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3 O AMBIENTE ACADÊMICO DA ARQUITETURA E URBANISMO

3.1 NOVAS ESCOLAS, PROCESSOS TRADICIONAIS

Segundo RASKIN (1974, p 96) as modalidades do ensino de Arquitetura podem ser agrupadas em cinco tipos básicos de escolas, norteadoras do entendimento deste ambiente acadêmico, pois ainda hoje as faculdades de AU, em seus aspectos gerais (mesmo as recém-inauguradas) são moldadas nos protótipos por ele descritos. Apresentam-se aqui as características essenciais de cada uma dessas modalidades, com atualização de algumas notas e supressão de outras, por se apresentarem algumas vezes obsoletas, outras desnecessárias ao estudo:

▪ Escola de Belas Artes: é uma modalidade já extinta no Brasil. O ensino é concentrado na composição estética do edifício. É dada uma extensiva formação artística aos alunos e ênfase no desenho e na modelagem do edifício.

Problema fundamental: esta modalidade de ensino tem uma visão arcaica do

significado da Arquitetura e tendência a tornar o ensino acadêmico e conservador, direcionado pela filosofia estética dominante na escola ou no meio social;

▪ Escola Técnica: da qual a Bauhaus é modelo e exemplo mais perfeito. Baseia o ensino no conhecimento prático de técnicas e dos materiais, com a participação direta dos alunos que passam a projetar apenas depois de dominarem esta etapa inicial. São escolas conceituais, que trabalham com princípios racionalistas e morais. Exigem professores carismáticos e de prestígio, e atraem os alunos mais brilhantes. O aluno deve se interessar, basicamente, pelas artes plásticas, música e literatura.

Problema fundamental: este tipo de ensino tende a se tornar dogmático,

estimulando a admiração excessiva pelos mestres, sendo grande o nível de competição entre as classes ou equipes de trabalho;

▪ Escola Socialista: o ensino centra suas preocupações sobre as relações do edifício e a comunidade (a sua economia, organização social e política, padrões culturais, meio ambiente, etc.). Os trabalhos envolvem longas pesquisas de campo, manuseio de dados estatísticos, discussões, análises e diagnósticos. O curso de Arquitetura da Universidade de Brasília estava muito próximo deste modelo na década de sessenta.

Problema fundamental: nesta direção, os meios se tornam mais importantes que os fins. Produzem-se belos relatórios e uma arquitetura indigente;

▪ Escola Tradicional: é o modelo de escola mais difundido no mundo inteiro. A sua proposta é centrar o desenvolvimento do ensino sobre uma linha de prática de projeto, cuja complexidade aumenta na medida em que o aluno evolui no curso. Paralelamente, o aluno freqüenta disciplinas de apoio que fornecem subsídios técnicos, estéticos, teóricos, históricos e legais à prática de prancheta. É problemática a observância de eficiência ou não neste processo, tendo em vista que o mister do arquiteto é a elaboração de projetos.

Problemas fundamentais: primeiro, as disciplinas auxiliares não têm a importância que requerem por estarem colocadas em uma posição secundária em relação às práticas. Em segundo lugar, a ênfase no desenho pode ser facilmente desviada para o grafismo, a especulação formal e o fantasioso. Confunde-se a Arquitetura com o projeto e afasta o aluno da realidade da obra e de todos os fatores intervenientes no processo de planejamento de um edifício;

▪ Escola de Arquitetos Especialistas: aplicada nos Estados Unidos. Forma arquitetos especialistas em tecnologia das edificações como estruturas, construção, planejamento, gerenciamento de obras e outros; ou especialistas temáticos que normalmente se formam nas empresas, no estágio probatório entre a graduação e a obtenção da licença profissional, dirigidos para o planejamento de hospitais, edifícios desportivos, habitações, etc. A maioria das escolas norte-americanas de Arquitetura, embora mantendo a estrutura tradicional, abrem oportunidades para áreas de especialização, após um período de formação básica comum.

Problema fundamental: considerando-se a natureza do trabalho do arquiteto,

o enfoque da especialização invade áreas da Engenharia e cria um híbrido: o arquiteto-engenheiro;

Durante a reforma do ensino de Arquitetura, ocorrida na década de trinta, o arquiteto Lúcio COSTA (apud ALMEIDA, p. 105) assinalava que a Arquitetura é “fundamentalmente, artes plásticas”. Mas não menos importantes eram as disciplinas de cunho tecnológico, como a Engenharia Civil, no pensar do arquiteto, que defendia um currículo de Arquitetura com disciplinas de formação plástica e

técnico-científica.

Atualmente, na opinião dos arquitetos urbanistas, de uma forma genérica, há diferenças substanciais entre a visão arquitetônica estabelecida nas faculdades de belas-

artes e à politécnica (Engenharia Civil), supondo-se uma oposição entre o conhecimento artístico (sensibilidade) e o científico (racionalidade). Sobre o que sublinha Lúcio Costa: “a beleza unifica as duas opostas situações, o sentimento e o pensamento; embora entre elas não haja absolutamente meio termo” (apud ALMEIDA, p. 105).

A esta questão, complementa ainda BONGESTABS (1992, p. 151) que “nenhuma das modalidades listadas pode ser encontrada sob forma pura e talvez não seja mesmo possível ter-se uma escola de Arquitetura ideal”. Isto porque, no pressuposto de SALVATORI (BONGESTABS, 1992, p. 151), “arquitetura, na verdade, não pode ser ensinada (por isto não existem boas escolas de arquitetura). Mas, arquitetura pode ser aprendida (esta é a razão pela qual existem bons arquitetos)”.

No que concerne ao estudo em questão, as palavras de Salvatori surgem como estímulos poderosos ao aprendizado elaborado pelos próprios alunos, já que o manejo, o controle e as iniciativas para a reflexão e prática da Arquitetura, através dos estudos integrados e suportados pelo computador e suas interfaces, partem do educando, construindo-se um processo de insight, que posteriormente é externado aos demais grupos de interesse.

Já a menção supracitada de Bongestabs, de que não se encontram faculdades de Arquitetura na forma original dos padrões pré-determinados por Raskin, mesmo que austera por destacar a falta de uma escola ideal neste campo, é considerada de extrema relevância perante a estratégia da integração entre as Instituições escolhidas, e mesmo para os recém estabelecidos e futuros cursos de Arquitetura. Pois assim ajuizada, institui confiabilidade ao fato de que, nenhuma das faculdades apresentaria perdas em seus aspectos formais, pois todas, a priori, se apóiam e organizam, de uma maneira geral, nas teorias do conhecimento anteriormente textualizadas e nos moldes apresentados por Raskin, e podem, portanto, dentro de suas peculiaridades, interagir entre si sem as restrições pedagógicas tradicionais que muitas vezes padronizam o ensino, condenam o aprendizado e o exercício pedagógico do educador.