vinhos com denominação de origem estão intrinsecamente associados a uma qualidade percecionada e indissociável da origem de produção.

Jovier et al. (2004, citado por Werdelmann, 2014) identifica as qualidades extrínsecas e as qualidades intrínsecas dos vinhos como fatores a ter em conta na elaboração de uma estratégia de negócios no setor vitivinícola: as qualidades extrínsecas referem-se ao buquê, sabor, agudez e equilíbrio, ou seja, as qualidades experienciadas pelo consumidor. As qualidades intrínsecas são as qualidades esperadas pelos consumidores, como a imagem do vinho, a origem, a idade e a apresentação de um dado vinho, são os atributos expectáveis a

65

MARKETINGDIGITALNOSVINHOSTINTOSPREMIUMPORTUGUESES

Argentina44 acerca da influência dos elementos informativos do rótulo das garrafas de

vinho (como a safra, o país de produção, a região e a casta utilizada), na determinação do preço dos vinhos. O estudo concluiu que é decisivo o país de origem da produção e a casta utilizada (Ângelo & Luppe, 2005).

No “Novo Mundo”, na Austrália e na Califórnia foi realizado um estudo intitulado de “Quality and Value Creation on the Premium Wine Market”. O estudo procura enunciados que considerem a qualidade vitivinícola, sobre a perspetiva dos produtores. O estudo conclui que são as entidades e as instituições da Austrália e da Califórnia que utilizam os mecanismos propícios à criação da reputação dos vinhos locais. São estas entidades e instituições que criam valor acrescentado e influenciam a perceção de qualidade dos vinhos

premium na mente dos consumidores, reduzindo a incerteza no mercado. (Werdelmann, 2014). Os vinicultores e os produtores criam instituições que promovem os vinhos familiares de produção reduzida em lojas da especialidade e através de provas de degustação de vinhos, com o intuito de prevalecer a autenticidade e a produção de alta qualidade vitivinícola (Werdelmann, 2014).

A investigação de Schamel e de Andersen, em 2003, refere-se ao método dos preços hedónicos aplicados aos vinhos premium da Austrália e da Nova Zelândia. Tal como comprovado no estudo de Thomas Werdelmann, um dos fatores que encarece os vinhos é a reputação construída. O consumidor está disposto a pagar mais quanto maior for a reputação em causa e quanto maior o valor simbólico, maior o valor económico e a ascensão no mercado (2014).

Steven Charters em” Wine and Society” refere que o “Wine is not a static product” (2006, p.126), pois está sujeito a modas, à influência de ações de Marketing, a avaliações dos

mass media e a notas de qualidade atribuídas por enólogos. As influências e as autoridades empíricas determinam o mercado dos vinhos premium, como o credenciado e premiado enólogo Robert Parker, que lançou em 1978 “The Wine Advocate”, revista especializada de vinhos que tem sido uma das maiores influências do setor.

44 Seleção de 229 vinhos do Chile, Argentina e Brasil, estudo assente no conceito da teoria dos preços

66

MARKETINGDIGITALNOSVINHOSTINTOSPREMIUMPORTUGUESES

No documento Instituto Politécnico de Santarém (páginas 81-84)