• Nenhum resultado encontrado

Novas formas de relação do Banco Mundial com União, Estados, Distrito Federal e

No início da gestão do Presidente Lula, parecia ocorrer um redirecionamento com a orientação dominante do Banco, no entanto houve uma certa continuidade no que se refere à política restritiva de gasto público, que limita os investimentos para o setor de educação, além do que manteve-se o país alinhado às prescrições do Banco Mundial, BID13e da OCDE.

As relações do governo brasileiro, a partir de 2004, com o Banco Mundial foram estabelecidas com base numa nova abordagem para os financiamentos. Esta abordagem faz uso de instrumentos tradicionais, os EPAs (Empréstimos para Programas Adaptáveis), que estão sujeitos a revisões e avaliações periódicas, mas adotam ações diferenciadas no que concerne à compreensão do que seja setorial, bem como adota outra forma de liberação de recursos.

A abordagem é conhecida como SWAps (Sector Wide Approaches) ou Programas com Enfoque Setorial Amplo são mecanismos que buscam apoiar programas de reformas setoriais baseados em objetivos de desenvolvimento de longo prazo. A principal característica é o estabelecimento de parcerias entre os vários financiadores e uma abordagem sistêmica setorial com base em idéias dos governos. As características básicas de um SWAP são: a) ser amplo nos limites de um setor determinado; b) ter uma diretriz política clara e coerente; c) amplo

13

O Banco Interamericano de Desenvolvimento foi criado formalmente em 1959, quando a Organização dos Estados Americanos redigiu o acordo de fundação. O BID é uma organização financeira internacional, com sede na cidade de Washington, E.U.A, criada com o propósito de financiar projetos viáveis de desenvolvimento econômico, social e institucional e promover a integração comercial regional na área da América Latina e o Caribe. Atualmente o BID é o maior banco regional de desenvolvimento a nível mundial e serviu como modelo para outras instituições similares a nível regional e sub-regional.

envolvimento dos apoiadores locais; d) concordância de todos os principais doadores/financiadores; e ser implementado em conjunto por todos os parceiros; f) depender mais da capacidade local e menos da assistência técnica prestada pelo Banco (MACHADO, 2005).

Mas, independente do instrumento adotado para a concessão do financiamento, percebe-se uma ênfase de autonomia de gestão, uma estrutura de gestão estranha à cultura local; um modelo de gestão não sustentável ao final do financiamento e por fim uma dependência dos sistemas de recursos (MACHADO, 2005).

Na visão do Banco Mundial, nas duas últimas décadas, o Brasil estabeleceu um marco de gestão macroeconômica eficaz, baseado na responsabilidade fiscal, em regras de relacionamento entre os diferentes níveis de governo e em um regime de metas de inflação com câmbio flutuante. No tocante à redução da pobreza, o Banco Mundial destaca o programa Bolsa Família14, onde foram obtidos resultados substanciais, levando cerca de 22 milhões de brasileiros a saírem da condição de pobreza (BANCO MUNDIAL, 2011).

Assim, os técnicos e diretores do BM insistiram e recomendaram seis objetivos estratégicos e a focalização em ações setoriais especificas com diálogo entre o Governo Federal, subnacionais e o setor privado. Esses objetivos são: estimular a inclusão social e produtiva, melhorar as condições de infra-estrutura no país, fomentar o desenvolvimento de cidades sustentáveis, aprimorar a capacidade institucional dos entes públicos, incrementar a gestão sustentável de recursos naturais e as ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, fortalecer o setor privado do país (BANCO MUNDIAL, 2011, p. 2 a 12). Dessa forma o Banco mantém a curto e médio prazo um trabalho nos três níveis de Governo (Federal, Estadual e Municipal), confirmando a tendência de uma agenda subnacional.

Segundo o Banco Mundial, para se adequar à dinâmica do mercado, o Estado brasileiro deveria assumir uma concepção gerencialista pautada na descentralização política e administrativa. O que mais se adequaria a esta demanda seria o modelo da administração privada, mesmo nos setores onde o capital privado não tenha interesse, o Estado financia com recursos públicos, mas a gestão deve seguir o

14

OPrograma Bolsa Família é um programa federal de transferência direta de renda que beneficia mais de 13 milhões de famílias. Trata-se de um dos programas de proteção social mais eficaz do mundo. Ajudou a retirar cerca de 20 milhões de pessoas da pobreza (entre 2003 e 2009) e a reduzir significativamente a desigualdade de renda no país. (www.mds.gov.br, acessado em maio de 2013).

modelo das instituições que dispõem de capital privado, devendo o setor da educação pública seguir esta lógica, na gestão do sistema e da escola.

Todo esse processo é orientado pelas políticas neoliberais na medida em que tece uma nova relação entre o mercado e a educação. Este conceito de quase- mercado está ligado a novas práticas de administração dos serviços não exclusivos do Estado, assim como a substituição de mecanismos de administração burocráticos por mecanismos de mercado (OLIVEIRA, 2009).

Na educação, esta orientação gerencialista, segundo Fonseca (2004), se expressou na Lei 9.394/96, que enfatizou o trinômio: produtividade, eficiência e qualidade e no Plano Nacional de Educação de 2001-2010, que estabeleceu como pilar da gestão democrática a autonomia escolar, para o financiamento, administração e controle de recursos financeiros. Desta forma, o exercício da autonomia pressupõe descentralização, com foco na corresponsabilidade das instituições educacionais, incluindo os vários níveis da hierarquia do poder público, até a comunidade escolar.

Esta nova visão sinaliza o estabelecimento de uma nova cultura escolar, ancorada pelo tripé composto por estratégias de descentralização, autonomia e liderança no âmbito escolar.

A cultura descentralizante ganha espaço significativo nos próprios textos legais brasileiros. A Constituição Federal de 1988, em seu capítulo dedicado à educação, estabelece como princípio orientadores a gestão democrática dos sistemas de ensino público (Art. 206), a igualdade de condições de acesso à escola e a garantia de padrão de qualidade. A LDB, 1996 também dispõe sobre a gestão democrática (Art. 3º), estabelecendo orientações para a organização do espaço físico, para o trabalho pedagógico, para a participação dos atores escolares e para a integração entre escola e comunidade. O que mais se destaca nos textos legais é que são atribuídos papéis cada vez mais complexos à gestão escolar, a qual passa a responsabilizar-se pelo funcionamento do sistema escolar e também pela realização dos princípios fundamentais de igualdade de oportunidades educativas e de qualidade do ensino. A integração escola-sociedade, uma das exigências da gestão democrática, dar-se-ia pela participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (FONSECA, 2004, p.21 e 22).

No documento Estratégia (2010-2015) está registrada as parcerias atuais entre o Brasil e o Banco Mundial inclui o Programa Saúde da Família, os projetos sustentáveis de desenvolvimento rural no Nordeste, nas áreas de educação, água e intervenções urbanas (Banco Mundial, 2011).

Embora os empréstimos do Banco Mundial que tenham diminuído nesta última década, conforme apresentado no gráfico 1, na década anterior eles eram

significativamente altos, dando prioridade, conforme estabelecido em nível mundial, ao setor social e foram incrementados os empréstimos para o setor educacional. No caso brasileiro percebe-se que o Banco continua seu foco na política da área social atuando no maior programa de distribuição de renda, o Bolsa família. Mesmo não sendo o aporte financeiro de grande monta, mas a concepção gerencialista racionalista está presente nos eixos eficiência, eficácia e produtividade na ótica do capital, de matriz neoliberal.

Gráfico 1 - Empréstimos do Banco Mundial ao Brasil (Milhões de US$) de 2009 a 2013

Fonte: (Site do Banco Mundial.

Acessado em setembro 2012)

Segundo dados do Banco, em julho de 2012, havia 79 projetos ativos financiados pelo Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) em atividade no Brasil, totalizando US$ 9,1 bilhões alocados. Além deles, estavam em curso 23 projetos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente – implementado pelo Banco Mundial, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) –, totalizando US$ 320 milhões em doações e garantias (BANCO MUNDIAL, 2012). Ao analisar os dados percebe-se um direcionamento no montante dos recursos para Estados e Municípios.

De acordo com o relatório nº 63731-BR três quartos do total de compromissos do Banco foram para os estados e municípios, por isso o montante dos empréstimos com o governo federal diminuíram de 2009 a 2013, conforme apresentado no gráfico 1. Embora a parceria com o Brasil tenha se mantido, o foco dos empréstimos agora é o nível subnacional, pois eles respondem por mais de 50% das despesas do setor público e são os principais fornecedores de serviços de educação. Dessa forma, o

objetivo do Banco é buscar pressionar/condicionar os estados a progredirem rumo a um foco mais amplo para a gestão do setor público com base em resultados, acordos de desempenho e sistemas de monitoramento e avaliação. Atualmente (2013), oito estados: Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pernambuco, Acre, Alagoas e Bahia e os municípios de Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo, Recife, Rio de Janeiro estão implementando esta abordagem. Disposto a manter sua influência sobre as políticas de seus clientes, o Banco Mundial desenvolveu sua estratégia para a década 2010-2020, que será tratada a seguir.