II. OS ASPECTOS JURÍDICOS RELEVANTES DA NOVA LEI DA ADOÇÃO
2.4. As Novas Políticas De Atendimento
A nova Lei de Adoção foi elaborada para garantir o direito da criança ser
criada dentro do seio familiar, mas para que isso ocorra é necessário que Estado e sociedade
estejam unidos com o mesmo objetivo. Não basta criar uma lei, devem-se também criar
mecanismos para ela seja cumprida de modo satisfatório, alcançando seu propósito.
Nas palavras de Rossato e Lépore (2010, p. 74)
É sabido que as instâncias públicas governamentais e da sociedade civil devem agir
de forma articulada e integrada, constituindo o que se convencionou chamar de
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, com aplicação de
instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa
e controle para efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos
níveis Federal, Estadual, Distrital e Municipal. Identificam-se, assim, os três eixos
do Sistema de Garantia: promoção, defesa e controle para efetivação dos direitos
humanos da criança e do adolescente.
A nova lei incluiu no artigo 87, os incisos VI e VII,
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o período de
afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo exercício do direito à
convivência familiar de crianças e adolescentes;
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou
com deficiências e de grupos de irmãos.
Essa alteração demonstra a grande preocupação do legislador em manter as
crianças junto da família, daí a necessidade de criar políticas sociais públicas7 aptas a
proporcionar recursos, como atendimento psicológico, pedagógico, materiais, entre outros que
possam reduzir o tempo de afastamento do convívio familiar.
Assim, União, Estados e Municípios são responsáveis pelas políticas
públicas de atendimento a crianças e adolescentes. A União criou o Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), sua função é de elaborar as diretrizes da
política de atendimento, bem como fiscalizar seu cumprimento (art. 2º, Lei 8242/91). Existe
também um Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente, cuja receita é composta de
doações, promovendo o incentivo fiscal ao contribuinte que pode deduzir os valores doados
do Imposto de Renda, na forma do art. 260, do ECA. Na esfera Estadual temos os Conselhos
Estaduais dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA). Os Municípios mantêm os
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e os Conselhos
Tutelares.
7
“São os mecanismos executados pelo Poder Público com a intenção de aniquilar ou reduzir drasticamente o
espectro da fome e da pobreza e da injustiça social.” (SILVA, José Luiz Mônaco da, apud ISHIDA, p.11,
2010).
O estatuto menciona por várias vezes a Política Municipal de Garantia do
Direito à Convivência Familiar, que está inserido no Plano Nacional de Convivência Familiar
e Comunitária que preceitua a criação de planos nas esferas Estaduais e Municipais, que
efetivem a política, conforme os parâmetros gerais de elaboração e composição. Recomenda a
criação de Comissão Municipal, composta pelo Poder Judiciário, Ministério Público e
representantes do Conselho Tutelar; de Conselhos Setoriais, Secretarias Municipais e
sociedades não governamentais. A Comissão Municipal compete à elaboração da Política
Pública Municipal, de acordo com a realidade local e suas necessidades, contendo objetivos e
ações para acompanhamento e avaliação, atendendo a orientação do Plano Nacional, será
formalizada por Resolução conjunta do CMDCA e CMAS, ou por Decreto Executivo ou
Portaria. Em caso de omissão do município na implementação dessas políticas públicas, pode
ser ajuizada uma ação de obrigação de fazer. Pelo princípio da municipalização, a União
deixou de ser a principal responsável pelas políticas públicas, passando a serem
implementadas, na maioria das vezes, pelos municípios.
O município deve contar com técnicos responsáveis pela execução dessa
política. São profissionais, como assistentes sociais, psicólogos, entre outros, que atuarão com
objetivo conservar a convivência familiar, caso não seja possível, devem preparar a família
substituta para receber a criança, realizando o acompanhamento posterior. A equipe de
interprofissionais é fundamental para a viabilização da inserção em família substituta, atuando
a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, pois elaboram o laudo que deve ser
encaminhado ao juízo.
Caso não seja possível o retorno da criança à sua família, surge a
necessidade de criação de planos de acolhimento, nasce o dever de procurar uma nova família
para aquela criança. O inciso VI, do artigo 87, preceitua a realização de campanhas de
estímulo ao acolhimento das crianças e adolescentes afastados do convívio familiar. O
acolhimento pode ser institucional ou familiar.
A entidade de acolhimento institucional, antes chamada de abrigo, pode ser
governamental ou não, exigindo-se que seja registrada no Conselho Municipal de Direitos,
podendo ter o pedido de registro negado caso não atendam aos requisitos (artigo 91), ou não
cumpram as resoluções do Conselho. Devem ser renovados os registros pelo menos a cada
quatro anos, e seus programas reavaliados em período máximo de dois anos. Além disso,
necessitam de buscar a certificação de qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
formulando requerimento ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público e à Justiça da Infância e
da Juventude. Levando-se em consideração os índices positivos no desenvolvimento de seu
trabalho que resultaram a reintegração familiar ou adaptação à família substituta.
A entidade de acolhimento familiar não foi citada nos dispositivos
inovadores do Estatuto, o que demonstra uma pequena falha do legislador, quando deixou de
incluí-la no rol do artigo 90, tendo em vista que o artigo 92 faz menção expressa a esta
entidade. Mas o que realmente interessa é que esta entidade atenda as crianças e adolescentes
que, por diversos motivos, tenham que se afastar de sua família, proporcionando a qualidade
do atendimento e acompanhamento para com eles, suas famílias de origem e as famílias
acolhedoras.
Além dessas políticas de atendimento à criança e ao adolescente, o Poder
Público, através do Sistema Único de Saúde, deve garantir, no caso de gestantes e mães, além
do direito ao acompanhamento médico no período pré e perinatal, a prestação de assistência
psicológica, com intuito de prevenir ou amenizar as possíveis consequências do estado
puerperal. Esta assistência deve ser prestada principalmente àquelas que manifestem interesse
de entregar seus filhos à adoção, recebendo suporte de profissionais especializados, com
intuito de que permaneça com o filho, tentando manter a criança junto à família natural, para
que somente se socorra da adoção em último caso.
III. A ADOÇÃO E O MELHOR INTERESSE
No documento
Izilda Maria Kavanami Sakaguchi. A Nova Lei de Adoção e o Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente
(páginas 37-41)