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O que significam conceitos como emissão e recepção quando surge uma noção de espaço, um simulacro para interatividade? Espaços são criados dentro de espaços, condizentes a determinadas origens culturais dos mais diversos grupos.

No caso do Omelete, sabemos que tais grupo envolvem desde pessoas dedicadas a seguir resenhas e notícias de filmes até quem deseja apenas provocar o caos, fazer publicidade de algum blogue, jogar conversa fora.

Ao mesmo tempo, tal espaço é campo de desenvolvimento daquilo que é produzido por um “emissor original”, aquela instância que realmente organiza o labirinto hipermidiático do Omelete. Tudo isso reunido através do conceito de convergência, que, segundo Henry Jenkins (2009, p.45):

…não envolve apenas materiais e serviços produzidos comercialmente, circulando por circuitos regulados e previsíveis. Não envolve apenas as reuniões entre empresas de telefonia celular e produtoras de cinema para decidirem quando e onde vamos assistir à estreia de um filme. A convergência também ocorre quando as pessoas assumem o controle das mídias. Entretenimento não é a única coisa que flui pelas múltiplas plataformas de mídia.

Ou seja, inúmeras outras atividades humanas já são realizadas a partir do fenômeno da midiatização, e acrescentamos que elas assumem determinada complementação às funções do site cujas resenhas estudamos. Por isso temos, nos comentários, certa “fuga” às temáticas principais do Omelete.

Temos, nesse mesmo espaço de fluxos, a reunião de elementos como participação (gerando contribuições ou não), além de conhecimento e experiência fruto de uma coletividade. Essa coletividade segue determinados direcionamentos de ação, dirigidas parcialmente por determinada resenha, mas toma uma ação independente, nas bordas do que o Omelete pretende fazer com a ideia de entretenimento.

O entretenimento aqui é tomado como a possibilidade de voyeurismo, participações positivas ou negativas (ou puramente irrelevantes), acesso a informações que não serão apenas aquelas disponíveis “oficialmente” no site.

Tem-se, assim, o espaço e a forma: o campo de atuação de uma determinada forma coletiva de vivenciar e fazer as coisas. Esse “fazer coletivo” permite o desenvolvimento de um corpo coletivo que se vale de uma conexão, em busca de uma distinção, formadores de uma comunidade.

A conexão é o ponto zero. É a partir dela que temos uma participação baseada em avaliações e interpretações próprias, de cada integrante do público interagente, sobre determinado filme e resenha. Além disso, antes mesmo de surgir uma opinião, há a própria atividade de leitura e de assistir a determinados vídeos ou à resenhas audiovisuais. Há também a leitura de diversos comentários.

O importante é perceber que é diante da experiência da conversação que se expõe o contato que se tem paralelamente com a hipermídia. E é a partir disso que inferimos um universo cultural que consiste no conjunto de formas dos conteúdos que atuam nesse espaço.

Primeiramente, lembremos que o espaço a que nos referimos, concernente às resenhas parte do trinômio “resenha textual, resenha audiovisual e resenha textual contributiva”. Primeiro a resenha textual do Omelete, depois o que seria uma resenha audiovisual, e por fim aquele comentário que serve como uma resenha feita por alguém do público interagente.

Em seguida, temos os aspectos culturais, que envolvem desde a indústria cinematográfica, ao Omelete propriamente dito e ao público interagente. Além disso, ao conhecimento pregresso sobre redes sociais, como parte de um processo de convergência midiática que se explica através da midiatização.

Um ponto-de-vista fundamental para entender esse conteúdo é entende-lo através da similaridade, em três fases, do processo midiatizador: o filme “original”, o comentário sobre o filme, o comentário sobre o comentário ou o comentário do público sobre o filme. Há três fases aqui, que se misturam, e, em comum, todas são expostas através de telas – a tela do cinema, da televisão, do computador, do celular etc. O próprio processo que seria meramente “mediado” torna-se o próprio fenômeno social. Não é apenas algo que é “informado”, mas a própria informação consiste na experiência midiática. E é de relatos de experiências que temos a composição dos comentários do

público interagente – também é do relato de experiências que temos as resenhas, textuais ou audiovisuais, dos jornalistas do Omelete.

Essa dimensão do “relato” é completamente autorreferente. Da mesma forma, a transmissão da informação confunde-se. Transmissão e informação misturam-se, tornando-se, tudo isso, uma só experiência – ainda que passível de ser dividida entre “campo da disposição” dos elementos e “campo da interação” sobre os elementos dispostos primeiramente.

Essa experiência, que reúne diversas formas de interação com uma resenha ou com uma ideia que gera a resenha, faz parte de um contexto maior que “… deve considerar o tipo de jornalismo cultural que é feito no Omelete como algo que responde aos anseios mais originais desse tipo de jornalismo: promover a circulação de diferentes opiniões, levando a futuras deliberações ou apenas a comentários isolados” (FIRMINO JÚNIOR, 2012, p.148)52.

O verdadeiro sentido do jornalismo cultural, que é também opinativo, justamente converge para a ideia de uma experiência midiática que envolva a maior e melhor democratização das informações, gerando não apenas entretenimento em cima de produtos culturais feitos para o entretenimento, mas uma atividade capaz de gerar novas formas de enxergar determinado assunto – ou outros assuntos, fora da proposição inicial.

Esse mesmo assunto (a resenha de um filme ou o filme) é disposto através de diferentes plataformas com diferentes modos de fazer. No caso do audiovisual, tudo se torna mais fluido, aparentemente menos formal, como uma conversa entre amigos que também são fãs de determinada obra. Já no caso das resenhas textuais, temos uma certa formalidade, numa progressão linear de informações, sobre o universo geral da indústria que gera o filme, a temática, as diferenças entre uma versão anterior e uma nova, o tipo de experiência que o filme pretende gerar e tantas outras considerações sobretudo de ordem técnica, além de uma avaliação propriamente dita – inclusive de forma quantitativa. Por fim, o retorno do público e a possibilidade de um anônimo contribuir com sua própria resenha ou algum texto que equivalha a uma resenha (afinal, não se sabe se há jornalistas dentre os comentadores, com o mesmo apuro técnico e experiência para um texto resenha sobre determinado filme).

52 FIRMINO JUNIOR, João Batista. A resenha cinematográfica online em tempos de midiatização: o caso Omelete. In: NICOLAU, Marcos (org.). Midiatização e cotidiano: reflexões sobre as interações tecnomediadas. João Pessoa: Ideia, 2012.

Essa fluidez cultural, que inclui diversos aspectos de produção e de retorno do público interagente, depende de um público em geral jovem, que tem a intenção de participar, de contribuir, de fazer algo por conta própria, de interagir com outros, de buscar informações e contribuir para elas.

Há, aqui, uma mudança na forma de interagir com um filme ou um texto. Tenta- se sempre fazer parte de uma discussão, mas também de ter o Omelete apenas como um acessório. Não como o ponto principal de contato perante um filme ou resenha, ou quaisquer informações correlatas, mas como parte de uma rede que envolve mídias móveis, cinema, fofocas, televisão, DVD, fruição do filme, discussão, sites que permitam redes sociais, planejamento de compromissos com base em horários de salas de cinema, participação em promoções, informações por e-mail sobre determinado lançamento, e muitas outras possibilidades a serem inventadas em um universo sempre em mutação.

Já sobre a coexistência de diferentes fases do audiovisual propriamente, diante da Web, Muniz Sodré (2012, ps.78-79) explica que

A passagem da comunicação de massa às novas possibilidades técnicas, não significa a extinção da mídia tradicional, mas a coexistência e mesmo a integração da esfera do atual (trabalhado na esfera pública por jornais, rádios, televisão, etc.) com a do ciberespaço, onde são proeminentes as tecnologias digitalizadas do virtual…

Concebendo o audiovisual como núcleo da convergência de suportes midiáticos de forma digitalizada em meios hipermidiáticos – que fazem com que a informação flua entre uma noção de anterioridade e de posterioridade e que não apenas fala de produtos audiovisuais, mas que se insere, no próprio falar, como um – é que percebemos a verdadeira dimensão do que vem se tornando uma “web-resenha”. E essa experiência, acima de tudo, só encontra seu caminho de resolução através de um aspecto indiscutível de nosso trabalho: a cultura. É ela que irá determinar quais lições as resenhas online (ou as “web-resenhas”) trazem para o jornalismo impresso.