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A educação é a qualidade-chave do trabalho; os novos produtores do capitalismo informacional são aqueles geradores do conhecimento e processadores da informação cuja contribuição é mais valiosa para a empresa, a região e a economia nacional (CASTELLS

apud HARGREAVES, 2001, p.7).

Na sociedade que envolve economia, trabalho e informação, espera-se dos professores uma atitude voltada para as inovações, ou melhor, espera-se que eles sejam estimuladores de mudanças. Assim, algumas das atribuições do professor deste século são apontadas por Hargreaves (2001):

•promover uma profunda aprendizagem cognitiva;

•comprometer-se com uma contínua aprendizagem profissional;

•aprender a ensinar de uma forma que eles próprios não foram ensinados;

•trabalhar e aprender em grupos;

•desenvolver capacidade de mudança, risco e investigações;

•construir organizações de aprendizagem.

Ao analisar as atribuições acima, chega-se à conclusão de que o professor está com a incumbência de construir para si um novo perfil profissional, ou seja, em alguns momentos será necessário um rompimento com a ideologia de profissionalismo de antes, segundo a qual o professor dispunha de autonomia para ensinar o que queria, trilhando caminhos que lhe eram mais familiares.

Não apenas as evoluções tecnológicas, a ameaça do desemprego, a exacerbação do capitalismo, as exigências da globalização, mas o próprio sentido do trabalho tem sofrido mudanças muito sensíveis, bem analisadas por vários sociólogos. Por certo, o professor sofre as injunções desses e de

outros fatores em seu trabalho, mas é forçoso reconhecer que sua posição como “profissional” continua situada em local de destaque em nossa sociedade, pela própria função que desempenha na base estrutural dessa sociedade. (LÜDKE; BOING, 2007, p.1.196)

Neste novo universo social há uma preocupação constante dos governos, das empresas, dos educadores, no que diz respeito à sociedade do conhecimento; assim, o papel das escolas na preparação das crianças e dos jovens para conviverem nesta sociedade tem sido o foco principal das discussões.

Quando se fala em aprendizagem para inserir-se neste novo contexto social, espera-se do jovem um elevado padrão de aprendizagem cognitiva, uma vez que criatividade e conhecimento para a resolução de problemas desconhecidos significam ruptura com a memorização e com a reprodução mecânica do que foi memorizado.

Essa nova realidade social exige, dos professores e dos demais trabalhadores, engajamento em ação, investigação e resolução de problemas juntamente com grupos colegiados ou comunidades de aprendizagem profissional (McLAUGHLIN; TALBERT

apud HARGREAVES, 2001, p.9).

Envoltos nesse conjunto de atribuições e expectativas, tanto a escola quanto seus professores estão sujeitos a um processo de mudanças contínuas, visto que nesta sociedade do conhecimento as informações circulam rapidamente pelo mundo, ratificando a impossibilidade, para a escola e para o sistema educacional, de caminhar lado a lado com tais transformações.

Ensinar para a sociedade do conhecimento, então, envolve a preocupação com a aprendizagem cognitiva; com o trabalho em grupo; com o auto-monitoramento profissional; com o uso inovador de tecnologia, informação, dados; com a pesquisa; com a resolução de problemas; implica assumir riscos, mudar e melhorar continuamente (HARGREAVES, 2001, p.9).

Numa análise social, enquanto os professores trabalham no sentido de renovar a sociedade informacional, espera-se desses mesmos professores que diminuam as desigualdades sociais provocadas por essa mesma sociedade, ou seja, espera-se que eles sejam contrapontos para essa sociedade.

Hargreaves (2001, p.12) indica alguns procedimentos que considera como contrapontos dos professores para a sociedade do conhecimento. Sugere que eles:

•promovam aprendizagem e compromisso social e emocional;

•comprometam-se continuamente com o desenvolvimento profissional e pessoal;

•aprendam a relacionar-se diferentemente com os outros, substituindo as condições de interação por laços e relacionamentos duradouros;

•trabalhem e aprendam em grupos colaborativos;

•preservem a continuidade e a confiança básica;

•construam organizações de cuidado.

Entre tantas expectativas, espera-se também da educação pública a formação de jovens conscientes do seu papel na sociedade, em que valores como caráter e o sentimento de comunidade são elementos imprescindíveis para o fortalecimento da democracia. No âmbito destas discussões, os professores assumem o papel de construtores da democracia comunal que caminha junto com a sociedade do conhecimento e é também ameaçada por ela.

Na sociedade informacional, o novo profissionalismo docente carrega consigo alguns componentes sociais e emocionais, assim como intelectuais e cognitivos – para estabelecer laços emocionais com e entre crianças e para propor a construção de blocos de empatia, tolerância e compromisso para com o bem público (HARGREAVES, 2001, p.12).

A diversidade cultural e social dos estudantes impõe ao professor um mandato social e emocional para o profissionalismo, elemento fundamental para professores comprometidos não apenas com sua aprendizagem contínua, mas também com o seu desenvolvimento como pessoa e como profissional (HARGREAVES, 2001, p.12).

Com esse mandato, os professores constroem caráter, maturidade e outras virtudes neles próprios e nos outros, assim como constroem conhecimento, transformam suas escolas em comunidades morais (SERGIOVANNI apud HARGREAVES, 2001, p.13). Pode-se afirmar que ser professor não significa apenas transmitir conteúdos, mas também estar preocupado com a aprendizagem cognitiva, social e emocional; desenvolver-se no campo pessoal e profissional; investir na sua aprendizagem profissional, na vida e no trabalho em grupo.

No entanto, nas últimas décadas essa profissão vem sofrendo um acelerado processo de precarização. Para discutir tal processo, inicialmente abordaremos as condições do trabalho docente.

3. OT

RABALHO

D

OCENTE

:P

ARTICULARIDADES

,T

RANSFORMAÇÕES E

P

RECARIZAÇÃO

A minha profissão não é igual nem um dia, eu particularmente me sinto desafiado todos os dias, nem tanto pelos alunos, mas no intuito de buscar uma Matemática mais agradável ao jovem.

(Professor Ariovaldo)

3.1. Introdução

O objetivo deste capítulo é discutir o trabalho docente, tomando como eixo de discussão o confronto de análises entre o trabalho industrial e o trabalho exercido sobre seres humanos e para seres humanos.

Nessa perspectiva é importante ressaltar as transformações ocorridas nos últimos anos, no que diz respeito ao status das atividades trabalhistas, que passaram de um foco totalmente voltado para a produção de bens materiais — que durante muito tempo formaram a base das sociedades industriais — para um olhar mais atento ao ser humano como um todo.