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Novas atribuições e formas nos arranjos institucionais das organizações de segurança

CAPÍTULO 5 DESCREVENDO A LEGISLAÇÃO APROVADA EM SEGURANÇA

5.3 Novas atribuições e formas nos arranjos institucionais das organizações de segurança

C) As organizações e arranjos de segurança receberam novas atribuições e formas organizacionais voltadas a tornar mais visível sua presença nos espaços públicos, ampliar seus domínios de atuação e aumentar a eficiência de sua ação.

Aqui foram colocadas três leis sobre os arranjos institucionais de segurança pública que receberam novas atribuições, dispositivos que ampliaram, de um modo geral, as suas atuações.

5.3.1 REGULAÇÃO DA SEGURANÇA PRIVADA

Por exemplo, a lei 8.863 de 1994 ampliou a definição legal de segurança privada. O Projeto de Lei n°2803 é de Autoria da CPI do Extermínio de Crianças e foi apresentado no dia 12/08/1992 e teve sanção do presidente Itamar Franco em 28/3/1994. O artigo 1° instituiu que:

Art. 1°. São considerados como segurança privada as atividades desenvolvidas em prestação de serviços com a finalidade de:

I - proceder à vigilância patrimonial das instituições financeiras e de outros estabelecimentos, públicos ou privados, bem como a segurança de pessoas físicas;

o estigma de “futuro marginal”, alimentando o que discursivamente ela procura negar: o abandono e a marginalidade.

165 II - realizar o transporte de valores ou garantir o transporte de qualquer outro tipo de carga."

O segundo parágrafo, que alterou a lei anterior sobre segurança privada (7.102 de 1983), também dispõe sobre as empresas de segurança privada:

Artigo 10...§ 2º As empresas especializadas em prestação de serviços de segurança, vigilância e transporte de valores, constituídas sob a forma de empresas privadas, além das hipóteses previstas nos incisos do caput deste artigo, poderão se prestar ao exercício das atividades de segurança privada a pessoas; a estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de serviços e residências; a entidades sem fins lucrativos; e órgãos e empresas públicas.

Para Lopes (2007, p.102), a norma ampliou a definição legal de segurança privada e tornou a legislação mais detalhada em relação ao funcionamento das empresas de segurança. Diz o autor:

Além da vigilância patrimonial de estabelecimentos financeiros, do transporte de valores e cursos de formação, o Estado passou a regular os serviços de vigilância patrimonial de estabelecimentos públicos ou privados em geral, a segurança de pessoas físicas (segurança pessoal privada) e a segurança no transporte de cargas de qualquer tipo (escolta armada). A lei também trouxe para o rol das atividades de segurança privada os serviços orgânicos de segurança, que até então não haviam sido regulados.

Ao mesmo tempo o Estado ampliou o âmbito de atuação das empresas de segurança (numa dimensão reativa), buscou com isso ‘melhorar’ o controle e fiscalização sobre estas.

5.3.2 NORMAS DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO DE PRODUTOS E INSUMOS QUÍMICOS DESTINADOS À ELABORAÇÃO DA COCAÍNA E DE OUTRAS SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES

Além da norma acima, fazem parte deste grupo a lei 9.017 de 199595 que estabeleceu normas de controle e fiscalização de produtos e insumos químicos destinados à

95

Na lei 9.017 de 1995 o artigo 14° trata de mudanças na lei de segurança privada. De um modo geral, esta parte atribuiu à Polícia Federal a exclusividade pela normatização, controle e fiscalização da segurança privada e instituiu taxas para a prestação dos serviços.

166 elaboração da cocaína e de outras substâncias entorpecentes. Esta lei foi substituída pela lei 10.217 de 2001, também sobre o mesmo tema (alterou do artigo 1° ao 14°).

A primeira lei, de um modo geral, tratava da fiscalização e controle da pasta de cocaína, pasta lavada e cloridrato de cocaína. A lei 9.017 foi oriunda de Medida Provisória - MPV N° 933- apresentada dia 01/03/1995 e sancionada pelo presidente Fernando Henrique em 30/03/1995. O mesmo texto era válido para outras substâncias entorpecentes que causassem dependência física ou psíquica. O foco de uma maneira geral era a cocaína. Cito, por exemplo, o art. 1° da lei 9.017 de 1995: “Art. 1º Estão sujeitos a controle e fiscalização, na forma prevista nesta lei, em sua fabricação, produção, armazenamento, transformação, embalagem, venda, comercialização, aquisição, posse, permuta, remessa, transporte, distribuição, importação, exportação, reexportação, cessão, reaproveitamento, reciclagem e utilização, todos os produtos químicos que possam ser utilizados como insumo na elaboração da pasta da cocaína, pasta lavada e cloridrato de cocaína.”.

Na lei 10.217 de 200196 houve uma mudança substancial do artigo primeiro. O foco na cocaína dá lugar ao estabelecimento de formas de controle e fiscalização sobre quaisquer produtos químicos que, direta ou indiretamente, possam ser destinados à elaboração de substâncias psicotrópicas, entorpecentes ou que causem dependência física ou psíquica. Ficou assim o artigo após a Lei 10.217 de 2001:

Art. 1o Estão sujeitos a controle e fiscalização, na forma prevista nesta Lei, em sua fabricação, produção, armazenamento, transformação, embalagem, compra, venda, comercialização, aquisição, posse, doação, empréstimo, permuta, remessa, transporte, distribuição, importação, exportação, reexportação, cessão, reaproveitamento, reciclagem, transferência e utilização, todos os produtos químicos que possam ser utilizados como insumo na elaboração de substâncias entorpecentes, psicotrópicas ou que determinem dependência física ou psíquica.

§ 1o Aplica-se o disposto neste artigo às substâncias entorpecentes, psicotrópicas ou que determinem dependência física ou psíquica que não estejam sob controle do órgão competente do Ministério da Saúde. § 2o Para efeito de aplicação das medidas de controle e fiscalização previstas nesta Lei, considera-se produto químico as substâncias químicas e as formulações que as contenham, nas concentrações

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estabelecidas em portaria, em qualquer estado físico, independentemente do nome fantasia dado ao produto e do uso lícito a que se destina.

As medidas administrativas a serem aplicadas no caso de descumprimento da norma de 1995 eram as seguintes: Art. 11. O descumprimento das normas estabelecidas nesta lei, independentemente de responsabilidade penal, sujeitará os infratores às seguintes medidas administrativas, aplicadas cumulativa ou isoladamente: (Revogado pela Lei nº 10.217, de 27.12.2001): I apreensão de produtos e insumos químicos em situação irregular; II - suspensão ou perda de licença de funcionamento do estabelecimento; III - multa de duas mil Ufirs a um milhão de Ufirs ou unidade-padrão que vier a substituí-la. Parágrafo único. Das sanções aplicadas, caberá recurso ao Diretor do Departamento de Polícia Federal, no prazo de quinze dias a contar da notificação do interessado.

A lei de 2001 acrescentou algumas medidas como a advertência formal, revogação da autorização especial e estabeleceu multa de R$ 2.128,20 (dois mil, cento e vinte e oito reais e vinte centavos) a R$ 1.064.100,00 (um milhão, sessenta e quatro mil e cem reais)97.

5.3.3 SINARM – porte de arma às guardas municipais

A lei 10.867 de 2004 modificou o SINARM autorizando o porte de arma às guardas municipais nos municípios com mais de 50.000 habitantes e menos de 500.000 nas regiões metropolitanas. A norma, numa dimensão claramente reativa, é de autoria do Executivo através de Medida Provisória n° 157 de 21/12/2003 e sancionada pelo presidente

97

Art. 14. O descumprimento das normas estabelecidas nesta Lei, independentemente de responsabilidade penal, sujeitará os infratores às seguintes medidas administrativas, aplicadas cumulativa ou isoladamente: I – advertência formal;II – apreensão do produto químico encontrado em situação irregular; III – suspensão ou cancelamento de licença de funcionamento; IV – revogação da autorização especial; e V – multa de R$ 2.128,20 (dois mil, cento e vinte e oito reais e vinte centavos) a R$ 1.064.100,00 (um milhão, sessenta e quatro mil e cem reais). § 1o Na dosimetria da medida administrativa, serão consideradas a situação econômica, a conduta do infrator, a reincidência, a natureza da infração, a quantidade dos produtos químicos encontrados em situação irregular e as circunstâncias em que ocorreram os fatos. § 2o A critério da autoridade competente, o recolhimento do valor total da multa arbitrada poderá ser feito em até cinco parcelas mensais e consecutivas. § 3o Das sanções aplicadas caberá recurso ao Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal, na forma e prazo estabelecidos em regulamento.

168 Lula em 12/05/2004. Antes da promulgação do novo texto o SINARM autorizava o porte de arma de fogo nas cidades acima de 250.000 habitantes:

Art. 6º...É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para: IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004)

A seguir, apresento alguns exemplos de leis que instauraram arranjos organizacionais em segurança pública e justiça criminal que, de diferentes formas, buscaram o que denominei de arranjos organizacionais alternativos, pois, visaram uma atuação supostamente menos reativa e mais uma atuação em fatores causais, situacionais e sociais relacionados à criminalidade.

5.4 Arranjos institucionais alternativos, preventivos das organizações de segurança