• Nenhum resultado encontrado

Novos encaminhamentos e discussão da escrita no 2º semestre

Excerto 11: Atividade – Proposta de produção textual (Plano de aula 02) –Dupla D

3.2.2 Novos encaminhamentos e discussão da escrita no 2º semestre

As experiências vivenciadas no 1º semestre como regente da disciplina Estágio Supervisionado em Língua Materna I e o acompanhamento das diferentes etapas do estágio – o planejamento, a intervenção e a elaboração do relatório/reflexão sobre a prática de ensino – levaram-me a pensar em novos arranjos para a disciplina Estágio Supervisionado em Língua Materna II, no 2º semestre de 2014.

Como menciona Tripp, a pesquisa-ação tem como principal característica a investigação sobre a própria ação, observação, monitoramento e descrição da realidade investigada, além da avaliação para planejamento de novas ações. Desse modo, algumas das minhas estratégias na condução do estágio de regência no 2º semestre, precisaram ser replanejadas, tendo em vista que ao final do 1º semestre foram identificadas muitas lacunas nas atividades de estágio. O monitoramento, análise e avaliação durante a realização do estágio, apontaram inúmeras dificuldades na elaboração de planos de ensino, na mobilização de saberes teóricos para organização de atividades de ensino, na própria regência, em questões relacionadas à manutenção da atenção da turma, organização do tempo, correção de atividades. Além disso, em relação à escrita sobre as práticas, notei a insuficiência de registros de dados nos relatórios, avaliações dos resultados das atividades sem dados que permitissem comprovar a análise feita e uma tendência a explicar a sala de aula a partir do discurso do senso comum, da mídia ou do

20 Cf Resolução de Estágio do ILLA, 2014.

próprio discurso oficial, sem fixarem-se nas situações concretas de ensino e aprendizagem que vivenciavam.

O contexto de estágio no 1º semestre, mapeado e apresentado no item anterior, contribui no sentido de entender como os alunos pensavam o estágio. A partir desse levantamento, pude redirecionar as atividades a partir das inúmeras dificuldades apresentadas no 1ª semestre, tanto em termos de planejamento de aulas para o Ensino Fundamental, quanto na escrita do relatório. A seguir, apresentarei os encaminhamentos feitos no 2º semestre e continuarei a discutir o processo de escrita visando responder à pergunta que norteia a pesquisa: Qual é o papel da

escrita na construção da aula do estagiário?

Nas primeiras aulas propus que discutíssemos os resultados do estágio no semestre anterior a partir dos relatórios. Apontar, por meio de exemplos, as insuficiências da escrita - produzida no semestre anterior - me permitiu destacar a importância de escrever sobre a aula para que, ao voltar a situação relatada, a aula, em outro momento, eles pudessem alargar a experiência do estágio e ver de uma outra posição, ou o outro de si mesmo. Após essa conversa, enfatizei a necessidade de escrever sobre a aula, pois a escrita é parte da experiência de dar aula. Como havia notado a superficialidade dos registros, solicitei que, em vez de um relatório entregue apenas ao final do semestre, os estagiários escrevessem um diário21 e que registrassem aula a aula, tanto no momento de observação da turma, quanto durante as aulas ministradas. O diário é um instrumento importante para que as dificuldades, dilemas, acertos, dúvidas sejam registrados e, a seguir, sirvam para repensar a própria prática e para contribuir na construção de

um lugar para si nesse emaranhado de vozes sobre ensinar, como aponta Fairchild (2008,

p.227):

Neste momento em que o sujeito é convocado a se dizer (isto é, a passar a falar “como um professor”, “como um médico”, “como um advogado” etc.), ele imediatamente se engaja numa relação de poder travada sobre a borda das palavras, que se realiza no próprio ato de verbalizar um vivido, dar a ver uma identidade, ou, enfim, construir um lugar para si na imensa rede do discurso humano.

A escrita permite observar a situação de enunciação de “outro lugar” e, por ser responsiva, coloca o estagiário em posição de diálogo com diferentes vozes sobre o ensino de língua

21 Essa mudança também permitiu que eu acompanhasse mais de perto a escrita do relatório e pudesse fazer intervenções durante o processo de escrita e não apenas ao final. A mudança do termo “relatório de estágio” para “diário de estágio” foi para enfatizar a necessidade de escrever sobre cada uma das aulas (observadas ou ministradas).

portuguesa, inclusive as que aparecem em seu próprio enunciado, uma vez registrado no papel. Além de conversarmos sobre o papel da escrita, destaquei a necessidade de que os registros tivessem qualidade, isto é, registrassem exemplos de perguntas, respostas, dúvidas dos alunos e o desenvolvimento da aula, os textos e exercícios propostos. Nesse momento, apresentei alguns diários do banco de dados do projeto que apresentavam essas características, a fim de apontar o modo como os estagiários captavam a cena de enunciação e a relevância do registro detalhado para posterior análise. A finalidade não foi enfatizar a estrutura composicional do diário de campo, mas ilustrar o que estava denominando como “qualidade” dos registros.

Tais orientações objetivaram, principalmente, desafiar os alunos para que percebessem a sala de aula como um lugar a ser investigado com rigor, aguçar a percepção de dados para examinarem a linguagem, o ensino e a aprendizagem. Desse modo, no processo de formação, os futuros professores foram orientados a prestar atenção nos alunos, nas escolhas didáticas e as respostas que elas produziram, na dinâmica da escola e nos fatos da linguagem para realizarem intervenções calcadas na relação da teoria com a realidade escolar.

Após essas quatro primeiras aulas, os alunos foram para as escolas realizarem as observações e, posteriormente, encontramo-nos na universidade para que entregassem os diários e conversássemos sobre as realidades observadas. A observação do contexto escolar deveria servir para que, conhecendo a turma em que realizariam o estágio, pensassem e escrevessem planejamentos adequados àquela situação concreta. Desse modo, retomamos a discussão sobre o plano de ensino, importante instrumento para a organização da aula, distribuição do tempo e atividades. Na tentativa de que a atividade de escrever o plano não fosse apenas um preenchimento de fichas, pois no 1º semestre não foi estabelecido um modelo de plano de ensino, o que resultou na falta de itens importantes neste momento pré-aula, levei alguns planos de um banco de dados do PARFOR Letras/Português para que analisássemos pontos fortes e limites dos planos. Essa discussão fez com que chegássemos ao seguinte modelo de plano de ensino:

Modelo de Plano de Ensino organizado pela Turma ESLM II - 2º Semestre de 2014

Dados de identificação Conteúdo (s)

Objetivo (s)

Metodologia (escrever o passo a passo da aula, dividindo-a em diferentes momentos) Atividades (todas transcritas nos planos)

Anexos (textos utilizados)

Avaliação (feita no diário ao final de cada aula) Referências

Sobre essa aula, temos o registro de um dos alunos em seu diário, como observaremos no excerto a seguir: