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2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.3 Novas tecnologias na prática docente

2.3.1 Novas tecnologias e a habilidade de aprender Papert em

O sul-africano Seymour Papert é apontado como o pioneiro na defesa da introdução de computadores em sala de aula, como instrumento para o processo de aprendizado. Suas idéias vão além da técnica. Seu convívio com Jean Piaget contribuiu para o crescimento de sua preocupação com as crianças.

Ao articular conceitos da inteligência artificial com a teoria Piagetiana, Seymour Papert propôs, entre 1967 e 1968, uma metodologia e uma linguagem de programação Logo, que constituíram a abordagem construcionista. A idéia dessa linguagem era dar à criança controle sobre a tecnologia, permitindo que ela programasse a máquina, ao invés de ser programada por ela.

Na era das tecnologias na sociedade de informação e comunicação, o currículo sofre mudanças para corresponder aos desafios deste tempo. A idéia de um currículo linear lembra o sistema de produção em série industrial. Atualmente a organização curricular aponta para que se aprenda a perceber a necessidade de cada indivíduo. Esse indivíduo é quem vai ditar o que precisa aprender, a que hora e com que intensidade.

O uso de computadores foi proposto por Papert entre1985 e 1994 com base em diferentes pensadores contemporâneos, cujas idéias não se contrapõem, mas se inter-relacionam diante de uma concepção dialógica. Dewey, Freire, Piaget e Vigotsky são os principais inspiradores do pensamento de Papert (PAPERT, 1999).

Dewey considerou a aquisição do saber como fruto da reconstrução da atividade humana a partir de um processo de reflexão sobre a experiência, continuamente repensada e reconstruída.

O princípio da continuidade, estabelecido por Dewey reforça que toda nova experiência é construída a partir das experiências anteriores do indivíduo, que, por sua vez, constrói o novo conhecimento, estabelecendo conexões com os conhecimentos adquiridos anteriormente. A educação, portanto, deve se desenvolver segundo os princípios da continuidade e da interação, que estão em contínua conexão entre si (MORAES, 1996).

Segundo Dewey, a máquina é instrumento produzido pelo homem para regular interações e garantir determinadas consequências, sendo aperfeiçoada à medida que é utilizada. Papert retoma de Dewey a importância dada à experiência significativa para a criação de um ambiente de aprendizagem e descoberta. Assume também o pensamento de Dewey, ao considerar, como critério fundamental, que os conhecimentos trabalhados no computador são apropriáveis, segundo os princípios da continuidade, do poder e da ressonância cultural (DOWBOR, 1994).

Para Freire (1995), educação é uma busca constante do homem, que deve ser o sujeito de sua própria educação, “o homem não pode ser o objeto dela. Por

prioridade ao diálogo entre o conhecimento que o educando traz e a construção de um saber científico. Para reafirmar o diálogo entre Papert e Freire vale citar:

A educação não se reduz à técnica, mas não se faz educação sem ela. Utilizar computadores na educação, em lugar de reduzir, pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas. Depende de quem a usa, a favor de que e de quem e para quê. [...] O homem concreto deve se instrumentar com os recursos da ciência e da tecnologia para melhor lutar pela causa de sua humanização e de sua libertação. (FREIRE, 1995).

Papert retoma de Freire a crítica à educação bancária e à questão da alfabetização ler a palavra e ler o mundo, criando espaço para que o aluno se torne sujeito do próprio processo de aprendizagem, por meio de experiência direta. Ilustrando o exposto acima, vale citar Papert.

A verdadeira alfabetização computacional não é apenas saber como usar o computador e as idéias computacionais. É saber quando é apropriado fazê-lo [...] A ferramenta computacional pode ser o instrumento que permita romper com a abordagem instrucionista que caracteriza a educação tradicional em prol de uma educação progressista (PAPERT,1994).

Papert e Freire se distanciam no que se refere ao grau de relevância que um e outro atribuem à escola tal como está hoje, e principalmente quanto às reais possibilidades de mudar a escola. Freire concorda com a denúncia de Papert no que diz respeito à qualidade da escola, mas não concorda com a idéia de que a escola esteja desaparecendo ou vá desaparecer. Ele acredita na possibilidade de modificá-la. “Eu continuo lutando no sentido de pôr a escola à

altura do seu tempo e isto não é soterrá-la nem sepultá-la, mas é refazê-la”.

(FREIRE, 1995).

Quando se tem acesso a redes de computadores interconectados a distância, a aprendizagem ocorre no espaço virtual, que precisa ser inserido nas práticas pedagógicas. Não se trata, porém, de propor o fim do espaço escolar, uma vez que o contato entre pessoas continua sendo primordial, e a escola é um espaço privilegiado de interação social.

Vigotsky e outros (1989), afirmam que a linguagem e o desenvolvimento sociocultural determinam o desenvolvimento do pensamento; portanto, a palavra, como categoria cultural, é parte integrante do desenvolvimento.

A fala, a escrita, os computadores... são instrumentos culturais, que espandem os poderes da mente, tornando a sabedoria do passado analisável no presente e passível de aperfeiçoamento no futuro (VIGOTSKY e outros, 1988).

Vigotsky relacionou a aprendizagem com o desenvolvimento em constructo, denominado zona de desenvolvimento proximal.

Papert considera em seu referencial o papel da palavra na aprendizagem, conforme a perspectiva de Vigotsky. A palavra é elemento fundamental nas inter-relações que se estabelecem em ambiente de aprendizagem computadorizado. O foro central dos estudos de Papert não é a máquina e sim a mente. “O computador é um “portador de germes” ou “sementes culturais”

que promove movimentos sociais, culturais e intelectuais (PAPERT, 1985).” Os

recursos incluindo o computador, portanto, não substituem a atividade construtiva do sujeito que aprende. Para que haja aprendizagem em ambientes computacionais, conforme o enfoque construcionista de Papert, devem ser considerados os conhecimentos significativos e a identificação da zona de desenvolvimento proximal do aluno. Uma das preocupações de Papert é que o uso das tecnologias não aumente o abismo entre classes sociais, em termos de conhecimento e de oportunidades.

Ao refletir a educação no contexto da globalização, Papert dá uma contribuição que revela esse seu pensamento.

Governos devem encontrar formas de dar aos pobres pleno acesso ao conhecimento de primeira classe. Países ricos devem entender que ajudando países mais pobres a fazer isso, não estarão fazendo caridade. O conhecimento é uma condição necessária para a estabilidade internacional, a proteção do meio ambiente e a paz.

(PAPERT, 2001).

As novas tecnologias, e em especial a tecnologia digital, tiveram sua evolução ligada à Internet e à multimídia.