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1. O ESTUDO DE HEDGES

1.4 CLASSIFICAÇÕES

1.4.4 Nova sugestão da classificação de hedges:

Com base nas limitações discutidas da categorização anterior e nos tipos de contexto apresentados, sugerimos uma nova classificação dos hedges para análise dos dados do presente trabalho:

I. Hedges como marcadores discursivos:

Independentemente da escolaridade dos falantes e tipos de atos de fala, a ocorrência dos hedges, tais como ―né‖, ―sabe‖, é muito alta nas produções orais dos falantes brasileiros. Normalmente eles são produzidos inconscientemente com a frequência de uso mais alta do que outros tipos de hedges. A função deles inclui fazer abertura e fechamento, tomar e manter o turno, mudar o tópico e fazer com que as opiniões sejam reconhecidas e aceitas por outros participantes. Por exemplo:

Acho que os professores são muito pobres, sabe! Tu viste né? Os alunos nem te

olham!

contexto. Em geral, a palavra ―né‖ é sempre considerada como esse tipo de hedge, mas a palavra ―acho‖ (ou ―eu acho‖) será reconhecida nessa categoria somente quando ela tiver função de movimento preliminar em enunciados argumentativos e não possuir maior ênfase na fala.

II. Hedges pressupositivos:

Esta categoria encontra-se principalmente nos atos de fala representativos e declarativos. O locutor propõe a pressuposição de um futuro evento ou suposição e raciocínio diante de um fato acontecido. Por exemplo:

Parece que vai chover hoje.

Ele deve estar em casa agora.

Se eu tivesse férias mais longas, aproveitaria só para viajar!

Talvez seja interessante retomar alguns conceitos que vimos nas seções anteriores, nos quais o uso desse tipo de hedge nem sempre pressupõe a falta de evidências para fazer a afirmação. No entanto, devido aos fatores comunicativos, o locutor prefere não se comprometer na sua fala.

III. Hedges declarativos:

São definidos como aproximadores por Prince et. al (1983), pois modificam o grau de verdade e o conteúdo semântico de um enunciado, a fim de protegerem a máxima de qualidade na passagem de informação. Os exemplos são:

Falta uns dez dias para a entrega do trabalho, estou quase enlouquecida!

Às vezes, duvido que ele seja brasileiro, pois praticamente não gosta de carnaval.

IV. Hedges sugestivos:

Os falantes, quando derem sugestões, pedirem favores ou descreverem suas obrigações, usam hedges sugestivos para diminuir a ameaça de face:

Poderia me emprestar uma caneta?

Quem sabe você pega um taxi para chegar lá mais cedo?

V. Hedges posicionais:

Os hedges pertencentes a essa classe evidenciam a fonte da informação ou pessoa responsável pela opinião. Quando usa ―no meu ponto de vista‖, ―para mim‖ e ―eu acho‖ com ênfase do ―eu‖ no enunciado, o locutor assume o lugar responsável pelo julgamento, sem precisar comprometer-se com o valor de verdade do contexto referencial; os hedges ―dizem que‖ e ―ouvi falar‖ representam a ideia de que o falante coloca-se na posição de isenção de responsabilidade; o papel de ―a gente‖ quando se refere somente ao locutor, denota a tentativa de demonstração de pertencimento na argumentação.

Se não me engano, o Brasil passou a chamar-se República Federativa do Brasil em

1967.

A: Você se importa de vir às 7h30 da manhã?

B: Ah! Muito cedo! A gente não consegue se levantar! VI. Hedges emotivos:

A função dos hedges emotivos é representar ou mostrar, de certa maneira, as emoções dos falantes de forma mais imprecisa. Em geral, eles aparecem através do uso de palavras de grau aumentativo ou diminutivo, que não apenas se referem ao tamanho do objeto. As frases com estrutura típica (por exemplo, pergunta retórica) também são consideradas como hedges emotivos. Na aquisição de PLA, os hedges dessa categoria podem ser uma dificuldade para os alunos, pois o sentido feito pelo enunciado não é necessariamente ligado com sua forma. Ambos ―lindinha‖ e ―lindona‖ podem aumentar o grau de sentido de ―linda‖, e ―ela é bem mulherzinha‖ não necessariamente quer dizer que ela é marga ou baixa ou jovem, mas provavelmente está descrevendo a personalidade dessa mulher.

Ex.: Olá guriazinha, poderia me fazer um favorzinho? Não acha muito frio aqui??? A classificação que colocamos acima está de acordo com as estratégias pragmáticas que os hedges propõem no discurso. No entanto, em um determinado ato de fala, um hedge pode sustentar mais de uma classe. Nesse caso, iremos categorizá-lo a partir da sua função predominante. Vejamos os dois exemplos abaixo:

formo no meio de 2012 ou no final do ano que vem, de repente viajar depois de me formar. É o plano, né?

(2) A: Não consegui me inscrever na disciplina.

B: Talvez seja melhor que você peça autorização para fazê-la como ouvinte. O exemplo (1) é uma frase original do corpus da nossa pesquisa, no qual a expressão ―de repente‖ aparece muitas vezes na fala de um informante, sendo o movimento preliminar dos enunciados, que pode ser uma produção inconsciente e portanto ser um marcador discursivo. No entanto, o uso dessa expressão na fala do sujeito sempre indica as possibilidades do seu estado no futuro. Nesse caso, consideramo-la como um hedge pressupositivo.

No exemplo (2), a palavra ―talvez‖ também pode ser entendida como um hedge pressupositivo, mostrando a maneira possível de resolver o problema, mas o objetivo imediato desse enunciado é dar uma sugestão, e não apenas denotar a dúvida. Por isso, de acordo com sua função predominante, analizamo-la na categorização de hedges sugestivos.

Nesse capítulo, discutimos as teorias de hedges a partir da perspectiva pragmática e fizemos uma nova definição e classificação desse tipo de termo em português. No próximo capítulo, apresentaremos as teorias de linguística de corpus, que vão contribuir para a nossa metodologia de coleta de dados.